O escritor e auto-intitulado filósofo Olavo de Carvalho, considerado o guru do bolsonarismo e da extrema-direita brasileira, morreu na noite desta segunda-feira (24), aos 74 anos, na região de Richmond, estado da Virgínia (EUA), onde estava internado. Olavo era um negacionista da pandemia de covid-19 e militante anti-vacina. No dia 12 de maio de 2020, por exemplo, ele escreveu: “O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel”.
Termo popularizado durante a pandemia, o negacionismo se refere à recusa a aceitar fatos que são evidentes ou foram cientificamente comprovados. Atualmente, vivemos uma crise da verdade. O negacionismo ganha novamente espaço dentro da sociedade e coloca em xeque preceitos básicos e já sedimentados pela ciência no mundo. Esse movimento se apresenta travestido de “polêmicas”, por isso, é importante tomar cuidado com ele.
A problemática da veracidade é irrigada por ingredientes presentes nas estratégias dos “mercadores da dúvida”. Dessa forma, tais agentes procuram uma falsa simetria na argumentação científica e criam teorias conspiratórias para explicar o inexplicável.
O negacionismo e as teorias da conspiração não são um fenômeno novo, mas ganharam um alcance inédito em razão da internet, em especial as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas. As fake news, que são mentiras ou meias verdades travestidas de notícias sérias, conseguem dar a volta ao mundo em questão de segundos.
"A crença em teorias conspiratórias provoca nessas pessoas um sentimento de gratificação", diz o filósofo Pablo Ortellado, que é professor na Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação Digital. "Elas se sentem como uma espécie de vanguarda, pois estariam enxergando mais longe, vendo o que os outros não conseguiriam ver. Isso lhes traz satisfação. Mas é claro que esse elemento psicológico não é suficiente para explicar o negacionismo. Mais estudos precisam ser feitos.
Dessa forma, o negacionismo costuma se fortalecer quando a sociedade se depara com situações de instabilidade, como uma crise ou algo nunca antes presenciado. Quando em oposição a evidências científicas, o movimento encontra sustentação em teorias e discursos conspiratórios, sem aprofundamento e isolados, que acabam favorecendo disputas ideológicas, interesses políticos e religiosos.
Nesse sentido, alguns autores colocam o negacionismo como uma “pseudociência que contradiz um mundo imenso de teorias, verdades comprovadas e pesquisas sérias”. Além disso, as pessoas que seguem essa ideologia tentam propor experimentos para comprovar seus ideais na prática. Entretanto, encontram limitação teórica e de equipamentos, o que os leva a criar falácias com uma conclusão inválida.
A ideia de negação foi definida por Freud como um mecanismo psicológico, que tem a finalidade de reduzir qualquer manifestação capaz de colocar em perigo a integridade do ego dos sujeitos. Então, essas pessoas não conseguem enfrentar os fatos que julguem ameaçadores.
Dessa forma, trata-se de um mecanismo de defesa, que leva as pessoas, inconscientemente, a evitar a realidade em que vivem. Em termos psicanalíticos, a negação é um fenômeno típico de indivíduos que não querem lidar com as situações que geram incertezas.
A origem da negação é a angústia, que se recusa em reconhecer o problema que está acontecendo. Os indivíduos afetados agem como se nada tivesse acontecido, se comportando de maneira confusa e visto pelos outros como um comportamento insensato.
Nesse sentido, essa negação resulta num alto custo socioemocional a si mesmas e aos outros. Então, esse custo se traduz na prepotência e na intolerância, que, muitas vezes, leva ao obscurantismo das crenças e superstições.
Os negacionistas se consideram os “buscadores da verdade” e todos eles rejeitam/negam o conhecimento, porque isso é inconveniente para suas crenças e fantasias. No fundo, esse movimento revela posições autoritárias e preconceituosas. O mecanismo de negação, enquanto defesa inconsciente do indivíduo, é passível de tratamento terapêutico.
Um dos casos mais pitorescos de negacionismo é o dos terraplanistas, que questionam a astronomia, a geografia e até fotos e vídeos feitos no espaço e afirmam que a Terra é plana, semelhante aos velhos discos de vinil, e não redonda. Uma pesquisa feita pelo Datafolha em 2019 apontou que 7% dos brasileiros acima de 16 anos diziam acreditar na Terra plana — o equivalente a 11 milhões de pessoas.
Há, contudo, casos sérios. Os negacionistas do Holocausto garantem que o genocídio do povo judeu no tempo da 2ª Guerra Mundial não passa de invenção — apesar de os próprios nazistas terem documentado à exaustão as execuções em massa perpetradas em seus campos de concentração. Em reação a esse tipo de mentalidade, diversos países da Europa transformaram em crime a negação do Holocausto.
O cristianismo é especialmente afetado por mentiras e teorias da conspiração promovidas em mídias sociais e outros ambientes. As fake news não são engraçadas, nem uma forma de entretenimento, mas, sim, absolutamente destrutivas. Afinal, se tudo é questionado e a verdade não consegue mais ser identificada, como as bases do cristianismo podem ser exaltadas? A mentira não só desintegra nossa cultura e coexistência, como também destrói o cristianismo e a vida de cada pessoa.
Termino com este pensamento de Ellen G. White: "Tudo quanto os cristãos fazem deve ser tão transparente como a luz do Sol. A verdade é de Deus; o engano, em todas as suas múltiplas formas, é de Satanás; e quem quer que, de alguma maneira, se desvia da reta linha da verdade, está-se entregando ao poder do maligno. Não é, todavia, coisa leve ou fácil falar a exata verdade; e quantas vezes opiniões preconcebidas, peculiares disposições mentais, imperfeito conhecimento, erros de juízo, impedem uma justa compreensão das questões com que temos de lidar! Não podemos falar a verdade, a menos que nossa mente seja continuamente dirigida por Aquele que é a verdade" (O Maior Discurso de Cristo, p. 68).
Citar a Bíblia e Ellen White pra promover o politicamente correto também é satânico. E fazer lobby para políticas controladoras eh um primeiro passo pra pregar a aceitação das ordens de controle do estado quando o tempo do fim estiver próximo.
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