quarta-feira, 24 de agosto de 2022

450 ANOS DO MASSACRE DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU

"Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do Meu nome" (Mateus 24:9).

Todo cristão genuíno precisa pagar um preço por sua fé. Esse preço varia de acordo com as circunstâncias nas quais o cristão está inserido e no nível de seu compromisso com a Palavra de Deus.

Poucas pessoas pagaram um preço tão alto por sua fé quanto os huguenotes, que eram protestantes franceses calvinistas. Uma forte onda de violência católica contra os huguenotes começou na noite de 23 para 24 de agosto de 1572, a qual se tornou conhecida como o Massacre da Noite de São Bartolomeu. Começou em Paris e se espalhou para outros centros urbanos e regiões rurais, durando várias semanas.

Em seu livro A History of Christianity, o historiador Clyde L. Manschrek, professor na Universidade Rice, nos Estados Unidos, relata que as ruas ficaram "cobertas de corpos mortos, os rios ficaram manchados, as portas e os portões do palácio respingados com sangue". "Carroças carregadas de cadáveres, homens, mulheres, garotas e até mesmo crianças foram jogadas no Sena, enquanto torrentes de sangue corriam em muitas áreas da cidade", escreveu ele.

Manschrek encontrou relatos até de uma garotinha que foi "banhada no sangue de seus pais assassinados e ameaçada com o mesmo destino se por ventura também ela se tornasse huguenote".

De acordo com informações da época, 1100 corpos foram retirados do Rio Sena nos dias seguintes ao massacre. Não há um número exato de quantos foram executados. Historiadores mais comedidos cravam 3 mil. Outros acreditam que a cifra pode ter sido de 100 mil. Segundo apologistas huguenotes contemporâneos, o total de executados chegou a 300 mil. A maior parte, contudo, costuma situar entre 20 mil e 50 mil o número de mortos. O que ninguém questiona foi a brutalidade da violência que se viu pelas ruas.

Veja a descrição do Massacre da Noite de São Bartolomeu feita por Ellen G. White:

"O mais negro, porém, do negro catálogo de crimes, a mais horrível entre as ações diabólicas de todos os hediondos séculos, foi o massacre de São Bartolomeu. O mundo ainda recorda com estremecimento de horror as cenas daquele assalto covardíssimo e cruel. O rei da França, com quem sacerdotes e prelados romanos insistiram, sancionou a hedionda obra. Um sino badalando à noite dobres fúnebres, foi o sinal para o morticínio. Milhares de protestantes que dormiam tranquilamente em suas casas, confiando na honra empenhada de seu rei, eram arrastados para fora sem aviso prévio e assassinados a sangue frio. Como Cristo fora o chefe invisível de Seu povo ao ser tirado do cativeiro egípcio, assim foi Satanás o chefe invisível de seus súditos na horrível obra de multiplicar os mártires. Durante sete dias perdurou o massacre em Paris, sendo os primeiros três com inconcebível fúria. E não se limitou unicamente à cidade, mas por ordem especial do rei estendeu-se a todas as províncias e cidades onde se encontravam protestantes. Não se respeitava nem idade nem sexo. Não se poupava nem a inocente criancinha, nem o homem de cabelos brancos. Nobres e camponeses, velhos e jovens, mães e filhos, eram juntamente abatidos. Por toda a França a carnificina durou dois meses. Pereceram setenta mil da legítima flor da nação" (O Grande Conflito, p. 272).

O Edito de Nantes, de 1598, assinado pelo rei Henrique IV da França, concedeu aos huguenotes tolerância religiosa significativa. No entanto, em 1685, Luís XIV revogou o Edito, e isso aumentou a hostilidade contra os huguenotes, o que levou à fuga de até 400 mil do país, arriscando a própria vida.

Em 1730, uma jovem huguenote de 19 anos de idade foi presa e confinada na torre de Constance, na cidade de Aigues-Mortes, no sul da França. O nome dela era Marie Durand (1711-1776), e seu crime era ter um irmão pastor protestante. Tudo que ela precisava fazer para sair da cadeia era dizer: “Eu me retrato.” Em vez disso, ela entalhou em uma pedra da prisão a palavra francesa résister (“resistir”). Marie passou 38 anos (1730-1768) na prisão por causa de sua fé!

Você estaria disposto a pagar um preço tão elevado por sua fé? Louvado seja o Senhor se sua resposta for afirmativa. De todo modo, há um imenso contraste entre a convicção inamovível de muitos mártires cristãos e as crenças ajustáveis do cristianismo pluralista que predomina atualmente. Os mártires viveram em uma época de intolerância religiosa. Para eles, a verdade era a verdade, a despeito das circunstâncias e daquilo que as autoridades políticas e eclesiásticas diziam.

Os tempos mudaram. Hoje, em muitos países do mundo, temos a bênção da liberdade religiosa. Infelizmente, porém, o efeito colateral da liberdade tende a ser a falta de comprometimento. Muitos cristãos hoje gostam de ser politicamente corretos! Desfrutemos a liberdade que temos, sem perder o compromisso com a Palavra de Deus e a disposição em pagar o preço por nossa fé.

Ilustração: O pintor Débat-Ponsan pintou a cena da rainha Catarina de Médicis saindo do Louvre depois da execução de milhares de protestantes.

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