segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O CHAMADO DE PESSOAS COMUNS PARA UMA OBRA EXTRAORDINÁRIA

Antes de Jesus escolher Seus discípulos, “passou a noite orando a Deus” (Lucas 6:12).1 Ele escolheu doze homens entre as pessoas comuns, alguns dos quais Ele sabia que iriam abandoná-Lo ou O trairiam. Esse simples fato por si só me traz esperança. Se Jesus escolheu pessoas assim para serem Seus discípulos, há esperança para mim quando erro.

Considere brevemente os doze que Jesus escolheu:

ANDRÉ E SIMÃO
Um deles era André. Hoje nós o chamaríamos de “networker”, alguém que tinha muitos amigos. Ele era um discípulo de João Batista que, por sua vez, o indicou para Jesus. A primeira coisa que André fez foi encontrar seu irmão e levá-lo até Jesus também (João 1:40, 41). Você conhece pessoas capazes de conversar com qualquer outra pessoa sobre qualquer coisa com muita desenvoltura? Consegue ver André puxando conversa com um menino que tinha cinco pães e dois peixinhos e que não fazia ideia do que estava para acontecer? Ele tinha grande interesse em se tornar amigo de todos, independentemente da idade. Foi assim que André ficou sabendo que o menino tinha lanche em sua mochila.

André é sempre mencionado com mais alguém – nunca sozinho – isso porque ele não era individualista. Era uma pessoa que gostava de trabalhar em equipe, era tranquilo, um amigo que demonstrava interesse pelas pessoas, fossem crianças, jovens, adultos ou idosos. André está perto de todos nós; simplesmente não o notamos porque ele faz suas tarefas sem ter necessidade de reconhecimento, de atenção ou de poder.

Em contraste, Simão era impulsivo, dinâmico, inflamado, autoconfiante, independente, impetuoso e extrovertido. Falava sem pensar e estava pronto a corrigir os outros antes mesmo de saber o que ia dizer. Seu humor altera com facilidade? Simão representa você. Mas Simão não teve dúvidas quando seu irmão André lhe pediu para seguir Jesus. Simão foi um aventureiro e explorador para Deus.

OS IMPETUOSOS FILHOS DE ZEBEDEU

Tiago e João, os filhos de Zebedeu, eram conhecidos como os “Filhos do Trovão”. Mesmo sendo pescadores, vinham de um status social mais elevado, pois seu pai havia contratado servos para eles. Eles provavelmente tinham um temperamento explosivo, pois eram chamados de “Filhos do Trovão”. Lembra-se da ocasião em que eles queriam fazer descer fogo na inóspita aldeia samaritana? Quando estavam pescando, talvez você pudesse ouvir comentários arrogantes contra os que não haviam pescado tanto quanto eles.

Assim como Tiago e João, alguns têm mães que acham que seus filhos são especiais. Pode ser embaraçoso quando essas mães se gabam das realizações de seus filhos e tentam promover seu status. Salomé, a mãe de Tiago e João, fez exatamente isso e foi a Jesus com um apelo: “Declara que no Teu Reino estes meus dois filhos se assentarão um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.” (Mateus 20:21).

O HOMEM DE BETSAIDA E UM RACISTA

Filipe foi criado em Betsaida, uma cidade ao norte da Galileia, por onde muitos comerciantes passavam. Com seu nome grego, ele provavelmente era grande conhecedor das notícias que eram trazidas de todo o mundo pelos comerciantes. Na ocasião em que uma grande multidão precisou ser alimentada, ele mostrou uma perspectiva de negócios muito prática, mas cética, quando perguntou como eles poderiam alimentar tantas pessoas. Embora esses traços estejam mais associados a outro discípulo, Filipe também foi cauteloso, exigindo explicações claras e lógicas. Toda igreja precisa de uma ou duas pessoas como Filipe.

Bartolomeu e Natanael referem-se à mesma pessoa. Poderíamos considerá-lo racista. Quando Filipe chamou Natanael para seguir Jesus, ele perguntou: “Nazaré: Pode vir alguma coisa boa de lá?” (João 1:46). Ele generalizou a má reputação dessa cidade para qualquer pessoa daquela região. Toda vez que abrigo sentimentos de racismo, superioridade, elitismo ou sexismo, torno-me como Bartolomeu. No entanto, ele veio a Jesus com a mente aberta, e Jesus imediatamente disse a seu respeito: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!” (João 1:47 – ARA).

O TERRORISTA E O COBRADOR DE IMPOSTOS

Você sabia que Jesus escolheu um terrorista para ser um dos discípulos? Simão, o cananeu, pertencia aos zelotes, um violento partido nacionalista que daria a vida lutando para se livrar dos romanos. Quando Jesus aqui vivia, eles cometiam assassinatos e homicídios secretos para conseguir o que queriam. Os zelotes se recusaram a pagar impostos, porque isso significava um reconhecimento de submissão a Roma e um repúdio a Deus. Eles se consideravam os mais “patrióticos” de todos os judeus. Em 73 d.C., foram eles os judeus que morre- ram cometendo suicídio em massa em Massada – um evento ainda celebrado hoje pelos judeus. E ainda assim, Jesus escolheu Simão, o zelote, para ser um de Seus discípulos.

Não fazia sentido chamar Mateus para ser discípulo se Simão, o zelote, fizesse parte do grupo. Mateus aceitara um ofício dos romanos para cobrar impostos, sinal de que ele havia traído sua nação. Era visto como um apóstata e o mais vil da sociedade. Mateus cobrava impostos de todos os que traziam mercadorias para a cidade. Escribas e fariseus desprezavam tanto os cobradores de impostos que andavam do outro lado da estrada para evitar olhar na mesma direção. Embora os cobradores de impostos pudessem ser ricos, seu dinheiro não era aceito na sinagoga. Eles foram vistos como sendo tão desonestos que não podiam nem testemunhar no tribunal. E ainda assim, quando Jesus o viu sentado no portão da cidade cobran- do impostos, lhe disse: “Siga-Me”. Mateus deixou imediatamente o seu lucrativo trabalho para seguir Jesus. Se Simão, o zelote, tivesse se encontrado sozinho com Mateus antes de seguir Jesus, poderia muito bem ter cravado uma adaga em seu coração. E, no entanto, Jesus chamou um zelote e um odiado cobrador de impostos para serem dois dos doze – um par tão improvável que mal se pode imaginar.

AS CIFRAS

Por haver crescido no exterior, senti-me quase invisível quando me mudei para a terceira cultura na minha adolescência, mais ou menos como os dois discípulos sobre os quais praticamente nada sabemos. Há alguns indícios de que Tiago, filho de Alfeu, em contraste com o Tiago que mencionamos anteriormente, era um homem de baixa estatura, que levava a vida sem alarde ou publicidade. Quanto a Tadeu, também conhecido como Judas, filho de Tiago, não o Iscariotes, tudo o que sabemos é que ele perguntou a Jesus: “Senhor, mas por que Te revelarás a nós e não ao mundo?” (João 14:22).

UM DISCÍPULO QUESTIONADOR

O discípulo que se sentiria mais confortável em um campus universitário seria Tomé. Nós o chamamos depreciativamente de “Tomé, o incrédulo”, mas foi ele quem estava disposto a fazer as perguntas difíceis. Um professor de ciências do Pacific Union College, certa vez, sugeriu que Tomé fosse o “patrono” de todos os cientistas. Tomé estava constantemente sondando, não aceitando a palavra dos outros, assim como um acadêmico nunca se sente à vontade com respostas fáceis até que tenha explorado todas as opções. Assim é o Tomé que disse: “Se eu não vir em Suas mãos a marca dos pregos, e não colocar o dedo na marca dos pregos, e não colocar a mão no Seu lado, não crerei” (João 20:25).

“A menos que eu veja em Suas mãos. . . Não vou acreditar.” E, no entanto, esse é o mesmo Tomé que, quando todos os discípulos não queriam que Jesus fosse a Jerusalém depois da ressurreição de Lázaro, por medo de serem mortos, disse com coragem: “Vamos também para morrermos com ele” (João 11:16). Porque Tomé foi muito sincero em sua exploração da verdade, Jesus nunca o repreendeu por suas perguntas. As perguntas que ele fez foram um degrau para a crença.

AQUELE QUE O TRAIU

E finalmente chegamos a Judas Iscariotes, um homem que viu Jesus como um fracasso, porque sabemos como a história termina. No entanto, não nos esqueçamos de que ele era o tão respeitado administrador do grupo. Em uma corporação, Jesus teria sido o presidente do conselho e Judas teria sido o presidente [do grupo]. Ele provavelmente tinha o intelecto mais aguçado de todos os discípulos. Judas sabia como cuidar do dinheiro. Ele era o único discípulo que não era galileu. Quando decidiu seguir Jesus, foi excluído de seu círculo de amigos, o que significou a perda de toda a sua influência. Ele achava que Jesus iria restaurar o trono de Davi e se esforçou para se tornar um discípulo. No entanto, Jesus sabia desde o início que Judas o trairia. Por que Ele o escolheu sabendo o que iria acontecer? Mesmo quando Judas o traiu, Jesus ainda o chamou de “Amigo” (Mateus 26:50).

Portanto, temos doze homens improváveis que necessitavam ser integrados em uma equipe. Claro, eles tinham o maior Professor de todos os tempos, então não deve ter sido um trabalho difícil. O Dr. Harry Leonard, do Newbold College, na Inglaterra, analisou Jesus como Professor. Ele descreveu Jesus como o tipo que um chefe do Departamento de Educação gostaria de contratar para dar aulas de metodologia, porque Jesus era ótimo em tutoriais individuais, seminários em grupo, palestras e sessões práticas. No entanto, como o Dr. Leonard enfatiza, Jesus ensinou os discípulos por três anos, quase o tempo necessário para obter um diploma de bacharelado, e eles não entenderam o que Ele queria dizer.

Jesus era o Mestre perfeito de Quem um grupo pôde receber instrução, e ainda assim eles O traíram, dormiram ou fugiram de medo.

Além do mais, podemos sugerir que todos eles receberam um “F”, uma nota de reprovação nas aulas que Jesus lhes ensinou ao longo de três anos. Existe algo pior do que ser testemunha de um possível assassinato e fugir do local? E, no entanto, Ele sabia que esse seria o resultado. Apesar de ter conhecimento disso, Jesus os escolheu a dedo. Da mesma forma, Ele escolhe você e eu, apesar do fato de saber que também receberemos alguns “Fs”. Onze dos doze discípulos refizeram os exames e passaram com honras. Nós também podemos!

DISCÍPULOS TRANSFORMADOS

Após Sua ressurreição, Jesus continuou a construir sobre o que Ele havia ensinado aos Seus discípulos anteriormente. Com exceção de um, todos experimentaram uma transformação cujo efeito perdura até hoje, e que se torna a maior evidência de um Jesus ressuscitado.

Anteriormente, Jesus havia mudado o nome de Simão para Pedro, que significa “pedra ou rocha”. Depois que Pedro negou ser Seu discípulo, ele voltou para Jesus e recebeu a Sua graça e o Seu perdão, levando ao mundo, finalmente, a mensagem de um Jesus ressuscitado. Seu primeiro sermão rendeu o batismo de 3.000 pessoas no Dia de Pentecostes. Segundo a tradição, ele foi martirizado em Roma, condenado à morte na cruz. Jesus transformou Simão em Pedro, o pecador em santo, e Ele pode fazer o mesmo por nós.2

Tiago, chamado Filho do Trovão, foi decapitado pelo rei Herodes Agripa I. Seu martírio provou seu compromisso de longo tempo em serviço ao seu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele passou no exame final com distinção!

João, o outro Filho do Trovão, tornou-se o discípulo que Jesus mais amava. Sobre ele, Ellen White escreveu: “Na vida do discípulo João é exemplificada a verdadeira santificação. Durante os anos de sua íntima relação com Cristo foi ele muitas vezes advertido e admoestado pelo Salvador; e aceitou. [...]. Ele submeteu seu temperamento ambicioso e vingativo ao modelador poder de Cristo, e o divino amor operou nele a transformação do caráter.”3

Bartolomeu desistiu de suas atitudes racistas e se tornou um seguidor de Jesus.

Mateus, o cobrador de impostos, e Simão, o zelote, acabaram demonstrando o amor cristão um pelo outro por causa de seu amor por Jesus.

Quando Tomé, finalmente, viu Jesus após a ressurreição, ele exclamou: “Senhor meu e Deus meu!” (João 20:28) e se tornou o evangelista da fronteira. Acredita-se que ele tenha espalhado o evangelho até a parte sul da Índia.

Após a ascensão de Jesus Cristo, esses mesmos discípulos que fugiram com medo, agora mostraram sua força pregando o evangelho, enfrentando a prisão e até mesmo a morte. Em Atos 4:13, lemos: “Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus.”

Com qual dos doze discípulos você mais se identifica? Jesus escolheu cada um de Seus discípulos, mesmo conhecendo suas fraquezas e potencial de fracasso. Toda vez que você experimentar o fracasso, lembre-se de que Jesus chamou Seus discípulos – doze homens comuns que falharam muitas vezes. Ele ainda chama pessoas comuns como você e eu para serem Seus seguidores hoje. Ele chama cada um de nós para a extraordinária tarefa de servir aos outros e levar avante a Sua missão até que Ele volte!

Richard Osborn (via Diálogo Universitário)

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. A não ser quando de outra forma indicado, todas as referências bíblicas neste artigo são citadas da Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada.
  2. Peter Marshall, Mr. Jones, Meet the Master: Sermons and Prayers of Peter Marshall (New York: Fleming H. Revell Company, 1950), 88
  3. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986), p. 557.

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