segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A PESSOA QUE MAIS ODEIO

Como eu e você somos parecidos! Vamos fazer um teste? Em termos gerais, não gostamos dos seguintes tipos de pessoas: hipócritas, traidores, lerdos, desleais, tagarelas, mexeriqueiros, trapalhões, jactanciosos, legalistas. É interminável a lista dos que não se encaixam em nosso figurino, não é verdade?

Carreguei esse fardo por muitos anos, mas ainda não me livrei dele totalmente. Sempre fica um restinho dessa bagagem incômoda. 

Felizmente, fiz uma grande descoberta ao ler a seguinte confissão do apóstolo Paulo: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm 7:18,19). 

Mas você está curioso para saber qual foi minha descoberta. Respondo sem hesitar: a pessoa que mais odeio sou eu. Essa descoberta - fruto da obra iluminadora do Espírito Santo - tem me ajudado a reduzir gradativamente o fardo remanescente. Mas, por vezes, ele ameaça se avolumar outra vez. Então, à semelhança de Pedro, clamo: "Senhor, salva-me!" 

Se você se parece comigo nesse aspecto, una-se a mim no propósito de buscar completa mudança de foco. Por que não gostar dos outros, se nós mesmos temos defeitos? Por que usar rígidos critérios de avaliação da vida dos outros e uma medida condescendente em relação às nossas fraquezas? 

Diz Ellen G. White: "Demorando-se continuamente nos erros e defeitos dos outros, muitos se tornam dispépticos religiosos. Os que criticam e condenam uns aos outros estão transgredindo os mandamentos de Deus, e são-Lhe uma ofensa. Irmãos e irmãs, afastemos o entulho da crítica e suspeita e murmuração, e não desgastei os nervos externamente. Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável" (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, pp. 635-638).

Quanto mais aumentamos a lista de pessoas que não se ajustam ao nosso modelo, tanto mais cegos nos tornamos para as nossas necessidades espirituais. 

Antes da cruz, o espírito dos discípulos não era amistoso. Diz Ellen G. White: "Havia entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior. Essa rivalidade, manifestada na presença de Cristo, O entristeceu e magoou. Apegavam-se os discípulos a sua ideia favorita de que Cristo firmaria Seu poder, e tomaria Seu posto no trono de Davi" (O Desejado de Todas as Nações, p. 643). 

Devido a esses sentimentos negativos, eles não gostavam uns dos outros. Eram colegas, mas não amigos. Cada um deles via os demais como concorrentes. Mas, durante o tempo que passaram juntos no cenáculo, todos se desnudaram diante do espelho da consciência, não mais com orgulho e jactância, mas com profunda vergonha dos próprios defeitos de caráter. Foi então que o Espírito Santo os uniu em pensamento e ideal, capacitando-os a amar uns aos outros. 

Voltemos à experiência de Paulo. Quando ele refletiu em sua miserável condição espiritual, exclamou: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" (verso 24). Foi nesse momento que ele enxergou a única saída para seu coração cheio de asperezas: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor" (verso 25). 

Antes do encontro com Jesus na estrada de Damasco, Paulo odiava os cristãos. Mas, depois de convertido, passou a amá-los profundamente, apesar das fraquezas de cada um. Seu amor era tão grande que, certa vez, ele escreveu: "É bom ser sempre zeloso pelo bem e não apenas quando estou presente convosco, meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós" (Gl 4:18,19). Notemos que aqueles irmãos não estavam plenamente formados em Cristo. Portanto, deviam ter muitos defeitos. Mesmo assim, Paulo os amava profundamente. 

Pensemos, agora, na mulher adúltera. Jesus a amou antes mesmo de ela abandonar sua vida impura. É aqui que muitas vezes erramos: não sabemos fazer a diferença entre a pessoa e os erros que ela comete. Colocamos tudo no mesmo saco e jogamos no lixo. Jesus ama todas as pessoas porque Ele não faz essa mistura. 

Em relação ao clima existente em nossas igrejas, Ellen White diz: "Todavia, existe entre nós como povo uma falta de simpatia e amor, profundo e sincero, pelos que são tentados ou que vivem no erro. Muitos têm revelado aquela frieza glacial e negligência pecaminosa que Cristo representou pelo indivíduo que passa de largo, guardando a maior distância possível dos que mais necessitam de sua ajuda" (Ibid., p. 247). 

Quando alimentadas, essas atitudes põem no mesmo saco o errante e seus defeitos. E isso causa muito sofrimento, tanto para os que são marginalizados por nosso zelo sem entendimento quanto para nós mesmos. 

Diz Ellen G. White: “O próprio ato de olhar para o mal nos outros desenvolve o mal em quem olha. Detendo-nos sobre as faltas do próximo, somos transformados na sua imagem. Mas contemplando Jesus, falando do Seu amor e da perfeição de Seu caráter, imprimimos em nós as Suas feições. Contemplando o alto ideal que Ele colocou diante de nós, subiremos a uma atmosfera santa e pura, que é a própria presença de Deus. Quando aí permanecemos, sairá de nós uma luz que irradia sobre todos os que estiverem em contato conosco” (A Ciência do Bom Viver, p. 492).

Que tal sermos parecidos por outro motivo? Ou seja, pelo fato de procurarmos ser semelhantes a Jesus?

Rubens Lessa (via Revista Adventista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário