A maternidade, que até pouco tempo atrás era um “caminho natural” para toda mulher, tem sido cada vez mais questionada, adiada ou nem mesmo entrado nos planos. Medo de perder a liberdade, dificuldades econômicas ou preocupação com o meio ambiente são algumas das razões apontadas para não ter filhos atualmente. Entre os sem filhos também há aqueles que não apenas lutam para que sua escolha vital seja respeitada, mas tentam convencer que sua decisão é a moralmente correta. Desigualdades sociais, racismo, delinquência, pobreza, medo de transmitir uma doença, também são alguns dos motivos usados para renunciar à prole pensando no sofrimento da criança hipotética. Dados fornecidos pela Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) junto à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, o número de casais sem filhos teve aumento de 13,5% para 18,8% num período de dez anos.
Diante dos perigos dos últimos dias, a questão que fica para os cristãos a respeito desse assunto tão recorrente e polêmico é: ter ou não ter filhos neste tempo do fim? O que a Bíblia e o Espírito de Profecia dizem sobre esse tema tão complexo?
A Palavra de Deus predisse que o tempo do fim seria marcado por guerras, terremotos, fome, epidemias e terror (Dn 8:17, 19; Lc 21:9, 10, 11, 26). A Bíblia alertou também que esse período decisivo na história humana seria um tempo de grandes mudanças sociais. Transtornos na vida familiar e imoralidade sexual estariam entre as coisas “difíceis de manejar” nestes críticos últimos dias (2Tm 3:1-5; Lc 17:28-30; Jd 1:7). Por que, neste tempo do fim, esses fatos tão amplos e poderosos poderiam influenciar a decisão dos cristãos quanto a ter ou não ter filhos?
Ellen G. White apoiou amplamente o plano original de Deus em relação ao matrimônio e a paternidade com bênçãos divinas para o homem. Ela comprovou com seu próprio exemplo ao casar-se e ter quatro filhos. Com respeito a oportunidade de ter ou não ter filhos neste tempo, é evidente que não vamos encontrar uma citação direta. Ellen White não escreveu muito acerca de ter filhos no tempo do fim, apesar de mencionar a atuação dos filhos e jovens ao serem usados por Deus na pregação final do evangelho.
“Nas cenas finais da história deste mundo, muitas destas crianças e jovens encherão de admiração o povo pelo seu testemunho em favor da verdade, o qual será dado de modo simples, no entanto com espírito e poder. Foi-lhes ensinado o temor do Senhor, e o coração se lhes abrandou por um estudo da Bíblia cuidadoso e acompanhado de oração. No próximo futuro, muitas crianças serão revestidas do Espírito Santo, e farão na proclamação da verdade ao mundo uma obra que, naquela ocasião, não pode bem ser feita pelos membros mais idosos das igrejas” (Conselhos aos Pais Professores e Estudantes, p. 166).
Ellen White também menciona que Deus permitirá que alguns filhos descansem antes dos tempos difíceis e finais.
“Frequentemente o Senhor me tem revelado que muitos pequeninos hão de ser levados ao descanso antes do tempo de angústia. Veremos nossos filhos outra vez. Encontrar-nos-emos com eles e os reconheceremos nas cortes celestes. Ponde no Senhor a vossa confiança, e não temais" (Carta 196, 1899 - Orientação da Criança, p. 566).
Ao verificarmos o que Ellen White escreveu sobre matrimônio e família (O Lar Adventista) e sobre filhos e paternidade (Orientação da Criança), não vemos nada que possamos supor que o plano do Senhor para os matrimônios é que evitem ter filhos. Presume-se que esses temas delicados são deixados para consideração da consciência de cada um, a busca por uma resposta concreta em oração e reflexão.
Ao verificarmos o que Ellen White escreveu sobre matrimônio e família (O Lar Adventista) e sobre filhos e paternidade (Orientação da Criança), não vemos nada que possamos supor que o plano do Senhor para os matrimônios é que evitem ter filhos. Presume-se que esses temas delicados são deixados para consideração da consciência de cada um, a busca por uma resposta concreta em oração e reflexão.
Também é fato que Ellen White notava de maneira muito conveniente que alguns matrimônios que ela conhecia, optaram por não ter filhos. As seguintes declarações ilustram essa questão:
“O egoísmo, que se manifesta de variadas formas, segundo as circunstâncias e a constituição peculiar dos indivíduos, deve morrer. Se tivessem filhos, e seu pensamento fosse compelido a desviar-se de si mesmo para o cuidado deles, para instruí-los e ser-lhes um exemplo, ter-lhes-ia sido isso uma vantagem. [...] O cuidado de crianças em uma família exige bastante tempo no lar, com as atenções comuns da vida doméstica, dando oportunidade para o cultivo da mente e do coração” (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, pp. 230-231).
“Daquilo que me foi mostrado, os adventistas guardadores do sábado têm um fraco sendo do imenso lugar que o mundo e o egoísmo ocupam em seu coração. Se têm desejo de fazer o bem o glorificar a Deus, há muitos modos de fazê-lo. Mas vocês não sentiram que esse é o resultado da verdadeira religião. Esse é o fruto que cada árvore boa produzirá. Não perceberam que lhes é requerido interessar-se pelos outros, considerar os casos deles como se fossem seus, e manifestar interesse altruísta por aqueles que estão em maior necessidade de ajuda. Vocês não têm se achegado aos mais necessitados. Se tivessem filhos próprios para exercitarem cuidado, afeição e amor, não estariam tão encerrados em si mesmos com seus interesses pessoais. Se os que não têm filhos e a quem Deus fez mordomos de recursos, abrissem o coração para amparar crianças que necessitam de amor, cuidado e afeição e de serem ajudadas com os bens deste mundo, poderiam ser muito mais felizes do que são hoje” (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, p. 328-329).
Há uma carta que menciona o tema de forma direta, e um dos parágrafos foi publicado numa compilação dos escritos de Ellen White:
“Na realidade não é prudente ter filhos agora. O tempo é curto, os perigos dos últimos dias estão sobre nós, e as criancinhas, em grande parte, serão levadas antes disso” (Carta 48, 1876 - Eventos Finais, p. 36).
Até onde se pode constatar, essa é a única consideração sobre o tema nos escritos de Ellen White. É pertinente verificar que, mais do que em qualquer outra apresentação, as cartas pessoais devem ser analisadas em seu contexto e em harmonia com as circunstâncias que as motivaram. Assim, impõe-se a necessidade de complementar de maneira breve as informações relativas aos conselhos de Ellen White acerca de não ter filhos no tempo do fim.
Esse parágrafo da obra Eventos Finais foi retirado de uma carta de três páginas do Arquivo de Cartas e Manuscritos do Centro White (Carta 48, 1876). Ellen White se dirige nessa ocasião ao pastor Van Horn e sua esposa Adélia. Suas palavras são proferidas com compaixão, porém também são firmes, e ao escrever, ela se manifesta com um sentimento de pena. A família Van Horn tinha ido trabalhar em Oregon, onde uma grande obra evangelizadora a esperava. Ao mesmo tempo, Ellen White os adverte que Satanás tinha planos para frustrar os propósitos de Deus.
A maior parte da carta se aplica especialmente a Adélia, uma mulher com grandes talentos, mas ao mesmo tempo com perigosas limitações. A irmã White a descreve como uma pessoa emotiva, perigosa, às vezes negligente e muito ansiosa. Ellen White lhe diz que o cuidado dos filhos intensifica ainda mais essas características e cessa a obra que ela poderia realizar.
“Adélia, meu coração sente muito pesar porque você tem falhado, porque rouba a Deus. Você é naturalmente temerosa e se apossa de dificuldades emprestadas. Você não poderia ter descanso ou paz mental separada dos seus filhos, e por sua disposição ansiosa, o caminho para a realização da sua obra se fechou. E isso não é tudo: o trabalho é grandemente realizado de maneira descuidada.”
É evidente que o conselho de não ter filhos se dirige a uma mulher com características peculiares e com desafios especiais como esposa de pastor. Não parece sensato aplicar esses conselhos a todos os matrimônios em qualquer circunstância. De qualquer maneira, apesar das exigências da obra de Deus e da adequação pessoal para uma paternidade responsável, é um dever inevitável para todo filho de Deus que está avaliando o fato de trazer filhos ao mundo nesse tempo especial.
A paternidade é, sem dúvida, um privilégio e uma sagrada responsabilidade. Porque os filhos hão de ser preparados para este tempo e para a eternidade.
“A todos os pais que professam crer na breve volta de Cristo, é dada uma solene obra de preparo, para que eles e seus filhos possam estar prontos para receber o Senhor, na Sua vinda" (Nos Lugares Celestiais, p. 212).
Sobre esses assuntos complexos, o Pai do céu outorgará sabedoria do alto a todos os que agirem com humildade.
[Com informações do Centro White]
[Com informações do Centro White]
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