"Ano novo, vida nova.” Quantas vezes você já ouviu esse clichê? O problema é que, como dizem os americanos, some things never change (“algumas coisas nunca mudam”). Às vezes, temos a sensação de que tudo não passa de uma eterna mesmice. Dificuldade no emprego, doença, situação familiar ou financeira que, ano após ano, piora ou, no mínimo, permanece inalterada, relacionamento rompido, expectativas frustradas – tudo isso acaba provocando, em muitas pessoas, uma atitude de descrença em relação à vida e ao futuro.
Se o início de mais um ano já não causa empolgação a você, que tal um jeito diferente de encarar os próximos doze meses? E o que acha de utilizarmos a Bíblia para isso, mais especificamente o livro de Gênesis? Ele é chamado de “o livro dos começos” (portanto, tem tudo a ver com o início do ano). Em Gênesis, encontramos a base de todo o restante da Bíblia e de doutrinas fundamentais como: criação, natureza do homem, queda, plano da salvação, casamento e sábado. Embora muitos atribuam valor simbólico às narrativas desse livro, temos evidências de sobra para crer que ele é literal e seus relatos são confiáveis do ponto de vista histórico. A seguir, veremos doze conselhos com base no livro de Gênesis, que, se praticados, darão a você felicidade e sucesso neste novo ano.
1. Peça um novo coração – “No princípio, criou Deus os céus e a Terra” (Gn 1:1).* Nesse texto, o verbo traduzido por “criou” (bará, no hebraico) aparece na Bíblia só quando se refere a alguma atividade divina. Em outras palavras, só Deus pode ser Criador, no sentido pleno. Ele é capaz de criar ex nihilo, isto é, a partir do nada. Davi, quando se arrependeu do adultério e do assassinato que havia cometido, e ao confessar seus pecados a Deus, utilizou, no Salmo 51:10, o mesmo verbo de Gênesis 1:1: “Cria (bará) em mim [...] um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.” Unicamente Deus é capaz de “criar” um novo coração. Somente o Espírito Santo pode vencer nossos maus hábitos e nossas tendências hereditárias, além de gravar Seu caráter em nós.1
Se Deus criou o Universo, Ele pode também recriar sua mente, dando a você novos pensamentos e sentimentos, novas palavras e atitudes – elementos essenciais para um ano feliz. Mas, para isso, você precisa se submeter, como Davi, ao ato recriador de Deus, e pedir que Ele transforme você.
2. Mantenha-se ativo – É difícil achar uma definição simples para “vida”. Seu conceito é muito amplo e admite diversos significados. Mas uma coisa é certa: De acordo com a Bíblia, Deus é a fonte da vida. “NEle vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28). Cristo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25). De acordo com Gênesis 1:11, 12, a primeira forma de vida a surgir sobre a Terra foram as plantas. E, conforme os versos 26-30, os últimos seres vivos criados por Deus na semana da criação foram o homem e a mulher.
Um dos meus favoritos sinônimos de vida é “atividade”. Todas as coisas às quais Deus atribui vida permanecem em constante movimento (ainda que essa atividade não seja visível a olho nu). Uma das características da morte é a ausência de ação.
Deus não nos criou para a inércia. Para ser felizes, precisamos ser ativos. E isso envolve todas as dimensões do ser: física, mental e espiritual. Para ter vida, na mais plena acepção do termo, exercite seus músculos, seu cérebro e sua comunhão com Deus. Faça das atividades físicas, do estudo, da oração, da leitura da Bíblia e do testemunho algo constante em sua rotina.
3. Priorize a família – Há quem diga que o casamento está com seus dias contados. No entanto, essa instituição tem suas raízes bem fincadas nas primeiras páginas das Escrituras. Foi no Paraíso que Deus estabeleceu a família, formando o primeiro casal (Gn 2:18-24). A família ocupa um lugar especial nos planos de Deus. Não é à toa que Ele utilizou as relações familiares para ilustrar a ligação com Seu povo. Na Bíblia, Deus é chamado de nosso Pai e Esposo (2Co 6:18; Is 54:5), e Seu amor supera o de uma mãe (Is 49:15).
Neste ano, priorize sua família (independentemente de qual seja a configuração dela). Não permita que o trabalho, os estudos, a rotina, nem mesmo as atividades da igreja, “engulam” o tempo de qualidade ao lado de quem você ama. Lembre-se: A família é seu “primeiro campo missionário”.2
4. Descanse em Deus – Assim como o casamento, o sábado é uma instituição divina estabelecida no Éden. Muito antes de Moisés nascer ou de os judeus sequer existirem, o sétimo dia da semana foi dado à humanidade como um dia especial de repouso e comunhão com o Criador (Mc 2:27) – uma constante lembrança de nossa dependência dEle. Ellen G. White disse que, “se o verdadeiro sábado houvesse sido guardado, jamais teria havido um incrédulo nem ateu. A observância do sábado teria preservado da idolatria o mundo”.3
Logo após ter sido criado, o ser humano descansou no sábado. Mas, descansou do quê? Adão e Eva foram criados na sexta-feira e nem tiveram tempo para se cansar. No entanto, o sábado é muito mais do que descanso físico. O repouso sabático implica uma relação de aliança com Deus (Ez 20:12, 20). Na lista de prioridades do Céu, a comunhão vem antes do trabalho.
Em 2023, não permita que coisas importantes ou urgentes tomem o lugar das que são essenciais. É preciso reservar momentos de comunhão com Deus, com a natureza e com o próprio coração.4 Cristo nos convida: “Venham [...] e descansem um pouco” (Mc 6:31). E outra vez: “Venham a Mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e Eu lhes darei descanso” (Mt 11:28).
5. Seja fiel – Ao longo da Bíblia, encontramos diversas alianças de Deus com Seu povo. “Aliança” (berit, em hebraico, e diatheke, em grego) é uma das palavras teologicamente mais importantes das Escrituras.5 Significa basicamente um acordo entre duas partes, fundamentado em promessas e compromissos de ambas. A primeira aliança apresentada pela Bíblia é entre Deus e nossos primeiros pais – Adão e Eva (Os 6:7). Lá no Éden, os termos dessa aliança foram firmados. Deus deu ao primeiro casal, além da Terra, o pleno domínio sobre os animais e fartura de alimento; os abençoou e disse que deviam se multiplicar. Eles eram súditos e, ao mesmo tempo, filhos do Rei do Universo. Mas o Senhor estabeleceu também a parte deles: Não deviam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Caso desobedecessem a essa ordem, quebrando assim a aliança, morreriam.
Mesmo após a queda, Deus reatou Seu pacto com Adão e Eva. Dessa vez, no entanto, o foco da aliança não estava na criação, mas na redenção. A segunda parte da aliança adâmica tinha que ver com a vinda de um Salvador, que resgataria a raça humana do poder do mal (Gn 3:15).6
Todas as alianças de Deus expressam Seu maior atributo: o amor (Jr 31:3). Quando somos fiéis ao nosso Criador (obedecendo a Seus mandamentos, e dando a Ele o primeiro lugar em nossa vida), estamos simplesmente respondendo à Sua iniciativa, pois “Ele nos amou primeiro” (1Jo 4:19).
Ser fiel ao Deus da aliança é a principal condição para todas as bênçãos (Dt 28). Um ano abençoado começa pela fidelidade ao Senhor. Fidelidade não apenas nos dízimos e ofertas, mas em todos os aspectos da vida.
6. Fuja do pecado – O capítulo 3 de Gênesis relata a queda da humanidade. O pecado, entre suas várias definições, é um estado de alienação de Deus e uma atitude de rebelião contra Ele. Suas consequências são nocivas e numerosas, e afetam desde seres simples como as plantas (Gn 3:17, 18) até os anjos de Deus no Céu (Jd 6). Ele causa dor, choro e morte. Em resumo, o pecado não vale a pena.
É verdade que nenhum de nós pode evitar o pecado como natureza, um estado no qual nascemos. Davi declarou: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5). No entanto, no que se refere a pecado como ato, temos uma parte muito importante a fazer. A atitude de José e de Jó diante da tentação é algo a ser imitado.
Quando tentado a cometer adultério com a esposa de seu patrão, José fugiu, deixando suas roupas nas mãos daquela que o havia assediado (Gn 39:10-14). E do patriarca Jó é dito que “se desviava do mal” (Jó 1:1). Quando o assunto é pecado, fugir e se desviar não demonstram covardia, mas coragem e integridade. Proponha em seu coração afastar-se de toda “forma de mal” (1Ts 5:22).
7. Contemple a cruz – Gênesis 3:15 é chamado pelos teólogos de “protoevangelho”, ou seja, o primeiro anúncio de que o Messias viria para nos salvar. É como se fosse o plano da redenção em miniatura. Deus prometeu que o Redentor viria da descendência da mulher. “A antiga serpente” (Ap 12:9), o diabo, se levantaria contra Ele e feriria Seu calcanhar, mas, no fim das contas, o “Descendente” esmagaria a cabeça do maligno (Rm 16:20). Essa profecia se cumpriu em Cristo, que, por Sua morte na cruz e ressurreição, venceu os poderes do mal e garantiu a oportunidade de vivermos para sempre.
A cruz deve ser motivo de orgulho e meditação para nós, todos os dias do ano. O apóstolo Paulo disse: “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6:14). “Faria muito bem para nós passar diariamente uma hora refletindo sobre a vida de Cristo. Devemos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor fortalecido, e seremos mais semelhantes a Ele.”7
8. Permaneça na arca – Temos razões bastante plausíveis para crer que o dilúvio (Gn 6-9), assim como as demais narrativas de Gênesis, não são um mito, mas um fato histórico.8 Embora não seja uma alegoria, podemos fazer um paralelo entre a história de Noé e a nossa. Pense nas dificuldades que ele passou no processo de construção da arca. Não havia sequer sinal de chuva quando Noé começou. Muitos zombavam dele por estar construindo uma enorme embarcação no meio do nada. Mas Noé confiou em Deus e se preparou para o futuro. Não deu ouvidos aos críticos, apenas continuou o trabalho que precisava ser feito. Noé poderia ter questionado o projeto que Deus havia lhe dado, mas preferiu executá-lo. E, com sua relativa simplicidade, a arca resistiu à maior catástrofe de todos os tempos. Qual é a lição? É melhor seguir os planos do Senhor, sem questionar, ainda que as pessoas e as circunstâncias indiquem a direção contrária. No fim de um dilúvio, sempre haverá um arco-íris para os servos de Deus.
Outra dificuldade devia ser o mau cheiro e o barulho dentro da embarcação, com centenas de animais juntos no mesmo lugar. No entanto, a arca era a única esperança para aquela geração. Por mais que o convívio na igreja (a arca) seja muitas vezes difícil, em função da personalidade e dos defeitos de alguns, ela continua sendo o instrumento escolhido por Deus para alcançar as pessoas. Permaneça na arca, e lembre-se de que você também tem defeitos que incomodam os outros.
9. Tenha fé genuína – A palavra fé vem do latim, fides, que significa “confiança”, “crença”, “credibilidade”.9 Na Bíblia, além desses significados, ter fé é também estar firme em Deus e em Sua Palavra. Abraão, cuja história abrange 14 capítulos do livro de Gênesis, é conhecido como “o pai da fé”. Ao confiar, mesmo contra as evidências, que Deus cumpriria a promessa de fazê-lo pai de uma grande nação (Gn 15:6), Abraão lançou as bases para a doutrina que, no futuro, ficaria conhecida como “justificação pela fé”. Sem dúvida, o ponto mais alto da vida desse patriarca foi o monte Moriá (Gn 22). Ali ele teve sua fé provada ao extremo. A entrega do filho que tanto amava, como sacrifício a Deus, demonstrou a completa obediência de Abraão às ordens do Senhor, bem como seu amor a Ele. No Moriá, Abraão recebeu também a maior revelação de sua vida: O Filho de Deus morreria em nosso lugar.
O exemplo desse homem nos ensina uma poderosa lição: fé e obras são dois lados da mesma moeda. Para ter sucesso neste ano, não basta orar com fé, pedindo que Deus abençoe seus planos. É preciso obedecer e agir. Examine sua vida e veja quais aspectos não estão em sintonia com a vontade do Senhor. Então, com a ajuda dEle, procure mudar.
10. Não olhe para trás – Certa vez, Jesus disse: “Ninguém que tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc 9:62). Paulo, por sua vez, afirmou: “Esquecendo-me das coisas que ficaram para trás [...] prossigo para o alvo” (Fp 3:13, 14). Se, por um lado, é bom e necessário conservar na memória as bênçãos do Senhor e o que Ele fez por nós, por outro lado, há coisas que não merecem ser lembradas. Há pessoas que sãos reféns das próprias lembranças. Elas permanecem presas ao passado e deixam de viver o presente e contemplar o futuro. Era o caso da mulher de Ló (Gn 19). Ela havia saído de Sodoma, mas Sodoma não havia saído de seu coração. Os prazeres e glórias daquela ímpia cidade ainda estavam vivos em sua mente. Hesitando em deixar o lugar e em desobediência à ordem do anjo (v. 17), a mulher de Ló olhou para trás, e foi transformada em uma coluna de sal (v. 26). Que triste fim!
Às vezes, somos tentados a nos entregar à nostalgia, ao desejo de voltar ao passado, e a sentir saudade do que já se foi. Mas esse sentimento pode ser perigoso na medida em que nos priva dos planos de Deus para o agora. É necessário avançar! Nossa maior esperança – a volta de Jesus – se encontra adiante de nós. Portanto, prossiga, sem olhar para trás!
11. Perdoe – Não é apenas por sua integridade que José é um bom exemplo para nós. Outra virtude de seu caráter foi o perdão. Uma das histórias mais comoventes da Bíblia, e que praticamente encerra o livro de Gênesis, é o reencontro entre José e seus irmãos (Gn 42-46). Mesmo invejado, maltratado, vendido, escravizado, acusado injustamente e preso, José não permitiu, em momento algum, que sentimentos de ódio e de vingança ocupassem seu coração. Por sua fidelidade a Deus, superou os obstáculos e foi promovido ao posto de governador do Egito.
Nessa condição, José tinha tudo para retribuir o sofrimento causado pelos irmãos, mas não o fez. Ao contrário, permitiu que o amor falasse mais alto. Ele disse: “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gn 50:20).
O coração que não perdoa é um coração doente. Se você deseja começar o ano em paz, liberte-se dos fantasmas do passado. Recordar o mal que lhe fizeram é sofrer de novo. Peça a Deus que o ajude, e se esforçe para perdoar.
12. Não perca a esperança – O segredo do fim está no começo. E o contrário também é verdade: O início só é plenamente entendido quando chega o fim. Existe uma estreita relação entre o primeiro e o último livro da Bíblia. Gênesis e Apocalipse se completam de modo extraordinário. Eles se unem numa espécie de quiasma, um estilo de escrita que cruza as ideias. O primeiro capítulo de Gênesis, que narra a criação, está em paralelo com os capítulos 21 e 22 de Apocalipse, que descrevem a restauração do planeta (“novo céu e Nova Terra”). No capítulo 3 de Gênesis, Satanás venceu a humanidade e introduziu o pecado no mundo. Mas, no capítulo 20 de Apocalipse, ele é derrotado e destruído no lago de fogo e enxofre. Elementos perdidos no Éden, como a Árvore da Vida, voltam à cena no Paraíso restaurado. E a morte, presente desde a primeira transgressão, “já não existirá” (Ap 21:4).
Como se não bastasse restaurar nosso estado de felicidade original, Deus transferirá a sede de Seu supremo governo para cá. Aqui, em nosso humilde planeta, localizado em um pequeno “subúrbio da Via Láctea”10, Deus estabelecerá para sempre Seu trono e a Nova Jerusalém. Poderemos ver Cristo face a face, e tocar Suas mãos, feridas na cruz pelos nossos pecados.
Que maravilhoso futuro nos aguarda! “Só um pouco mais, um pouquinho mais”11, e estaremos no Lar. Independentemente das lutas e problemas que você enfrentar neste ano, não se esqueça: Jesus voltará! E estar pronto para esse dia é o que realmente importa. Feliz 2023!
Eduardo Rueda (via Revista Adventista)
*Os textos bíblicos citados neste artigo alternam entre as versões Almeida Revista e Atualizada, Almeida Revista e Corrigida e Nova Versão Internacional.
Referências
1. Ellen G. White, E Recebereis Poder [MM 1999], p. 13.
2. ____________, Fundamentos da Educação Cristã, p. 66.
3. ____________, Vida e Ensinos, p. 86.
4. ____________, Ciência do Bom Viver, p. 58.
5. Bíblia de Estudo Plenitude (SBB), “aliança”, p. 24.
6. Reinaldo Siqueira (reitor do Salt), “As alianças de Deus no Antigo Testamento” (série de aulas).
7. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 83.
8. Rodrigo P. Silva, Escavando a Verdade (CPB, 2007), “Testemunhos do dilúvio”.
9. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio; Dicionário Houaiss Eletrônico, “fé”.
10. Rubens Lessa, Revista Adventista, agosto de 2012, “Deus é imprescindível”.
11. Trecho do refrão da música “Um pouco mais”, cantada pelo quarteto Arautos do Rei. Composição de Fernando Iglesias e Ricardo Martins.
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