Jesus estava sendo acusado de trabalhar em parceria com o diabo. Aquele que, após Seu batismo, resistiu ao tentador no deserto e o repeliu com um decisivo “Retira-te, Satanás!” (Mt 4:10). Aquele que havia vindo “para destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8) estava sendo incriminado como colaborador do “príncipe dos demônios”. Aquele que havia expulsado espíritos impuros (Mc 1:25) era agora acusado de estar endemoninhado.
INTEGRIDADE QUESTIONADA
Após Jesus curar “um endemoninhado que era cego e mudo”, a multidão que O observava chegou a conclusões diferentes (Mt 12:22-30). Um grupo O chamou de o Messias prometido e o outro de espiritualista (v. 24).
Essa tentativa de difamar Jesus foi um ataque frontal à Sua integridade. Era como se Seus acusadores dissessem: “Você é realmente quem diz ser? Você não tem um objetivo oculto, ou pior, um segredo obscuro? Você não está agindo secretamente em nome de Satanás?”
Associar Jesus com Belzebu foi um duplo insulto. Segundo Manfred Lurker, “Belzebu” (do hebraico Ba’al Zebûb) pode ser traduzido por “senhor das moscas ou da lixeira”, isso é, aquele que reúne seus seguidores como moscas em torno de si. No Antigo Testamento, ele aparece como o deus filisteu de Ecrom (The Routledge Dictionary of Gods and Goddesses, Devils and Demons, 1987, p. 31).
Jesus viu naquele momento uma oportunidade de compartilhar uma importante verdade sobre o reino de Deus: “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto” (Mt 12:25-28). Ele afirmou algo surpreendente: tanto o Espírito de Deus quanto Satanás estão comprometidos com a própria missão, embora elas sejam diametralmente opostas. Enquanto o diabo procura dividir e derrotar, Deus trabalha para libertar e unir. E os seres humanos? Bem, eles podem escolher o lado em que se unirão. Diz Ellen G. White: "Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Quando os cristãos se desentendem, Satanás se insinua para tomar o controle. Quantas vezes teve ele êxito em destruir a paz e a harmonia nas igrejas!" (Testemunhos Seletos 2, p. 85).
O FERMENTO DOS FARISEUS
A Bíblia descreve uma lógica que procura dividir as pessoas em boas e más, certas e erradas. Para que isso ocorra, é preciso que alguém se coloque do lado “certo”. Esse é um jogo apreciado pela natureza humana e, embora tenha variado ao longo do tempo, o espírito permanece o mesmo. No alemão chamamos uma pessoa com essa atitude de rechthaber, ou seja, alguém que pensa e afirma estar sempre com a razão, o sabe-tudo. Os fariseus acrescentaram uma dimensão espiritual a essa postura, classificando de demônios aqueles que não estavam do lado deles.
Bem que Jesus advertiu os discípulos a respeito do “fermento dos fariseus” (Mc 8:15), porque esse “levedo” tóxico costuma resultar em hipocrisia. A razão? Simplesmente porque é uma mentalidade que pratica o que condena e, ao mesmo tempo, finge que não o faz. A palavra fariseu, do hebraico perushim, vem de poresh, que significa “separar-se”. O fariseu é, em essência, alguém que se distancia e se separa dos outros em nome da religião.
No entanto, por mais verdadeira que seja qualquer análise da mente farisaica, o resultado espiritual mais importante é este: no íntimo, todos temos um fariseu dentro de nós cuidando dos seus próprios interesses.
O MILAGRE DE SER UM
A mentalidade perushim exclui em nome da religião, enquanto a de Jesus inclui em nome de Deus. O bom Pastor reúne Suas ovelhas de todos os lugares, com um objetivo em mente: juntar novamente o que nunca devia ter sido separado (Jo 10:16). Cristo trabalhou e orou pela unidade de Seu povo (Jo 17:20-24). O oposto também é verdade: aquele que com Ele não ajunta espalha (Mt 12:30). Afirma Ellen G. White: "A união é força; a divisão, fraqueza. Quando se acham unidos os que crêem na verdade presente, exercem poderosa influência. Satanás bem compreende isso. O mundo é contra nós, as igrejas populares são contra nós, as leis da Terra em breve serão contra nós. Se já houve tempo em que o povo de Deus devesse unir-se, é agora esse tempo" (Testemunhos Seletos 2, p. 77).
Agora, precisamos admitir que essa “unidade completa” pela qual Jesus orava é um milagre espiritual que não pode ser alcançado por meio de nenhum “atalho” humano. A unidade é o resultado de um processo transformador, viabilizado pelo “elo perfeito” mencionado por Paulo (Cl 3:14). É uma atitude que busca união e compreensão.
O espírito de unidade inclui os seguintes elementos: (1) nós mesmos (cura interior); (2) nosso semelhante (cura dos relacionamentos); e (3) nosso inimigo (superar toda tentação que conspire contra a unidade). Evidentemente, a base de tudo é o perdão (Cl 3:13). Ele é um milagre tão grande quanto a criação do mundo pela palavra, a transformação de alguém e a ressurreição de mortos.
O profeta Ezequiel vislumbrou um vale cheio de ossos espalhados. Quando Deus lhe perguntou se poderia haver vida novamente naquele cemitério a céu aberto, o profeta não se atreveu a opinar (Ez 37:3). Provavelmente nós faríamos o mesmo.
Podem os “ossos secos” da doutrina e das diretrizes da igreja ganhar vida? As doutrinas e os ensinamentos eclesiásticos têm seu lugar, mas só podem cobrir os ossos com tendões, carne e pele. O fôlego de vida vem somente de Deus (v. 8 e 5).
Nós ainda acreditamos que a unidade possa ser restaurada? É uma questão de escolha: ser um pacificador em nome do Príncipe da Paz ou permitir que o fariseu que habita em mim cause ainda mais separação. Alerta Ellen G. White: "Divisões na igreja desonram a religião de Cristo diante do mundo, e dão ocasião aos inimigos da verdade para justificar seu procedimento. O que estamos fazendo para preservar a unidade, nos laços da paz?" (Testemunhos Seletos 2, p. 80).
Faço minhas as palavras de Ezequiel: nossos ossos se secaram e nossa esperança se desvaneceu. Venha, Senhor, e sopre dentro desses mortos para que vivam (Ez 37:9 e 11).
Daniel Wildemann (via Revista Adventista)
Uma obra magnifica para estudo de conhecimento riquícima parabéns
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