segunda-feira, 3 de julho de 2023

AS DUAS ASCENSÕES DE CRISTO

Após a ressurreição de Jesus, Maria Madalena O encontrou junto ao sepulcro e procurou dialogar com Ele, mas Ele pediu para não ser detido, pois ainda não subira para o Pai (João 20:11-18). Depois disso, Jesus não apenas Se deteve com outras pessoas, como também dialogou demoradamente com algumas delas (ver Lucas 24:13-50; João 20:19-29; 21:1-23; Atos 1:3; 1 Coríntios 15:3-8). O contraste entre o pedido inicial para não ser detido e a iniciativa posterior de Se deter com os discípulos sugere uma breve ascensão temporária de Cristo à presença do Pai nas cortes celestiais no próprio dia da ressurreição. 

Ellen G. White no livro O Desejado de Todas as Nações descreve tanto a ascensão temporária de Jesus no dia da ressurreição (cf. João 20:17) quanto Sua ascensão definitiva 40 dias mais tarde (Marcos 16:19; Lucas 24:50, 51; Atos 1:6-11). 

Em relação à primeira delas, encontramos na página 790 da referida obra a seguinte declaração: “Jesus recusou receber a homenagem de Seu povo até haver obtido a certeza de estar Seu sacrifício aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais, e ouviu do próprio Deus a afirmação de que Sua expiação pelos pecados dos homens fora ampla, de que por meio de Seu sangue todos poderiam obter a vida eterna. O Pai ratificou o concerto feito com Cristo, de que receberia os homens arrependidos e obedientes, e os amaria mesmo como ama a Seu Filho. […] Todo o poder no Céu e na Terra foi dado ao Príncipe da Vida, e Ele voltou para Seus seguidores num mundo de pecado, a fim de lhes comunicar Seu poder e glória.” 

Sobre a ascensão definitiva de Cristo, 40 dias após Sua ressurreição, O Desejado de Todas as Nações, pp. 833-834, afirma: “Todo o Céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua ressurreição O seguiu [Mateus 27:51-53]. A hoste celestial, com brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva. […] Estão ansiosos por celebrar-Lhe o triunfo e glorificar seu Rei. Mas Ele os detém com um gesto. Ainda não. Não pode receber a coroa de glória e as vestes reais. Entra à presença do Pai. Mostra a fronte ferida, o atingido flanco, os dilacerados pés; ergue as mãos que apresentam os vestígios dos cravos. Aponta para os sinais de Seu triunfo; apresenta a Deus o molho movido, aqueles ressuscitados com Ele como representantes da grande multidão que há de sair do sepulcro por ocasião de Sua segunda vinda. […] Ouve-se a voz de Deus proclamando que a justiça está satisfeita. Está vencido Satanás. […] Os braços do Pai circundam o Filho, e é dada a ordem: ‘E todos os anjos de Deus O adorem’ [Hebeus 1:6].” 

Ellen G. White em Exaltai-O, p. 109, diz: As palavras não podem descrever a cena que ocorreu quando o Filho de Deus foi publicamente reintegrado no lugar de honra e glória que Ele deixou voluntariamente quando Se tornou homem." E o livro Atos dos Apóstolos, pp. 38-39, acrescenta que, tão logo essa cerimônia foi concluída nas cortes celestiais, o Espírito Santo foi derramado no Pentecostes como evidência da aceitação do sacrifício de Cristo.

Alguém poderia ser tentado a argumentar que a ascensão temporária de Cristo no dia da ressurreição seria inviável porque o tempo de duração da viagem entre a Terra e o Céu é de uma semana. É certo que Ellen G. White menciona em Primeiros Escritos, p. 16, que os remidos ascenderão durante “sete dias” para o mar de vidro (Apocalipse 15:2), mas isso não significa que Cristo e os anjos levem o mesmo tempo para fazerem o percurso. O fato de Cristo ter ascendido ao Céu após o diálogo com Maria Madalena (João 20:11-18) e estar de volta mais tarde, naquele mesmo dia, para acompanhar dois de Seus discípulos no caminho de Emaús (Lucas 24:13-49) deixa claro que Cristo não mais estava limitado ao tempo. De modo semelhante, o anjo Gabriel veio das cortes celestiais em questão de minutos para atender à oração de Daniel (Daniel 9:20-23; cf. 9:1-19).

Portanto, existem evidências suficientes para crermos que Cristo ascendeu, ligeiramente, ao Céu após Sua ressurreição e, definitivamente, 40 dias mais tarde. Em ambas as ascensões houve uma ratificação da obra redentora de Cristo em favor dos pecadores. Após Sua primeira ascensão, Cristo retornou à terra a fim de “comunicar Seu poder e glória” aos Seus discípulos. Após Sua segunda ascensão, Cristo permaneceu como Rei e Sacerdote nas cortes celestiais (ver Zacarias 6:13; Hebreus 4:14-16), mas enviou o Espírito Santo como Seu agente regenerador e santificador (ver João 14:16 e 17, 26; 16:7-15).

[Publicado na Revista do Ancião]

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