quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

A CRIAÇÃO

"Mediante a palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de Sua boca. Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo surgiu” (Sl 33:6, 9).

Quando a Terra saiu das mãos de seu Criador, era extraordinariamente bonita. Por toda parte, o solo fértil produzia uma vegetação exuberante. Não existiam pântanos lamacentos nem desertos áridos. Arbustos graciosos e flores delicadas agradavam a vista por toda a parte. O ar era puro e saudável. A paisagem era mais bonita do que os terrenos ornamentados do palácio mais luxuoso.

Depois que a Terra foi chamada à existência, repleta de todo tipo de vida animal e vegetal, o homem – a obra-prima do Criador – entrou em cena. “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança. Domine ele sobre […] toda a Terra […]. Criou Deus o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:26, 27).

De uma forma bem clara está estabelecida a origem da raça humana. Deus nos criou à Sua imagem. Não há razão para supor que evoluímos por meio de lentos graus de desenvolvimento, a partir das formas inferiores da vida animal ou vegetal. A Palavra inspirada descreve a origem da nossa raça não como estando relacionada ao desenvolvimento de uma linhagem de germes, moluscos e quadrúpedes, mas ao grande Criador. Embora tendo sido formado do pó, Adão era “filho de Deus” (Lc 3:38).

Os seres criados de ordem inferior não podem compreender o conceito de Deus; no entanto, foram feitos com a capacidade de amar e servir ao homem. “Tu o fizeste dominar sobre as obras das Tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste: […] e até os animais selvagens, as aves do céu” (Sl 8:6-8).

Somente Cristo é “a expressão exata” (Hb 1:3) do Pai, mas Adão e Eva foram formados à semelhança de Deus. Sua natureza estava em harmonia com a vontade de Deus, sua mente era capaz de compreender os propósitos divinos. Suas afeições eram puras; o apetite e as paixões estavam sob o domínio da razão. Eles eram santos e felizes por terem em si a imagem de Deus e obedecerem à Sua vontade perfeitamente.

Quando nossos primeiros pais saíram das mãos do Criador, a face deles irradiava a luz da vida e da alegria. Adão era muito mais alto que os homens que vivem atualmente. Eva era um pouco menor em altura; porém, suas formas eram nobres e cheias de beleza. Esse casal, sem pecado, não usava roupas artificiais; eles estavam vestidos de uma cobertura de luz, semelhante à que os anjos usam.

O Primeiro Casamento
Depois da criação de Adão, “o Senhor Deus declarou: ‘Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda’” (Gn 2:18). Deus deu a Adão uma companheira que lhe correspondesse, que poderia ser uma com ele, em amor e simpatia. Eva foi criada de uma costela tirada do lado de Adão. Ela não deveria dominar, como a cabeça, nem ser pisada sob seus pés, como se fosse inferior, mas devia estar ao seu lado, como sua igual, amada e protegida por ele. Ela era o seu segundo eu, mostrando isso a união íntima que deveria existir nesse relacionamento. “Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida” (Ef 5:29). “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2:24).

“O casamento deve ser honrado por todos” (Hb 13:4). É uma das duas instituições que, depois da queda, Adão trouxe consigo para além dos portais do Paraíso. Quando os princípios divinos são reconhecidos e obedecidos, o casamento se torna uma bênção; preserva a pureza e felicidade do gênero humano e eleva a natureza física, intelectual e moral.

“Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste, e ali colocou o homem que formara” (Gn 2:8). Nesse jardim havia árvores de toda espécie, muitas delas carregadas de frutos deliciosos. Lindas videiras cresciam eretas, com seus ramos pendendo sob o peso de frutos saborosos. O trabalho de Adão e Eva era moldar os ramos da videira, formando caramanchões, para fazerem assim, com árvores vivas, um lar para eles morarem sob as árvores cobertas de folhas e frutos. No meio do jardim estava a árvore da vida, superando em beleza a todas as outras árvores. Seu fruto tinha a propriedade de manter a vida para sempre.

“Assim foram concluídos os céus e a Terra, e tudo o que neles há” (Gn 2:1). “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1:31). Nenhuma mancha de pecado ou sombra da morte desfigurava a bela criação. “As estrelas matutinas juntas cantavam e todos os anjos se regozijavam” (Jó 38:7).

A Bênção do Sábado
Em seis dias a grande obra da criação foi finalizada. Deus “nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação” (Gn 2:2, 3). Tudo era perfeito, digno de seu divino Autor; e Ele descansou, não como alguém que estivesse cansado, mas satisfeito com o trabalho realizado, fruto de Sua sabedoria e bondade.

Depois de repousar no sétimo dia, Deus o separou como um dia de descanso. Seguindo o exemplo do Criador, os seres humanos deveriam repousar nesse dia santo, não só para que pudessem refletir sobre a obra da criação de Deus, mas para que seu coração se enchesse de amor e reverência para com o Criador.

O sábado foi dado para toda a família humana. Ao observá-lo, as pessoas demonstrariam, cheias de gratidão, seu reconhecimento a Deus como seu Criador e legítimo Soberano. Que elas eram obra das Suas mãos e sujeitas à Sua autoridade.

Deus viu que o sábado era muito importante para os seres humanos, mesmo no Paraíso. Deveriam deixar de lado os próprios interesses durante um dos sete dias. Precisavam de um sábado que os fizessese lembrar de Deus e despertasse neles a gratidão, pois tudo o que desfrutavam vinha das mãos do Criador.

É plano de Deus que o sábado dirija a nossa mente para as obras que Ele criou. A beleza que reveste a Terra é um testemunho do amor de Deus. As colinas eternas, as altas árvores, o botão que desabrocha e as delicadas flores, tudo nos fala de Deus. O sábado, que aponta para Aquele que tudo fez, também nos convida a abrir o grande livro da natureza e encontrar nele a sabedoria, o poder e o amor do Criador.

Nossos primeiros pais foram criados inocentes e santos, mas não estavam isentos da possibilidade de praticar o mal. Deus os fez seres morais livres. Eles podiam escolher obedecer ou desobedecer. Antes de estarem eternamente seguros, a sua lealdade deveria ser provada. Logo no início, quando o homem passou a existir, Deus colocou uma restrição ao desejo de satisfação própria, um sentimento fatal que constituiu a base da queda de Lúcifer. A árvore do conhecimento devia se tornar uma prova da obediência, fé e amor de nossos primeiros pais. Estavam proibidos de provar do fruto dessa árvore, sob pena de morte. Precisavam ser expostos às tentações de Satanás; porém, se suportassem a prova, seriam colocados fora do seu poder, para desfrutarem eternamente o favor de Deus.

O Belo Jardim do Éden
Deus colocou os seres humanos sob a lei, súditos do governo divino. Ele poderia tê-los criado sem a faculdade de transgredir a lei. Poderia ter evitado que tocassem no fruto proibido; mas, nesse caso, Adão e Eva não passariam de meros robôs. Se eles não tivessem liberdade de escolha, sua obediência seria forçada. Isso seria contrário ao plano de Deus, seria indigno dos seres humanos por Ele criados e teria reafirmado a acusação feita por Satanás de que o governo de Deus não era justo.

Deus fez os nossos primeiros pais pessoas corretas, sem nenhuma tendência para o mal. Apresentou a eles as mais fortes motivações possíveis para que se mantivessem fiéis. A obediência era a condição para a felicidade eterna e o acesso à árvore da vida.

O lar de nossos primeiros pais deveria ser um modelo para outros lares, quando seus filhos saíssem para ocupar a Terra. Hoje, as pessoas se orgulham dos edifícios magnificentes e casas riquíssimas que constroem, gloriando-se nas obras das próprias mãos, mas Deus colocou Adão em um jardim. Esta era uma lição para todos os tempos – a verdadeira felicidade não é encontrada na satisfação do orgulho e do luxo, mas na comunhão com Deus por meio das obras que Ele criou. O orgulho e a ambição nunca serão satisfeitos; porém, as pessoas verdadeiramente sábias encontrarão prazer real nas fontes de alegria que Deus colocou ao alcance de todos.

Ao casal no Éden foi confiado o jardim “para cuidar dele e cultivá-lo”. Deus designou o trabalho como uma bênção para ocupar a mente, fortalecer o corpo e desenvolver as suas habilidades. Por meio da atividade mental e física, Adão encontrava um dos maiores prazeres de sua santa existência. É um erro considerar o trabalho uma maldição, mesmo que ele traga cansaço e dor. Há pessoas ricas que olham com desprezo para as classes trabalhadoras, mas isso não está em harmonia com o propósito de Deus ao criar o homem. Adão não deveria ficar na ociosidade. Nosso Criador, que compreende o que é melhor para a nossa felicidade, designou a Adão o seu trabalho. A verdadeira alegria da vida é encontrada apenas por homens e mulheres que se dedicam ao trabalho. O Criador não preparou nem um espaço sequer para a prática da preguiça.

Adão e Eva, como santo par, eram não apenas filhos sob o paternal cuidado de Deus, mas estudantes que recebiam instruções diretamente do Criador, que é plenamente sábio. Eles eram visitados pelos anjos e tinham o privilégio de conversar face a face com Aquele que os havia criado. Estavam cheios do vigor fornecido pela árvore da vida, sua capacidade intelectual era somente um pouco menor que a dos anjos. As leis da natureza estavam abertas à sua mente pelo infinito Criador e Mantenedor de todas as coisas. Cada criatura vivente, desde a poderosa baleia que vive nas águas dos oceanos até o minúsculo inseto que flutua em um raio de sol, eram todos familiares para Adão. Ele deu a cada um o seu nome e conhecia a natureza e os hábitos de todos. Em cada folha da floresta, em cada estrela, na terra, no ar e no céu, em tudo estava escrito o nome de Deus. A ordem e a harmonia da criação falavam da infinita sabedoria e poder.

Enquanto Adão e Eva permanecessem fiéis à lei divina, eles estariam constantemente adquirindo novos tesouros do conhecimento, descobrindo novas fontes defelicidade e obtendo compreensões cada vez mais claras do imensurável e infalível amor de Deus.

[Ellen G. White - Os Escolhidos, pp. 13-17]

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

ESCÂNDALO

No meio cristão volta e meia somos surpreendidos por um escândalo. Como nossa fé prega a santidade e o apego inegociável aos valores éticos, ficamos profundamente chocados quando tomamos conhecimento de falhas morais ou atitudes reprováveis de algum irmão ou irmã – seja de nosso círculo próximo de relacionamentos, seja alguém com mais notoriedade. É compreensível. O pecado nos choca, confronta, entristece, abate, revolta. Nessas horas, nosso senso de justiça nos leva a querer sangue, exigir punição dos pecadores, hereges e canalhas. A minha pergunta é: como exatamente devemos proceder quando explode um escândalo no meio cristão?

Pastores que falharam em sua santidade, irmãos que pecaram na sexualidade, líderes que desonraram pai e mãe, cristãos famosos que disseram ou fizeram algo estranho em público, bons pregadores que passaram a pregar heresias… a lista das causas de um escândalo entre nós é interminável. No centro de todas, uma única causa: pecado. Deus é santo e não tem parte com o pecado, é certo. Mas Deus também é gracioso e sua misericórdia dura para sempre. Diante dessa realidade, eis minha sugestão sobre como devemos nos posicionar diante de um escândalo:

1. Não tenha prazer no escândalo
Quedas morais, pecados e heresias são tragédias. São desastres. Não são motivo de piada. Devemos tratá-los como o horror que representam: com lamento, choro e profunda tristeza. O pecado jamais deve se tornar motivo para tricotadas, fofocadas, “você soube da última?” ou disse-me-disse. Não faça piada com o horror. Não se deleite na tragédia. Isso é papel do diabo.

"A língua que se deleita no dano que causa, a língua parladora que diz: Conte, e eu o espalharei, diz o apóstolo Tiago que é inflamada pelo inferno. Espalha tições de fogo por toda parte. Só se lhe dá condescender com a sua inclinação de amar o escândalo. Mesmo professos cristãos fecham os olhos a tudo que é puro, honesto, nobre e amável, entesourando tudo que é objetável e desagradável, e publicando-o ao mundo" (Conselhos sobre Educação, p. 87).

2. Fale com Deus
Converse sobre o escândalo com as demais pessoas apenas o estritamente necessário. A pessoa com quem você deve conversar intensamente e longamente sobre o escândalo é o Senhor. O nome disso é oração. Portanto, ore a Deus, peça misericórdia sobre a vida dos envolvidos, clame por arrependimento e restauração. Ficar de tititi com as pessoas, pessoalmente ou nas redes sociais, não adianta absolutamente nada; orar adianta tudo.

"Falem menos; muito tempo precioso é perdido em conversas que não trazem luz. Reúnam-se os irmãos com jejum e oração em busca da sabedoria que Deus prometeu fornecer liberalmente. Levem ao conhecimento de Deus as suas dificuldades. Jamais devem deixar de consultar a grande Fonte de toda a sabedoria. Fortalecidos e iluminados pelo Obreiro-Mestre, serão capacitados a permanecer firmes contra pecaminosas influências e a discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal" (Liderança Cristã, p. 65).

3. Não conclua antes de saber de todos os fatos
Cansei de ver escândalos em que as pessoas criam mil conjecturas acerca do que houve sem saber direito as informações. “Ouviram falar” e, por causa disso, tomam comentários colhidos ao vento como verdades absolutas. Para emitir uma opinião, assumir uma postura, tomar lados, se posicionar, antes é preciso ter total conhecimento da situação. Nesse sentido, uma das virtudes do fruto do Espírito é essencial: a paciência. Espere. Não corra para emitir uma opinião. Deixe a verdade ser exposta totalmente e, só então, se posicione.

"Entre os amantes da tagarelice, alguns são atuados pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Alguns ocultam seus sentimentos reais, enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo suspeitam, dos males alheios. Será caridade cristã, apanhar todo boato que por aí flutue, desenterrar tudo que lance suspeita sobre o caráter de outro, e então ter prazer em empregá-lo para o prejudicar?" (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 22).

4. Olhe para os culpados com firmeza, mas com misericórdia
A ética de Cristo não é a da punição, é a da restauração. Como filhos de Deus, o desejo do nosso coração deve ser sempre ver os que erraram arrependidos e restaurados espiritualmente. Não queira mandar os hereges e os pecadores para o inferno, queira vê-los de lágrimas no pó e coração sinceramente compungido. Como embaixadores do reino daquele que veio para os doentes, devemos ser médicos da graça e não carrascos da desgraça. Uma vez que se comprove a culpa, seja movido por compaixão pela vida dos culpados, para que sejam resgatados do poço de trevas em que se enfiaram e que, se tiverem de arcar com as consequências humanas de seu pecado, que pelo menos sua alma seja salva.

"Não se deve recorrer a medidas drásticas ao se lidar com os que erram; medidas mais suaves produzirão muito mais efeito. Lancem mão de métodos mais suaves com a maior perseverança, e se não surtirem efeito, esperem pacientemente. Jamais se apressem em desligar um membro da igreja. Orem por ele e vejam se Deus não mudará o coração do errante. Precisamos olhar às faltas dos outros, não para condenar, mas para restaurar e curar" (The Review and Herald, 14 de Maio de 1895).

5. Entenda que a disciplina dos culpados é necessária
Determinados tipos de escândalos vão gerar consequências no plano humano. Um pastor que adultera precisa ser afastado do cargo até que sua vida esteja restaurada. Um pregador que diz uma heresia precisa se retratar em público. Um líder que desonra pai e mãe tem de ser tratado fora dos púlpitos e cargos antes de continuar liderando. Uma pessoa qualquer que comete um crime deve ser punida de acordo com o que prevê o código penal, mesmo que esteja arrependida e tenha sido perdoada por Deus: há consequências no plano humano para nossos atos, e devemos enfrentá-las.

"Deus quer ensinar a Seu povo que a desobediência e o pecado são excessivamente ofensivos a Seus olhos, e não devem ser considerados levianamente. Ele mostra a necessidade de purificar a igreja de erros. Um pecador pode difundir trevas que excluam a luz de Deus de toda a congregação. Ao compreenderem as pessoas que se estão adensando trevas sobre elas, sem que saibam a causa, devem buscar diligentemente a Deus, em grande humildade e abatimento do próprio eu, até que os erros que ofendem o seu Espírito sejam descobertos e afastados" (Testemunhos para a Igreja 3, p. 265).

6. Olhe para as vítimas com compaixão
Esposas traídas, pessoas enganadas, ovelhas feridas… muitas pessoas ficam machucadas quando explode um escândalo. As vítimas devem ser abraçadas, devemos chorar com elas, conduzi-las a perdoar quem as machucou, amparar seu coração em frangalhos. Nunca se aproxime dos feridos para obter mais detalhes sobre o escândalo ou algo assim. O nosso papel é amar, sofrer com quem sofre e auxiliar na sua restauração física, emocional e espiritual.

"Se aqueles que lidam com os que erram tivessem o coração pleno de ternura, que espírito diferente prevaleceria nas igrejas! Que o Senhor possa abrir os olhos e suavizar o coração daqueles que têm demonstrado um espírito ríspido, não perdoador e inflexível para com aqueles que eles pensam estar em erro" (Liderança Cristã, p. 98).

7. Lembre-se dos seus próprios pecados
Jesus presenciou um escândalo. Mais do que isso: ele foi instigado a emitir um parecer sobre o escândalo. Afinal, uma mulher fora flagrada em adultério. Adúltera! Pecadora! Escandalosa! Opróbrio! Digna de apedrejamento aos olhos da Lei! Mas a resposta de Jesus aos que queriam apedrejá-la foi que cada um olhasse para si. Afinal, em maior ou menor intensidade, todos temos telhado de vidro. E isso Ele nos diz, hoje: olhe para si. Quando ocorre um escândalo, devemos agir com humildade, sem nos considerarmos megassantos, pessoas acima do bem e do mal. Mais do que jogar pedras, precisamos usar o escândalo alheio para ver como nós mesmos somos frágeis e passíveis de errar. Se há algo de positivo no escândalo é o alerta que ele lança sobre nós, para que, estando de pé, não caiamos. Vigie sempre.

"Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável. Ao procurarmos corrigir os erros de um irmão, o Espírito de Cristo nos levará a resguardá-lo tanto quanto possível até das críticas dos próprios irmãos, quanto mais de censura do mundo incrédulo. Nós mesmos somos falíveis, e necessitamos da piedade e do perdão de Cristo, e da mesma maneira que desejamos que Ele nos trate, pede-nos que nos tratemos uns aos outros" (Manuscrito 144).

8. Seja parte da solução e não do problema
Que tudo o que você pensar, falar ou fizer em relação ao escândalo seja para edificação das pessoas e para a glória de Deus. Fora disso, o melhor é não fazer nada, manter-se calado e ficar quieto.

"Nossos obreiros, quando tentados a falar palavras precipitadas de crítica e juízo, devem lembrar-se de que silêncio é ouro" (The Review and Herald, 14 de Novembro de 1907).

Meu irmão, minha irmã, infelizmente sempre haverá escândalos entre nós, pois vivemos debaixo do pecado. Devemos saber como falar e agir no momento que isso acontecer, sempre com amor, graça e palavras temperadas, chorando com quem chora e pacificando. Nosso papel não é chutar quem está caído. Muito menos execrar vítimas. Exerça misericórdia. Busque a justiça, sim, mas que seja em amor e não com ira, vingança, ódio, destempero. Fale e faça aos outros como gostaria que falassem e fizessem a você se a queda fosse sua. E, acima de tudo, ore a Deus. Pois Ele é quem tudo sabe, quem exerce a perfeita justiça e quem governa a nossa vida como Justo juiz e Príncipe da paz. Como ordena a Palavra do Senhor:

“Amados, nunca se vinguem; deixem que a ira de Deus se encarregue disso, pois assim dizem as Escrituras: ‘A vingança cabe a mim, eu lhes darei o troco, diz o Senhor’. Pelo contrário: ‘Se seu inimigo estiver com fome, dê-lhe de comer; se estiver com sede, dê-lhe de beber. Ao fazer isso, amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele’. Não deixem que o mal os vença, mas vençam o mal praticando o bem” (Romanos 12:19-21).

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

As inserções dos textos de Ellen G. White foram feitas pelo blog.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

MULHER, NÃO ME SEGURE!

As palavras de Jesus têm uma força incomum. O pouco que Ele escreveu na areia, o vento apagou, mas o que disse está gravado na mente e no coração de seus seguidores até hoje. No entanto, há algumas frases suas que soam de maneira estranha. Não têm fácil explicação. Uma delas me chama a atenção.

Jesus ressuscitara ao nascer do dia. E uma pessoa especial se encontrava chorando, sozinha, na entrada do túmulo vazio. Seu nome: Maria Madalena. Ela não estava ali por acaso. Tinha bons motivos para chorar a perda de Jesus. Não era sem explicação sua coragem de estar ao pé da cruz nas horas finais de seu mestre, enquanto os outros discípulos se escondiam pelos cantos da noite. Sua vida fora marcada pelas palavras de Jesus. Deve haver algo incrível por trás da experiência de alguém que é liberto de "sete demônios" pela própria palavra de Cristo. De qualquer maneira, a vida de Maria estava intimamente ligada à vida dAquele que morrera.

De repente, Jesus quebra o roteiro triste da história e aparece vivo. Maria é a primeira a vê-Lo ressurreto e eu imagino o porquê.

Seguindo o impulso natural, Maria corre para abraçá-Lo, mas algo estranho acontece. Jesus simplesmente se afasta, dizendo: "Mulher, não me segure!" (João 20:17). Em outras palavras, "Mulher, me solte!" Como entender tais palavras vindas da boca de quem só tinha palavras de convite e aceitação? Como entender Jesus aqui? Ellen G. White diz: "Jesus recusou receber a homenagem de Seu povo até haver obtido a certeza de estar Seu sacrifício aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais, e ouviu do próprio Deus a afirmação de que Sua expiação pelos pecados dos homens fora ampla, de que por meio de Seu sangue todos poderiam obter a vida eterna" (A Verdade sobre os Anjos, p. 216).

As palavras seguintes dão nova luz a Maria e podem dar a nós também: "Vá... e conte aos outros o que ainda irá acontecer". Ellen White complementa: "Alegremente ela se dirigiu, à pressa, aos discípulos, com as boas novas" (Primeiros Escritos, p. 187).

Na caminhada espiritual, corremos o grande perigo de nos apegar ao que já passou, ao que Deus já fez por nós no passado e até ao que nós já fizemos por Ele ontem. Mas as palavras "estranhas" de Jesus acendem uma luz, mostram uma nova direção. O mais importante não é o que Deus já fez por nós, mas o que Ele ainda promete fazer. Quem vive agarrado ao que foi ontem, não tem espaço nas mãos para receber o amanhã. Não devemos deixar que as grandes coisas que Deus fez ontem em nossa vida nos ceguem para as que Ele promete fazer amanhã.

Ouvi tempos atrás, a história de um menino que tinha um pai muito ocupado. Os melhores momentos de sua infância ele vivera sem a presença do pai. Tudo o que ele mais queria era ter o pai perto, estar com ele, mas isso quase nunca era possível. Um belo dia - um dia desses em que a gente sente que alguma coisa precisa mudar - o pai resolveu adiar todos os compromissos e passar um dia com o filho, só com ele. Seria um acampamento. Ele disse: "Filho, prepare-se, pois amanhã nós vamos passar o dia juntos. Só você e eu. Nós vamos viajar e vai ser muito legal!". Essas eram palavras mágicas para um garoto pequeno. Já era noite. Assim, ele correu para o quarto, escovou os dentes, pulou na cama, puxou a coberta e fechou os olhos com toda a força que podia. Mal podia esperar chegar o amanhã. Acontece que ele não conseguia pegar no sono. Sua imaginação passeava, seu hoje era como que invadido pelo amanhã e isso não o deixava dormir.

No meio da noite, o garoto vai até o quarto do pai e bate à porta. O pai fica assustado ao ver o menino acordado àquela hora. "O que aconteceu, filho?", pergunta. Ao que o menino responde: "É que eu não consigo dormir." O pai continua: "Filho, você precisa dormir. Lembra? Amanhã é o nosso dia. Vai ser um dia cheio. Você precisa descansar!" O menino junta toda a alegria que o impedia de dormir e diz: "Pai, é sobre isso que eu quero falar. Pai, obrigado pelo amanhã!"

Com Jesus, o melhor ainda está por vir. Se no passado Ele nos ofereceu perdão e salvação através de sua morte, no amanhã Ele nos promete o abraço da eternidade, quando de sua segunda vinda. Às vezes eu me sinto como um garoto pequeno num quarto escuro, esperando a noite dessa vida passar. Não sei se você já sentiu assim.

A promessa mais bonita da Bíblia está escondida nas palavras de Jesus. Logo logo a luz do sol de Sua vinda vai brilhar, acabando com as trevas do pecado nesse mundo. Que seu coração marque ansioso cada momento da espera.

Eu mal posso esperar esse dia amanhecer.

"Nós estamos ainda em meio às sombras e tumultos das atividades terrenas. Consideremos com todo o empenho o bendito porvir. Atravesse a nossa fé toda nuvem de escuridão, e contemplemos Aquele que morreu pelos pecados do mundo. Sejamos animados pelo pensamento de que o Senhor logo virá. Alegre-nos o coração esta esperança. “Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará” (Hebreus 10:37)” (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 287).

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

AS VIRGENS LOUCAS

Este artigo é baseado em Mateus 25:1-13.

Cristo e Seus discípulos estão assentados no Monte das Oliveiras. O Sol já desapareceu e as sombras da noite crescem sobre a Terra. Pode-se ver uma casa esplendorosamente iluminada como para uma festa. A luz jorra das aberturas, e um grupo expectante indica que um cortejo nupcial está prestes a aparecer. Em muitas regiões do oriente as festividades nupciais são realizadas à noite. O noivo parte ao encontro da noiva e a traz para casa. À luz de tochas, o cortejo dos nubentes sai da casa paterna para seu próprio lar, onde um banquete é oferecido aos convidados. Na cena que Cristo contemplava, um grupo espera o aparecimento do cortejo nupcial para a ele se ajuntar. 

Na adjacência do lar da noiva esperam dez virgens trajadas de branco. Todas levam uma lâmpada acesa e um frasco de óleo. Todas aguardam ansiosamente a vinda do esposo. Há, porém, uma tardança. Passa-se uma hora após outra, as vigias fatigam-se e adormecem. À meia-noite ouve-se um clamor: “Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro!” (Mateus 25:6). Sonolentas despertam, de repente, e levantam-se. Vêem o cortejo aproximando-se resplandecente de tochas e festivo, com música. Ouvem as vozes do esposo e da esposa. As dez virgens tomam suas lâmpadas e começam a aparelhá-las, com pressa de partir. Cinco delas, porém, tinham deixado de encher seus frascos. Não previram demora tão longa, e não se prepararam para a emergência. Em aflição apelam para suas companheiras mais prudentes, dizendo: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam” (Mateus 25:8). Mas as cinco outras, com suas lâmpadas há pouco aparelhadas, tinham seus frascos esvaziados. Não tinham óleo de sobra, e respondem: “Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós” (Mateus 25:9). 

Enquanto foram comprar, o cortejo foi-se e as deixou. As cinco, com as lâmpadas acesas, se uniram à multidão, entraram na casa com o cortejo nupcial, e fechou-se a porta. Quando as virgens loucas chegaram à entrada da casa do banquete, receberam uma recusa inesperada. O anfitrião declarou: “Não vos conheço” (Mateus 25:12). Foram abandonadas ao relento, na rua solitária, nas trevas da noite. 

Quando Cristo, sentado, contemplava o grupo que aguardava o esposo, contou aos discípulos a história das dez virgens, ilustrando, pela experiência delas, a da igreja que viveria justamente antes de Sua segunda vinda. 

Os dois grupos de vigias representam as duas classes que professam estar à espera de seu Senhor. São chamadas virgens porque professam fé pura. As lâmpadas representam a Palavra de Deus. Diz o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra e, luz para os meus caminhos” (Salmos 119:105). O óleo é símbolo do Espírito Santo. Assim é representado o Espírito na profecia de Zacarias (Zacarias 4:1-4, 6, 12, 14). 

Na parábola, todas as dez virgens saíram ao encontro do esposo. Todas tinham lâmpadas e frascos. Por algum tempo não se notava diferença entre elas. Assim é com a igreja que vive justamente antes da segunda vinda de Cristo. Todos têm conhecimento das Escrituras. Todos ouviram a mensagem da proximidade da volta de Cristo e confiantemente O esperam. Como na parábola, porém, assim é agora. Há um tempo de espera; a fé é provada; e quando se ouvir o clamor: “Aí vem o Esposo! Saí-Lhe ao encontro!” (Mateus 25:6), muitos não estarão preparados. Não têm óleo em seus vasos nem em suas lâmpadas. Estão destituídos do Espírito Santo. 

Sem o Espírito de Deus, de nada vale o conhecimento da Palavra. A teoria da verdade não acompanhada do Espírito Santo, não pode vivificar a mente, nem santificar o coração. Pode estar-se familiarizado com os mandamentos e promessas da Bíblia, mas se o Espírito de Deus não introduzir a verdade no íntimo, o caráter não será transformado. Sem a iluminação do Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e serão presa das tentações sutis de Satanás. 

A classe representada pelas virgens loucas não é hipócrita. Têm consideração pela verdade, advogaram-na, são atraídos aos que crêem na verdade, mas não se entregaram à operação do Espírito Santo. Não caíram sobre a rocha, que é Cristo Jesus, e não permitiram que sua velha natureza fosse quebrantada. Essa classe é representada, também, pelos ouvintes comparados ao pedregal. Recebem a Palavra prontamente; porém, deixam de assimilar os seus princípios. Sua influência não permanece neles. O Espírito trabalha no coração do homem de acordo com o seu desejo e consentimento, nele implantando natureza nova; mas a classe representada pelas virgens loucas contentou-se com uma obra superficial. Não conhecem a Deus; não estudaram Seu caráter; não tiveram comunhão com Ele; por isso não sabem como confiar, como ver e viver. Seu serviço para Deus degenera em formalidade. “Eles vêm a Ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de Ti como Meu povo, e ouvem as Tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza” (Ezequiel 33:31). 

O apóstolo Paulo assinala que essa será a característica especial dos que vivem justamente antes da segunda vinda de Cristo. Diz: “Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos... mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela” (2 Timóteo 3:1-5). 

Essa é a classe que em tempo de perigo é encontrada bradando: Paz e segurança. Acalentam seu coração em sossego, e não sonham com o perigo. Quando despertos de sua indiferença, discernem sua destituição, e rogam a outros que lhes supram a falta; em assuntos espirituais, porém, ninguém pode remediar a deficiência de outros. A graça de Deus tem sido oferecida livremente a todos. Tem sido proclamada a mensagem do evangelho: “Quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22:17). Todavia o caráter não é transferível. Ninguém pode crer por outro. Ninguém pode receber por outro o Espírito. Ninguém pode dar a outrem o caráter que é o fruto da operação do Espírito. “Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela (a Terra), vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria alma pela sua justiça” (Ezequiel 14:20). 

Numa crise é que o caráter é revelado. Quando a voz ardorosa proclamou à meia-noite: “Aí vem o Esposo! Saí-lhe ao encontro!” (Mateus 25:6), e as virgens adormecidas ergueram-se de sua sonolência, foi visto quem fizera a preparação para o evento. Ambos os grupos foram tomados de surpresa; porém, um estava preparado para a emergência, e o outro não. Assim agora uma calamidade repentina e imprevista, alguma coisa que põe a pessoa face a face com a morte, mostrará se há fé real nas promessas de Deus. Mostrará se está sustida na graça. A grande prova final virá no fim do tempo da graça, quando será tarde demais para se suprirem as necessidades do espírito. 

As dez virgens estão esperando na noite da história deste mundo. Todas dizem ser cristãs. Todas têm uma vocação, um nome, uma lâmpada, e todas pretendem fazer a obra de Deus. Todas aguardam, aparentemente, a volta de Cristo. Cinco, porém, estão desprevenidas. Cinco serão encontradas surpreendidas, aterrorizadas, fora do recinto do banquete. 

No dia final muitos hão de requerer admissão ao reino de Cristo, dizendo: “Temos comido e bebido na Tua presença, e Tu tens ensinado nas nossas ruas” (Lucas 13:26). “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E, em Teu nome, não expulsamos demônios? E, em Teu nome, não fizemos muitas maravilhas?” (Mateus 7:22). Mas a resposta será: “Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim” (Lucas 13:27). Nesta vida não tiveram comunhão com Cristo; por isto não conhecem a linguagem do Céu, são estranhos às suas alegrias. “Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Coríntios 2:11). 

As palavras mais tristes que caíram em ouvidos mortais são aquelas da sentença: “Não vos conheço” (Mateus 25:12). Unicamente a comunhão do Espírito que desprezastes poderia unir-vos à multidão jubilosa que estará no banquete das bodas. Não podereis participar dessa cena. Sua luz incidiria sobre olhos cegos, e sua melodia em ouvidos surdos. Seu amor e alegria não fariam soar de júbilo corda alguma do coração entorpecido pelo mundo. Sois excluídos do Céu por vossa própria inaptidão para a sua companhia. 

Não podemos estar prontos para encontrar o Senhor, acordando ao ouvir o brado: “Aí vem o Esposo!” (Mateus 25:6) e então tomar nossas lâmpadas vazias para enchê-las. Não podemos viver apartados de Cristo aqui, e ainda assim estar aptos para a Sua companhia no Céu.

Na parábola, as virgens prudentes tinham óleo em seus vasos com as lâmpadas. Suas lâmpadas arderam com chama contínua pela noite de vigília. Contribuíram para aumentar a iluminação em honra do esposo. Brilhando na escuridão, auxiliaram a iluminar o caminho para o lar do esposo, para a ceia de bodas. 

Assim, devem os seguidores de Cristo irradiar luz nas trevas do mundo. Pela atuação do Espírito Santo, a Palavra de Deus é uma luz quando se torna um poder transformador na vida de quem a recebe. Implantando-lhes no coração os princípios de Sua Palavra, o Espírito Santo desenvolve nos homens os predicados de Deus. A luz de Sua glória — Seu caráter — deve refletir-se em Seus seguidores. Assim devem glorificar a Deus, e iluminar o caminho para a mansão do esposo, para a cidade de Deus, e para o banquete de bodas do Cordeiro.

[Ellen G. White - Parábolas de Jesus, pp. 221-225]

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

O GRANDE IRMÃO ESTÁ TE OBSERVANDO

Após ser citado no Big Brother Brasil 24, o clássico da distopia 1984 voltou a viralizar. Em conversa com outros participantes do reality show, a influencer Vanessa Lopes fez referência à obra de George Orwell e essa rápida menção foi o suficiente para disparar as buscas online pelo livro. A participante alegou que o livro foi inspirado no programa, mas é o contrário. 1984 foi a inspiração para criação do nome e formato do programa.

O livro, publicado originalmente em 1949, colocou em evidência algumas das facetas do totalitarismo (sistema político ou uma forma de governo que proíbe partidos de oposição, que exerce um elevado grau de controle na vida pública e privada dos cidadãos, considerado a forma mais extrema e completa de autoritarismo), abordando temas importantes relativos à quebra da privacidade. A trama, que se passa em Londres (na fictícia Oceânia), tem como protagonista Winston, que se encontra preso na engrenagem totalitária de uma sociedade dominada pelo Estado. Em Oceânia, nenhum de seus habitantes está a salvo da presença do Estado, sendo vigiados por todos os lados pelo Grande Irmão, chamado, na obra, de Big Brother. O líder máximo.

Nas ruas de Oceânia, o slogan estampado em cartazes diz que "O Grande Irmão está te observando". Isso acontece através das teletelas, um tipo de televisor que monitora, grava e espiona todos os habitantes. E você... gosta da ideia de ser monitorado o tempo todo? Alguém tendo acesso a tudo o que você faz e tudo o que você diz?

“Ó Senhor Deus, Tu me examinas e me conheces. Sabes tudo o que eu faço e, de longe, conheces todos os meus pensamentos. ... Estás em volta de mim, por todos os lados, e me proteges com o Teu poder. ... Para onde posso fugir da Tua presença? ... Eu poderia pedir que a escuridão me escondesse e que em volta de mim a luz virasse noite; mas isso não adiantaria nada porque para Ti a escuridão não é escura, e a noite é tão clara como o dia" (Salmos 139:1-12).

Deus sabe tudo o que fazemos e quais os caminhos que andamos. Não há nada que possamos esconder de Deus ou que Ele não saiba sobre a nossa vida.

“Deus sabe por onde você anda e vê tudo o que você faz” (Provérbios 5:21).

"Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os bons e os maus" (Provérbios 15:3).

"Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e seus ouvidos, abertos para seus clamores" (Salmo 34:15).

Nestes versos, vemos os atributos divinos, “onipresença” e “onisciência”. Isso é, Deus está em todo lugar e sabe de todas as coisas. Ninguém pode enganar a Deus, nada escapa ao Seu olhar infinito.

"Não há nada que se possa esconder de Deus. Em toda a criação, tudo está descoberto e aberto diante dos Seus olhos, e é a Ele que todos nós teremos de prestar contas" (Hebreus 4:13).

Vejamos o que Ellen G. White nos diz a cerca deste Santo Vigia: "Em todo lugar, a toda hora do dia, há um Santo Vigia, que fecha todas as contas, cujos olhos veem toda situação, quer demonstre fidelidade, quer deslealdade e engano. Nunca estamos sós. Temos um Companheiro, quer O escolhamos, quer não. Lembrai-vos de que onde quer que vos acheis, o que quer que estejais fazendo, Deus ali está. Para cada uma de vossas palavras ou atos, tendes uma testemunha — o Deus santo, que aborrece o pecado. Coisa alguma do que se diga ou faça ou pense escapa ao Seu olhar infinito. Vossas palavras podem não ser ouvidas por ouvidos humanos, mas são ouvidas pelo Dominador do Universo. Ele vê a ira íntima do coração quando a vontade é contrariada. Ouve a expressão profana. Na mais profunda treva ou solidão, ali está Ele. Ninguém pode enganar a Deus; ninguém escapa de sua responsabilidade para com Ele" (Para Conhecê-Lo, p. 230).

O Santo Vigia está em todo o lugar, como diz Ellen White: "Um Santo Vigia anota cada palavra e ação de nossa vida, e pesa todo motivo que provoca a ação. A mão que escreveu os caracteres sobre a parede do palácio de Belsazar está escrevendo por toda parte: 'Deus está aqui'. Deus está em todo lugar. Todas as nossas palavras, todos os nossos planos, todos os nossos motivos secretos são pesados nas balanças da infinita justiça e verdade" (Olhando para o Alto, p. 224).

Deus sabe tudo de mim, e mesmo assim me ama. Mesmo eu sendo desobediente, mesmo quando penso o que não devo, mesmo quando me esqueço dEle, Ele me cerca por todos os lados com Seu amor, Sua misericórdia, Sua graça e Sua bondade infinita. E isso é maravilhoso, porque com Deus posso ser eu mesmo, não preciso fingir, posso ser sincero, posso abrir o meu coração para Ele e falar com toda liberdade. Mesmo dos meus sentimentos mais sórdidos, Ele já sabe.

Vejamos o que Ellen G. White diz: "A obra de cada homem passa em revista perante Deus, e é registrada pela sua fidelidade ou infidelidade. Ao lado de cada nome, nos livros do Céu, estão escritos, com terrível exatidão, toda palavra inconveniente, todo ato egoísta, todo dever não cumprido e todo pecado secreto, juntamente com toda hipocrisia dissimulada. Advertências ou admoestações enviadas pelo Céu, e que foram negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades não aproveitadas, influência exercida para o bem ou para o mal, juntamente com seus resultados de vasto alcance, tudo é historiado pelo anjo relator" (O Grande Conflito, p. 480).

Mas são especialmente confortantes as declarações de Ellen White de que o bem é registrado tão fielmente quanto o mal. Ela declara: "No livro memorial de Deus toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo o mal vencido, toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente historiados. E todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza, suportado por amor de Cristo, encontra-se registrado" (O Grande Conflito, p. 481).  
 
Ellen White afirma também: "Deus vê muitas tentações resistidas das quais o mundo, e mesmo amigos próximos, nunca sabem; tentações no lar, no coração; Ele vê a humildade da alma em vista de sua própria franqueza, o sincero arrependimento, até mesmo por um pensamento que é mau; Ele vê a completa devoção do coração para o desenvolvimento da causa de Deus, sem coloração de egoísmo; Ele tem notado aquelas horas de dura batalha com o eu, batalhas que conseguiram a vitória — tudo isto Deus e os anjos sabem" (Carta 18, 1891).

Finalizo com esta promessa maravilhosa que Ellen White nos revela: "Todo o Céu está interessado em nossa salvação. Os anjos de Deus... estão anotando as ações dos homens. Registram, nos livros memoriais de Deus, as palavras de fé, os atos de amor, a humildade de espírito; e naquele dia em que as obras de cada um hão de ser provadas, a fim de ver de que espécie são, a obra do humilde seguidor de Cristo resistirá à prova, recebendo o louvor do Céu. 'Então, os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai.' (Mateus 13:43)" (The Review and Herald, 16 de Setembro de 1890).

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

SEM O APLAUSO DE DEUS

“Quando fizerem o bem, tenham o cuidado para que seu gesto não vire peça de teatro. Pode até ser um bom espetáculo, mas Deus não vai aplaudir. Quando for ajudar alguém, não chame atenção para você mesmo. Você já viu gente assim em ação, tenho certeza – eu os chamo atores. Eles vão orar nas esquinas, como se elas fossem palcos, atuando para o público, interpretando para as multidões. Eles recebem aplausos sim, mas é tudo. Quando você ajudar alguém, não pense na impressão que vai causar. Apenas ajude – com simplicidade e discrição. É assim que Deus, que o criou com todo amor, faz. Ele age nos bastidores para ajudar você.” (Mateus 6:1-4, A Mensagem)

Nessa seção do Sermão da Montanha, Jesus adverte quanto ao perigo da hipocrisia, o pecado de usar a religião para esconder nossa verdadeira face. Hipócrita, na definição de Cristo, não é alguém que fica aquém dos ideais divino. Hipócrita é aquele que usa a máscara religiosa para ocultar sua identidade real e para autopromoção. No original grego, “hipócrita” significa “ator”. Hipócrita é aquele que busca “visibilidade”, que troca o alvo de agradar a Deus pelo objetivo idólatra de ganhar aplauso humano. Como os fariseus, cuja religião era praticada visando ao louvor dos observadores, e não à glória do Senhor. Depois de apresentar a Seus discípulos uma justiça superior, Jesus passa a advertir quanto aos perigos da encenação religiosa. Ele muda o foco da justiça em sentido positivo, para a “justiça” em sentido formal e exterior, que transforma a religião em um show de ostentação.

Ellen G. White diz sobre esta passagem: "Essa lição de Jesus aos discípulos tinha o objetivo de repreender aqueles que desejavam receber a glória dos homens. Davam esses suas esmolas em lugares de reunião pública e, antes disso, uma proclamação pública era feita anunciando sua generosidade diante do povo. Muitos davam grandes somas meramente para ter seu nome exaltado pelos homens. Os meios dados dessa maneira eram frequentemente extorquidos de outros, pela opressão aos assalariados e aos pobres" (Testemunho para a Igreja 1, p. 193).

Como sabemos, uma falsa motivação pode prostituir bons atos. Isto é, podemos fazer as coisas corretas pela motivação errada, apenas para “sair bem na foto”. Ellen G. White observa: "Muitos atos que passam por boas obras, mesmo atos de generosidade, quando intimamente examinados, verificar-se-á haverem sido suscitados por motivos errôneos. Muitos recebem aplausos por virtudes que não possuem. O Perscrutador dos corações pesa os motivos, e muitas vezes ações altamente louvadas por homens são por Ele registradas como partindo de egoísmo e baixa hipocrisia. Cada ato de nossa vida, seja excelente e digno de louvor ou merecedor de censura, é julgado pelo Perscrutador dos corações segundo os motivos que o determinaram" (Obreiros Evangélicos, p. 275).

A tentativa de viver de acordo com esse tipo de “justiça”, cuja motivação é a busca de aplauso dos homens, destrói a importância de qualquer desempenho religioso. Nessa narrativa de Mateus (6:1-18), Jesus discute os três atos principais da piedade judaica: esmolas, oração e jejum, virtudes recomendáveis, mas corrompidas pela hipocrisia. O que Ele diria hoje de restrições de dieta, “zelo” missionário, música e contribuições para a igreja? Tudo isso, bom em si, pode tornar-se apenas um bom espetáculo sem o aplauso de Deus.

A igreja é lugar para serviço desinteressado, não para culto ao ego. Há pessoas que, se não estiverem na posição de comando, não servem para nada. Isolam-se e veem defeito em tudo. O que, na verdade, desejam é mostrar suas habilidades e ser elogiadas por sua capacidade empreendedora. Essa atitude também esconde um homem interior putrefato, carente do poder regenerador do Espírito. A grande motivação de uma pessoa transformada interiormente é o desejo de proclamar, pelo exemplo e por palavras, a superioridade e excelência do Filho de Deus: “Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5:12).

Ellen G. White alerta: "A verdadeira piedade nunca promove um esforço para ostentação. Os que desejam palavras de elogio e lisonja, delas se nutrindo como de um bocado delicioso, são cristãos apenas de nome. Por meio de suas boas obras devem os seguidores de Cristo trazer glória, não para si mesmos, mas para Aquele mediante cuja graça e poder eles operaram. É por meio do Espírito Santo que toda boa obra é efetuada, e o Espírito é dado para glorificar, não o recebedor, mas o Doador" (O Maior Discurso de Cristo, p. 80).

Concluo com esta advertência dada por Jesus: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus" (Mateus 5:20). A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos à medida que têm fé em Deus e mantêm vital ligação com Ele. Dessa forma, a verdadeira piedade elevará seus pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizarão com a interior pureza cristã.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O CRISTIANISMO QUE JESUS NÃO ENSINOU

O cristianismo é a religião da graça, do amor e da paz. Uma das grandes diferenças entre a fé cristã e outras religiões é que o nosso Deus não é uma besta-fera sedenta por sangue, ansiosa por punir, salivando por castigar quem se desvia um milímetro dos seus preceitos. Muito pelo contrário: o evangelho de Jesus Cristo foca em perdão, restauração, reconstrução, bênçãos sem merecimento, graça. É a proposta do filho pródigo, do bom Pastor, do 70 vezes 7, do Cordeiro de Deus que estende uma graça que não é barata, mas que nunca deixa de ser vigorosa graça.

Logo, é totalmente incompatível com essa fé que qualquer cristão defenda ou pratique a violência, a agressividade, o ódio – seja no que faz, seja no que fala, seja no que escreve. Qualquer cristão que proponha como primeiro recurso com relação a pessoas que agem ou pensam de modo diferente revidar, agredir, ironizar e retaliar, em vez de usar um tom gentil e de conduzir quem incorre no erro para a restauração… simplesmente não entende o evangelho. Afinal, é o evangelho de Jesus Cristo de Nazaré que nos dá o mandamento:
“O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente. Instrua com mansidão aqueles que se opõem, na esperança de que Deus os leve ao arrependimento e, assim, conheçam a verdade. Então voltarão ao perfeito juízo e escaparão da armadilha do diabo, que os prendeu para fazerem o que ele quer” (2Tm 2:24‭-‬26).
A sensação que tenho com frequência é que ser cristão, no entendimento de muitos, deixou de ser amar a Deus e ao próximo para defender Deus com fúria e detonar o próximo que pensa diferente ou que faz algo de que discordamos.
Tenho observado muito os meus irmãos em Cristo, em especial pelas redes sociais. E tenho ficado boquiaberto e triste com o jeito de que uma multidão deles se expressa, age e, principalmente, reage a quem discorda deles ou faz algo com que não concordam. Em nome da “defesa da fé”, muitos se comportam de um modo que nada tem a ver com a nossa fé: com agressividade. Sarcasmo. Raiva. Parece que, se o ódio é destilado “em nome de Jesus”, é válido agir como um bruto, um bárbaro, um ser humano desagradável. E quem age com equilíbrio e argumentos é chamado pelos que odeiam de “em cima do muro”.
O que mais me espanta é que, sempre que você diz que essa forma de comportamento não condiz com o evangelho, o argumento bíblico é o mesmo: o episódio de Jesus no templo derrubando as mesas dos cambistas e vendilhões. Já ouvi isso montes de vezes. Parece que todo cristão que se exprime com agressividade se justifica dizendo que Jesus se irou e saiu derrubando a mercadoria dos vendilhões do templo; logo, teríamos sinal verde para atacar com fúria quem age ou crê diferente de nós. Isso é um erro monumental.
A hermenêutica bíblica, isto é, as regras que nos ensinam a ler e compreender as Escrituras, tem uma norma  básica: você não pode construir uma doutrina ou formular um princípio de fé a partir de uma passagem isolada da Bíblia. É preciso analisar todas as passagens do texto bíblico que falem sobre o assunto, a fim de entender o todo. Assim, pegar o episódio dos vendilhões do templo como argumento teológico que tente justificar a agressividade é uma falha bizarra, que só gera comportamentos anticristãos.
Sim, Jesus expulsou os vendilhões. Mas será que por causa disso Deus nos dá carta branca para sair chutando e açoitando quem diverge de nós? A Bíblia apresenta uma enxurrada de passagens que respondem isso com um enfático não.
Vamos analisar algumas dessas passagens, muitas delas palavras saídas dos lábios do próprio Cristo, para compreender exatamente o que o evangelho propõe como padrão de relacionamento – inclusive com inimigos e pessoas que não necessariamente concordam ou caminham conosco:
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9).
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5:21-22).
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes” (Mt 5:38-42).
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5:43-47).
“Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt 7:3-5).
“Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. […] Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12:14-18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:19-21).
“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1Pe 1:22).
“Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros” (Jo 15:17).
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:34-35).
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos” (Gl 5:13-15).
“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4:1-2).
“Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão […] Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” (1Jo 3:11-15).
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. […] Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1Jo 4:7-12).
“Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1Jo 4:19-21).
E por aí vai. Como dá para ver com muita clareza pela enorme quantidade de passagens bíblicas sobre o assunto, a proposta é da paz, da conciliação, do trato amoroso com as diferenças e com os diferentes. Usar Jesus com os vendilhões para tentar validar um comportamento horrível é uma aberração.
Um argumento que muitos usam para justificar sua forma ofensiva e agressiva de se comportar, falar e escrever é que a ira divina contra o pecado e o erro nos daria permissão para sermos odiosos na hora de “defender a fé” ou se opor a quem de nós discorda.
Sobre isso, importa lembrarmos de algo: embora Deus seja o nosso exemplo, nós não somos Deus. Ele pode fazer o que bem entender; nós não. Ele é o autor e o dono da vida: nós não. Deus tem todo o direito, por exemplo, de acabar com a vida de uma pessoa, mas, se nós fizermos isso, nos tornamos assassinos e quebramos um dos Dez Mandamentos.
Isto é muito importante: Deus fazer algo não nos dá o direito de fazer a mesma coisa. Se ele manifesta e tem todo o direito de manifestar a sua justa ira, o que ele nos diz é que a ira humana é uma das obras da carne (Gl 5:20), a ponto de pôr um prazo para quando nos iramos: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” (Ef 4:25-27).
A proposta é clara: “O insensato expande toda a sua ira, mas o sábio afinal lha reprime” (Pv 29:11). Vou repetir: “O insensato expande toda a sua ira, mas o sábio afinal lha reprime”. Mais uma vez: “O insensato expande toda a sua ira, mas o sábio afinal lha reprime”. Portanto, não, a ira de Deus não nos dá o direito de agirmos com ira e acharmos isso bíblico. Pois não é.
Esse princípio se reafirma a todo tempo nas Escrituras. O evangelho jamais nos dá o direito de agirmos como Deus age. Veja o caso da vingança. Se, por um lado, há inúmeras passagens que falam sobre a vingança divina, a ordem para nós é: “não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12:19).
Assim, vemos que não se pode justificar um comportamento humano pelo fato de o Pai ou o Filho terem agido deste ou daquele modo. É preciso saber identificar o que Deus faz e que devemos tomar como exemplo e o que Ele faz porque é prerrogativa exclusiva dEle fazer. Se não soubermos separar uma coisa da outra, tomaremos para nós atitudes que não nos cabem ter e viveremos de modo que o evangelho não nos dá sinal verde para viver.
Chega de agressividade. Chega desse argumento maligno de que “posso ser impetuoso (para não dizer grosseiro, agressivo) porque Jesus derrubou as mesas dos cambistas”. Chega dessa igreja irada, raivosa, odiosa, trevosa. Estou exausto de ver agressões “em nome de Jesus” e gente supostamente defendendo a fé usando palavras e um tom que da nossa fé não têm nem o cheiro. 

Em grande parte, temos sido tão agressivos como o mundo e, com isso, nos igualamos a Ele. Deixamos de brilhar. Deixamos de salgar. E sal que não salga “para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt 5:13).
Quem erra deve ser conduzido pacificamente ao acerto e não jogado sadicamente na fogueira dos hereges (para não dizer no inferno). Fomos chamados para restaurar, disciplinar com mansidão e discipular… e não para detonar! Fico arrasado por ver gente defender o evangelho achando que isso deve ser feito jogando no lixo o mandamento de amar o próximo.
Amar o diferente está fora de moda. Falamos muito sobre a graça, mas a praticamos pouco, muito pouco, muito, muito pouco. E não estou falando de amor bobinho nem de graça barata, mas de amor maduro, sólido, o tipo que levou Jesus a subir à cruz por pessoas odiosas como eu e você. Tomamos para nós atitudes que só cabem a Deus. Reproduzimos, “em nome de Jesus”, atitudes essencialmente diabólicas e mundanas. E isso está errado. Está errado.
Eu não quero compactuar com o pseudoevangelho da chibata e do chicote. O açoite que deveria nos interessar não é o que Jesus usou contra os vendilhões, é o que Ele recebeu em suas costas.
Discordar é natural e lícito, ninguém é obrigado a pensar igual; o xis da questão é como se discorda. O discordante não é meu inimigo, é meu objetivo. A proclamação das boas-novas de Cristo me faz ver o discordante e aquele que considero estar no erro não como canalhas e inimigos, mas como necessitados, carentes, gente que ainda não enxergou a luz. Porque eu já fui assim um dia. E aqueles que penso estarem errados só verão a luz se virem em mim amor, graça, misericórdia, perdão, sacrifício, entrega, abnegação, paz, mansidão… Cristo, enfim.
O ódio de religiosos judeus que queriam “defender a sua fé” levou Jesus à cruz, mas foi o amor de Deus pelos perdidos que o levou à ressurreição. Que enorme tristeza é ver que muitos cristãos bem-intencionados não entendem isso, com arrogância se recusam a entender e, portanto, não compreendem nem põem em prática a graça, preferindo o discurso da chibata e um falso cristianismo que “defende Deus” com afiadas espadas verbais. Não aguento mais tanto ódio vindo daqueles que foram salvos pelo Amor com a finalidade de amar. Bem predisse Jesus que, no final dos tempos, “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mt 27.12).
O amor de multidões de cristãos já esfriou, dando lugar ao que eles chamam de “ira santa” e que de santa não tem nada. Defendem um deus que eu não conheço, que precisa de “defensores” para levantar sua bandeira com ira e agressividade. Desses, creio eu, o evangelho não precisa.
Creio que Deus busca aqueles que, com amor transbordante, partem em busca dos inimigos, dos perdidos, dos desencaminhados e dos equivocados, com amor e graça, com o objetivo de conduzi-los amorosamente a Jesus: o bom e manso Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. “Pois é da vontade de Deus que, praticando o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos” (1Pe 2.15).
Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

"Deus é a personificação da benevolência, misericórdia e amor. Os que se acham verdadeiramente ligados a Ele não podem estar em divergência, uns com os outros. Seu Espírito reinando no coração, criará harmonia, amor e união. O contrário disto se vê entre os filhos de Satanás. É sua obra provocar inveja, discórdia e ciúme. Em nome de meu Senhor eu pergunto aos professos seguidores de Cristo: Que frutos produzis? O poder da graça de Deus fará mais em favor da alma do que as polêmicas farão em toda uma vida. Pelo poder da verdade, quantas coisas poderiam ser ajustadas, e velhas controvérsias encontrar quietude na adoção de maneiras melhores. Diferenças de opinião sempre existirão, pois nem todas as mentes são constituídas de modo a fluir no mesmo conduto. As tendências hereditárias e as cultivadas têm de ser guardadas, para que não criem controvérsias sobre assuntos de pouca importância. Os obreiros de Cristo devem achegar-se uns aos outros em terna simpatia e amor" (Ellen G. White - Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, pp. 497-505).

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

DOIS HERÓIS DA IDADE MÉDIA

Imagine comigo por um momento que estamos viajando para a cidade histórica de Constança, no sul da Alemanha. Localizada no extremo oeste do belo Lago de Constança, esta cidade universitária tem atualmente aproximadamente 83 mil habitantes e foi a sede da Diocese Católica Romana de Constança por mais de 1.200 anos.

Hoje, se caminharmos apenas uma curta distância da cidade velha, chegamos a um bairro bastante moderno, com casas ao longo da rua pavimentada e bancos de praça bem situados na grama verde. Descendo a rua, nosso olhar capta uma pequena ilha de vegetação no meio da estrada. Aproximando-se, notamos uma enorme rocha negra nesta pequena ilha de trânsito. Gravado em letras douradas de um lado da rocha, vemos o nome de "Johannes Hus", ou seja, João Huss, 6 de julho de 1415. Do outro lado, vemos outro nome, "Hieronymus von Prag", ou seja, Jerônimo de Praga, 30 de maio de 1416.

Memorial de dois heróis da Verdade
Esta pedra memorial de calcário preto foi financiada por doações e inaugurada em 6 de outubro de 1862. Todos os anos, é o local de uma comemoração anual de João Huss e Jerônimo de Praga. Quem eram esses dois homens e por que eles são homenageados com calcário preto?

Huss e Jerônimo, como Wycliffe, foram os precursores da Reforma. O trabalho deles se espalhou pela Boêmia — um país hoje conhecido como República Tcheca — e além, ao levarem as verdades salvadoras encontradas nas Escrituras a milhares de pessoas na Europa.

João Huss
João Huss nasceu em 6 de julho de 1373, em uma casa de camponeses. Seu pai faleceu logo após o nascimento de João, deixando sua pobre viúva para criar seu filho sozinha. Sua mãe era uma mulher temente a Deus que ajudou a incutir fé em seu filho. Ela acreditava na educação e incentivou o filho a frequentar a Universidade de Praga, onde recebeu uma bolsa integral. Antes de deixá-lo na universidade, ela se ajoelhou ao lado de seu filho, orando para que Deus estivesse com ele e o protegesse das provações que ele sem dúvida enfrentaria. Mal sabia ela como suas orações seriam atendidas.

Huss era um estudioso notável e logo conquistou o respeito de todos. Após concluir os estudos, ingressou no sacerdócio e logo foi convidado a ingressar na corte do rei. Ele também foi nomeado professor e depois reitor da Universidade de Praga. Em pouco tempo, Huss se tornou o orgulho da Boêmia e era conhecido e respeitado em toda a Europa.

Vários anos depois de se tornar padre, Huss foi nomeado pregador na Capela de Belém em Praga em 1402. O fundador desta capela deu grande importância aos serviços realizados na língua do povo, e não em latim. Realizar cultos em boêmio era uma prática comum, e a Bíblia foi traduzida para esse idioma muito cedo. Mas quando Gregório VII ascendeu ao trono papal, emitiu uma bula proibindo que o culto público fosse conduzido na língua boêmia. No entanto, em alguns lugares, os cultos ainda eram realizados na língua nativa.

Jerônimo de Praga
Jerônimo, que mais tarde trabalharia em estreita colaboração com Huss, estudou na Universidade de Oxford, na Inglaterra, e voltou para a Boêmia com os escritos de Wycliffe. Quando voltou a Praga, Jerônimo conheceu Huss, que se familiarizara com os escritos de Wycliffe e se tornara um forte proponente da Palavra de Deus. Juntos, esses dois homens espalharam os ensinamentos das Escrituras em sua terra natal e além. Jerônimo era o orador mais talentoso, mas Huss era um homem de caráter firme e Jerônimo o considerava um líder espiritual.

Um ensinamento primário de Huss e Jerônimo era que "os preceitos das Escrituras, comunicados por meio do entendimento, devem reger a consciência; em outras palavras, de que Deus, falando na Bíblia, e não a igreja falando pelo sacerdócio, é o único guia infalível" (O Grande Conflito, p. 102).

Claro, isso ia diretamente contra o ensinamento da Igreja Católica e, em pouco tempo, esses reformadores sentiram a ira de Roma.

Um concílio geral foi convocado para se reunir em Constança para tratar de uma série de questões que a igreja estava enfrentando - incluindo três papas rivais no que ficou conhecido como o "Grande Cisma", também para erradicar heresias em potencial.

Huss vai para a masmorra
João Huss foi convocado para comparecer perante o conselho. Embora tivesse recebido a promessa de salvo-conduto, logo após chegar a Constança, ele foi preso e colocado em uma cela úmida de masmorra.

Jerônimo tem o mesmo destino de Huss
Ouvindo sobre a situação de Huss, Jerônimo partiu para Constança, mas assim que chegou à cidade percebeu que não havia nada que pudesse fazer para ajudar seu amigo. Tentando fugir, ele logo foi preso e também colocado numa repugnante cela de prisão.

Huss foi pelo menos levado perante o concílio, onde lhe foi pedido que renunciasse às suas doutrinas ou sofresse a morte. Embora enfraquecido pela doença e prisão, Huss defendeu corajosamente a verdade e aceitou o destino de mártir.

Huss e Jerônimo de tornam mártires
Quando pressionado a renunciar a seus "erros", ele pediu: "A que erros renunciarei eu? Não me julgo culpado de nenhum. Invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei assim foi feito com o fim de livrar almas do pecado e perdição; e, portanto muito alegremente confirmarei com meu sangue a verdade que escrevi e preguei" (O Grande Conflito, p. 109).

Ele foi condenado e levado para a estaca em um local localizado fora da cidade. "Quando as chamas começaram a envolvê-lo, pôs-se a cantar: 'Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim', e assim continuou até que sua voz silenciou para sempre" (O Grande Conflito, p. 109).

Depois de passar vários meses excruciantes de tortura na masmorra, Jerônimo teve o mesmo destino de Huss e foi queimado no mesmo local fora da cidade, onde a rocha negra permanece hoje em testemunho silencioso desses dois mártires.

Mesmo os inimigos que testemunharam a execução desses dois homens ficaram impressionados com sua calma. Um forte defensor do papa descreveu desta forma: "Ambos se portaram com firmeza de ânimo quando se lhes aproximou a última hora. Prepararam-se para o fogo como se fosse a uma festa de casamento. Não soltaram nenhum grito de dor. Ao levantarem-se as chamas, começaram a cantar hinos, e mal podia a veemência do fogo fazer silenciar o seu canto" (O Grande Conflito, p. 110).

Hoje apenas arranhamos a superfície da história desses dois grandes e piedosos homens. Eu o encorajo fortemente a ler mais sobre eles no capítulo 6 do livro inspirador de Ellen G. White, O Grande Conflito

Fidelidade de Huss e Jerônimo
Ao considerarmos a fidelidade de Huss e Jerônimo, e muitos outros que foram martirizados por Jesus, lembremos o belo texto de Hebreus 12:1,2: "Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus" (Hebreus 12:1,2 NAA).

Oração:
Pai nosso que estás nos céus. Obrigado por inspirares esses grandes reformadores, Huss e Jerônimo, não apenas a defender a verdade, mas também a morrer pela verdade e a morrer cantando louvores a Ti. Senhor, ajuda-nos a ser tão fiéis quanto eles. Dá-nos coragem ao olharmos para o futuro e os desafios que enfrentaremos quando as pessoas tentarem de alguma forma desestabilizar nossa crença na Santa Palavra de Deus. Que nos ancoremos somente na Palavra, não na tradição humana, nem no humanismo, nem nas ideias filosóficas, mas somente na Palavra de Deus. Só ela nos ajuda a ser verdadeiros e leais à Tua Palavra como Huss e Jerônimo e inúmeros outros. Obrigado pelo exemplo deles. Viva dentro de nossos corações através do Espírito Santo e ajuda-nos a permanecer em Ti na verdade da Bíblia. Em nome de Jesus, pedimos. Amém.

Ted Wilson (via Notícias Adventistas)