"Mediante a palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de Sua boca. Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo surgiu” (Sl 33:6, 9).
Quando a Terra saiu das mãos de seu Criador, era extraordinariamente bonita. Por toda parte, o solo fértil produzia uma vegetação exuberante. Não existiam pântanos lamacentos nem desertos áridos. Arbustos graciosos e flores delicadas agradavam a vista por toda a parte. O ar era puro e saudável. A paisagem era mais bonita do que os terrenos ornamentados do palácio mais luxuoso.
Depois que a Terra foi chamada à existência, repleta de todo tipo de vida animal e vegetal, o homem – a obra-prima do Criador – entrou em cena. “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança. Domine ele sobre […] toda a Terra […]. Criou Deus o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:26, 27).
De uma forma bem clara está estabelecida a origem da raça humana. Deus nos criou à Sua imagem. Não há razão para supor que evoluímos por meio de lentos graus de desenvolvimento, a partir das formas inferiores da vida animal ou vegetal. A Palavra inspirada descreve a origem da nossa raça não como estando relacionada ao desenvolvimento de uma linhagem de germes, moluscos e quadrúpedes, mas ao grande Criador. Embora tendo sido formado do pó, Adão era “filho de Deus” (Lc 3:38).
Os seres criados de ordem inferior não podem compreender o conceito de Deus; no entanto, foram feitos com a capacidade de amar e servir ao homem. “Tu o fizeste dominar sobre as obras das Tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste: […] e até os animais selvagens, as aves do céu” (Sl 8:6-8).
Somente Cristo é “a expressão exata” (Hb 1:3) do Pai, mas Adão e Eva foram formados à semelhança de Deus. Sua natureza estava em harmonia com a vontade de Deus, sua mente era capaz de compreender os propósitos divinos. Suas afeições eram puras; o apetite e as paixões estavam sob o domínio da razão. Eles eram santos e felizes por terem em si a imagem de Deus e obedecerem à Sua vontade perfeitamente.
Quando nossos primeiros pais saíram das mãos do Criador, a face deles irradiava a luz da vida e da alegria. Adão era muito mais alto que os homens que vivem atualmente. Eva era um pouco menor em altura; porém, suas formas eram nobres e cheias de beleza. Esse casal, sem pecado, não usava roupas artificiais; eles estavam vestidos de uma cobertura de luz, semelhante à que os anjos usam.
O Primeiro Casamento
Depois da criação de Adão, “o Senhor Deus declarou: ‘Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda’” (Gn 2:18). Deus deu a Adão uma companheira que lhe correspondesse, que poderia ser uma com ele, em amor e simpatia. Eva foi criada de uma costela tirada do lado de Adão. Ela não deveria dominar, como a cabeça, nem ser pisada sob seus pés, como se fosse inferior, mas devia estar ao seu lado, como sua igual, amada e protegida por ele. Ela era o seu segundo eu, mostrando isso a união íntima que deveria existir nesse relacionamento. “Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida” (Ef 5:29). “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2:24).
“O casamento deve ser honrado por todos” (Hb 13:4). É uma das duas instituições que, depois da queda, Adão trouxe consigo para além dos portais do Paraíso. Quando os princípios divinos são reconhecidos e obedecidos, o casamento se torna uma bênção; preserva a pureza e felicidade do gênero humano e eleva a natureza física, intelectual e moral.
“Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste, e ali colocou o homem que formara” (Gn 2:8). Nesse jardim havia árvores de toda espécie, muitas delas carregadas de frutos deliciosos. Lindas videiras cresciam eretas, com seus ramos pendendo sob o peso de frutos saborosos. O trabalho de Adão e Eva era moldar os ramos da videira, formando caramanchões, para fazerem assim, com árvores vivas, um lar para eles morarem sob as árvores cobertas de folhas e frutos. No meio do jardim estava a árvore da vida, superando em beleza a todas as outras árvores. Seu fruto tinha a propriedade de manter a vida para sempre.
“Assim foram concluídos os céus e a Terra, e tudo o que neles há” (Gn 2:1). “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1:31). Nenhuma mancha de pecado ou sombra da morte desfigurava a bela criação. “As estrelas matutinas juntas cantavam e todos os anjos se regozijavam” (Jó 38:7).
A Bênção do Sábado
Em seis dias a grande obra da criação foi finalizada. Deus “nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação” (Gn 2:2, 3). Tudo era perfeito, digno de seu divino Autor; e Ele descansou, não como alguém que estivesse cansado, mas satisfeito com o trabalho realizado, fruto de Sua sabedoria e bondade.
Depois de repousar no sétimo dia, Deus o separou como um dia de descanso. Seguindo o exemplo do Criador, os seres humanos deveriam repousar nesse dia santo, não só para que pudessem refletir sobre a obra da criação de Deus, mas para que seu coração se enchesse de amor e reverência para com o Criador.
O sábado foi dado para toda a família humana. Ao observá-lo, as pessoas demonstrariam, cheias de gratidão, seu reconhecimento a Deus como seu Criador e legítimo Soberano. Que elas eram obra das Suas mãos e sujeitas à Sua autoridade.
Deus viu que o sábado era muito importante para os seres humanos, mesmo no Paraíso. Deveriam deixar de lado os próprios interesses durante um dos sete dias. Precisavam de um sábado que os fizessese lembrar de Deus e despertasse neles a gratidão, pois tudo o que desfrutavam vinha das mãos do Criador.
É plano de Deus que o sábado dirija a nossa mente para as obras que Ele criou. A beleza que reveste a Terra é um testemunho do amor de Deus. As colinas eternas, as altas árvores, o botão que desabrocha e as delicadas flores, tudo nos fala de Deus. O sábado, que aponta para Aquele que tudo fez, também nos convida a abrir o grande livro da natureza e encontrar nele a sabedoria, o poder e o amor do Criador.
Nossos primeiros pais foram criados inocentes e santos, mas não estavam isentos da possibilidade de praticar o mal. Deus os fez seres morais livres. Eles podiam escolher obedecer ou desobedecer. Antes de estarem eternamente seguros, a sua lealdade deveria ser provada. Logo no início, quando o homem passou a existir, Deus colocou uma restrição ao desejo de satisfação própria, um sentimento fatal que constituiu a base da queda de Lúcifer. A árvore do conhecimento devia se tornar uma prova da obediência, fé e amor de nossos primeiros pais. Estavam proibidos de provar do fruto dessa árvore, sob pena de morte. Precisavam ser expostos às tentações de Satanás; porém, se suportassem a prova, seriam colocados fora do seu poder, para desfrutarem eternamente o favor de Deus.
O Belo Jardim do Éden
Deus colocou os seres humanos sob a lei, súditos do governo divino. Ele poderia tê-los criado sem a faculdade de transgredir a lei. Poderia ter evitado que tocassem no fruto proibido; mas, nesse caso, Adão e Eva não passariam de meros robôs. Se eles não tivessem liberdade de escolha, sua obediência seria forçada. Isso seria contrário ao plano de Deus, seria indigno dos seres humanos por Ele criados e teria reafirmado a acusação feita por Satanás de que o governo de Deus não era justo.
Deus fez os nossos primeiros pais pessoas corretas, sem nenhuma tendência para o mal. Apresentou a eles as mais fortes motivações possíveis para que se mantivessem fiéis. A obediência era a condição para a felicidade eterna e o acesso à árvore da vida.
O lar de nossos primeiros pais deveria ser um modelo para outros lares, quando seus filhos saíssem para ocupar a Terra. Hoje, as pessoas se orgulham dos edifícios magnificentes e casas riquíssimas que constroem, gloriando-se nas obras das próprias mãos, mas Deus colocou Adão em um jardim. Esta era uma lição para todos os tempos – a verdadeira felicidade não é encontrada na satisfação do orgulho e do luxo, mas na comunhão com Deus por meio das obras que Ele criou. O orgulho e a ambição nunca serão satisfeitos; porém, as pessoas verdadeiramente sábias encontrarão prazer real nas fontes de alegria que Deus colocou ao alcance de todos.
Ao casal no Éden foi confiado o jardim “para cuidar dele e cultivá-lo”. Deus designou o trabalho como uma bênção para ocupar a mente, fortalecer o corpo e desenvolver as suas habilidades. Por meio da atividade mental e física, Adão encontrava um dos maiores prazeres de sua santa existência. É um erro considerar o trabalho uma maldição, mesmo que ele traga cansaço e dor. Há pessoas ricas que olham com desprezo para as classes trabalhadoras, mas isso não está em harmonia com o propósito de Deus ao criar o homem. Adão não deveria ficar na ociosidade. Nosso Criador, que compreende o que é melhor para a nossa felicidade, designou a Adão o seu trabalho. A verdadeira alegria da vida é encontrada apenas por homens e mulheres que se dedicam ao trabalho. O Criador não preparou nem um espaço sequer para a prática da preguiça.
Adão e Eva, como santo par, eram não apenas filhos sob o paternal cuidado de Deus, mas estudantes que recebiam instruções diretamente do Criador, que é plenamente sábio. Eles eram visitados pelos anjos e tinham o privilégio de conversar face a face com Aquele que os havia criado. Estavam cheios do vigor fornecido pela árvore da vida, sua capacidade intelectual era somente um pouco menor que a dos anjos. As leis da natureza estavam abertas à sua mente pelo infinito Criador e Mantenedor de todas as coisas. Cada criatura vivente, desde a poderosa baleia que vive nas águas dos oceanos até o minúsculo inseto que flutua em um raio de sol, eram todos familiares para Adão. Ele deu a cada um o seu nome e conhecia a natureza e os hábitos de todos. Em cada folha da floresta, em cada estrela, na terra, no ar e no céu, em tudo estava escrito o nome de Deus. A ordem e a harmonia da criação falavam da infinita sabedoria e poder.
Enquanto Adão e Eva permanecessem fiéis à lei divina, eles estariam constantemente adquirindo novos tesouros do conhecimento, descobrindo novas fontes defelicidade e obtendo compreensões cada vez mais claras do imensurável e infalível amor de Deus.
[Ellen G. White - Os Escolhidos, pp. 13-17]