Já se passaram quase 35 anos desde a queda do Muro de Berlim. Um artigo publicado na revista U.S. News & World Report retratou bem as reações de duas mulheres que foram diretamente afetadas pelo evento. Angelika Bondick, hoje com 63 anos de idade, declarou que, na verdade, ela sente falta do muro. “Eu cresci com ele, e não o questionei”, ela afirmou.
Dagmar Simdorn, 81, expressou uma reação diferente. “Ficamos ali de boca aberta com a mão à frente dela. A sensação era como se estivéssemos voando, realmente”, ela disse, chorando. “Sentimo-nos como que flutuando”, completou.
Já foram investidas somas incalculáveis de dinheiro nas grandes muralhas do mundo, sem mencionar as inúmeras vidas que foram sacrificadas à sombra delas. Atualmente, muitos desses muros servem apenas como atrações turísticas.
Nos tempos bíblicos, os muros eram símbolo de força e proteção. Uma cidade sem muros era considerada fraca e vulnerável. Muros bem construídos eram imprescindíveis para manter o inimigo do lado de fora, mas também eram muito eficazes para manter o povo dentro. Os cidadãos podiam se tornar prisioneiros dentro de sua própria cidade, sem perceberem.
Os livros de história estão cheios de relatos a respeito de pessoas presas dentro dos muros da sua própria cidade. Um dos cercos mais longos registrados aconteceu à cidade de Cândia, capital de Creta. No século 17, Veneza era uma grande potência no Mediterrâneo, mas seu poder entrou em declínio à medida que o Império Otomano crescia em força. Alguns incidentes militares lamentáveis resultaram no cerco de Cândia. Ele começou em 1648, quando o abastecimento de água foi cortado e as vias marítimas foram interrompidas. Numerosas batalhas ocorreram ao longo dos anos, mas os moradores de Cândia se recusaram a desistir. Finalmente, 21 anos depois, em 1669, a cidade se rendeu e os residentes foram autorizados a sair com o que pudessem carregar.
BARREIRAS RELIGIOSAS
Será possível, em nossos dias, ficarmos presos dentro de nossos próprios muros? Ao longo da história, muitos entre o povo de Deus levantaram barreiras construídas por mãos humanas, para se protegerem do inimigo. Esses muros não são físicos. São espirituais. Não são construídos com martelo e pregos ou tijolos e argamassa. São muros construídos com ideias, tradições, preconceitos e medos.
O apóstolo Paulo escreveu que a cruz uniu o que estava separado, não apenas no âmbito vertical, mas também no nível horizontal. Cristo derrubou a parede da separação que estava no meio, a inimizade, conforme lemos em Efésios 2:14. O que era esse “muro de inimizade”? Paulo deixou claro que ele representa o muro que separava judeus e gentios.
O Museu de Israel, em Jerusalém, expõe o fragmento de um artefato descoberto em 1936, perto do local do segundo templo. O achado arqueológico, que possivelmente tenha sido fabricado alguns anos antes do nascimento de Jesus, traz a seguinte inscrição: “Não é permitido a estrangeiros passar além da balaustrada e da praça da zona do templo. Se alguém for apanhado ali será responsável por sua própria morte que virá como consequência”.
O que deve ter passado pela mente de Jesus quando Ele Se deparou com aquela placa, sabendo que Sua morte, que viria a seguir, pagaria o preço da culpa tanto de judeus quanto de gentios?
Ellen White escreveu o seguinte sobre os judeus do tempo de Jesus: “O povo de Israel perdeu de vista seus altos privilégios como representantes de Deus. Esqueceram-se de Deus e deixaram de cumprir Sua santa missão. [...] As restrições por Deus impostas na sua associação com os idólatras como um meio de prevenir-lhes o conformismo com as práticas pagãs, eles as usaram para levantar um muro de separação entre si e as demais nações” (Atos dos Apóstolos, p. 14, 15).
LIÇÕES DA DEMOLIÇÃO
Jesus estava demolindo aquele muro para garantir que ninguém ficasse sem acesso à Sua salvação. Paulo deixou isso bem claro: “Porque, por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2:18).
Os muros fazem três coisas devastadoras:
1. Limitam a visão. Não se consegue ver muito facilmente por cima de um muro. Há um muro chamado “nunca foi feito dessa maneira” ou “não é assim que se faz”. Quando os muros limitam nossa visão, tendemos a dizer: “Se não consigo ver, não acredito”. As paredes também limitam a expressão. Há um muro que nos mantém presos às tradições e ao pensamento tradicional. Os muros podem limitar a criatividade e o crescimento.
2. Muros isolam. Eles tendem a manter as pessoas do lado de fora. Quando queremos ficar sozinhos, erguemos um muro. Mesmo entre uma multidão de pessoas, levantamos muros invisíveis para nos proteger. O problema é que esses muros nos isolam das mesmas pessoas de quem devemos nos aproximar.
3. Muros segregam. O isolamento mantém as pessoas do lado de fora, mas a segregação também mantém as pessoas dentro. O propósito da igreja nunca foi ser autossuficiente nem fechada. Nem o de ser o clube de uma elite de pessoas que raramente se aventuram a sair. A igreja deve ser a porta do Céu. Não devemos permitir que nada bloqueie a entrada para o reino de Deus.
Para o caso de haver alguma dúvida, Jesus disse: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, por que fechais o reino dos Céus diante dos homens” (Mt 23:13). Jesus confirmou esse conceito em outra ocasião: “quem vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6:37). Finalmente, lembremo-nos do que Deus disse: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22:17). Qualquer coisa que restrinja “quem quer que seja” de chegar a Jesus é um muro que deve ser derrubado. Não ousemos construir um muro onde Jesus colocou uma porta aberta.
Veja o que Ellen White escreveu: “Durante Seu ministério terrestre, Cristo deu início à obra de derrubar o muro de separação entre judeus e gentios e apregoar a salvação a toda a humanidade. Embora fosse judeu, comunicava-Se livremente com os samaritanos, anulando costumes farisaicos dos judeus com respeito a esse desprezado povo. Dormia sob seu teto, comia em suas mesas e ensinava em suas ruas” (Atos dos Apóstolos, p. 19).
Oremos para que Deus nos mostre os muros que precisam ser derrubados. Oremos para que, por meio da graça de Deus, tenhamos mais fé e poder para derrubar as barreiras “invisíveis” e, seguindo o exemplo de Jesus, sermos testemunhas eficientes.
Brent Burdick (via Revista Adventista)
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