Mais uma vez o ex-presidente dos Estados Unidos está envolvido numa polêmica. Agora ele faz propaganda pedindo que os norte-americanos adquiram a Bíblia patriótica, que custa 60 dólares (300 reais, caso algum brasileiro tenha interesse em desembolsar). Mas do que se trata? Como é essa Bíblia? Por acaso o texto milenar foi reescrito ou alterado pela sabedoria e perspicácia de Donald Trump? Por acaso ele inaugurou um novo decálogo com suas pautas retrógradas e conservadoras? Alterou passagens em que Jesus se mostra atuante na defesa dos vulneráveis? As notícias dizem que não.
Essa Bíblia tem, claro, características exclusivas: “Deus abençoe os Estados Unidos”, bandeira do país na capa e frases de cunho politico. Esta edição inclui textos da Constituição dos Estados Unidos, da Declaração de Independência e a Carta de Direitos (Bill of Rights), entre outros documentos históricos do país. O livro traz ainda caracteres ampliados e reproduz a versão do texto bíblico conhecida como King James. Essa versão é inspirada em uma música do cantor country Lee Greenwood, "God Bless The USA". Trump usa a canção para subir ao palco em comícios, segundo a agência de notícias Associated Press.
Trump evoca a velha combinação entre política e religião que a história mostrou não ter bons resultados. Em pleno ano eleitoral, o aspirante a retornar ao cargo de presidente lança esse apelo, que deve funcionar sobretudo com o público cristão conservador. Quem compra a Bíblia pode nutrir o espírito com palavras de fé, e sempre que fechar o livro lembrará do candidato, de certa ideia de patriotismo, de sua posição enquanto eleitor.
Além disso, o empresário afirmou que seu principal objetivo é edificar os americanos e incentivá-los a voltar a orar, assim como o slogan de sua antiga campanha política: "Todos os americanos precisam de uma Bíblia em casa, e eu tenho muitas. É meu livro favorito. Tenho orgulho de endossar e encorajar você a adquirir esta Bíblia. Devemos fazer a América orar novamente", disse.
O novo produto surge em meio à crise financeira que o republicano — réu em quatro processos — tem enfrentado. Esta estratégia não é nova para Trump, a quem seus seguidores consideram "crucificado" por um sistema judicial corrupto. Em 2016 e 2020, ele contou com o apoio eleitoral dos evangélicos.
O cidadão americano trumpista deve pensar assim: Trump lançou uma Bíblia, então o que ele diz e faz é o correto, pois um homem seguidor e propagador do livro sagrado age corretamente e quer o bem de seu povo e de sua nação. O outro, do outro lado, não tem nem lançou Bíblia...
Aproximadamente dois terços dos adultos se identificam como cristãos nos Estados Unidos, um país cujo lema nacional é "Em Deus confiamos".
De forma mais geral, os observadores notam uma tendência de Trump a recorrer mais à religião, em comícios cada vez mais messiânicos, nos quais ele vende os famosos bonés vermelhos que dizem "Jesus é meu salvador, Trump é meu presidente".
A Bíblia, assim como a figura de Jesus, não cabe dentro de qualquer arranjo ideológico. Sua mensagem transcende as utopias, subverte o establishment e desafia o mais insólito dos ideais humanos. E Jesus não Se presta a ser garoto propaganda e também não é cabo eleitoral de candidatura alguma. Não ousem conferir tom partidário à Sua mensagem. Toda vez que Sua mensagem é diluída numa ideologia qualquer, perde sua essência e eficácia. E se misturarmos a Bíblia e a política, a Palavra de Deus será rebaixada à condição humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário