quinta-feira, 2 de maio de 2024

NEGACIONISMO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Tal como ocorreu no ano passado, o Rio Grande do Sul está contando corpos devido à falta de preparo do poder público para as tempestades causadas pelo El Niño anabolizadas pela mudança do clima. Ainda em 2023, os gaúchos passaram por uma seca histórica, fruto de outro fenômeno, o La Niña (que durou até fevereiro), também bombado pelo aquecimento do planeta. O estado, como o resto do país, parece lembrar do aquecimento global só durante as crises.

Foram mais de dez mortes agora e o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou que o número deve disparar porque a chuva continua. E que este deve ser o "maior desastre" da história do estado, superando as mais de 50 vítimas fatais após as chuvas do ano passado. [...]

Essa sequência de eventos extremos, comprimindo no período de dois anos o que ocorreria ao longo de décadas, serve como alerta da irresponsabilidade e estupidez de quem ainda brada que mudança do clima é um discurso ideológico.

Pior: que o problema até existe, mas não é tão grave quanto parece, sendo possível retardar a implentação de projetos de mitigação e adaptacão. Ou de redução da emissão de carbono na atmosfera. Aquela velha história de que o país não pode prescindir da grana da exploração de novos poços de petróleo, como na margem equatorial da Amazônia, por exemplo.

Quando cientistas alertaram que a subida da temperatura média do planeta já estava levando ao aumento na frequência de eventos climáticos extremos, negacionistas, orgulhosos de sua burrice, questionavam nas redes "este inverno fez mais frio, cadê o aquecimento"?

Ao mesmo tempo, municípios, estados e a União deram de ombros aos alertas e não se prepararam, preferindo se justificar por trás de declarações como "as chuvas foram além da média histórica", quando a média histórica tornou-se ultrapassada pela mudança do clima.

Nos últimos anos, brasileiros assistiram assustados ao calor extremo em todo o país, a tempestades de areia engolirem cidades, a rajadas de ventos fortes causarem mortes, a água faltar na torneira das cidades, nas turbinas das hidrelétricas, na irrigação da lavoura, nos rios da Amazônia, para, logo depois, a chuva matar centenas por deslizamento ou inundação. Bem-vindos ao inferno do real.

Qualquer alce que caiu em um buraco na Sibéria após o colapso do permafrost local ou qualquer urso polar deprimido por estar à deriva em uma placa de gelo que se soltou no Ártico ou ainda qualquer tamanduá-bandeira pensando "danou-se" ao estar cercado pelas chamas de uma queimada descontrolada no Pantanal é capaz de dizer que, infelizmente, fizemos merda desde a revolução industrial. E continuamos fazendo mesmo com a água no pescoço.

As mudanças climáticas em andamento na Terra já são irreversíveis. Nas próximas décadas, teremos milhões de refugiados ambientais por conta da subida no nível dos oceanos e pelos eventos climáticos extremos; fome em grande escala devido à redução e desertificação de áreas de produção e à perda da capacidade pesqueira; aumento na quantidade de pessoas doentes e subnutridas, além de conflitos e guerras em busca de água e de terra para plantar.

Muita gente vai morrer no Brasil e no mundo. E os sobreviventes terão que adaptar sua vida para conviver com um ambiente mais hostil. Para quem tem filhos e netos, e se importa com eles, deve ser angustiante.

O mundo tentava manter o aumento da temperatura global em 1,5 grau Celsius até 2100, o que deve ser praticamente impossível dada a nossa incompetência. Podemos chegar a 3, 4 ou 5 graus a mais.

Fazer com que pessoas acreditem que tudo está mudando sem que sintam isso na pele é difícil. Por isso, que esses terríveis eventos extremos no Brasil e no mundo têm a triste capacidade de mobilizar por mudanças.

Talvez o esperado investimento para a redução de emissões e a mudança no comportamento dos cidadãos, bem como o desenvolvimento de tecnologias mais baratas para sequestrar carbono da atmosfera, virão quando houver pânico diante dos tais eventos. Infelizmente, é depois de andar pelo vale da sombra que estamos mais abertos para olhar o futuro e desejar que o sofrimento igual nunca mais se repita.

Infelizmente, porque há inocentes (desde os que são muito novos ou que nem nasceram até os que sempre estiveram alijados do consumo por serem pobres demais) que não são sócios da tragédia ambiental como a maioria de nós.

A questão não é mais "evitar" mudanças climáticas e sim "reduzir a tragédia que já começou". O mundo precisa entender que já está no fundo poço. A questão é que, no fundo, há um alçapão.

Diante de tudo isso, se um negacionista climático ironizar com um "cadê o seu aquecimento global" diante de um dia frio, responda (com a paciência pedagógica de quem fala com tolos): nos cemitérios do Rio Grande do Sul e de todo o Brasil. (Leonardo Sakamoto via UOL)

O que pensam os adventistas
Em tempos de eventos climáticos extremos, aquecimento global e outros temas, vejamos o que pensa a Igreja Adventista sobre cuidado do meio ambiente. A igreja, em nível mundial, já possui declarações a favor da preservação do meio ambiente, mas sempre sob a ótica de preservação daquilo que Deus criou.

Na série Falando de Esperança, produzida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul, o ex-presidente da Igreja, pastor Erton Köhler, explica qual é o posicionamento da organização em relação ao assunto de preservação do meio ambiente e menciona preocupações relacionadas a aquecimento global e mudanças climáticas. “Estamos vendo tudo isso acontecer e o que temos individualmente para buscar o equilíbrio? Somos cristãos e é nosso dever cuidar da obra da criação de Deus. Para nós, essa é a principal motivação para cuidar do ambiente em que vivemos. Deus fez tudo e disse que era bom, mas, além disso, ordenou que o homem cuidasse do Jardim do Éden”.

Em 1995, em uma reunião administrativa mundial da Igreja Adventista, o tema de mudanças climáticas já havia sido objeto de debate. Ao final da discussão, ocorrida nos Estados Unidos, algumas declarações foram dadas oficialmente. Os adventistas se manifestaram e disseram que algumas medidas são necessárias para evitar os riscos desse fenômeno: cumprimento do acordo assinado no Rio de Janeiro (Convenção de 1992 sobre Mudanças Climáticas) a fim de estabilizar as emissões de dióxido de carbono por volta do ano 2000 a níveis de 1990; estabelecimento de planos para maiores reduções das emissões de dióxido de carbono após o ano 2000 e início de debates públicos mais eficazes sobre os riscos das mudanças climáticas.

Vejamos mais alguns trechos de duas declarações:

"O mundo no qual vivemos é uma dádiva de amor do Deus Criador, que “fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7; 11:17-18). Nesta criação, colocou os humanos, criados intencionalmente para relacionarem-se com Ele, com as outras pessoas e com o mundo ao redor. Assim, os adventistas do sétimo dia mantêm que a preservação e manutenção da criação estão intimamente relacionadas com o culto a Ele. [...]

A decisão humana de desobedecer a Deus interrompeu a ordem original da criação, resultando em uma desarmonia alheia a Seus propósitos. Desta forma, nossa atmosfera e águas estão poluídas, as florestas e a vida selvagem saqueadas, os recursos naturais esgotados. [...]

Os adventistas do sétimo dia estão comissionados a um relacionamento respeitoso e cooperativo entre as pessoas, reconhecendo nossa origem comum e compreendendo a dignidade humana como uma dádiva do Criador. Uma vez que a miséria humana e a degradação do meio ambiente estão inter-relacionadas, nós nos empenhamos por melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Nosso objetivo é manter um crescimento dos recursos atendendo concomitantemente às necessidades humanas.

O verdadeiro progresso quanto a cuidar de nosso ambiente natural recai sobre o esforço individual e cooperativo. Nós aceitamos o desafio de trabalhar em prol da restauração do desígnio global de Deus. Movidos pela fé em Deus, nós nos comprometemos a promover o progresso que se revela nos níveis pessoal e ambiental em pessoas íntegras e dedicadas a servir a Deus e a humanidade.

Neste compromisso confirmamos ser mordomos para com a criação de Deus e cremos que a restauração total se concretizará apenas quando Deus fizer novas todas as coisas."1

"Os adventistas do sétimo dia creem que a espécie humana foi criada à imagem de Deus, assim representando a Deus como Seus mordomos, para dominar o ambiente natural de uma maneira fiel e frutífera.

Infelizmente, a corrupção e a exploração podem ser atribuídas à responsabilidade humana. Homens e mulheres têm se envolvido cada vez mais em uma destruição megalomaníaca dos recursos naturais, resultando em grande sofrimento, descontrole ambiental e ameaça da mudança climática. Conquanto a pesquisa científica precise continuar, as evidências confirmam que a crescente emissão de gases destrutivos, a diminuição da camada protetora de ozônio, a destruição maciça das florestas americanas e o chamado efeito estufa, estão ameaçando o ecossistema terrestre.

Estes problemas são, em sua maioria, devidos ao egoísmo humano e à egocêntrica atividade para obter mais e mais por meio do aumento da produtividade, do consumo ilimitado e do esgotamento de recursos não-renováveis. A causa da crise ecológica está na ganância humana e na opção de não praticar a boa e fiel mordomia dentro dos limites divinos da criação.

Os adventistas do sétimo dia defendem um estilo de vida simples e saudável, onde as pessoas não participam da rotina do consumismo desenfreado, da obtenção de posses e da produção exagerada de lixo. É necessário que haja respeito pela criação, restrição no uso dos recursos naturais, reavaliação das necessidades e reiteração da dignidade da vida criada."2

1. Esta declaração foi aprovada e votada pela Associação Geral do Comitê Executivo dos Adventistas do Sétimo Dia na sessão do Concílio Anual em Silver Spring, Maryland, EUA, 12 de outubro de 1992.

2. Esta declaração foi aprovada e votada pela Comissão Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (ADCOM) e foi liberada pelo gabinete do presidente, Robert S. Folkenberg, na sessão da Associação Geral em Utrecht, Holanda, de 29 de junho a 8 de julho de 1995.

Ellen G. White também foi uma forte defensora do cuidado com o meio ambiente. Sua consciência ambiental veio de duas fontes: as Escrituras e a inspiração vinda de Deus. "Mas o que sobre todas as demais considerações deve levar-nos a apreciar a Bíblia é que nela está revelada aos homens a vontade de Deus. Ali aprendemos o objetivo de nossa criação e os meios pelos quais esse objetivo pode ser atingido. Aprendemos a melhorar sabiamente a presente vida, e a conseguir a futura" (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 53).

Em relação à poluição atmosférica, ela afirmou: "O ambiente material das cidades constitui muitas vezes um perigo para a saúde. O estar constantemente sujeito ao contato com doenças, o predomínio de ar poluído, água e alimento impuros, as habitações apinhadas, obscuras e insalubres, são alguns dos males a enfrentar" (A Ciência do Bom Viver, p. 365).

Adão e Eva perderam o ambiente perfeito do Éden por causa do pecado. Estamos novamente correndo o risco de perder o nosso meio ambiente por causa dos pecados do materialismo, ganância, poluição e desprezo dos recursos ambientais. Em Cristo, podemos ser restaurados à imagem de Deus, uns com os outros e com a natureza. O cristão não deve olhar só para a frente, para a restauração final da Terra ao seu estado original, mas também honrar a Deus hoje, cuidando de forma responsável do planeta que Ele lhe confiou.

Confira este podcast da Revista Adventista com uma conversa com dois especialistas no tema:

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