sexta-feira, 27 de setembro de 2024

STF: TESTEMUNHAS DE JEOVÁ PODEM RECUSAR TRANSFUSÃO DE SANGUE

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta quarta-feira, 25, para reconhecer que pacientes Testemunhas de Jeová podem recusar transfusão de sangue motivados por crenças religiosas. Os ministros definiram que o poder público tem a obrigação de pagar pelo deslocamento desses pacientes a unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) que ofereçam tratamentos alternativos compatíveis com a religião, desde que o custeio não gere um "ônus desproporcional".

A posição foi justificada com base em dois princípios da Constituição - a dignidade da pessoa humana e a liberdade religiosa. O julgamento tem repercussão geral, ou seja, a decisão do STF vai servir como diretriz para todos os juízes e tribunais nas instâncias inferiores. Os ministros acordaram que a recusa à transfusão precisa preencher alguns requisitos, como ser manifestada por pacientes maiores de idade, em condições de discernimento e informados pelo médico sobre o diagnóstico, tratamento, riscos, benefícios e alternativas. (UOL)

Por que as Testemunhas de Jeová não permitem a transfusão de sangue? Em que textos bíblicos eles se baseiam?

A doutrina de que Deus veda e abomina uma medida eficacíssima de salvar vidas humanas, a transfusão de sangue humano, é relativamente nova na sistemática jeovista. Russell jamais pensou nela. Rutherford, idem. Mas logo após a morte do “juiz”, ocorrida em janeiro de 1942, já nos corredores da sede da Sociedade Torre de Vigia se cochichava alguma coisa a respeito da transfusão de sangue. Era ainda uma coisa vaga, que só três anos mais tarde assumiria definitivamente foros de doutrina a ser finalmente incorporada pela organização.

Sob a direção de Nathan Knorr, os “doutores da lei” do neorusselismo, a princípio timidamente, começaram a propalar a grande "descoberta": a transfusão de sangue é proibida pela Bíblia. E sem levar em conta o fato indisputável de que a Bíblia nem toca neste assunto, totalmente desconhecido nos tempos bíblicos, a revista The Watchtower (A Torre de Vigia), em sua edição (em inglês) de 1° de julho de 1945, pela primeira vez anunciou, num artigo intitulado “A santidade do sangue”, que “a transfusão do sangue humano constitui violação do concerto de Jeová, ainda que esteja em jogo a vida do paciente”.

O pensamento jeovista sobre este assunto baseia-se unicamente numa interpretação errônea, livre, extra-contextual e inteiramente descabida das regras do sacerdócio levítico pertinentes ao sangue sacrifical dos animais. Citam livremente os versículos, sempre isolados do contexto, sempre separados do assunto a que se prendem.

Os textos mais usados são os seguintes:

Gênesis 9:4 – “Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.” Quem disse aos jeovistas que isso se refere à transfusão de sangue? Após o Dilúvio, não havendo ainda vegetação suficiente para alimento, Deus diz a Noé que, naquela contingência, podia usar alimentação cárnea, porém com o cuidado de tirar-lhe previamente o sangue. Não há aí nenhuma alusão, nem remota, ao sangue humano, e muito menos se refere a transfusões. O assunto é carne de animais. O assunto é alimentação por via oral. É comer, digerir, alimentar-se.

Levítico 3:17 – “Estatuto perpétuo será durante as vossas gerações, em todas as vossas moradas: gordura nenhuma nem sangue jamais comereis.” Primeiramente o adjetivo “perpétuo”, empregado no hebraico, é holam, e significa duração enquanto durar o fato a que se junta. As festas judaicas, luas-novas, páscoa, o sacerdócio arônico, etc., também eram “estatuto perpétuo”, mas não se celebram mais. Em segundo lugar, a proibição, no texto em tela, também se aplica ao consumo de gordura animal, e os jeovistas ainda não resolveram inventar um dogma sobre isso, para serem coerentes. Em terceiro lugar, o texto acima se refere a ofertas queimadas, e a parte dela que devia ser comida, com exceção da gordura e também do sangue. Essas razões serão explicadas mais adiante, mas o assunto ainda é alimentação via oral, e pertinente à carne, gordura e sangue de animais. Nada de humano. Nada de transfusão. Leia os versículos anteriores, com isenção de ânimo, e você terá o sentido exato. Para que distorcer?

Levítico 7:27 – “Toda Pessoa que comer algum sangue, será eliminada de seu povo.” Por que as testemunhas não apresentam o contexto? O versículo anterior dá claramente que é sangue de animais: “Não comereis sangue em qualquer das vossas habitações, quer de aves, quer de gado.” Não há a menor referência a sangue humano, e obrigar a significar transfusão é afirmar que minha avó é bonde elétrico! O assunto é alimentação por via bucal, refere-se a comer e digerir, e não a sangue transfundido.

Levítico 17:10, 11 e 14 – “Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra ele Me voltarei e o eliminarei do seu povo.” “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” “Porquanto a vida de toda carne é o seu sangue; por isso tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda a carne é o seu sangue; qualquer que o comer será eliminado.” As testemunhas costumam disparar estes três versículos juntos, e com muita ênfase, para tentar provar a tese contra a transfusão sanguínea, mas com deliberada má fé, porque omitem o contexto. Porque pulam exatamente o versículo 13 que esclarece: “Qualquer homem que caçar animal ou ave que se come, derramará o seu sangue, e o cobrirá com pó.” Aí está o sentido correto. É simplesmente o que a Bíblia diz. A Bíblia em lugar algum se refere a comer sangue humano, e isso porque não havia canibalismo entre os israelitas. A lei de Deus tem um mandamento “Não matarás”, no qual incorre inclusive quem permite que outros morram quando pode salvar-lhes a vida, como no caso da transfusão de sangue. Deus abominava e abomina a antropofagia. “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu” (Gn 9:6). Aqui se refere ao homicídio e não às transfusões. Deus proíbe sacrificar pessoas a Moloque (Lv 20:1-5). Portanto, todos os sacrifícios abonados por Jeová eram de animais, e o sangue desses animais não devia ser ingerido como alimento.

Levítico 19:26 – “Não comereis coisa alguma com sangue.” A ordem é não comer carne com sangue. Carne de animal. Não há referência a transfusões.

Atos 15:20, 29; 21:25 – São três versículos do Novo Testamento, idênticos na enunciação “que se abstenham (...) da carne de animais sufocados e do sangue.” “Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados (...).” “Quanto aos gentios que creram (...) que se abstenham das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne das animais sufocados (...).” Será que Tiago, na primeiro verso, estava aconselhando os cristãos a que se abstivessem de comer sangue humano? Se foi assim, então havia canibalismo ou antropofagia na igreja primitiva. A referência, nos três versos, é à carne animal, comida como alimento. Sempre evitar de ingerir o sangue.

Por aí se verifica que tudo resulta de falsa interpretação de textos que se relacionam com carne de animais. É verdade que Deus proíbe comer o sangue, bem como a gordura dos animais. Que razão havia para isso? Vamos dar a palavra a um cientista de renome e cristão, o Prof. Flamínio Fávero. Diz ele:

“1. Fundamentalmente [não se deve comer sangue] para inspirar ao homem o respeito pelo sangue. É prescrição, assim, de caráter moral. Pelo sangue se respeita a vida, de que o mesmo é símbolo e até sede... Quando se toma um animal morto violentamente, escorrendo sangue, tem-se a impressão de que a vida ainda lateja naquela carne quente, e que essa vida se extingue justamente quando se for a última gata de sangue. O corpo humano tem grande porção de sangue, cerca de 1/13 do seu peso, ou seja, cinco litros para um peso de 65 quilos. Quando aberto um vaso, há hemorragia, e a morte sobrevém desde que a metade desse líquido se perca. Pelo mecanismo chamado dessangramento processa-se uma anemia aguda, de graves consequências, que apenas uma injeção de outro sangue, de tipo adequado, pela transfusão, pode combater.

“O sangue é a vida... E é pela circulação desse líquido que se realizam todas as trocas vitalizadoras nos lugares mais distantes e escondidos da economia orgânica. Bem cabe ao sangue, pois, a sinonímia que a Bíblia lhe empresta, de vida. (...) Enquanto tiverem [os animais] sangue têm resquícios de vida. E a vida não nos pertence, não é nossa...

“2. Em paralelo com essa prescrição de caráter eminentemente moral, que apela para o respeito ao sangue, está outra de aspecto higiênico. (...) A quebra de preceito de higiene pode redundar em males gerais e individuais e, neste último caso, quando são capazes de atingir-nos, lembramo-nos de evitá-los. (...) O sangue não deve servir de alimento, porque é bastante indigesto, pelas albuminas bem resistentes dos seus glóbulos vermelhos e, ainda, pelo teor elevado de pigmento ferruginoso que os mesmos contêm. É desse pigmento, a hemoglobina, que deriva a cor vermelha especia1 que caracteriza o sangue dos mamíferos. E conforme a sua pobreza no mesmo, fala-se em maior ou menor grau de anemia, necessitando ser tratada por medicamentos contendo ferro ou que facilitem a sua fixação adequada.

“Como se não bastasse ser indigesto, o sangue se corrompe facilmente, putrefazendo-se. Basta sair dos vasos que o contém, para coagular-se, dividindo-se em uma parte sólida – o coalho – e outra líquida – o soro. E então, não tendo mais vida, os germes putrefativos invadem, transformando-o inteiramente, dando-lhe aspecto e cheiro repelentes. Compreende-se logo o que vai de perigoso no uso de alimento corrompido, cheio de toxinas venenosas, que causam grave dano à saúde e até a morte. Daí a sabedoria da Bíblia, mandando derramá-lo na terra, que o absorve. (...)” – Extraído do artigo “Não comereis o sangue de qualquer carne”, Fé e Vida, março de 1939, p. 16 e 17 (itálicos acrescentados).

Falou a ciência autorizada. Uma coisa é alimentar-se, por via oral, do sangue de animais, que não deve passar pela química digestiva, tal o perigo que oferece à vida; e outra muito diferente é renovar a corrente circulatória, com o mesmo elemento que a compõe, depois da classificação técnica do tipo sanguíneo, repondo o sangue perdido, evitando a morte do paciente.

Quando ocorre uma transfusão, não se trata de comer sangue humano, nem de alimento, mas de reabastecimento circulatório, uma dádiva feita num espírito de misericórdia e caridade. As estatísticas da Cruz Vermelha, por exemplo, atestam que milhões e milhões de vidas preciosas foram salvas pela transfusão. Ao passo que, por outro lado, quantas vidas são ceifadas por falta de uma transfusão.

A Bíblia diz: “Não matarás.” Negar por vontade própria a transfusão salvadora, é matar, é transgredir a lei de Deus! E disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos” (João 15:13). E a vida é o sangue porque o sangue é a vida!

Quem quer que leia os Evangelhos, com espírito contrito, sem pensar nas extravagantes interpretações das “Testemunhas de Jeová”, ficará impressionado com a atitude de Cristo em face do sofrimento alheio. Compadecia-Se dos doentes, curava-os, confortava-os onde os encontrasse. E nós, como servos Seus, como Suas testemunhas, devemos ter o mesmo espírito para com os doentes. Lemos em 1 João 3:16 que “devemos dar a vida pelos irmãos”.

As “Testemunhas de Jeová” não mantêm nenhum hospital, nenhuma instituição de assistência social. Dizem que a missão deles é restaurar o nome de Jeová e não fazer caridade. Que a melhor caridade é fazer prosélitos. Mas quando está em jogo a vida humana, se depender de uma transfusão de sangue, não a aceitam nem a dão, e... que morra o paciente! Para eles a lei “Não matarás” foi abolida!

[Extraído do livro Radiografia do Jeovismo, de Arnaldo Christianini – CPB]

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