quarta-feira, 12 de março de 2025

OS CINCO "ISMOS" DO MAL

Estamos em guerra! Essa é a principal lembrança de Apocalipse 12 para aqueles que vivem no fim do tempo do fim. Uma batalha contra o maior “sedutor” (Ap 12:9) de todos os tempos. Para ­enfrentá-lo, nosso coração não pode ser apenas controlado pelos desejos, mas precisa ser comandado pela Palavra. Fique alerta contra cinco “ismos” destruidores.

Comodismo. É a doença daqueles que vivem confortáveis com o pouco que possuem, subnutridos espiritualmente e mantidos pelo consumismo espiritual. Não usam seus dons, não participam em ministérios, não se aprofundam na mensagem, não cumprem a missão e, o pior, não passam um legado espiritual às novas gerações. Para eles, receber é uma obrigação e oferecer é um sacrifício. Pensam estar alertas, mas estão dormindo.
"Não nos sentemos em indolente comodismo, sem fazer nenhum esforço especial para realizar nossa obra. Façamos a escolha em alguma parte da grande vinha do Mestre e realizemos uma obra que exija exercício de tato e talento. Os que amam o comodismo não praticam a abnegação e paciente perseverança; e quando há necessidade de homens para realizarem grandes proezas para Deus, esses não se acham dispostos a responder: 'Eis-me aqui; envia-me a mim' (Isaías 6:8). Há trabalho árduo e penoso a ser feito, e felizes os que estiverem dispostos a efetuá-lo quando seus nomes forem chamados. Deus não recompensará homens e mulheres no mundo futuro por procurarem viver comodamente neste mundo" (E Recebereis Poder, p. 345).
Institucionalismo. É a doença do triunfalismo religioso e do formalismo espiritual, a síndrome de Laodiceia, que se julga rica, mas é miserável (Ap 3:17, 18). Seus adeptos acreditam que o fato de cumprir regras, manter cerimônias, proteger tradições e viver uma vida repetitiva os manterá seguros e agradará a Deus. Também se encantam com resultados, aplausos, notícias, curtidas, investimentos, eventos e outras formas de parecer relevantes. Suas atitudes fazem a igreja deixar de ser movimento para se tornar monumento, deixar de ser conhecida pela mensagem para ser aplaudida pela grandeza. A relevância social se torna mais importante que o crescimento espiritual. Causar boa impressão passa a ser mais importante que o cumprimento da missão. Sobram glórias e falta coração. Sua mensagem é defendida, mas não encarnada.
"A mensagem à igreja de Laodicéia é uma impressionante acusação, e é aplicável ao povo de Deus no tempo presente. O povo de Deus é representado como em uma posição de segurança carnal. Sentem-se bem, pois se imaginam em exaltada condição de realizações espirituais. Eles não sabem que sua condição é deplorável à vista de Deus. Enquanto aqueles que são abordados se lisonjeiam de achar-se em exaltada condição espiritual, a mensagem da Testemunha Verdadeira destrói sua segurança com a surpreendente denúncia de seu verdadeiro estado espiritual de cegueira, pobreza e miséria" (Testemunhos Seletos 1, p. 327).
Achismo. É apenas um sintoma do secularismo que vê a simplicidade da vida cristã como um suicídio intelectual. Busca uma religião racional, cheia de lógica, vazia de fé e distante de Deus. Seus adeptos não adoram o “Deus Eu Sou”, mas o “Deus que querem que Ele seja”. Para seu racionalismo Deus não é suficiente e para sua independência Deus não é necessário. Não notam que estão envolvidos num ciclo de deterioração da verdade, criado pelo próprio “sedutor”. No Jardim do Éden éramos guiados pela verdade. Na tentação, a serpente questionou a verdade. Séculos mais tarde, a igreja romana modificou a verdade. Anos depois, a Revolução Francesa tentou destruir a verdade. Mais perto de nós, o pós-modernismo estabeleceu que cada um é dono de sua própria verdade. E a multimodernidade, em nossos dias, trouxe a intolerância com a verdade do outro.
"A verdade é de Deus; o engano, em todas as suas múltiplas formas, é de Satanás; e quem quer que, de alguma maneira, se desvia da reta linha da verdade, está-se entregando ao poder do maligno. Não é, todavia, coisa leve ou fácil falar a exata verdade; e quantas vezes opiniões preconcebidas, peculiares disposições mentais, imperfeito conhecimento, erros de juízo, impedem uma justa compreensão das questões com que temos de lidar! Não podemos falar a verdade, a menos que nossa mente seja continuamente dirigida por Aquele que é a verdade" (O Maior Discurso de Cristo, p. 68).
Criticismo. É consequência do achismo e efeito colateral do egoísmo. Pessoas contaminadas por esse mal se importam apenas consigo mesmas. Tudo o que foge aos seus padrões pessoais e não atende aos seus interesses particulares serve de vitamina para a crítica. Seus adeptos estão em busca de justiça para todos e esperam misericórdia para si mesmos. Falam sem conhecer, machucam sem se importar e derrubam sem levantar. Descarregam suas frustrações sobre pessoas, situações ou instituições. A igreja sofre com esses “reformadores” modernos, que são capazes de corrigir a todos, menos a si mesmos. São especialistas em apontar falhas, mas incapazes de construir soluções. Cultivam pouca gratidão e muita indignação, muita desconfiança e pouca esperança, muito zelo e pouco amor. Podem ter até boas intenções, tentando ser instrumentos do “Consolador” (Jo 14:26), mas acabam se tornando agentes do “acusador” (Ap 12:10).
"Ninguém engane sua própria alma nesta questão. Se abrigardes o orgulho, o amor-próprio, o desejo de supremacia, vanglória, ambição egoísta, murmuração, amargura, maledicência, mentira, engano e calúnia, não tendes Cristo em vosso coração, e as evidências demonstram que tendes a mente e o caráter de Satanás, e não o de Jesus Cristo, que era manso e humilde de coração. Podeis ter boas intenções, bons impulsos, podeis falar compreensivelmente a verdade, mas não estais habilitados para o reino dos Céus. [...] Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição muito mais saudável" (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 441 / Conselhos para a Igreja, p. 182 ).
Sensacionalismo. É a doença do superficialismo. Daqueles que têm pouco de Deus no interior e precisam de muito estímulo exterior. Navegam pelo mundo real e virtual em busca de novidades. Novas interpretações, novas datas, novos vídeos, novas descobertas, novos oradores carismáticos. Não se alimentam do “Assim diz o Senhor”, mas do “assim diz o pastor, o pregador, o influenciador”. Acabam afetados pela rotina, decepcionados pelo engano e destruídos pela apostasia.
"Tenho sido instruída de que não é de doutrinas novas e fantasiosas que o povo precisa. Não necessitam de conjecturas humanas. Precisam do testemunho de homens que conhecem e praticam a verdade. As notícias sensacionalistas prejudicam o desenvolvimento da obra. Não temos ânsia de excitação, de sensacionalismo; quanto menos disso tivermos, tanto melhor. O raciocínio tranquilo e fervoroso com base nas Escrituras, é precioso e frutífero" (Evangelismo, p. 170).
Por que não substituir esses “ismos” do mal pelos “ismos” do Senhor? Oferecer palavras de otimismo, desenvolver atitudes de altruísmo e cumprir a missão do adventismo.

[via Revista Adventista - Textos em vermelho de Ellen G. White]

segunda-feira, 10 de março de 2025

CONCLAVE, TRUMP E APOCALIPSE 13

Segue abaixo um trecho do excelente e revelador artigo do jornalista Jamil Chade sobre o próximo grande objetivo político do presidente americano Donald Trump:

"Permeado por católicos ultraconservadores e tradicionalistas, o governo de Donald Trump colocou o conclave como seu próximo grande objetivo político. Com a participação da diplomacia americana, de deputados da base mais conservadora e uma rede de entidades e religiosos, a Casa Branca tenta influenciar a direção que pode tomar a escolha do novo papa, caso Francisco tenha de renunciar ou não sobreviva a seus problemas de saúde.

O cálculo do governo americano é de que, mesmo que o pontífice não morra no curto prazo, os próximos quatro anos serão decisivos para influenciar a escolha do novo papa. Trump terminará seu mandato com um papa que, se vivo, terá 92 anos. Preparar o conclave, portanto, se transformou em um objetivo político da Casa Branca. Ainda que o voto seja exclusividade de cardeais e que muitos deles tenham sido nomeados por Francisco, a percepção é de que se pode criar um "clima" de pressão e, desde já, articular nomes que poderiam se apresentar como alternativas a uma continuação da gestão de Francisco.

Do lado político, reconquistar o Vaticano seria estratégico para permitir que a agenda ultraconservadora americana ganhe a benção e a chancela diplomática da Santa Sé para ser difundida pelo mundo. Ao anunciar seu embaixador em Roma, Trump escancarou a relação entre a política, a fé e sua escolha. "Brian é um católico devoto, pai de nove filhos e presidente da CatholicVote. Ele recebeu inúmeros prêmios e demonstrou uma liderança excepcional, ajudando a construir um dos maiores grupos católicos de defesa de direitos do país", anunciou o republicano.

O presidente lembrou que Burch "me representou bem durante a última eleição, tendo obtido mais votos católicos do que qualquer outro candidato presidencial na história". Os dados de fato confirmaram que os católicos optaram por Trump por uma margem de 20 pontos e foram decisivos nos estados decisivos no Cinturão da Ferrugem e no Sudoeste.

Fontes em Washington explicaram ao UOL que Burch é apenas uma das peças da engrenagem, ainda que crítica. Dentro do governo, os católicos mais tradicionais contam com representantes de peso, entre eles Tom Homam, o "czar das fronteiras", Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, e JD Vance, o vice-presidente. Também são católicos Linda McMahon, secretária de Educação, Elise Stefanik, embaixadora para a ONU e que afirmou que Israel tem "direito bíblico" sobre as terras palestinas. A lista ainda inclui Marco Rubio (Departamento de Estado), Sean Duffy (Transporte), o diretor da CIA, John Ratcliffe, e Robert F. Kennedy Jr., na Saúde.

No dia 21 de janeiro, horas depois de Trump tomar posse, o vice-presidente da CatholicVote, Joshua Mercer, deixou explícito que a vitória do republicano era parte de um plano maior. "Pela graça de Deus, recebemos uma oportunidade que tem sido cada vez mais rara na história moderna: levar nossa visão de mundo política católica para os corredores da maior potência do mundo." (Leia o artigo na íntegra em UOL).

Apocalipse 13
Sem querer ser alarmista ou sensacionalista, este artigo nos lembra da importância de nos prepararmos a cada dia para a breve volta de Jesus e estudarmos as Escrituras, principalmente as profecias, para não sermos pegos de surpresa. Meu objetivo não é condenar ou difamar alguma pessoa ou organização religiosa. O propósito é chamar a atenção de todos para a importância de descobrir a verdade, e de submeter-se ao Senhor.

Apocalipse 13 é um texto simbólico profético que faz menção às duas bestas: a que emerge do mar e a que emerge da terra. Tendo em vista que a palavra “besta” em profecia significa “poder religioso ou político” (Dn 7:17), podemos concluir que a primeira besta representa um poder religioso e a segunda besta, um poder político. Apocalipse 13 menciona a união entre essas duas bestas como potencialmente perigosa, principalmente no desfecho da história deste mundo, formando um poder político religioso. Estudando a fundo as profecias, chegamos à conclusão que a primeira besta representa o sistema religioso papal e a segunda os Estados Unidos da América.

Existe uma associação inconfundível entre este capítulo e Daniel capítulo sete. Ambos apresentam uma sequência de animais e destacam a figura de uma besta ou animal “terrível e espantoso” (Dn 7:7). Esses animais, na sequência da profecia de Daniel, bem como na estátua do sonho do rei Nabucodonosor, representam, respectivamente: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Mas de todos estes impérios, o último, descrito como um animal medonho, deixaria registrado na história um reinado de medo e descaso para com a Palavra de Deus. João, por sua vez, viu uma besta que saiu do mar. Ou seja, uma besta que surgiria de “povos, multidões, nações e línguas” (Ap 17:15). Observem que João apresentou um regresso histórico, uma ordem contrária dos animais citados por Daniel (v.2), corroborando com o fiel cumprimento da profecia referente aos reinos que já haviam passado.

Findo o período da supremacia política dos impérios, Roma passou a reger as nações através do poder político e religioso do papa. Considerado líder supremo, o pontífice tornou-se a figura mais importante do globo e sua palavra passou a ter vigor em todas as esferas da sociedade. Existem diversas semelhanças entre o chifre pequeno da profecia de Daniel e a besta que emerge do mar. Ambos, portanto, representam o mesmo poder: Roma Papal. Vimos que este tempo de apogeu durou “quarenta e dois meses” (v. 5), 1260 anos, tendo o seu fim em 1798 com a prisão do papa Pio VI. A profecia apresenta, porém, um período no futuro em que este poder recobraria as suas forças, quando diz: “essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (v. 3). Ou seja, Roma Papal reassumirá o controle do poder civil e religioso e revelará ao mundo um discurso que atrairá multidões, “aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (v. 8). Será que o cenário mundial atual já não revela indícios suficientes de que esta profecia já está se cumprindo?

A besta que surge da terra, ao contrário de mar, representa um poder que surge de um lugar deserto ou pouco povoado. Fugindo da perseguição, muitos cristãos desbravaram os mares à procura de viver com liberdade a sua crença. Foi assim que surgiu a nação dos Estados Unidos da América, com seus ideais protestantes de liberdade civil e religiosa. Ellen G. White diz: “Que nação do Novo Mundo se achava em 1798 ascendendo ao poder, apresentando indícios de força e grandeza, e atraindo a atenção do mundo? A aplicação do símbolo não admite dúvidas. Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações desta profecia; esta aponta insofismavelmente para os Estados Unidos da América do Norte” (O Grande Conflito, p. 439).

Como os “dois chifres” não possuem coroas ou diademas como na descrição da besta anterior, eles não se referem a reinos, mas podem se referir a esses dois ideais de liberdade, já que parece um cordeiro, isto é, aparenta ser uma nação cristã, mas que no fim revelará a sua verdadeira face, “como dragão” (v. 11). Ellen G. White afirma: “A ‘fala’ da nação são os atos de suas autoridades legislativas e judiciárias. Por esses atos desmentirá os princípios liberais e pacíficos que estabeleceu como fundamento de sua política. A predição de falar ‘como o dragão’, e exercer ‘todo o poder da primeira besta’, claramente anuncia o desenvolvimento do espírito de intolerância e perseguição que manifestaram as nações representadas pelo dragão e pela besta semelhante ao leopardo” (O Grande Conflito, p. 441).

Há alguns anos, seria impossível fazer qualquer ligação ou conexão entre a nação norte-americana e o Vaticano. Hoje, vemos que as relações estão cada vez mais estreitas e que as portas estão sendo abertas para uma associação cada vez mais íntima.

A besta que sobe do mar representa as duas fases de Roma: pagã e papal. Partindo do princípio de que ela emerge do meio de povos e nações, as sete cabeças representam os seguintes reinos: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma pagã e Roma Papal; os povos que representam os piores inimigos do povo de Deus ao longo da história. A profecia indica que Roma adquiriu características peculiares de alguns desses povos: da Grécia (leopardo) a semelhança no sistema religioso de culto a imagens e invocação de santos; da Medo-Pérsia (urso), a instituição do domingo como dia de guarda, pois os persas dedicavam o primeiro dia da semana como um dia de culto ao deus Sol; e da Babilônia (leão), Roma copiou a soberba, o orgulho e o descaso para com a Lei de Deus (Is 13:11; Is 14:10-14).

O início da cura da ferida mortal se deu no ano de 1929, quando Benito Mussolini assinou uma concordata concedendo ao papado 44 hectares de terra, que, mais tarde, se tornaria o menor país do mundo, o Estado do Vaticano. A partir daí, os pontífices voltaram a ter um prestígio que só vem crescendo, e a nação norte-americana aclamada como grande potência mundial, mostrando que caminha para dar as mãos à primeira besta. Logo, nos será tolhida a liberdade de crença, a liberdade econômica (v. 17) e até o direito fundamental de ir e vir. Além do inevitável decreto de morte a todos os que se recusarem a adorar “a imagem da besta” (v. 15).

Uma marca será imposta “a todos […], sobre a mão direita ou sobre a fronte” (v.16). Uma contrafação ao que o Senhor determinou para o Seu povo (Dt 6:8), que é “a perseverança e a fidelidade dos santos” (v. 10). Como está escrito: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). Será, portanto, uma questão de decisão voluntária (fronte) em obedecer os mandamentos de Deus ou mandamentos de homens (mão direita). A necessidade atual é de cristãos que reconheçam a sua incapacidade de enfrentar a grande prova final e, como Jacó, agarrem-se firmemente à destra da Onipotência até que do alto sejam revestidos de poder.

A compreensão dos símbolos de Apocalipse, porém, não pode ser maior do que o desejo por conhecer Aquele a quem este livro revela: Jesus Cristo. Pois “a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (Jo 17:3). A grande controvérsia final é uma guerra entre verdadeiros adoradores e falsos adoradores, e “o número da besta” (v. 18) é a representação de uma falsa adoração. 

A questão é: De que lado estamos hoje? Lembrem-se: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Ap 1:3). Assim como as profecias indicam, um tempo virá em que o mundo se voltará contra aqueles que permanecem leais a Deus. Nossa missão é sermos testemunhas do reino eterno, sem ceder às tentações do poder terreno. Enquanto caminhamos para o cumprimento das profecias de Apocalipse, que cada um de nós siga com o olhar fixo em Cristo e na promessa de um reino que não tem fim. Maranata!

sexta-feira, 7 de março de 2025

QUARESMA

Passadas as festividades do Carnaval, um termo tem chamado a atenção, especialmente no contexto brasileiro. Ele possui fundo religioso. É o período conhecido como Quaresma. A palavra vem do latim quadragésima ou quadragésimo dia. É historicamente presente nas tradições católica romana e católica de rito oriental, ortodoxas e até mesmo em certas denominações protestantes históricas. Consiste em um período de 40 dias que antecede a Páscoa, marcado pela necessidade de observância de penitências, jejum, oração e caridade. No catolicismo romano, o período costuma iniciar na Quarta-Feira de Cinzas (último dia das festividades do Carnaval).

Segundo artigo do professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Washington Paranhos, “nos primeiros séculos não temos registro da Quaresma entre os cristãos. A Páscoa anual era preparada através de dois ou três dias de jejum. A primeira evidência desta época do ano litúrgico remonta ao século IV”.¹

O Código de Direito Canônico (Cânon 1250) diz expressamente que “no direito da igreja universal, são dias e tempos penitenciais todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma”. Há outros documentos que atestam a necessidade de se seguir as práticas durante a Quaresma.

Um dos motivos alegados para seguir tal tradição é explicado no Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 540. Ali é dito que os 40 dias são uma alusão ao momento da tentação de Jesus no deserto. Textualmente, o documento oficial afirma que “a Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto”.

Princípios bíblicos
Não há qualquer ordenança, dentro do registro bíblico, para que os cristãos observem 40 dias de penitências, jejum, oração e caridade dentro de uma formalidade pós-Carnaval e pré-Páscoa. Trata-se, obviamente, de tradição construída pela liderança religiosa depois do período apostólico.

A Bíblia evidentemente fala da importância do arrependimento e confissão dos pecados a Deus e do Seu perdão todos os dias (Salmo 32:1; Isaías 55:7; 1 João 1:9; Hebreus 8:12). E, também, destaca que o jejum tem seu lugar ligado sempre a um propósito espiritual. O jejum é voluntário e individual. É o que vemos na história de Daniel, que jejuou parcialmente por 21 dias para buscar compreensão em Deus sobre algumas preocupações (Daniel 10:2,3). É uma prática que pode ser realizada coletivamente, como se vê em algumas experiências bíblicas de Josafá (2 Crônicas 20:18) e Esdras (Esdras 8:21). Jejum e obediência a Deus estão interligados (Isaías 58:1-14).

Oração é essencialmente uma conexão permanente com Deus (1 Tessalonicenses 5:17), e o próprio Jesus falou e viveu a realidade da oração constante. Quanto à caridade, os exemplos bíblicos são vários e sempre aparecem como uma evidência de um estilo de vida dos cristãos tementes a Deus (Mateus 25:31-46).

Os Adventistas do Sétimo Dia, por exemplo, não seguem o calendário litúrgico romano nem o período da Quaresma. Sua crença, com base na Bíblia Sagrada, enfatiza a necessidade de preparo e reavivamento espiritual diariamente. O que nos torna vivificados é a confiança na morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Mais do que 40 dias
A Quaresma enfatiza um período de intervalo para “purificação espiritual” entre o período carnavalesco e a Páscoa. É caracterizada muito mais como uma tradição ritualística temporária e passageira. Pode até produzir algum efeito conceitual, mas limita a necessidade de preocupação com questões espirituais a 40 dias. E, portanto, contrasta com a ideia de que todas as práticas ali recomendadas devam ser vividas integralmente e constantemente pelos cristãos.

Os textos bíblicos indicam a importância de o cristianismo ser vivenciado como um estilo de vida. Ultrapassa uma visão tradicional de alguma mágica presente no intervalo entre as festividades costumeiramente marcadas por imoralidade e depravação dos sentidos e a celebração da Páscoa.

O cristianismo alicerçado na Bíblia precisa ser consistente o tempo inteiro. Muito mais do que 40 dias ritualmente apontados em um calendário histórico. A importância de se buscar a Deus e experimentar as bênçãos do viver baseado na confissão e perdão dos pecados, oração, jejum e caridade é inigualável.

Faça esse teste todos os dias e o efeito certamente será mais duradouro do que festas ou tradições temporais.

Felipe Lemos via Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN)

Referência:

quarta-feira, 5 de março de 2025

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

O papa Francisco "descansou bem durante a noite", mas perderá o início da Quaresma nesta quarta-feira (5) devido à pneumonia dupla que o mantém hospitalizado em Roma desde 14 de fevereiro. No 20º dia de internação no hospital Gemelli, o líder da Igreja Católica não participará das celebrações da Quarta-feira de Cinzas que dão início à Quaresma, o período de 40 dias que precede a Páscoa (este ano em 20 de abril). 

Hoje às 16h30 locais, o cardeal Angelo De Donatis, penitencieiro-mor e delegado do Papa Francisco, presidirá a liturgia estacional na Igreja de Santo Anselmo no Aventino, em Roma, seguida da procissão penitencial até a Basílica de Santa Sabina. É o início de um período de arrependimento, jejum e espera pela ressurreição de Cristo, segundo a tradição da Igreja Católica.

O papa costuma presidir a missa deste dia, na qual os fiéis recebem uma cruz de cinzas na fronte. As cinzas tradicionalmente procedem da queima das palmas do Domingo de Ramos das celebrações da Páscoa do ano anterior. A estas cinzas mistura-se água benta e de acordo com a tradição, o celebrante desta cerimônia utiliza essas cinzas úmidas para sinalizar uma cruz na fronte de cada fiel, proferindo a frase “Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” ou a frase “Convertei-vos e crede no Evangelho”, deixando a marca até o horário do pôr-do-sol.

Na cerimônia, as pessoas são desafiadas a refletirem na mortalidade e abandonarem os hábitos pecaminosos. O jejum e a abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos. Fora desses limites, é opcional. Nesse dia, os fiéis podem ter uma refeição “principal” uma vez durante o dia.

Embora milhares de pessoas sinceras participem desta cerimônia, apreciaria que de coração aberto, você analisasse as seguintes ponderações:

1. Não há registro bíblico de que os cristãos devam participar desta cerimônia. Jesus, os discípulos e até mesmo o apóstolo Paulo não participaram de nenhuma Quarta-feira de Cinzas. Assim, fica fácil identificar que se trata de uma tradição e jamais deva ser visto como uma ordenança bíblica.

2. A Bíblia contém inúmeras narrativas de pessoas usando “poeira e cinzas” como símbolo de arrependimento e ou sofrimento (Gênesis 18:27; 2 Samuel 13:19; Ester 4:1; Jó 2:8; Daniel 9:3; Mateus 11:21). Porém, essa prática cultural comumente destacada em vários personagens bíblicos, não se limitava apenas a um período específico do ano como acontece na Quarta-feira de Cinzas, mas quando houvesse a necessidade de externar o sentimento de desgraça ocasionado geralmente por uma tragédia e ou pecado.

É bem verdade, que enquanto vivermos neste mundo pecaminoso, o sofrimento, seja aquele ocasionado de maneira direta ou indireta, nos faz lembrar que não somos nada sem Deus, somos apenas pó, seres mortais e que carecemos da sua libertação e vida eterna. Por essa razão, Deus não especificou um dia para essa prática religiosa por que carecemos de uma entrega pessoal diariamente.

3. Muitos abusam da graça de Deus no carnaval sob o pretexto de que na Quarta-feira de Cinzas os pecados serão perdoados. A impressão que tenho é que a filosofia de muitos é que quanto pior forem os seus atos, aí que Deus aparecerá e demonstrará misericórdia. Mesmo assim, Ellen G. White diz que "o coração de Deus, cheio de amor e paciência, ainda luta com aqueles que ignoraram a misericórdia de Deus e abusaram da Sua graça" (Um Convite à Diferença, p. 102).

E qual o aspecto de um cristão conduzido pela graça? A Bíblia responde: “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?" (Romanos 6:1 a 2). Não é a meta de Deus promover a desobediência para provar o seu amor e perdão. Ao contrário, Deus salva os seus filhos para que continuem salvos, livres do pecado.

"Mais claro que isso, impossível. Nosso velho modo de viver foi pregado na cruz com Cristo, um fim decisivo para aquela vida miserável de pecado. Não estamos mais à mercê do convite do pecado! Cremos que, se estamos incluídos na morte de Cristo, que venceu o pecado, estamos incluídos também em sua ressurreição, que nos traz vida. Sabemos que, quando Jesus foi levantado dos mortos, isso foi um sinal de que a morte não seria mais o destino final. Nunca mais ela terá a última palavra. Quando Jesus morreu, ele levou o pecado consigo. Agora vivo, ele traz Deus a nós. De agora em diante, devemos pensar assim: o pecado fala uma língua morta que nada significa para nós; Deus fala a nossa língua materna, e entendemos cada palavra. Vocês estão mortos para o pecado e vivos para Deus. Foi o que Jesus fez. Isso significa que vocês devem conduzir a vida de um modo que não deem oportunidade ao pecado. Não deem a ele nenhuma chance. Evitem até as mínimas coisas que estejam ligadas com o antigo modo de viver. Abracem de todo o coração e em tempo integral o modo de Deus agir" (Rm 6:6-13 - A Mensagem).

Concluo com este alerta de Ellen G. White: "O arrependimento inclui a tristeza pelo pecado e o afastamento dele. Não abandonaremos o pecado enquanto não reconhecermos quão perigoso ele é. E enquanto não nos afastarmos sinceramente do pecado não haverá mudança real em nossa vida. Cuidado com os adiamentos! Não deixe para depois a decisão de abandonar seus pecados e buscar a pureza de coração através de Jesus" (Caminho a Cristo, p. 17).

Pense nisso!

terça-feira, 4 de março de 2025

O ÚLTIMO SOBREVIVENTE

Mais de meio século havia passado desde a organização da igreja cristã. Durante esse tempo, a mensagem do evangelho tinha sofrido constante oposição. Seus inimigos jamais afrouxaram os esforços, e afinal alcançaram êxito em arregimentar o poder do imperador romano contra os cristãos.

O império romano havia declarado os cristãos como uma ameaça à sua segurança. Eles eram tidos como insubordinados, uma vez que se recusavam a participar do culto ao imperador e, embora eles fossem cidadãos exemplares, Roma desconfiava que sua existência era perigosa. Por causa disso, muitos seguidores de Jesus foram queimados vivos, entregues às feras, mortos na arena do Coliseu. Os líderes do movimento, conhecidos como apóstolos, foram brutalmente executados. Houve apenas uma exceção: João, também conhecido como o discípulo amado.

Ellen G. White nos conta: "João alcançou avançada idade. Testemunhou a destruição de Jerusalém e a ruína do majestoso templo. Último sobrevivente dos discípulos que haviam privado intimamente com o Salvador, sua mensagem teve grande influência em estabelecer o fato de que Jesus é o Messias, o Redentor do mundo. Ninguém poderia duvidar de sua sinceridade, e através de seus ensinos muitos foram levados a deixar a incredulidade" (Ato dos Apóstolos, p. 294).

Os príncipes dos judeus encheram-se de ódio atroz contra João por sua inamovível fidelidade à causa de Cristo. Declararam que de nada valeriam seus esforços contra os cristãos enquanto o testemunho de João soasse aos ouvidos do povo. Para que os milagres e ensinos de Cristo fossem esquecidos, a voz da ousada testemunha teria de ser silenciada. 

João foi por conseguinte convocado a Roma para ser julgado por sua fé. Aqui perante as autoridades, as doutrinas do apóstolo foram deturpadas. Falsas testemunhas acusaram-no de ensinar sediciosas heresias. Por essas acusações esperavam seus inimigos levar em breve o discípulo à morte. 

João respondeu por si de maneira clara e convincente, e com tal simplicidade e candura que suas palavras tiveram efeito poderoso. Seus ouvintes ficaram atônitos com sua sabedoria e eloquência. Porém, quanto mais convincente seu testemunho, mais profundo era o ódio de seus opositores. O imperador Domiciano estava cheio de ira. Não podia contrafazer as razões do fiel advogado de Cristo, nem disputar o poder que lhe acompanhava a exposição da verdade; determinou, contudo, fazer silenciar sua voz. 

Ellen G. White relata: "João foi lançado dentro de um caldeirão de óleo fervente; mas o Senhor preservou a vida de Seu fiel servo, da mesma maneira como preservara a dos três hebreus na fornalha ardente. Ao serem pronunciadas as palavras: 'Assim pereçam todos os que crêem nesse enganador, Jesus Cristo de Nazaré', João declarou: Meu Mestre Se submeteu pacientemente a tudo quanto Satanás e seus anjos puderam inventar para humilhá-Lo e torturá-Lo. Ele deu a vida para salvar o mundo. Considero uma honra o ser-me permitido sofrer por Seu amor. Sou um homem pecador e fraco. Cristo era santo, inocente, incontaminado. Não pecou nem se achou engano em Sua boca" (Idem, p. 294).

Estas palavras exerceram sua influência, e João foi retirado do caldeirão pelos mesmos homens que ali o haviam lançado. E de novo a mão da perseguição caiu pesadamente sobre o apóstolo. Por decreto do imperador, João foi sentenciado a viver em Patmos, uma ilha localizada no Mar Egeu que se tornou uma prisão de segurança máxima, condenado “por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1:9). Aqui, pensavam seus inimigos, sua influência não mais seria sentida, e ele morreria, afinal, pelas privações e sofrimentos. Ellen G. White diz: “Patmos, uma ilha árida e rochosa no mar Egeu, havia sido escolhida pelo governo romano para banimento de criminosos; mas para o servo de Deus, sua solitária habitação tornou-se a porta do Céu” (Idem, p. 295). 

O coração do escritor do Apocalipse estava entristecido pelo martírio de seus companheiros, cheio de nostalgia por sua terra natal e por sua igreja local. Seu desejo de reencontrar seus queridos era tão grande quanto a sua solidão na ilha-prisão. Embora João estivesse isolado em uma ilha, as dores da igreja no continente o incomodavam mais que a sua própria. Contudo, foi em Patmos que João compreendeu que todo o planeta Terra está ilhado do universo e que todos nós somos prisioneiros de um governo tirânico e maléfico. Seu exílio mostrava o isolamento que a raça humana enfrentava distante do seu Criador e do resto da sua criação.

A situação de João não era nada fácil. Ele estava velho, separado das igrejas que havia fundado, era o último sobrevivente entre os apóstolos e estava em uma prisão de segurança máxima. Todavia, ele enxerga a sua própria condição como uma peça de uma obra maior. Ele é um “companheiro na tribulação”. Só aqueles que sofreram verdadeiramente sabem como confortar os que sofrem.

Ellen G. White diz que "na experiência do apóstolo João sob a perseguição, há para o cristão uma lição de maravilhosa fortaleza e conforto. Deus não impede a trama dos ímpios, mas faz que suas armadilhas contribuam para o bem daqueles que em prova e conflito mantêm sua fé e lealdade" (Idem, p. 297).

João encarava seu exílio e sua condição de isolamento como sendo muito mais que um mero problema. Aquele era o seu testemunho. Ele utilizava a própria dor para aliviar os sofrimentos da igreja. Ele não era apenas “companheiro na tribulação”, ele também era um “companheiro na perseverança”. Em sua experiência de aflição e solidão, ele tinha autoridade para dizer: “Aguentem firmes! Estamos juntos nessa!”

Ellen G. White finaliza: "Podem os ímpios torturar e matar o corpo, mas não podem tocar na vida que está escondida com Cristo em Deus. Podem encerrar homens e mulheres nas prisões, mas não lhes podem encerrar o espírito. Mediante provas e perseguições, a glória - o caráter - de Deus se revela em Seus escolhidos. Os crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e disciplinados na escola de Cristo. Na Terra andam em caminhos estreitos; são purificados na fornalha da aflição (Is 48:10). Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da obscuridade, dizendo: 'Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada' (Rm 8:18)" (Idem, p. 298).

segunda-feira, 3 de março de 2025

A VERDADEIRA GUERRA NAS ESTRELAS

“Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante…”. Essas palavras soam familiares para você? Assim começa Star Wars ou Guerra nas Estrelas, uma das séries de filmes de maior sucesso da história. Seu criador foi George Lucas, que nos anos 70 produziu o primeiro de uma série de nove filmes que chamaram a atenção de milhões de pessoas.

O enredo de Guerra nas Estrelas pode ser resumido da seguinte forma: em uma galáxia distante, um longo e sangrento confronto se desenrola entre os Jedi, que defendem a ordem e a justiça na República Galáctica (sendo Luke Skywalker o mais famoso de todos), e os Sith, uma seita de seres que usam o lado sombrio da força em sua tentativa de conquistar o domínio galáctico, liderados por Darth Vader, um jovem cavaleiro brilhante que mudou sua posição como guardião da justiça e da verdade para estabelecer seu cruel império galáctico. Em sua posição de controle na Estrela da Morte, Darth Vader planeja destruir tudo de bom no universo, mas as forças do bem conseguem destruir seus planos. Então, a paz retorna mais uma vez ao universo quando o bem triunfa sobre o mal.

Milhões de pessoas ficaram fascinadas por essa história! Embora o roteiro do filme seja espetacular, todos sabemos que a tal guerra nas estrelas só existe na imaginação vívida de George Lucas. Agora, e se eu lhe dissesse que houve uma verdadeira guerra nas estrelas, você acreditaria em mim? Milhares de anos antes de George Lucas criar Guerra nas Estrelas, João, o “discípulo amado” e escritor do Apocalipse, já havia escrito sobre a verdadeira guerra nas estrelas. Nessa guerra, o destino de cada pessoa está em jogo. Essa verdadeira guerra nas estrelas é conhecida como O Grande Conflito ou O Conflito dos Séculos. Apocalipse nos apresenta esse antigo conflito com cores e efeitos especiais:
“Então estourou a guerra no céu. Miguel e os seus anjos lutaram contra o dragão. Também o dragão e os seus anjos lutaram, mas não conseguiram sair vitoriosos e não havia mais lugar para eles no céu. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo. Ele foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12:7-9).
Vamos estudar a verdadeira guerra nas estrelas. Para isso, vamos dividir nosso estudo em três partes. Na primeira, apresentaremos seus principais atores. Na segunda, faremos uma visita por seus diferentes episódios. Na terceira, consideraremos seu resultado.

I. Antes de tudo, vamos estudar quem são os principais atores na verdadeira guerras nas estrelas.

Os principais atores dessa guerra nas estrelas são Miguel e o Dragão. E quem são eles? Que papel eles desempenham? Comecemos por identificar Miguel. Esse personagem aparece cerca de cinco vezes na Bíblia. Em Daniel, capítulo 10:12, 13, 21, podemos vê-lo lutando em favor do profeta. Em Judas 1:9, nós o vemos contendendo com Satanás pelo corpo de Moisés. Da mesma forma, Daniel 12:1 diz que, no fim dos tempos, Miguel Se levantará para libertar os escolhidos de Deus.

Existem duas chaves que nos permitem identificar Miguel. A primeira: seu nome vem do hebraico mikael, cujo significado é “Quem é como Deus?”. A segunda: de acordo com Judas 1:9, Miguel é o “arcanjo” ou o “chefe dos príncipes” (Daniel 10:13, 21). Com essas duas chaves, podemos chegar à conclusão de que Miguel é Jesus Cristo. Jesus é igual a Deus (João 1:1-3) e é chamado de arcanjo (1 Tessalonicenses 4:16). 

Sabendo quem é Miguel, vamos identificar o Dragão. Apocalipse 12:9 diz que o Dragão é “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás”. Notemos então que o Dragão é Satanás, o arqui-inimigo de Deus. Por outro lado, sempre que apresento este tópico, surge uma pergunta: Quem criou Satanás? Qual é sua origem? Em Isaías 14:12-14 e Ezequiel 28:11-19, é revelado que Deus criou um ser perfeito chamado Lúcifer, ou o Portador de luz. Ele era “modelo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura” (Ezequiel 28:12), mas, um dia, parou de olhar para Deus para olhar para si mesmo; como resultado, ele se encheu de “violência” e “pecado” (Ezequiel 28:16). Aquele ser que uma vez foi o portador da luz, por sua própria vontade tornou-se Satanás, o adversário de Deus e o criador do mal. Concluímos que Jesus, o príncipe da vida, e Satanás, o originador do pecado, são os protagonistas da verdadeira guerras nas estrelas.

II. Em segundo lugar, vamos dar uma olhada nos diferentes episódios da verdadeira guerra nas estrelas.

O primeiro episódio aconteceu no próprio Céu e nós o chamamos de rebelião. Apocalipse 12:7 diz que houve uma grande guerra no Céu. Agora, é importante que entendamos que esta não foi uma guerra física. A palavra “guerra”, usada por João, vem do termo grego polemos, de onde vem a conhecida palavra polêmica. Essa guerra foi uma guerra de argumentos. Satanás, que é o pai da mentira, procurou por todos os meios manchar o caráter de Deus; seu propósito era se levantar e usurpar Seu lugar (Isaías 14:12-14). Satanás disse que Deus era um tirano que só queria manter Suas criaturas humilhadas. 

A famosa escritora cristã Ellen White, comentando esse primeiro episódio, escreveu: "Lúcifer, o querubim cobridor, desejou ser o primeiro no Céu. Procurou dominar os seres celestes, afastá-los de seu Criador, e receber-lhes, ele próprio, as homenagens. Portanto, apresentou falsamente a Deus, atribuindo-Lhe o desejo de exaltação própria. Tentou revestir o amorável Criador com suas próprias más características. Assim enganou os anjos" (O Desejado de Todas as Nações, p. 10).

Nesse primeiro episódio, Satanás foi derrotado e expulso do Céu junto com todos os anjos que decidiram segui-lo.Miguel levantou-Se com a vitória! O segundo episódio é a invasão. O que aconteceu após a expulsão de Satanás? Deus realizou a maravilhosa criação. Gênesis capítulo 1 diz que o Senhor criou todas as coisas em seis dias e que no sexto dia criou o homem: 
“Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27).
Deus colocou nossos primeiros pais em um paraíso conhecido como Éden e deu a eles uma ordem que dizia: 
“E o Senhor Deus ordenou ao homem: — De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá” (Gênesis 2:16, 17). 
Foi então que Satanás invadiu a harmonia do Éden.
“Mas a serpente, mais astuta que todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: — É verdade que Deus disse: ‘Não comam do fruto de nenhuma árvore do jardim?’ A mulher respondeu à serpente: — Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Vocês não devem comer dele, nem tocar nele, para que não venham a morrer’. Então a serpente disse à mulher: — É certo que vocês não morrerão. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerem, os olhos de vocês se abrirão e, como Deus, vocês serão conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:1-5).
Infelizmente, nossos primeiros pais desobedeceram ao Senhor e, como resultado, tornaram-se escravos de Satanás. Você pode estar se perguntando: Por que Deus permitiu esse teste? Por que ele não manteve Satanás longe de Adão e Eva? É bom que entendamos que Deus é um Deus de liberdade. Ele não criou apenas robôs para controlá-los à distância. Adão e Eva tinham livre arbítrio; eles podiam escolher entre obedecer e desobedecer a Deus. Infelizmente, eles escolheram o caminho da desobediência.

O terceiro episódio da verdadeira guerra nas estrelas é a conquista. Satanás pensou que havia destruído os propósitos de Deus; no entanto, antes da fundação do mundo, um plano de conquista havia sido planejado (Apocalipse 13:8). Após a queda, Deus prometeu um libertador que poria fim ao reino do mal. 
“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gênesis 3:15).
Esse libertador não seria nada mais nada menos que Miguel. Nosso Senhor Jesus tomaria o lugar do homem caído e enfrentaria Satanás e suas hostes demoníacas. E assim foi! Miguel, o grande príncipe encarnado (Mateus 1:18), que com Sua morte pagou o preço do resgate (Efésios 1:7) e não permaneceu na sepultura, mas no terceiro dia ressuscitou e conquistou o império da morte (Hebreus 2 :14). Com Seu nascimento, vida, morte e ressurreição, Jesus foi coroado vencedor na verdadeira guerra nas estrelas. Graças à Sua vitória, todo o universo obteve o triunfo sobre Satanás: 
“Agora veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite diante do nosso Deus” (Apocalipse 12:10).
III. Graças à vitória obtida por Jesus, sabemos qual será o desfecho da verdadeira guerra nas estrelas.

Não há dúvida de que o império do mal será destruído para sempre! Apocalipse 20:10 diz que o diabo será lançado no lago de fogo. Sua destruição será definitiva! Ellen White, em palavras poéticas, apresenta o fim da verdadeira guerra nas estrelas: "O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor" (O Grande Conflito, p. 678).

Qual é a verdade central da verdadeira guerra nas estrelas? Jesus é o grande vencedor! Sua conquista supera até mesmo os feitos imaginários dos Jedi ou de Skywalker! Sua vitória na cruz foi real e convincente, e todos os que creem Nele desfrutam de Sua vitória no presente e experimentarão Sua gloriosa realidade por toda a eternidade.

Caro leitor, Jesus Cristo pode lhe dar a vitória. Nesta verdadeira guerra nas estrelas, você também pode dizer: 
“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio dAquele que nos amou” (Romanos 8:37).

sábado, 1 de março de 2025

ESTÁTUA DE OURO

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a repercutir o polêmico plano de instalação de um resort de luxo na Faixa de Gaza após o fim do conflito entre Israel e Hamas na região. A ideia, dessa vez, foi ilustrada pelo republicano em um um vídeo produzido por inteligência artificial e divulgado nas redes sociais na última quarta-feira 26.

Nas imagens geradas por IA divulgadas pelo político é possível ver, além de piscinas, iates e prédios de luxo, uma estátua gigante, aparentemente produzida em ouro, que retrata o republicano. O Trump dourado, conforme indicam as imagens, seria  instalado no centro do resort na Faixa de Gaza.

Esta estátua de ouro gigante de Trump me chamou a atenção sobre sua semelhança com a que Nabucodonosor criou para ser adorada. Coincidência? Ou um recado claro sobre o que está por vir? O estudo a seguir nos mostra que a estátua de ouro de Nabucodonosor projeta acontecimentos do tempo do fim.

HISTÓRIA DE DUAS IMAGENS

Desde o Gênesis até o Apocalipse, o tema da adoração é parte notável no desenvolvimento das Sagradas Escrituras. A primeira batalha travada neste mundo girou em torno do tema da adoração (Gn 4:4-8, cf. 1Jo 3:12). Será esse também o tema da última batalha (Ap 14:9-12). O livro de Daniel não é alheio a essa peculiaridade bíblica.

Os primeiros versos desse livro mostram claramente esse conflito: “No terceiro ano do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio a Jerusalém e a sitiou. E o Senhor entregou Jeoaquim, rei de Judá, nas suas mãos, e também alguns dos utensílios do templo de Deus. Ele levou os utensílios para o templo do seu deus na terra de Sineara e os colocou na casa do tesouro do seu deus” (Dn 1:1, 2). Esse fato se constitui um símile do grande conflito através da História, no qual Babilônia ataca o povo de Deus, Jerusalém.1 O fato de que os jovens hebreus tivessem que se abster dos alimentos no palácio real (Dn 1:8) também envolvia adoração (cf. 1Co 6:19). Segundo José Luís Santa Cruz, o livro de Daniel é marcado pela adoração, no contexto do grande conflito,2 pois esse é dos seus principais temas.3

Apesar disso, especialmente Daniel 3 apresenta um quadro interessante que não deve ser passado por alto, pois registra o tema da adoração na atitude dos três jovens hebreus: Sadraque, Mesaque e Abedenego, diante do sonido ameaçador que assinalava o momento em que todos deveriam se curvar diante da imagem de ouro erguida por Nabuconosor.4 Esse incidente torna real o conflito entre a verdadeira adoração desafiada por Babilônia, quando o confrontamos com a escatológica “imagem da besta” mencionada em Apocalipse 13.

Indubitavelmente, o capítulo 3 do livro de Daniel está cheio de lições envolvendo coragem, fidelidade e destemor dos adoradores em contraposição à necessidade de um homem egoísta e à idolatria de seus seguidores.

A imagem de ouro

Uma possível data para esse evento seria o ano 594 a.C., quando Zedequias, como rei de Judá, foi chamado a se apresentar em Babilônia (Jr 51:59), muito provavelmente para a dedicação da estátua de ouro.5

Tendo como base o sonho que lhe foi dado por Deus e que foi interpretado por Daniel, Nabucodonosor havia compreendido que seu reino teria fim (Dn 2). Porém, por causa do orgulho humano natural, alimentado em razão da prosperidade do reino, ele resolveu mudar a História, motivo pelo qual Daniel escreveu sobre a imagem de ouro.6

A palavra hebraica para imagem (tselem), em Daniel 3, é a mesma palavra utilizada no capítulo 2, o que torna evidente a atitude rebelde do rei contra os desígnios de Deus, considerando que, no sonho do capítulo 2, o reino babilônico representado pelo ouro se limitava à cabeça da imagem. Porém, no capítulo 3, os desejos e planos que pretendia realizar na História, da cabeça aos pés, a estátua foi construída com ouro.

Jacques B. Doukhan menciona que a estátua, medindo 60 côvados de altura por seis de largura, era a própria imagem de Nabucodonosor. A extrema altura encontra eco na arrogância de um rei que buscava impressionar súditos e visitantes de seu reino. Embora no simbolismo babilônico o número 60 representasse a noção de unidade, o rei procurou cumprir sua vontade unindo o reino à religião.7

Podemos inferir que Nabucodonosor estivesse ansioso, obstinado mesmo, para que seu reino se tornasse eterno, o que seria possível caso fosse conseguida a unidade política e religiosa em Babilônia. Então, conseguiu reunir esses dois polos na estátua de ouro.

A Bíblia assinala expressamente que o rei “convocou os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os juízes, os magistrados e todas as autoridades provinciais, para assistirem à dedicação da imagem que mandara erguer” e, na cerimônia de dedicação da estátua, o arauto anunciou: “Esta é a ordem que lhes é dada, ó homens de todas as nações, povos e línguas: Quando ouvirem o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da flauta dupla e de toda espécie de música, prostrem-se em terra e adorem a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor ergueu. Quem não se prostrar em terra e não adorá-la será imediatamente atirado numa fornalha em chamas” (Dn 3:4-6).

Há dois assuntos envolvidos nessa narrativa: (1) Uma convocação estatal para que todos os líderes políticos e militares tomassem parte ativa em assuntos religiosos, e (2) uma terrível ameaça a todo aquele que desconsiderasse o decreto. Apesar disso, é aqui no âmago do tema, que os verdadeiros adoradores tiveram a fé extremamente provada no fogo.

Egolatria

Dá-se o nome de egolatria à adoração de uma pessoa a si mesma. O primeiro ególatra foi Lúcifer, que se encantou com a própria beleza, perfeição e os privilégios que havia recebido no Céu. Por isso, nutriu desejo de ser Deus, querendo ser adorado como Deus e se sentar no trono divino (Ez 28:17; cf. Is 14:13, 14). Nabucodonosor havia reconhecido o Deus de Daniel como “Deus dos deuses e Senhor dos reis” (Dn 2:47). Porém, mostrou-se mais do que néscio ao fazer caso da revelação que lhe havia sido feita: “Depois de ti surgirá um outro reino” (Dn 2:39).8

Semelhantemente, foi o orgulho que levou o querubim cobridor a deflagrar um grande conflito. Deus, e mais ninguém, é o único ser merecedor de adoração. A egolatria é atitude contrária ao ensinamento bíblico.

Em nossos dias, com o apogeu do pós-modernismo, no esforço de criar autoestima saudável, há o perigo de cairmos em terreno movediço, ao superestimarmos a capacidade humana, com ensinamentos que transmitem a ideia de que há poder inerente no ser humano. A superação pessoal é boa e interessante, porém, à parte de Deus, ecoa a reivindicação satânica.

Servos idólatras

Ao longo de toda a Bíblia existem numerosas passagens em que homens adoram ídolos e imagens feitos de materiais diversos, embora, na sua maioria, eles não pertencessem ao escolhido povo de Deus. Desde muito cedo na História, a idolatria foi praticada. Os antepassados imediatos de Abraão “prestavam culto a outros deuses” (Js 24:2). Os patriarcas se dedicaram à adoração monoteísta de Jeová, porém, às vezes, familiares deles foram influenciados pela idolatria (Gn 31:30, 32-35; 35:1-4). O paganismo canaanita era popular, por causa de suas baixas normas éticas, em contraste com os elevados padrões da religião hebraica. Por isso, a religião mais exigente não raro era trocada pela adoração mais fácil a Baal.

O problema da idolatria era tão grave na antiguidade que os primeiros dois mandamentos do Decálogo se ocupam dessa fase da vida religiosa (Êx 20:3-6). O segundo mandamento ordena: “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na Terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque Eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que Me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que Me amam e obedecem aos Meus mandamentos” (Êx 20:4-6).

Satanás sempre buscou desviar as pessoas da verdadeira adoração, que é “em espírito e em verdade” (Jo 4:24). Tudo o que não agrada a Deus agrada a Satanás. Portanto, adorar e venerar estátuas e imagens de preferências próprias significa desobediência à ordem de Deus em Sua Palavra e, por extensão, passa a ser obediência a Satanás.

Em Daniel 3 é evidenciado um marcante contraste entre os servos de Deus e os servos de um homem que acreditava ser deus. Os primeiros foram encontrados fiéis e aprovados na prova de fogo; os segundos, como adoradores de uma imagem, por temor ao fogo, ou provavelmente por escolha própria. Esses idólatras estão sempre à espreita dos fiéis adoradores, não para seguir o exemplo deles, mas para acusá-los e desejar que sejam julgados com a pena mais dura, ignorando que serão eles mesmos os que finalmente experimentarão o fogo voraz (Dn 3:8-12, 22; Ap 21:8).

Assim, está evidente, em Daniel 3, o contraste entre a adoração ao verdadeiro Deus e a idolatria.9 Há um marcante conflito entre a verdadeira e a falsa adoração; a adoração prestada por Sadraque, Mesaque e Abedenego contraposta à adoração idólatra de todos os que se prostraram diante da imagem de ouro. Com a resistência que ofereceram à ordem do rei, aqueles verdadeiros adoradores não se deixaram intimidar pelo risco de morrer. Porém, sua atitude não foi um ato de loucura, mas de fé em um Deus que podia livrá-los. Caso não o fizesse, ainda assim eles não retrocederiam. Mais que a preservação da própria vida, a eles importava a absoluta fidelidade a Deus.

Nabucodonosor e a besta

Para muitos intérpretes, a imagem de ouro de Daniel 3 pode ser relacionada à imagem da besta apresentada em Apocalipse 13. Na história dessa última imagem, há uma correspondência essencial com o relato dos três jovens em Babilônia. Assim como a edificação da imagem de ouro representativa de Nabucodonosor foi precedida por um decreto estatal para que ela fosse adorada, com ameaça de morte para os que se recusassem a fazê-lo, de acordo com o relato apocalíptico, isso se repetirá em âmbito universal no tempo do fim: “Foi-lhe dado poder para dar fôlego à imagem da primeira besta, de modo que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se recusassem a adorar a imagem” (Ap 13:15). É importante reconhecer a tipologia essencial entre Daniel 3 e Apocalipse 13.10

Nesse sentido, a imagem de ouro é similar à imagem da besta. As medidas marcadas pelo número seis nos fazem perceber a presença de um moderno anticristo babilônico, que obrigará o mundo a prestar adoração à besta e sua imagem (Ap 13:11-18).11

Com respeito à imagem erguida na planície de Dura, descreveu o profeta: “Então o arauto proclamou em alta voz: ‘Esta é a ordem que lhes é dada, ó homens de todas as nações, povos e línguas: Quando ouvirem o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da flauta dupla e de toda espécie de música, prostrem-se em terra e adorem a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor ergueu. Quem não se prostrar em terra e não adorá-la será imediatamente atirado numa fornalha em chamas’” (Dn 3:4-6).

Utilizando linguagem semelhante, João escreveu sobre o chamado para submissão à besta: “Foi-lhe dado poder para dar fôlego à imagem da primeira besta, de modo que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se recusassem a adorar a imagem. Também obrigou todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, a receberem certa marca na mão direita ou na testa, para que ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser quem tivesse a marca, que é o nome da besta ou o número do seu nome” (Ap 13:15-17). O apóstolo continuou: “Um terceiro anjo os seguiu, dizendo em alta voz: ‘Se alguém adorar a besta e a sua imagem e receber a sua marca na testa ou na mão, também beberá do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice da sua ira. Será ainda atormentado com enxofre ardente na presença dos santos anjos e do Cordeiro’” (Ap 14:9, 10).

Desse modo, a profecia bíblica assinala claramente que, nos últimos dias, no cenário da história terrestre, surgirá outro poder, representado pela imagem da besta que, à semelhança de Nabucodonosor tentará conseguir unidade religiosa no mundo. Nesse contexto, estarão arregimentados poderes religiosos, políticos e militares. A substituição do sábado pelo domingo será a marca visível dessa união. Os fiéis que se recusarem a adorar essa imagem serão ameaçados com penalidades e decreto de morte. “Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América do Norte protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a aplicação de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável.”12

De tudo o que vimos até aqui, nunca é demais que tenhamos em mente alguns pontos para reflexão: A fidelidade dos três amigos de Daniel deve ser exemplo para todo cristão, em todo tempo, em demonstração de que é mais importante obedecer a Deus do que aos homens (At 5:29). A promessa de Deus, no sentido de estar conosco sempre (Js 1:9; Mt 28:20) jamais falhará. O Senhor não apenas estará conosco, mas também intervirá extraordinariamente para nosso livramento no momento mais grave. Morte eterna no fogo que arde com enxofre será a consequência da falsa adoração. Vida eterna no reino celestial será o galardão dos fiéis. 

Referências:

1 Merling Alomía, Daniel: o Varón Muy Amado de Dios (Lima: Theologika, 2004), v. 1, p. 190.

2 José Luís Santa Cruz, O conflito entre a falsa e a verdadeira adoração no livro de Daniel e sua relevância escatológica (Tese doutoral em Teologia: Universidad Peruana Unión, Lima, Peru, 2003), p. 42.

3 Desmond Ford, Daniel (Nashville, TN: Southern Publishing House, 1978), p. 76.

4 Daniel Oscar Plenc, El Culto que Agrada a Dios (Buenos Aires: ACES, 2007), p. 131.

5 Gerhard Pfandl, Lecciones Para la Escuela Sabática (Buenos Aires: ACES, 2004), p. 30.

6 Jacques B. Doukhan, Secretos de Daniel. Sabiduría y Sueños de um Príncipe Hebreo em el Exilio (Buenos Aires: ACES, 2007), p. 44.

7 Ibid., p. 46

8 Ángel Manuel Rodriguez, Fulgores de Gloria (Buenos Aires: ACES, 2001), p. 124.

9 Merling Alomía, Daniel el Profeta Mesiánico (Lima: Theologika, 2007), v. 2, p. 83.

10 Hans LaRondelle, Las Profecias del Fin (Buenos Aires: ACES, 2000), p. 313.

11 Merling Alomía, Daniel, el Profeta Mesiánico, v. 2, p. 85.

12 Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 445.

[via Revista Ministério]

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

AINDA ESTAMOS AQUI

O Oscar 2025 acontece neste domingo (2) e pode dar a primeira estatueta dourada para uma produção brasileira. Indicado em três categorias, Melhor Filme, Melhor Atriz (Fernanda Torres) e Melhor Filme Internacional, o filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, é um dos principais títulos celebrados na cerimônia deste ano.

O filme é adaptado do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, e acompanha uma família de classe média do Rio de Janeiro durante a ditadura militar, nos anos 1970. A família vive em paz até que Rubens Paiva (Selton Mello), o marido de Eunice, é levado por militares e desaparece. A história do filme conta como Eunice Paiva enfrenta o estado autoritário em busca de respostas sobre o paradeiro do marido. Ela se tornou uma advogada respeitada no meio, envolvendo-se em lutas sociais e políticas.

O título do filme Ainda Estou Aqui além de fazer referência à luta da personagem Eunice para descobrir a verdade sobre o desaparecimento do marido, também pode ser interpretado como uma forma dela lembrar a si mesma e à família de que, apesar da doença, ela ainda estava ali. Aos 89 anos, Eunice faleceu com demência de Alzheimer, doença que lhe foi diagnosticada aos 72 anos.

A história de Eunice Paiva me fez lembrar do apóstolo Paulo. Em sua carta aos Romanos, ele descreveu um processo através do qual as tribulações humanas são convertidas em fontes de esperança. Ele mesmo experimentou isso em sua vida: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, a perseverança produz experiência e a experiência produz esperança. Ora, a esperança não nos deixa decepcionados, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5:3-5).

Ao comentar esse texto em Carta aos Romanos (Fonte Editorial, 2009, p. 245), o teólogo suíço Karl Barth afirmou que “a perspectiva espiritual muda o sinal matemático inscrito na frente da nossa tribulação. O que parece ser mero sofrimento humano transforma-se em obra de Deus. Os empecilhos da vida transformam-se em degraus para a vitória; o derribar dá lugar à nova edificação; a desilusão e o revés aguçam a esperança e o anseio pela volta do Senhor”.

Tomara que as lágrimas nos olhos daqueles que perderam entes queridos, assim como Eunice Paiva, sejam secadas pela esperança de dias melhores, pela esperança de superação da dor e da angústia, pela esperança de reconstrução. Essa resiliência que vem do interior é formidável, mas a que vem de cima é inquebrantável. Deus é nossa fortaleza.

A chave para lidar com a incerteza está em aprender a confiar em Deus, independentemente de quanto possa parecer ruim a situação. Lembre-se de que Deus não permite nada que não possamos suportar (1Co 10:13) e que Ele está cuidando de nós o tempo todo, seja nos guiando em abundância e tranquilidade ou nos ajudando a atravessar os vales mais escuros (Sl 23). Ellen G. White diz: "Nos dias mais sombrios, quando as aparências se mostram mais adversas, tende fé em Deus. Ele está cumprindo Sua vontade, fazendo todo o bem em auxílio de Seu povo. A força dos que O amam e servem será renovada dia após dia. Pode e quer conceder a Seus servos todo o socorro de que carecem. Dar-lhes-á a sabedoria que suas variadas necessidades requerem" (A Ciência do Bom Viver, p. 482).

Para refletirmos, deixo aqui um inspirador texto escrito por um jovem pastor cristão no Zimbabwe, África. Foi encontrado em seu escritório, pouco depois de ele haver sido martirizado por causa de sua fé em Jesus. Está citado no livro O Evangelho Maltrapilho de Brennan Manning, na página 28:
“Sou parte da fraternidade dos que não se envergonham. Tenho o poder do Espírito Santo. A sorte foi lançada. Transpus a linha. A decisão foi tomada. Sou um discípulo dEle. Não olharei para trás, não pararei, não diminuirei o ritmo, não retrocederei e não ficarei parado.

Meu passado está redimido, meu presente faz sentido, e meu futuro está seguro. Já coloquei um basta na vida vulgar, no andar pela vista, nos joelhos frouxos, nos sonhos sem cor, nas imagens sem vida do futuro, no falar mundano, no doar pouco, nos alvos pequenos.

Já não preciso mais de preeminência, de prosperidade, posição, promoções, aplausos ou popularidade. Não tenho de estar certo, de ser o primeiro, de estar por cima, de ser reconhecido, elogiado, considerado ou recompensado. Agora vivo pela fé, me apoio em Sua presença, ando pela paciência, sou edificado pela oração, e trabalho com poder.

Estou decidido, meu passo é rápido, meu alvo é o Céu, minha estrada é estreita, meu caminho é acidentado, meus companheiros são poucos, meu Guia é confiável, e minha missão é clara. Não posso ser comprado, dissuadido, desviado, atraído para outra coisa, impelido a voltar atrás, iludido ou atrasado. Não recuarei em face do sacrifício, não hesitarei em presença do inimigo, não ficarei tentando entrar no poço da popularidade, nem ficarei dando voltas no labirinto da mediocridade.

Não desistirei, não me calarei, não me deterei até ter ido até o fim em permanecer firme, em acumular, em orar, em pagar, em pregar pela causa de Cristo. Sou um discípulo de Jesus. Preciso prosseguir até que Ele venha, doar-me até minhas forças se esgotarem, pregar até que todos saibam, e trabalhar até que Ele me detenha. E, quando Ele vier para os Seus, não terá problemas para me reconhecer. Minha bandeira estará clara!”
O apóstolo Paulo escreveu: “De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos” (2Co 4:8, 9). Perseverar é continuar na jornada, não importa o que aconteça.

Ainda estamos aqui. Como povo de Deus, aguardamos a vinda do Senhor nas nuvens do céu, com poder e grande glória. A vitória está garantida aos que não desistirem: “Aquele, porém, que perseverar até o fim será salvo” (Mc 13:13). A espera pode ser difícil e desanimadora. No entanto, Deus quer nos conceder a perseverança dos santos. Ainda estamos aqui, e enquanto esperamos, somos chamados a examinar secretamente nosso coração e, em seguida, pôr as mãos na massa. Sim, Jesus em breve voltará. Sim, Ele está buscando um povo totalmente comprometido com a sua causa. Ainda estamos aqui, mas, enquanto esperamos, que sirvamos a Ele onde estivermos, de todo o coração.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

“Pensai por conta própria e deixai que os demais desfrutem do direito de fazer o mesmo” (Voltaire).

Um dos pilares da democracia é a liberdade de expressão. Qualquer tipo de censura é contrário ao espírito democrático. Parafraseando Voltaire, ainda que eu não concorde com as ideias de alguém, devo defender o seu sagrado direito de expressá-las. Se impedirmos que as pessoas se expressem livremente, jamais saberemos o que há em seu coração. Sobre isso, Jesus disse:
“Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má e o seu fruto mau, pois pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que está cheio o coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas eu vos digo que de toda palavra frívola que os homens proferirem hão de dar conta no dia do juízo” (Mateus 12:33-36).
Liberdade de expressar suas ideias, opiniões, dúvidas, anseios e temores, é condição sine qua non para que o ser humano desfrute de saúde emocional. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que tal liberdade não esbarre no bom senso, possibilitando difamar pessoas e instituições, insuflando a sociedade a cometer injustiças. Como disse o escritor e médico americano Oliver Wendell Holmes, "liberdade de expressão não dá direito a alguém de gritar 'Fogo' em um teatro lotado".

A liberdade de expressão, como todo poder, demanda responsabilidade. Não se trata de censura, ou de algum tipo de mordaça, mas de responsabilidade. Quem quer desfrutar de plena liberdade de expressão, tem que estar disposto a arcar com a responsabilidade sobre aquilo que diz e faz. Por isso, Jesus diz que o homem deve dar conta de tudo quanto diz, mesmo que em tom jocoso.

Todo ser humano tem o direito de discordar, questionar, argumentar e defender suas ideias. Ninguém deve ser privado desse direito, nem mesmo no ambiente político ou eclesiástico. Porém, a partir do momento em que sua fala configure crime, deve ser judicialmente implicado, arcando com as suas consequências.

Não se pode, em nome da liberdade de expressão, discriminar, fomentar preconceitos, disseminar ódio, promover práticas nocivas à sociedade ou ao indivíduo, como tortura, pedofilia, racismo, xenofobia, etc. Nem tampouco se pode usar desta liberdade para se locupletar da ingenuidade e da boa fé alheias. O apóstolo Paulo denuncia os que ele chama de “faladores vãos e enganadores”, e diz que “é preciso tapar-lhes a boca, porque arruínam casas inteiras ensinando o que não convém, por pura ganância” (Tito 1:10-11).

Devo concordar com o escritor e filósofo italiano Umberto Eco, um crítico do papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, ao afirmar que as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que antes falavam apenas "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade."

A liberdade de expressão irrestrita, como prevista na Primeira Emenda da Constituição dos EUA, é uma das bandeiras do presidente republicano Donald Trump e as chamadas big techs são tidas como apoiadoras da Casa Branca. Na semana passada, o bilionário Elon Musk, dono do X e chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), teve sua rede social multada em R$8 milhões por desrespeitar decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes de retirar do ar conteúdos considerados como desinformação. E na sexta-feira passada, a rede Rumble foi bloqueada em território brasileiro por se recusar a constituir representação legal no país e não cumprir com ordens de excluir páginas de usuários da direita brasileira, como o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, radicado nos EUA.

O artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos, documento datado de 1948, diz que “todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. Já a Convenção Americana de Direitos Humanos, assinada em 1969 na Costa Rica, vai um pouco mais além e determina, no seu artigo 13, que “o exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores (posteriores), que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar: a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas”.

Ou seja, apesar de muitas opiniões divergentes, é impensável falar em censura prévia à liberdade de um ser humano se expressar sobre o que pensa, assim como é igualmente impensável imaginar liberdade de expressão sem qualquer responsabilidade. Dessa maneira, quem se expressa deve estar atento para evitar abusos no desfrute da plenitude de sua liberdade de expressão. 

Portanto, devemos ser defensores da liberdade de expressão, mas também reconhecendo que com grande poder vem grande responsabilidade. Nossa missão é utilizar a liberdade que temos para espalhar o amor, a verdade e a justiça, sempre à luz dos ensinamentos de Cristo. Assim, ao abordarmos temas como a liberdade de expressão, devemos fazê-lo com uma compreensão profunda dos princípios bíblicos, assegurando que nossas palavras e ações reflitam a luz de Cristo em um mundo que muitas vezes se encontra em trevas. 

Ilustração: Armandinho via facebook

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

BELEZA QUE ENGANA

“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênesis 3:6).

Talvez o que mais irrite os consumidores sejam as propagandas enganosas. Você vê o produto na ilustração da caixa ou dentro da embalagem, no comercial da TV ou no anúncio na internet, e se deslumbra. Mas a decepção fica na mesma altura que o estímulo proporcionado pela imagem chamativa. Aposto que não estou sozinho e que você já teve uma experiência chata como essa. Estou errado?

Todavia, é pior quando a beleza e a atratividade podem ser fatais. É o caso de uma flor nativa dos Estados Unidos, conhecida na linguagem popular como Louro-da-Montanha (Kalmia latifolia) que produz delicadas flores brancas e rosadas no fim da primavera, as quais possuem inúmeras manchas que parecem formar padrões geométricos definidos. É uma planta belíssima, mas por baixo daquele exterior simpático bate o coração de um assassino.

A Kalmia latifolia está na lista das plantas mais perigosas aos seres humanos e outros animais. Sua estrutura delicada reserva duas toxinas letais: a andromedotoxina e o alburtin; porém a primeira é a mais tóxica. Na ingestão de pequenas doses da flor, o quadro clínico pode apresentar respiração irregular, salivação abundante, perda da coordenação motora, vômitos, diarreia, fraqueza muscular e convulsões. Já se for em grandes quantias, pode provocar um ataque cardíaco e levar à morte em até seis horas após a ingestão.

Não suficiente, você nem precisa encontrar um Louro-da-Montanha para ter um encontro fatal com esse coquetel de toxinas, pois o mel produzido pelas abelhas que visitaram a Kalmia latifolia contém todas as propriedades tóxicas da própria flor. Os gregos já sabiam desse produto muito antes de Jesus vir à Terra e o chamavam de “mel furioso”; inclusive foi isso que eles usaram para derrotar Xenofonte de Atenas, por volta de 400 a.C.

A beleza dessa espécie de flor engana muito bem. No passado, Satanás propagandeou ao ser humano poderes inescrutáveis com seus discursos empolgantes e omitiu a verdade acerca das coisas. Aliás, ele vive mentindo desde o princípio (João 8:44), tanto que nenhum dos atrativos oferecidos pelo diabo de fato aconteceu. Contrário a isso, a raça humana ficou numa situação muito pior do que quando fazia a vontade do Criador dos céus e da Terra.

Ao ser iniciada a leitura de Gênesis 3, o destaque fica por conta da sagacidade da serpente em seu diálogo com a mulher. O animal em si era inofensivo. Porém, o autor do Gênesis descreve a malignidade do diabo ao se apossar de uma criatura com propósito bem definido: destruir a felicidade da família humana.

Ellen White descreve a serpente desta forma: "A fim de realizar a sua obra sem que fosse percebido, Satanás preferiu fazer uso da serpente como médium, disfarce este bem adaptado ao seu propósito de enganar. A serpente era então uma das mais prudentes e belas criaturas da Terra. Tinha asas, e enquanto voava pelos ares apresentava uma aparência de brilho deslumbrante, tendo a cor e o brilho de ouro polido" (A Verdade sobre os Anjos, p. 53).

Por ocasião do lançamento do filme A Paixão de Cristo, Mel Gibson esteve presente a uma grande concentração de pastores na cidade de Chicago. Perguntaram-lhe por que tinha colocado uma mulher com véu para representar o mal. “O mal toma a forma de beleza, é quase bonito... ele se disfarça e se mascara, mas se as antenas de vocês estiverem ligadas, vão identificá-lo.”

Ellen White assim descreve o disfarce do mal: "Com palavras suaves e melodiosas, e com voz musical, [Satanás] dirigiu-se à maravilhada Eva. Ela se sobressaltou ao ouvir uma serpente falar. Esta exaltava a beleza e excessivo encanto [da mulher], o que não desagradou a Eva. Eva sentiu-se encantada, lisonjeada, bajulada" (A Verdade sobre os Anjos, p. 53).

Depois de atender à voz da serpente e comer do fruto proibido, o ser humano trouxe para si consequências irreversíveis, dentre as quais a pior é a morte. O custo da desobediência a Deus foi letal, pois o pecado, antes prazeroso, trouxe consigo o dano da morte (Romanos 6:23).

Ellen White afirma: "Adão e Eva persuadiram-se de que, de questão tão insignificante como fosse comer do fruto proibido, não poderiam resultar tão terríveis consequências como as de que Deus os avisara. Mas essa questão insignificante constituía uma transgressão da imutável e santa lei divina, e separou o homem de Deus, abrindo os diques da morte e trazendo sobre o mundo misérias indizíveis. Século após século tem subido da Terra um contínuo grito de lamento, e toda criação geme aflita, em resultado da desobediência do homem. O próprio Céu sentiu os efeitos de sua rebelião contra Deus. O Calvário aí está como um monumento do estupendo sacrifício exigido para expiar a transgressão da lei divina. Não consideremos o pecado coisa trivial" (Caminho a Cristo, p. 33).

Hoje, Satanás tem utilizado as mesmas estratégias do passado para vender um produto podre numa embalagem cativante. Ellen White diz que "o pecado torna-se atrativo pela cobertura de luz de que Satanás o reveste" (Mensagens aos Jovens, p. 237). O pecado pode até parecer atrativo, mas não se esqueça: ele é igualmente mortal! Jesus pagou o preço da falha humana na cruz, e hoje está intercedendo por aqueles que são vítimas da tentação (Hebreus 2:18). Somente Ele pode lhe ajudar a vencer o diabo. Peça apoio lá do Alto para resistir aos apelos do inimigo e inibir para sempre o domínio da morte em sua vida.