A Bíblia
é pródiga em relatos sobre a riqueza (e a beleza) da rainha de Sabá, que,
encantada com as histórias que ouvia a respeito de Salomão, vai em caravana
visitá-lo levando presentes preciosos e ouro, muito ouro... (1ª Reis 10 e 2ª
Crônicas 9). Em 2ª Crônicas 9:9 está registrado que ela presenteou Salomão com
120 talentos de ouro, o que - traduzindo a medida antiga - equivaleria a mais
de 4 toneladas (4.112,64
kg , para ser mais preciso). Era ouro pra dedéu. Apenas
para se ter uma ideia, fazendo uma comparação completamente inapropriada, essa
quantidade de ouro seria negociada hoje no Brasil pelo valor de mais de R$ 390
milhões. Salomão deve ter ficado tão impressionado com a quantidade de ouro que
recebeu da rainha que, ao compor - inspiradamente - o salmo messiânico (de nº
72 no saltério), diz que o Salvador prometido (o Rei que haveria de vir,
personificado posteriormente em
Jesus Cristo ) merece o ouro de Sabá (v. 15).
A Bíblia
não dá mais detalhes sobre a rainha de Sabá, o Alcorão também faz alguma referência
sem acrescentar mais nada, e a lenda diz que ela chegou a se envolver
romanticamente com Salomão, e ao retornar para seu país teria tido um filho
dele, dos quais seriam descendentes os atuais judeus etíopes. Inclusive a
célebre dinastia de imperadores etíopes (propositalmente chamada de
"salomônica"), cujo último imperador foi Hailé Selassié (1892-1975),
invocava essa ancestralidade judaica. Curiosamente, o nome de batismo de
Selassié era Tafari Makonnen, e era conhecido como "Ras"
("príncipe") Tafari. Qualquer semelhança com o movimento rastafári de
Bob Marley não é mera coincidência, se é que você está se perguntando isso
agora. Selassié foi venerado como o "Leão de Judá" e a "Raiz de
Davi" do século XX, o Jah (aquele da Tribo de Jah). Como você já deve ter
desconfiado, Hailé Selassié (que significa "O Poder da Trindade" em
etíope) é tido pelo movimento rastafári como o Messias prometido, o Jesus
Cristo encarnado. Pelo menos isso deve ter inspirado os jamaicanos a comporem
bons reggaes.
Pois bem,
deixando essas curiosidades histórico-musicais ao abrigo da fumaça jamaicana,
imagina-se que o território do antigo reino de Sabá equivaleria modernamente à
região ocupada por Etiópia, Eritreia, Somália e Iêmen. Por muito tempo, se
pensava que era apenas um reino mítico, que desafiava a historicidade bíblica,
já que havia pouquíssimas evidências (além da tradição oral etíope) que
comprovassem cabalmente que o relato do Velho Testamento corresponde, de alguma
maneira, à verdade dos fatos de 3.000 anos atrás. Parece que essa dúvida está
chegando ao fim e - se a descoberta for realmente confirmada - os céticos terão
que engolir em seco mais esse atestado arqueológico de veracidade bíblica. É
que o British Museum está patrocinando a escavação do platô de Gheralta, no
norte da Etiópia, e a arqueóloga que comanda a expedição, Louise Schofield (foto),
informa em matéria publicada ontem, 12/02/12, pelo jornal britânico The Guardian,
que os esforços da equipe finalmente descobriram uma enorme e antiga mina de
ouro, ao lado das ruínas de um templo e das marcas de um campo de batalha.
Diz a
arqueóloga: "uma das coisas que eu sempre adorei na arqueologia é a
maneira com que ela pode se vincular com lendas e mitos. O fato de que nós
podemos ter encontrado as minas da rainha de Sabá é algo extraordinário".
Tudo começou com uma "estela", uma rocha em formato de cubo com pouco
mais de 6 metros
de altura, esculpida com um sol e uma lua crescente, "que representavam o
selo do reino de Sabá", segundo Schofield. Ela se engatinhou por baixo da
rocha, com medo de uma cobra enorme que lhe avisaram que vivia ali, e ficou
cara a cara com uma antiga inscrição no idioma que o povo de Sabá falava. Ali
perto foram encontradas partes de colunas e pedras talhadas de um templo
enterrado na areia, que parece ter sido dedicado à deusa Lua, que era a
principal divindade de Sabá no séc. VIII a. C., em razão de uma vitória obtida
numa batalha a poucos metros dali.
Ainda que
algumas pessoas do local até hoje procurem esporadicamente por ouro naquela
região, ninguém nunca percebeu que havia uma mina de ouro (arqueológico, pelo
menos) embaixo de alguns metros de terra. Talvez o que assustasse os garimpeiros
fosse o fato de que muitos urubus ficavam exatamente em cima desse monte, como
que guardando uma história ancestral. Ainda não é possível se dizer o tamanho
exato da mina, apenas se imagina que ela seja gigantesca, dadas as
características de seu portal, e uma escavação muito mais aprofundada será
iniciada em breve, se houver recursos que a financiem. Parece que finalmente
descobriram onde ficavam as lendárias minas do Rei Salomão.
Fonte: O Contorno da Sombra
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