terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Vamos falar sobre... hospitalidade

Saiba como desenvolver essa virtude essencial na conduta cristã
Um rabino da antiguidade perguntou a seus pupilos como eles poderiam dizer que a noite está terminando e que o dia está raiando. “Poderia ser”, respondeu um dos estudantes, “quando você consegue enxergar um animal a distância e dizer se é uma ovelha ou um cachorro?” “Não”, respondeu o rabino. “Poderia ser”, outro perguntou, “quando você olha a distância e vê uma árvore e consegue discernir se é um pé de laranja ou de limão?” “Não”, disse o rabino. “Então, qual é a resposta?”, insistiram os pupilos. “É quando você olha na face de alguém e pode ver seu irmão ou irmã. Porque se você ainda não pode, então não importa qual seja a hora, ainda é noite escura”.

É fácil pensar em hospitalidade quando o outro é um amigo. Mas trata-se de um grande desafio manifestar essa virtude para com estranhos (aqueles que não conhecemos ou não compreendemos e, por isso, tememos). Paradoxalmente, o estranho pode ser alguém próximo.

Hospitalidade como prática espiritual é receber o outro a partir do coração. É repartir um espaço que é meu, oferecendo bondade, aceitação, gentileza e conforto, de modo a proporcionar aconchego físico e emocional. Podemos abrir nossa casa ou oferecer uma carona, mas também podemos oferecer um ombro amigo, aceitação, calor humano e bondade. Seja qual for o espaço que ofereçamos, hospitalidade será sempre uma oferta de amor. Portanto, hospitalidade não é algo que fazemos, mas um coração que desenvolvemos.

A hospitalidade tem origem celestial. As Escrituras apresentam Deus como aquele que oferece não apenas a sua criação, mas a si mesmo para a humanidade (Gn 2:8-25). Portanto, viver é desfrutar da hospitalidade divina.

Como seres criados à imagem e semelhança de Deus, também temos em nosso DNA a capacidade de ser hospitaleiros. Ao entregarmos o coração a Ele, abrimos também o coração para todos aqueles a quem Deus envia.

O patriarca Abraão nos deixou um grande exemplo nesse sentido. Mesmo vivendo no contexto de uma sociedade violenta, em que receber estranhos poderia ser perigoso, ele se mostrou disposto a acolher visitantes desconhecidos (Gn 18:1-10).

Ser hospitaleiro hoje continua sendo uma prática arriscada. Afinal, somos atormentados por assaltantes, terroristas e oportunistas. Contudo, a hospitalidade como prática de exercício espiritual, quer seja no passado ou no presente, sempre será um passo de fé, vulnerabilidade e humildade.

Jesus declarou em Mateus 25: “Tive fome e vocês me deram de comer; tive sede e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram […] O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (versos 34-46). Essas palavras de Jesus lembram que, ao abrir o coração em hospitalidade nos encontramos com o Criador e crescemos em Cristo.

Na prática, hospitalidade não é receber apenas os amigos, mas todos a quem Deus colocar no caminho. É uma abertura que não se rende à suspeita e ao medo e que não se vende à comodidade e ao conforto próprio. Essa hospitalidade rejeita o relacionamento por conveniência ou por interesse. Deixamos de manifestar simpatia unicamente por aqueles que “agregam” e passamos a agregar mais.

O desenvolvimento intencional da sensibilidade que vê Cristo nos amigos e nos estranhos precisa ser a expressão dos cristãos na sociedade contemporânea. Mas, por onde começar? A boa notícia é que o exercício da hospitalidade pode ter início em qualquer lugar, seja no trabalho, mediante a disposição de ouvir o outro, ou na vizinhança, ao romper com o ciclo do isolamento urbano.

O fato é que, se resgatarmos a hospitalidade como prática espiritual, seremos surpreendidos pelo universo da generosidade e encontraremos o prazer em repartir a vida. Quem sabe, ao fazer isso, hospedaremos anjos sem saber!

Paulo Cândido (via Revista Adventista)
"Quando o espírito de hospitalidade morre, o coração fica paralisado pelo egoísmo." (Ellen G. White - Manuscrito 41, 1903)

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