sexta-feira, 19 de abril de 2024

FOGO ESTRANHO

Fogo estranho é a expressão bíblica utilizada para indicar o tipo de fogo trazido por dois sacerdotes e que foi rejeitado pelo Senhor (Levítico 10:1-3). A Bíblia diz que Nadabe e Abiú trouxeram fogo estranho diante de Deus e acabaram sendo consumidos.

Os intérpretes se dividem quanto a melhor interpretação da expressão “fogo estranho”. De fato o texto bíblico não revela explicitamente seu significado. Aqui vale ressaltar que as duas pessoas envolvidas naquele episódio, Nadabe e Abiú, tinham sido instruídas por Deus acerca de como proceder na ministração dos cerimoniais que faziam parte do culto no Tabernáculo.

Levítico 10 fala sobre como os dois sacerdotes se colocaram diante de Deus para lhe oferecer incenso. Porém, Deus não se agradou do que aqueles homens fizeram, e identificou aquilo como “fogo estranho”, algo que o Senhor não lhes tinha ordenado.

Com base em todo esse contexto, algumas possibilidades são apresentadas quanto ao melhor significado do que seria o “fogo estranho” apresentado pelos filhos de Arão. Vejamos:

Em primeiro lugar, a expressão “fogo estranho” pode se referir ao modo ilícito que os dois sacerdotes apresentaram o incenso a Deus. Talvez eles não tivessem observado a ordenança divina que regulamentava aquele procedimento.

Deus havia prescrito o tipo de incenso correto que deveria ser oferecido, e proibido qualquer tipo de “incenso estranho”. Deus também havia indicado como o incenso deveria ser ascendido e queimado (cf. Êx 30:37). O incenso deveria ser queimado continuamente, de manhã e de tarde. As brasas para ascender o incenso deveriam vir do próprio altar (cf. Lv 16:12,13).

Então Nadabe e Abiú podem ter utilizado incenso errado, ou mesmo usado incensários inadequados; ou ainda ascendido os incensários com brasas de fogo de outra fonte, e não do altar. Nesse último caso, os dois sacerdotes teriam literalmente trazido fogo estranho diante de Deus.

"No pátio da tenda da consagração, havia fornos onde os sacerdotes preparavam sua comida, e pode ser que Nadabe e Abiú tomaram o fogo desse lugar" (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 1, p. 809).

Ellen G. White afirma: "Os filhos de Arão tomaram fogo comum, o qual Deus não aceitava, e insultaram ao infinito Deus, apresentando fogo estranho diante dele" (No Deserto da Tentação, p. 97).

Em segundo lugar, os dois filhos de Arão podem ter adotado uma prática que não havia sido prescrita. Talvez eles tivessem tentado executar certo cerimonial num momento inadequado, ou trazido uma oferta que não havia sido ordenada por Deus. Ainda nesse sentido, também existe a possibilidade de os dois sacerdotes terem se apropriado de funções que não lhes cabiam. Alguns intérpretes sugerem que eles acabaram usurpando uma função que era exclusiva do sumo sacerdote, e talvez tentaram até entrar no Santo dos Santos.

"Entrar no Santo dos Santos sem a aprovação divina poderia levar à morte. O mesmo fogo divino que consumira o sacrifício inaugural, provendo expiação para o povo, consome agora aqueles que se aproximaram do altar divino de maneira desautorizada. Assim, a mesma ira divina contra o pecado, que caiu sobre Cristo no Seu sacrifício vicário pelo Seu povo, cairá sobre aqueles que rejeitarem esse sacrifício e, mesmo assim, tentarem se aproximar de Deus com seus pecados" (Bíblia de Genebra).

Em terceiro lugar, muitos estudiosos relacionam o fogo estranho trazido por Nadabe e Abiú com a exortação acerca da embriaguez na sequência do mesmo texto (Levítico 10:8-11). Então pode ser que os dois homens tenham entrado diante da presença do Senhor embriagados.

"Vinho e bebida forte podem entorpecer as faculdades de modo que a pessoa perca a clara distinção entre o certo e o errado, entre o santo e profano e entre o puro e o impuro. … naquela condição, eles não viam qualquer diferença. Fogo era fogo, não era? Deus, porém, examinou o coração dos dois e viu o que ninguém podia ver. Havia uma diferença. De modo semelhante, o primeiro dia da semana é tão bom quanto o sétimo dia, pelo raciocínio humano – exceto pela ordem de Deus; e isso faz uma diferença vital, a diferença entre a vida e a morte" (CBASD, vol. 1, p. 810).

Independentemente do que a expressão “fogo estranho” possa significar literalmente naquele contexto, fica evidente que a ideia principal transmitida por ela indica uma profanação do culto ao Senhor. Deus não tolerou o pecado de Nadabe e Abiú. O texto bíblico diz que “saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor” (Levítico 10:2).

Basta uma leitura superficial deste capítulo para que muitos pintem uma tela de um Deus carrasco que tinha prazer em fulminar pecadores. Atentando, porém, para o contexto da época, pela necessidade geral e urgente de educar um povo para fazer “diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (v.10), fica mais fácil de entender as medidas que o Senhor teve de tomar a fim de preservar toda uma nação. Apesar das muitas deficiências e limitações daquele povo, era dele que viria o Messias, o Salvador do mundo. O Senhor precisava intervir e impedir que a insensatez daqueles sacerdotes fosse causa de apostasia entre o povo.

O silêncio de Arão diante de tão terrível tragédia familiar marcou o início de seu sacerdócio com o derramamento de sangue mais difícil de seu ministério. Ele pôde sentir a agonia que Deus Pai sentiria quando contemplasse a morte de Seu Unigênito. Arão não pôde chegar perto dos corpos de seus filhos e nem sequer pôde chorar ou observar o período e os rituais de luto. Deveria permanecer no tabernáculo com os filhos que lhe restaram somente a ouvir e contemplar a lamentação de “toda a casa de Israel” pelo “incêndio que o Senhor suscitou” (v.6). Quão machucado não deveria estar o coração do velho sacerdote! Como comer das ofertas daquele dia diante de tamanho infortúnio?

Querido leitor, em matéria de adoração, Deus não abre mão de que sejam observados os princípios por Ele estabelecidos em Sua Palavra. Em nenhum outro momento da vida de Jesus encontramos Ele reagindo de forma tão enérgica quanto quando expulsou os cambistas do pátio do templo. O local designado para adorá-Lo deve ser um lugar onde tão somente o resultado seja a verdadeira adoração através da manifestação do fogo do Espírito. Quando o homem age pelo impulso de suas próprias paixões e vontades, confundindo adoração com sensações, está acendendo “fogo estranho” em lugar sagrado, incitando a ira de um Deus que é “Santo, Santo, Santo” (Ap 4:8). 

Cultuamos a Deus segundo os termos dEle ou temos levado “fogo estranho” para o culto? Na pregação, na adoração e no louvor deve prevalecer a vontade de Deus, não nossas preferências. Somos povo sacerdotal, portanto, também devemos nos abster de tudo o que entorpece os pensamentos. Nossa mente está suficientemente sóbria/temperante para não oferecer “fogo estranho” a Deus?

Deus é misericordioso e cheio de graça, mas Levítico 10 mostra que mesmo a paciência dEle tem limite. Ele não Se deixa escarnecer e põe fim aos estragos que um profano pode causar. Vivamos à luz de Seus mandamentos e sejamos fiéis; assim tudo dará certo. Ao entrarmos nos últimos dias da história da Terra, adoremos a Deus com reverência em espírito de santidade e verdade.

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