Ainda criança, os avisos nas traseiras de caminhões e ônibus me intrigavam. Sonhava ser motorista de ônibus, era um veículo que me fascinava. Queria mais era me aproximar, não me distanciar. Paciente, toda vez que eu repetia a pergunta, meu pai respondia: Devemos manter distância para evitar acidentes. Insatisfeito, eu fingia entender a resposta.
Quando escreveu à Timóteo, num certo trecho da sua segunda carta, no capítulo 3 de 1 a 5, Paulo deixou bem visível a placa para se manter uma segura distância de determinados tipos de pessoas: "Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te."
Alguns anos atrás, logo cedo, pronto para sair de casa, o telefone tocou trazendo uma notícia que mudaria toda minha agenda naquele dia. Um dos meus sobrinhos tinha acabado de afundar o carro na traseira de um caminhão. Os bombeiros levaram quase meia hora serrando as ferragens para poder retirá-lo do carro. No hospital, médicos não deram nenhuma chance, aliás, deram apenas uma certeza: Se sair daqui, se sobreviver, será com seqüelas no cérebro, na memória e no corpo para o resto da vida. Toda família, amigos e igreja colocaram-se num intenso clamor. Contrariando todos os prognósticos, em uma semana ele teve alta, em dois meses recuperou toda memória, nenhum osso quebrou, hoje leva uma vida absolutamente normal. Mesmo já tendo passado tanto tempo, é difícil para mim, escrever sobre esta experiência sem me emocionar.
Um senhor, desconhecido de toda família, fez questão de ir até a casa do meu sobrinho para vê-lo recuperado, pois viu todo o trabalho de resgate feito pelos bombeiros. Depois de ver e abraçar meu sobrinho, ele disse: Você ressuscitou rapaz, foi um milagre, você nasceu de novo! Naquele dia eu estava na casa e testemunhei toda a emoção daquele senhor. Naquele dia todas as respostas e explicações do meu pai ficaram claras, devemos manter distância para evitarmos acidentes, em muitos casos acidentes mortais e irreparáveis.
A tragédia física na vida do meu sobrinho também fez aguçar minha percepção das tragédias espirituais que podem acontecer se não mantivermos a devida distância. A lista detalhada por Paulo a Timóteo parece ter sido escrita ontem. Dá a impressão que Paulo pegou as últimas pesquisas comportamentais, os últimos estudos sociológicos, se conectou aos canais mais antenados com nosso tempo, leu jornais, assistiu TV, respirou o clima nas corporações e partidos políticos, checou o que se anda fazendo nas noites, cruzou dados e informações e concluiu, pronto, esta é a lista.
Todas as características e comportamentos listados por Paulo se relacionam com a gente diariamente. Ao menor descuido podemos ser engolidos. Destes, disse o apóstolo, afasta-te! Sem dúvida, Paulo teve fortes razões para assim alertar a Timóteo. Ficar junto seria como aceitar as práticas das pessoas listadas por ele. Ficar junto seria como abrir mão da liberdade conquistada em Cristo para viver numa libertinagem escravizante. O afastar-se recomendado por Paulo aponta para se evitar o mínimo indício de comunhão com tais visões e filosofias. O afastar-se não significa fugir tão somente, também significa denunciar e confrontar, afinal, são tempos trabalhosos.
Enfim, regule os freios das suas ações, certifique-se que as luzes do farol que iluminam seus pensamentos não se queimaram. Ou seja, revista-se todo dia do Senhor e da força do Seu poder, então saia, vá a luta, encare o mundo, memorize a lista e não se esqueça: mantenha distância.
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