Amanhã o Brasil celebra sua independência frente a Portugal. Festejamos o dia em que demos o grito do basta, deixamos de ser o quintal do país europeu, chacoalhamos de sobre nós o jugo da escravidão e passamos a ser livres para determinar nossos próprios caminhos. Na sequência escolhemos um monte de caminhos errados, é verdade, mas liberdade é o tipo de coisa que faz sentido comemorar. Ninguém questiona a alegria que nasce da libertação.
Pensando nisso, pego em minhas mãos um dos CDs do cantor Leonardo Gonçalves e noto que aparece como tema central de duas de suas músicas, e como tema incidental em outra, a liberdade em Cristo. Por que tanta ênfase num mesmo assunto? É que é um ótimo assunto pra se enfatizar!
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como havendo de ser julgados pela lei da liberdade”, orienta Tiago (2:12). Jesus andou na mesma linha dizendo que “se... o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36). Só que a maior parte das pessoas que eu conheço que abandona a fé e a congregação da igreja afirma, por atos ou palavras, que está justamente em busca de liberdade. Quer determinar seus próprios caminhos, escolher livremente o que fazer com seu corpo, seu tempo, seus recursos. Não é um paradoxo? Afinal de contas, mergulhar de cabeça em Cristo e aceitar de bom grado - com entusiasmo até - participar de Sua igreja, liberta as pessoas? Mas como, se a maioria esmagadora das igrejas impõe um estilo de vida rígido e se arroga o direito de julgar quem dele discorda (ao passo que a minoria que não faz isso descamba, no mais das vezes, para uma atmosfera permissiva que dá a impressão de que a fé e o evangelho são coisas baratas)? Como se, fazendo isso, eu estou fatalmente deixando de fazer coisas que eu fazia livremente?
Uma das frases do Leonardo Gonçalves ajuda a desatar esse nó. Ele canta: “sempre estive preso ao meu prazer e minha dor/mas eu hoje tenho liberdade no Senhor...”. Viver para servir a seu próprio prazer e para evitar sua própria dor é uma falsa liberdade, por “n” razões. Que nosso coração e nossos sentidos são péssimos aios, fazendo com que o prazer de agora redunde em dor e sofrimento prolongado no amanhã é uma delas. Que fomos feitos à imagem e semelhança de um Deus que vive para servir, e, portanto, que o egoísmo é negar nosso propósito e nossa natureza originais é outra razão.
Reconhecer-se pequeno e submeter-se ao grande que nos ama é, sim, experimentar liberdade, liberdade que Jesus chama de “verdadeira” – indicando assim que há uma falsa liberdade. Fazê-lo é sentir-se livre de si mesmo, apto a resistir aos prazeres que – esses sim! – viciam e aprisionam e a suportar a dor que antecede a felicidade plena.
Essa liberdade não é fácil de entender, especialmente em nosso século. Gostei de ver o artista dedicar-se ao tema, denotando assim haver atingido um grau de certa maturidade espiritual. A mesma que lhe desejo, porque sentir o vento dessa liberdade no rosto é uma experiência indescritível.
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