“No passar das claridades e escuridões (ninguém ainda inventara as horas) Adão se entediava. Depois de contar interminavelmente as folhas das palmeiras, começou a contar grãos de areia.” A passagem é de A Bíblia Segundo Beliel, novo livro de ficção do professor e pesquisador do programa de pós-graduação em Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/ USP), e colunista da RBA, Flávio Aguiar, que será lançado este mês, contando “da criação ao fim do mundo, como tudo de fato aconteceu”.
Ancorado nas tradições bíblicas, com o quê o autor trabalhou a maior parte da vida, o livro dá voz a personagens menos famosos do mais famoso livro do mundo, como a pomba solta por Noé para procurar terra firme, o escravo de Jó e o próprio Beliel, antigo anjo da virtude que, juntamente com Lúcifer, foi banido do reino dos céus.
O livro registra as teorias e previsões sobre o fim do mundo, como descrito no Apocalipse de São João Evangelista. No entanto, o autor não trabalha somente com previsões de origem religiosa, mas também aquelas de natureza científica ou histórica, como o aquecimento global.
A Bíblia segundo Beliel combina a leveza da chanchada com reflexões profundas e ousadas sobre temas como a religião, o fanatismo, a crença e a descrença, a opressão e a liberdade, a desigualdade e a justiça. E o amor como objetivo e possibilidade de redenção da humanidade. Da mesma forma em que fala do passado, a narrativa de A Bíblia segundo Beliel mira o futuro, nos levando a uma versão absolutamente fantástica do fim dos tempos e do destino da Criação.
Ao comentar a obra, o escritor foi enfático: “Passei muitos anos estudando as Bíblias como fontes literárias e das demais artes. Mais da metade das literaturas e das artes que estudamos são incompreensíveis sem um conhecimento mínimo das diversas Bíblias.
Acho que isso se materializou numa reescritura do que eu lera e me inspirara, na minha vida de professor e crítico literário. Como se todo esse mundo acumulado pegasse um desvio da linha e saísse em busca de um caminho próprio. Por isso não consigo dizer, por exemplo, que o livro é meu. Ele é mesmo do Beliel, esse anjo torto que se materializou em mim. Eu fui apenas seu porta-voz”.
Fonte: Genizah
Nota: O blog, evidentemente, não endossa a publicação, apenas atua informando e alertando os seus leitores.
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