Por volta de 1840, muitos pregadores pelo mundo estavam proclamando que Jesus estava para voltar. O pesquisador Le Roy Edwin Froom indica que entre esses pregadores, de várias denominações cristãs, havia brancos, negros, mulheres e até mesmo crianças. Houve uma garota do campo na Europa que atraiu de três a quatro mil pessoas ao pregar sobre o fim do mundo. Grande foi o impacto que ela exerceu na vida de muitos.1
Nos Estados Unidos, foi a pregação e os escritos de Guilherme Miller, um fazendeiro que se tornou pregador, que despertou a paixão tanto de crentes quanto de descrentes. Miller e seus associados proclamavam a seguinte mensagem: “Assim como o primeiro advento de Jesus Cristo foi predito em Daniel 9, Seu segundo advento é identificado em Daniel 8:14. Visto que a terra deve ser o ‘santuário' a ser ‘purificado', isso vai acontecer por meio do fogo quando Jesus voltar. Começando com 457 a.C., a profecia dos 2300 dias/anos de Daniel 8:14 culminará ao redor de 1843-1844. Jesus virá outra vez por volta desse tempo. Portanto, prepare-se para encontrá-Lo! Sua volta será um evento literal e visível que precederá o milênio.” Essa era a essência da proclamação milerita.
Vinte e dois de outubro de 1844 foi finalmente estabelecido como o dia em que a profecia terminaria. Aquele era o dia em que a terra seria purificada pelo retorno de Jesus. Milhares de mileritas, vários milhares, aguardaram pacientemente, fervorosamente, até que o dia chegou. Então eles esperaram o dia inteiro, mas Jesus não veio, deixando-os profundamente desapontados. Eles foram forçados a admitir que alguma coisa havia saído errado.
Uns poucos dentre os desapontados estudaram as Escrituras ainda com mais fervor. Não demorou para que aprendessem que embora a data de 22 de outubro de 1844 estivesse correta, o evento estava errado. Esses crentes entenderam que o santuário a ser purificado não estava na terra, mas no céu. Jesus havia entrado no santo dos santos do santuário celestial para dar início a Sua obra de julgamento. Como Ellen White mais tarde declarou: “O assunto do santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844.”2
Ángel Manuel Rodríguez comenta: “Tendo completado na terra a obra para a qual viera (João 17:4, 5; 19:30), Cristo ‘foi elevado ao céu' (Atos 1:11) para ‘salvar definitivamente aqueles que, por meio dEle, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles' (Hebreus 7:25), até que em Sua segunda vinda Ele vai aparecer ‘não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que O aguardam' (Hebreus 9:28). Entre esses dois pólos, a cruz e o glorioso retorno do Senhor, Cristo atua como sacerdote real ‘no santuário, no verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem' (Hebreus 8:2), o advogado (I João 2:1) e intercessor daqueles que nEle crêem (Romanos 8:34). Como nosso Sumo Sacerdote, Cristo está ministrando os benefícios de Seu sacrifício àqueles que vêm a Ele, um ministério tão essencial à nossa salvação como Sua morte substitutiva.”3
Assim, o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 se tornou uma poderosa mensagem. É verdade que Jesus não veio como os mileritas pensavam. Mas, um pequeno grupo de crentes desapontados descobriram nova luz bíblica – a verdade de que Cristo entrou na fase final de Seu ministério sumo-sacerdotal no santuário celestial, após o qual Ele vai finalmente voltar para redimir Seu povo. Assim nasceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia, com sua fé firmemente ancorada no breve retorno de Jesus e com o compromisso de pregar toda a verdade em Jesus. O ano de 1844 é, de fato, importante para o nascimento do adventismo.
Mas, 1844 é de interesse em outras áreas também. Movimentos surpreendentes e destrutivos à fé surgiram no panorama mundial na mesma época, formando um cenário de desafio e urgência para a proclamação adventista, e chamando os habitantes do mundo a olhar para a genuína verdade acerca de Deus e Seu papel no final da história humana (marxismo, dispensacionalismo, evolucionismo, espiritismo moderno).
Deus, em Sua graça e providência, sempre tem levantado um pequeno, mas corajoso, grupo de crentes na Bíblia para descobrir a verdade em sua plenitude e torná-la sua prioridade de missão global e testemunho. Não, 1844 e o surgimento do adventismo não são meros acidentes! São o plano de Deus para manter viva a chama da verdade em meio às trevas de engano que envolveram a história humana por volta da mesma época.
O ano de 1844 e sua grande importância não podem jamais ser minimizados ou esquecidos. O conselho de Ellen White é oportuno: “Ao recapitular a nossa história passada, havendo percorrido todos os passos de nosso progresso até ao nosso estado atual, posso dizer: Louvado seja Deus! Quando vejo o que Deus tem executado, encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado.”4
1. Veja Le Roy Edwin Froom. The Prophetic Faith of Our Fathers: The Historical Development of Prophetic Interpretation. Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1954, vol. 4. pp. 443-718 (veja especialmente pp. 699-718).
2. Ellen G. White. O Grande Conflito. 42. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 423.
3. Ángel Manuel Rodríguez. Handbook of Seventh-day Adventist Theology. Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publ. Assn., 2000. p. 375.
4. Ellen G. White. Mensagens Escolhidas. 3. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1987, vol. 3. p. 196.
Texto extraído de Revista Diálogo Universitário
Nenhum comentário:
Postar um comentário