Leonardo Gonçalves (à esq.), Mauro Henrique (no centro) e Guilherme de Sá (à dir.)
Segue alguns trechos da matéria veiculada pela Veja que cita os cantores adventistas Leonardo Gonçalves e os irmãos Tiago e André Arrais como sendo pertencentes ao "indie gospel brasileiro". |
"Numa igreja na Zona Leste de São Paulo, no fim de outubro, cerca de 1500 pessoas esperam pelo Loop Session + Friends. Projeto encabeçado por Mauro Henrique, cantor do grupo evangélico Oficina G3, pelo também cantor Leonardo Gonçalves e por Guilherme de Sá, vocalista da banda católica Rosa de Saron, o trio cultiva uma sonoridade muito diversa da que existe na música gospel tradicional, que é mais afeita a cantos de louvor para levar a multidão fiel ao êxtase. As composições tranquilas do Loop Session + Friends conjugam um violão com timbre de folk americano a programações eletrônicas de teclado. O público responde no mesmo tom: canta as letras baixinho, para não atrapalhar a concentração dos músicos, mas se exalta quando Gonçalves, uma espécie de galã do universo adventista, sobe ao palco-púlpito. Depois da primeira hora de show, o trio para de tocar, senta-se num sofá e entabula um bate-papo com os presentes. Fala-se pouco de religião e muito de música... Comportamento similar pôde ser observado, no início de novembro, nas apresentações do duo Arrais. Adventistas, os irmãos Tiago e André passaram por seis capitais brasileiras (e com teatros lotados) levando sua mistura de música folk e conversa.
André e Tiago Arrais |
A ampliação de cardápio no showbiz da fé reflete a diversificação do universo evangélico - hoje estimado em 45 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE. De acordo com o instituto de pesquisa Data Popular, evangélicos e protestantes correspondem a mais de um terço dos jovens de 16 a 24 anos. "Houve um crescimento enorme da população evangélica, o que significa que a maioria desses fiéis não tem tradição de igreja. Isso se reflete na música. Muitos carregam consigo os gostos que tinham antes da conversão", diz Leonardo Gonçalves. E esse gosto pregresso inclui, claro, o rock.
A ambição do indie gospel, porém, não é só pregar aos convertidos. Ela se estende ao mercado mais geral, que, no vocabulário evangélico, é chamado de "secular". Os Arrais gravaram em Nashville, com um produtor de música cristã, mas acostumado ao universo country e folk...
Mais uma mudança: em vez de falarem explicitamente de Deus e religião, os letristas usam alusões e metáforas, muitas vezes mais elaboradas do que o eterno discurso de autoajuda de grande parte do rock brasileiro secular, de Nando Reis a Pitty. "O que atrai o público, seja ele cristão ou não, é o fato de querermos retratar em nossas letras algo legítimo", diz Tiago Arrais.
E, se há má vontade dos ouvintes da chamada música secular em relação ao universo gospel, o contrário também é verdadeiro. Leonardo Gonçalves foi criticado por alguns fiéis por ter incluído músicas de artistas não religiosos, como a banda inglesa Mumford & Sons, numa lista de canções preferidas. "E vou continuar fazendo isso. Sou contrário a qualquer tipo de fundamentalismo."
No visual, o indie cristão quase não se distingue do rock não religioso. Como se atesta nas fotos desta reportagem, eles não são de ostentar cruzes nem símbolos religiosos. Exibem tatuagens, cabelões de hippie e barbas de hipster. Mas, não importa que igreja frequentem, todos afirmam o propósito de viver de acordo com a fé que suas letras professam...
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