quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Bom testemunho: não é nada disso que você está pensando!


Pode fazer o teste. Pegue uma câmera e um microfone, dê uma de repórter e saia por aí questionando as pessoas: “Como você descreveria um crente/cristão?”. A resposta, quase que na totalidade será mais ou menos assim: “Crente é aquele cara que não bebe, não fuma, não faz sexo fora do casamento, não dança, não festa, não curte a vida!”... 

Mas será este o real testemunho que deve portar um cristão?

A Bíblia conta que os discípulos de Jesus foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia (At 11:26). E assim foram chamados após reunir muita gente e ensiná-las, ação realizada repetidas vezes por Jesus. Eram testemunhas de Cristo por ensinar aquilo que Ele ensinava. Mais do que isso, foram chamados cristãos por trilharem radicalmente o caminho de vida pelo qual Jesus andou.

Bom testemunho não é a melhor das expressões para caracterizar Cristo. Se descrevêssemos apenas o comportamento (sem citar o nome) e pedíssemos para qualquer cristão do tempo presente avaliar o modo de vida de Jesus, sem dúvida ele reprovaria o comportamento do Mestre. Comer com estelionatários, beber com agiotas, ser amigão de prostitutas, puxar conversa com divorciadas promíscuas, tocar leprosos de que todos desviavam o olhar e dormir nas camas rendadas de inimigos do povo não pode ser a descrição de um bom testemunho. No entanto, Jesus conseguiu um feito único (impossível em nossos dias diriam alguns): sustentar a fama de homem de Deus ao mesmo tempo em que abraçava os puxadores de fumo, traficantes, travestis e aidéticos do seu tempo.

Por outro lado, havia motivos pelos quais podemos dizer que Cristo tinha sim um bom testemunho. Ao contrário da maioria de nós, que trazemos o testemunho na forma do não (não beba, não fume, não transe, não se divirta, não isso, não aquilo, cuidado mãozinha no que toca, cuidado olhinho o que vê…), Jesus trazia o testemunho na esfera do toque, da visão, da companhia, da presença, do sabor, da voz, dos elementos, da comida, da natureza, do abraço. Tudo era traduzido em amor. E o amor o conduzia ao cuidado com o outro. É nisso que o testemunho de Cristo se difere do nosso. Para ele, todos os momentos são sagrados e espirituais. Como disse Paulo Brabo: ‘cremos que o momento espiritual acontece enquanto o órgão está tocando; a pizza que virá depois não é espiritual. Orar antes de dormir é espiritual, levar o lixo para fora não. O coro de anjos é espiritual, a roda de samba não. Dar o dízimo é espiritual, oferecer a alguém um chiclete não. A vida devocional dos namorados é espiritual, seu beijo não’. Para Cristo não, tudo era espiritual. Seu testemunho era construído na espiritualidade da ajuda, do abraço, do socorro ao outro.

Ter bom testemunho tem nada ou muito pouco a ver com não beber, não fumar e não fazer certas coisas. Bom testemunho é muito mais o que você faz do que aquilo que você deixa de fazer. Ter um bom testemunho é viver para Deus e consequentemente para o outro. Nas palavras de Isaías, ‘aprender a fazer o bem, buscar a justiça, acabar com a opressão, lutar pelo direito do órfão, defender a causa da viúva’ (Is 1:17). Nas palavras de Tiago, ‘a religião que Deus nosso Pai aceita é a que cuida dos órfãos e das viúvas’ (Tg 1:27). Por fim, nas palavras de Paulo, lindamente traduzidas por Eugene Peterson na Bíblia A Mensagem, está o retrato do bom testemunho:
"Amem de verdade, não de maneira fingida. Evitem o mal ao máximo; apeguem-se ao bem como puderem. Sejam bons amigos, que amam profundamente; não procurem estar em evidência. Não se deixem esgotar: mantenham-se animados e dispostos. Sejam servos vigilantes do Senhor, com uma expectativa alegre. Não desistam em tempos difíceis, mas orem com fervor. Ajudem os cristãos necessitados e pratiquem a hospitalidade. Abençoem os inimigos: não haja maldição em suas palavras. Riam quando seus amigos estiverem alegres; chorem com eles quando estiverem tristes. Ajudem-se uns aos outros. Não sejam arrogantes. Façam amigos entre as pessoas mais simples; não se julguem importantes. Não revidem. Descubram a beleza que há em todos. Se você a descobriu em você, faça o mesmo com todos. Não insistam na vingança; ela não pertence a vocês. 'Eu vou julgar. Eu vou cuidar disso', diz Deus. As Escrituras recomendam que, se você vir seu inimigo com fome, ofereça-lhe um bom almoço; se estiver com sede, dê-lhe de beber. Sua bondade irá surpreendê-lo. Não permita que o mal vença em sua vida, mas vença o mal com a prática do bem." (Rm 12:9-21).
Luciano Bruno (via Crer Pensando)

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