Hoje eu ganhei um beijo que me ensinou muito mais do que muitas pregações acerca da minha caminhada de fé. Eu estava voltando do cabeleireiro, já de noite, quando vi um senhor numa situação complicada. Sacola numa mão, bengalinha na outra, eu o vi roçar em um muro de concreto coberto de hera (se você nunca teve essa experiência, saiba que dói bastante). Eu tinha hora, tinha prometido a minha esposa voltar logo para dar banho em nossa neném. Resolvi então ignorar aquele homem. Passei direto. Ah, uma informação que não poderia deixar de dar: ele era cego.
Como bom fingidor, continuei caminhando sem olhar pros lados. Mas aí ouvi um gemido. Olhei para trás e reparei que agora aquele deficiente visual estava encurralado entre um canteiro e a portaria de um edifício, sem saber que rumo tomar. Como bom brasileiro, fiz o que todos nós fazemos: pensei “ah, vai, ele consegue se virar sozinho” e continuei meu caminho. Mas, três passos depois, resolvi olhar para trás de novo e notei que agora ele, desorientado, caminhava em direção a uma parede.
A calçada da minha rua está longe de ser um tapete. Na verdade, é quase um campo minado: tem buracos, postes, rachaduras e outras armadilhas. Aí aquele Espirito que vive dentro de mim pareceu dizer-me: “Ô Zágari, toma vergonha na cara e vai lá ajudar o moço”. E quando o Homem fala, é melhor dar ouvidos. Resignei-me, parei, voltei e me dirigi a ele. Não porque eu quisesse, que fique bem claro, minha vontade era seguir meu caminho e ir dar banho na minha filhinha. Mas depois que eu fui comprado a preço de sangue… bem, minha vontade não me pertence mais.
- O senhor quer ajuda? – indaguei meio sem jeito, sem saber qual seria a reação daquele jovem senhor. Para meu alívio, ele abriu um simpático sorriso e soltou um:
- Poxa, era tudo de que eu precisava agora.
Estendi meu braço direito, que ele tomou, e começamos a caminhar juntos. A conversa não foi muito profunda, basicamente se resumiu à pista se obstáculos que era aquela calçada. “Aqui tem um poste. Cuidado com o buraco. Espera um pouquinho que aqui a gente tem de se espremer. Olha o meio-fio” e coisas do gênero deram a tônica da nossa curta conversa até chegarmos à esquina, onde ele atravessaria para seguir por uma passagem subterrânea rumo a um shopping center do outro lado da avenida. Detalhe: eu estava em frente ao meu prédio.
Pensei em me despedir ali e subir para o conforto do meu lar, mas, contra a minha vontade, aquele Espírito, de modo bem inconveniente, novamente me deu um cutucão: “Zágari, deixa de ser comodista e leva ele até a passagem subterânea, não está vendo quantos tapumes tem aí!”. E era verdade. Uma obra da companhia de gás desconfigurou a calçada e, apesar de aquele senhor cego ter me dito que estava acostumado a circular por aquela região, certamente teria dificuldade para chegar à passagem subterrânea. Coisas que o governo não pensa na hora de fazer uma obra, mas deixa isso pra lá. Resolvi então atravessar a rua com ele. Esperei abrir o sinal, atravessamos e o levei até o inicio da ladeira de descida.
Pensei em me despedir ali e subir para o conforto do meu lar, mas, contra a minha vontade, aquele Espírito, de modo bem inconveniente, novamente me deu um cutucão: “Zágari, deixa de ser comodista e leva ele até a passagem subterânea, não está vendo quantos tapumes tem aí!”. E era verdade. Uma obra da companhia de gás desconfigurou a calçada e, apesar de aquele senhor cego ter me dito que estava acostumado a circular por aquela região, certamente teria dificuldade para chegar à passagem subterrânea. Coisas que o governo não pensa na hora de fazer uma obra, mas deixa isso pra lá. Resolvi então atravessar a rua com ele. Esperei abrir o sinal, atravessamos e o levei até o inicio da ladeira de descida.
- Daqui o senhor segue bem?
- Ah, fica tranquilo, agora daqui pra frente é moleza pra mim – sorriu ele. E, sem que eu esperasse, completou: – Qual é o seu nome?
- Mauricio – respondi.
Foi então que ele me surpreendeu com muito mais do que o automático “obrigado” que eu esperava. Ele segurou meu braço com as duas mãos e deu-me um beijo no ombro. E disse:
- Obrigado, Mauricinho, meu nome é Celso. Fica com Deus, viu.
Não tenho certeza se ele ouviu eu balbuciar um “o senhor também" antes de prosseguir seu caminho.
Eu estava apenas querendo voltar logo para casa depois de cortar o cabelo. E acabei recebendo um beijo inesperado que transformou minha noite, que seria apenas mais uma entre tantas noites comuns, numa noite profundamente cristã. Sem ter percebido, e até meio a contragosto, eu tinha ajudado Jesus a caminhar por uma calçada irregular, a atravessar a rua e a chegar ao seu destino.
“O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.” (Mateus 25:31-46)
Há muitos Celsos por aí, apenas esperando um “o senhor quer ajuda?” para fazer de você um cristão melhor. E, ao final, te dar um beijo que tem gosto de culto a Deus.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Maurício Zágari - (via Apenas)
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