Consigo imaginar a frustração de uma pescaria infrutífera madrugada a dentro. Horas no frio, escuro, em meio ao mar, lançando e recolhendo as mesmas redes vazias. Vez após vez em uma sucessão de esperança e descrédito. Nem um peixe sequer.
Na intenção de fazer o dia valer, aqueles homens emprestaram o barco para o novo mestre que estava subvertendo a ordem eclesiástica. Ele andava no meio da ralé, tocando em quem não era ninguém. Ensinava como quem tinha autoridade e atraía todos a Si.
Depois de ensinar, era hora de Jesus desocupar o barco. Era hora de seguir a vida e tentar de novo só no outro dia. No entanto, Jesus fez um pedido estranho:
“Vá para dentro do lago, lançai as vossas redes para a pesca.” (Lucas 5:4)
Ele não era pescador, Pedro sim era. Jesus tinha acabado de chegar à praia, Pedro era quem morava ali. “Quem é esse cara se metendo no que não conhece?”, talvez foi o que passou pela mente do jovem pescador Pedro.
“Mestre, trabalhamos a noite toda e nada pescamos; mas, por causa da Tua palavra, lançarei as redes.” (Lucas 5:5)
O que se sucede é o homem-Deus dominando a natureza, abarrotando as redes de tal forma que o barco quase afundou. Note como essa história faz eco até os nossos dias, em nossas histórias. Não é comum passar várias horas (ou dias, ou meses, ou anos) fazendo tudo o que se está ao alcance e acabar numa pescaria estéril? Vivemos momentos em que tudo dá certo. Mas a esses, seguem outros que a rede insiste em continuar vazia.
Não consigo imaginar nada mais comum, normal e humano do que, em momentos assim, querer recolher as redes e ir pra casa. Quando a energia se esvai depois da enésima tentativa, só há uma conclusão a se chegar: não adianta mais. Está mais do que claro que não tem peixe nenhum aí. A hora é de admitir a derrota, recolher a rede e sair do mar.
Tão frequente quanto esse cenário é a ordem insistente, irritante e, aos nossos olhos, ingênua de Jesus: vá e faça mais uma vez. Mas nós é que sabemos como as coisas funcionam. Ora, não era Jesus que estava aqui tentando a reconciliação. Não era Ele que estava investindo no ministério e vendo fruto nenhum. Não estava no meu lugar enquanto lançava todos os meus recursos pra colher nada. E Jesus está lá de novo, insistindo: vá lá e tente de novo.
A resposta de Pedro é uma declaração de fé linda. Não porque está ancorada numa força sobre-humana de um coração incólume. Muito pelo contrário! A beleza está justamente na sua fraqueza!
“Jesus, eu já tentei mil vezes. Acabou tudo! Não há mais espaço pra perdão.” “Ninguém mais acredita no meu trabalho.” “Jesus, não consigo vencer esse pecado.”. Essa é nossa primeira parte da resposta de Pedro! É o reconhecimento da derrota, é a falta da esperança. Mas o convite é para dar a segunda parte. Ir além da desesperança. Obedecer porque quem manda continuar é Jesus. O importante é quem ordenou e não o conjunto óbvio de circunstâncias que gritam: não há peixe.
O convite. Se Jesus está lhe convidando a continuar, continue. Quem sabe você não está a um passo de lançar as redes e ver as coisas mudarem? Talvez não esteja, também. Talvez a noite ainda seja bastante longa. O importante é que isso não importa! Sim, parece contraditório, mas é exatamente assim. Continuar lançando as redes porque quem lhe faz o convite é fiel. Se Ele manda, vai se encarregar dos resultados. Essa parte não é com você, é com Ele.
Seja fiel. A despeito do lago vazio, escuro e sem vida, seja fiel até o final. Ele está com você em todo o tempo.
Raphael Cavalcanti (via Minha Vida Cristã)
"Durante aquela triste noite no lago, enquanto separados de Cristo, os discípulos foram duramente premidos pela incredulidade, e cansaram-se num infrutífero labor. Sua presença, porém, lhes ateou a fé, e trouxe-lhes alegria e bom êxito. O mesmo se dá conosco; separados de Cristo, nosso trabalho não dá fruto, e fácil se torna desconfiar e murmurar. Quando Ele está perto, porém, e trabalhamos sob Sua direção, regozijamo-nos nas demonstrações de Seu poder. É a obra de Satanás desanimar a alma; a de Cristo é inspirar fé e esperança." (Ellen White - O Desejado de Todas as Nações, p. 249)
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