Conheci a banda Legião Urbana no fim da minha adolescência, e foi nesse meu mundinho complicado que meus medos, dúvidas, anseios, alegrias, revoltas e insatisfações encontravam um “abrigo”, muito embora esse "abrigo" fosse um lugar com pessoas iguaizinhas a mim à procura de um sentido pra vida. Lembro bastante de algumas canções do Legião, ou do Renato Russo, afinal não dá pra falar de Legião sem Renato, ele era o centro da banda, era a intuição e a performance viva do rock brasileiro da época. O pensamento da juventude brasileira nos anos 80 em desgosto com a ditadura militar e que vivia as incertezas em relação ao futuro e a si própria, chegaram até mim nos anos 90, e algumas canções confesso que jamais esquecerei.
Analisar Renato Russo e as suas mensagens me faz perceber que embora sua música não fosse tão comercial, o que lhe tornou um ícone do rock para os jovens da época, foi não economizar sinceridade. De fato, ninguém mais do que ele próprio se identificava com o que cantava. Cantou seus sonhos, frustrações, medo, revolta, otimismo, e por fim, a sua própria morte - o rock'n'roll tão idealizado pela geração anos 60 e assimilada por ele, logo foi dando lugar à angústia, melancolia e ao maior vazio que o homem pode sentir.
No fim de sua vida, trancado no seu quarto, Renato compôs "A Via Láctea" (do álbum “A tempestade” – 1996): "Quando tudo está perdido sempre existe um caminho, quando tudo está perdido sempre existe uma luz... Mas não me diga isso..." Nessa canção, ele torna a tristeza, a febre e a dor em uma obra de arte em fase de despedida. Sua angústia me fez lembrar que nós também não estamos isentos de sofrê-las, porém, apenas com uma diferença: sempre existirá “o caminho” e “a luz”. Equivocados pensam que o cristão verdadeiro não sofre de medos e não passará por angústias, ao contrário do que a condição humana nos mostra, "meros escravos das emoções".
Diante de um quadro irreversível, debilitado e pesando em média 45 quilos, Renato escreve a canção "Sagrado Coração" (leia aqui), que só vem a ser divulgada no último disco “Uma Outra Estação”, 1997, no ano seguinte de sua morte. Essa música gravada, que não possui o registro de sua bela voz, revela-nos uma confissão final em busca do sentido pleno para sua existência.
Quando leio ou escuto Renato Russo fora da perspectiva técnica, musical e estilista, não priorizo a prática de vida regressa ou seus ideais de vida, mas prefiro observar o seu estado de essência. Às vezes, nós como cristãos, supervalorizamos o arcabouço, o estético ou a ideia representativa de alguém, mas não atentamos para a condição interna de um pecador distante de Deus, ou seja, a de alguém com um coração aflito e cansado. Nesse texto, Renato roga por uma resposta, “Onde está este lugar? Onde está essa luz?” e nesta hora lembro que Deus “pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (Eclesiastes 3:11), e esse sentimento só será preenchido quando lhe for colocado o Sagrado Coração sensível a voz de Deus.
“Me fale do sagrado coração porque eu preciso de ajuda”, são as últimas palavras dele em sua canção. Nesse instante, Renato não clamava pela cura da AIDS, por algum antídoto medicinal ou paliativo que aliviasse suas dores. A sua dor era existencial de reconhecimento de morte espiritual sob a sensação de partir para outra com a ausência da certeza do porvir. Termino dizendo que Renato era simplesmente um poeta distante de Deus que clamava por Ele sem saber chamá-Lo.
Que possamos em nosso dia-dia aprender a olhar além das aparências e dos discursos, visando em que estado de coração se encontra aqueles que nos rodeiam. Só assim evitaremos escutar em tom de exortação perante as nossas negligências, quando não falamos do amor de Jesus ao nosso próximo, alguém se dirigir a nós e dizer "me fale do sagrado coração porque eu preciso de ajuda".
Antognoni José Misael da Silva (via Púlpito Cristão)
"A cruz se acha revestida de uma virtude que a linguagem não pode exprimir. O sacrifício de Cristo em favor da humanidade envergonha os mesquinhos esforços que fazemos, os métodos que empregamos para aproximar-nos da humanidade e para erguê-la, para ajudar os pecadores, homens e mulheres a encontrarem a Jesus. Ser filho de Deus é ser um com Cristo e beneficiar as pessoas a perecer em seus pecados. Cumpre-nos comunicar-lhes o que Cristo nos comunicou a nós mesmos." (Ellen G. White - Cuidado de Deus, p. 24)
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