quinta-feira, 1 de junho de 2017

Ellen White contra o culto chato

Sim, existem cultos chatos e até Ellen White, uma escritora do século 19 concorda com isso. Não, os cultos não devem ser chatos, e Ellen White fala sobre isso claramente. Nenhuma de nossas reuniões deve causar tédio pela falta de vida, de ânimo, pela desorganização ou pela impontualidade. Sim, existem pregadores monótonos e que falam demais, e até Ellen White concorda com isso. Não, os sermões não devem ser um teste de resistência para a Grande Tribulação por vir.

Notem que estou falando de uma antiga escritora que viveu num dos períodos de maior fervor do adventismo, onde os cultos eram vibrantes e marcados pela profunda busca da presença do Senhor. 

Boa parte do tempo de nossas reuniões são dedicadas ao sermão. Um culto de uma hora e meia chega a ter uma hora dedicada apenas ao que, em teoria, deveria ser a exposição da Palavra. Ellen White dedicou muitos parágrafos a esse assunto, e deveríamos dar mais atenção a eles. De acordo com ela, muitas reuniões se tornam desinteressantes justamente por causa do modo como o sermão é apresentado. Em resumo: um culto pode se tornar chato, se o pregador não seguir algumas diretrizes.

Esses parágrafos anteriores se fazem necessários pois é normal colocar a culpa do culto frio e monótono em cima dos adoradores, não dos que planejam e dirigem o culto. No entanto, quem fica no púlpito divagando por mais de uma hora num discurso sem vida não pode simplesmente jogar a culpa nos membros e ir para casa com a consciência limpa de que “fiz a minha parte”. Na luta contra o culto-entretenimento, pode surgir a idéia implícita de que há virtude no culto desagradável e morto, mas Ellen White não endossa esse tipo de culto.

Ao contrário do que supõe algumas pessoas, Ellen White orienta que nossas reuniões sejam interessantes e cheias de vida. E para isso ela frequentemente sugere o sair da rotina, usar novas idéias e abordagens, e especialmente cuidar com o horário.

Cultos devem ser interessantes
“Deve imperar ali a própria atmosfera do Céu. As orações e discursos não devem ser prolixos e enfadonhos, apenas para encher o tempo. Todos devem espontaneamente e com pontualidade contribuir com sua parte e, esgotada a hora, a reunião deve ser pontualmente encerrada. Deste modo será conservado vivo o interesse. Nisto está o culto agradável a Deus. Seu culto deve ser interessante e atraente, não se permitindo que degenere em formalidade insípida. Devemos dia a dia, hora a hora, minuto a minuto viver para Cristo; então Ele habitará em nosso coração e, ao nos reunirmos, seu amor em nós será como uma fonte no deserto, que a todos refrigera, incutindo nas almas esmorecidas um desejo ardente de sorver da água da vida”. (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 252)
“Não canseis jamais os ouvintes com sermões longos. Isso não é sábio. Durante muitos anos estive empenhada nesse assunto, tratando de que nossos irmãos preguem menos e dediquem o seu tempo e energia para simplificar os pontos importantes da verdade, pois todo ponto será motivo de ataque de nossos oponentes. Todos quantos estejam relacionados com a obra devem manter idéias novas; … e com tato e previsão fazei todo o possível para interessar os vossos ouvintes.” (Carta 48, 1886)
Pontualidade ajuda a evitar cultos e reuniões chatas
“As reuniões de conferências e oração não devem tornar-se tediosas. Todos devem estar prontos, se possível, na hora indicada; e se há retardatários, que estejam atrasados meia hora, ou mesmo quinze minutos, não se deve esperar por eles. Se houver apenas dois presentes, podem reivindicar a promessa. A reunião deve ser iniciada na hora marcada, se possível, estejam presentes muitos ou poucos.” (Review and Herald, 3 de maio de 1871)
Sermões Longos e Tediosos
“Que a mensagem para este tempo não seja apresentada em discursos longos e elaborados, mas em prática breves e incisivas, isto é, que vão diretamente ao ponto. Sermões prolongados fatigam a resistência do orador e a paciência dos ouvintes. (…) Dai lições curtas, em linguagem clara e simples, e repeti-as muitas vezes. Os sermões curtos serão muito mais lembrados do que os longos. Aqueles que falam devem lembrar que os assuntos que estão apresentando talvez sejam novos para alguns dos ouvintes; portanto, os pontos principais devem ser repassados uma e outra vez.” (Obreiros Evangélicos, pp. 167 e 168)
“Sejam os discursos curtos, espirituais e elevados.” (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 338) [1]
Muitos rodeios preliminares antes de ir ao ponto central
“Muitos oradores perdem o tempo e as energias em longos preliminares e desculpas. Alguns gastam cerca de meia hora em apresentar escusas; assim se perde o tempo e, quando chegam ao assunto e procuram firmar os pontos da verdade no espírito dos ouvintes, estes se acham fatigados e não lhes podem sentir a força.” (Obreiros Evangélicos, p. 169)
Falem pouco
“Falai pouco. Vossos discursos geralmente têm o dobro do que deviam ter. É possível lidar com uma boa coisa de tal maneira que ela perca seu sabor. Quando um discurso é longo demais, a última parte da pregação diminui a força e o interesse do que a precedeu. Não divagueis, mas ide diretamente ao ponto. Dai ao povo o próprio maná do Céu e o Espírito testificará com vosso espírito que não sois vós que falais, mas que o Espírito Santo fala por vosso intermédio.” (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 311) [2]
Se você trabalha com jovens: não fale demais
“Os que dão instruções à infância e à juventude, devem evitar observações enfadonhas. Falar com brevidade, indo direto ao ponto, terá uma feliz influência. Se há muita coisa para dizer, substituí pela freqüência aquilo de que a brevidade os privou. Algumas observações interessantes, feitas de quando em quando, serão mais eficazes do que comunicar todas as instruções de uma só vez. Longos discursos fatigam a mente dos jovens. Falar demasiado levá-los-á mesmo a aborrecer as instruções espirituais, da mesma maneira que o comer em excesso sobrecarrega o estômago e diminui o apetite, conduzindo ao enjoo da comida. Nossas instruções à igreja, e especialmente à juventude, devem ser dadas, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali. As crianças devem ser atraídas para o Céu, não asperamente, mas com muita brandura. Não imagineis que vos seja possível despertar o interesse dos jovens indo à reunião missionária e pregando longo sermão. Planejai meios pelos quais se possa despertar um vivo interesse.” (Obreiros Evangélicos, pp. 208-210)
Alguns sermões podem se transformar em três
“Alguns de vossos discursos longos teriam muito melhor efeito sobre as pessoas se os dividísseis em três. As pessoas não podem digerir tanto; sua mente tampouco os pode apreender, e chegam a cansar-se e confundir-se ao ser-lhes apresentada tanta matéria em um único sermão. Duas terças partes dos sermões tão longos perdem-se, e o pregador esgota-se. Muitos de nossos pastores há que erram nesse sentido. O resultado sobre eles não é bom, porque se tornam cérebros cansados e sentem que estão carregando para o Senhor cargas pesadas e suportando durezas.” (Evangelismo, pp. 176 e 177)
Duas razões para se fazer sermões mais curtos
“Duas razões existem, pelas quais deveis fazê-lo. Uma é que podeis conquistar a reputação de ser pregador interessante; a outra é que podeis preservar a vossa saúde.” (Carta 112, 1902)
Ter muitos sermões num mesmo período não é bom
“E quando se amontoam tantos discursos, um após outro, o povo não tem tempo de assimilar o que ouve. A mente fica-lhes confusa, e os serviços se lhes tornam enfadonhos e fatigantes.” (Obreiros Evangélicos, p. 407)[3]
Por vezes, o sermão deve ser reduzido 
“Ocasiões há em que convém fazerem os nossos pastores, no sábado, em nossas igrejas, breves discursos, cheios de vida e do amor de Cristo. Os membros da igreja não devem, porém, esperar um sermão cada sábado.” (Testemunhos Seletos, vol 3, p. 82)
“Aquele que é designado para dirigir cultos aos sábados, deve estudar a maneira de interessar os ouvintes nas verdades da Palavra. Não convém que faça sempre tão longos discursos que não haja oportunidade para os presentes confessarem a Cristo. O sermão deve ser, frequentemente, breve, a fim de o povo exprimir seu reconhecimento para com Deus. Ofertas de gratidão glorificam o nome do Senhor. Em cada assembléia dos santos, anjos de Deus escutam o louvor rendido a Jeová em testemunhos, canto e oração. A reunião de oração e testemunhos, deve ser um período de especial auxílio e animação. Todos devem sentir que é um privilégio tomar parte nela. Que todos os que confessam a Cristo tenham alguma coisa para dizer na reunião de testemunhos. Estes devem ser curtos, e de molde a servir de auxílio aos outros. Não há nada que mate tão completamente o espírito de devoção, como seja uma pessoa levar vinte ou trinta minutos num testemunho. Isso significa morte para a espiritualidade da reunião.” (Obreiros Evangélicos, p. 171)
Momentos de louvor estropiados
“O canto é uma parte do culto de Deus, porém na maneira estropiada por que é muitas vezes conduzido, não é nenhum crédito para a verdade, nenhuma honra para Deus. Deve haver sistema e ordem nisto, da mesma maneira que em qualquer outra parte da obra do Senhor. Organizai um grupo dos melhores cantores, cuja voz possa guiar a congregação, e depois todos quantos queiram se unam com eles. Os que cantam devem esforçar-se para cantar em harmonia; devem dedicar algum tempo a ensaiar, de modo a empregarem esse talento para glória de Deus.” (Evangelismo, p. 506)
Não devemos fazer orações longas e tediosas publicamente
“A oração feita em público deve ser breve, e ir diretamente ao ponto. Deus não requer que tornemos fastidioso o período do culto, mediante longas petições. Cristo não impõe a Seus discípulos fatigantes cerimônias e longas orações. 'Quando orares,' disse Ele, 'não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens' (Mateus 6:5). (…) Há muitas orações enfadonhas, que parecem mais uma preleção feita ao Senhor, do que o apresentar-Lhe um pedido. Seria melhor se os que assim procedem se limitassem à prece ensinada por Cristo a Seus discípulos. Orações longas são fatigantes para os que as escutam, e não preparam o povo para escutar as instruções que se devem seguir. É muitas vezes devido à negligência da oração particular, que em público elas são longas e fastidiosas. Não ponham os pastores em suas petições uma semana de negligenciados deveres, esperando expiar essa falta e tranquilizar a consciência. Tais orações dão freqüentemente em resultado o enfraquecer a espiritualidade de outros.” (Obreiros Evangélicos, pp. 175 e 176)
Fazer orações públicas simples e não com palavras difíceis
“A linguagem floreada é inadequada à oração, seja a petição feita no púlpito, no círculo da família, ou em particular. Especialmente o que ora em público deve servir-se de linguagem simples, para que os outros possam entender o que diz, e unir-se à petição.” (Obreiros Evangélicos, p. 177)
Perceba o padrão de Ellen White: nada deve ser desagradável e inconveniente no culto. Nem o sermão, nem o testemunho, nem as orações, nem a música. “Não seja chato”, essa é a mensagem geral. No que depender de você, não permita que o “Alegrei-me quando me disseram: vamos à Casa do Senhor” (Sl 122:1) se transforme em “fiquei entediado quando me disseram: vamos à Casa do Senhor”.
Profundidade não é sinônimo de prolixidade. 
Brevidade e objetividade não são sinônimos de superficialidade. 
Alegria não é sinônimo de irreverência. 
Reverência não é sinônimo de monotonia e chatice.
Pr. Isaac Malheiros (via Música Sacra e Adoração)

[1] Alguém pode estar pensando: “Mas a própria Ellen White relata ocasiões em que ela pregou durante uma hora ou mais”. Sim, mas isso não era o rotineiro. Eram ocasiões especiais, onde muitas vezes ela era usada por Deus para fazer revelações proféticas ao povo. O ponto aqui é: o normal e rotineiro deve ser sermões curtos. Podem existir exceções, ocasiões especiais onde maior tempo será gasto, mas a regra da pontualidade e dos sermões curtos deve prevalecer em nossos cultos.
[2] Escrevendo a um pregador chamado Stephen Belden, ela aconselhou: “Não segure o povo mais que trinta minutos em seus discursos”. Ele estava se tornando prolixo em seus sermões. (Manuscript Releases, vol. 10, p. 130) 
[3] O contexto dessa advertência eram as reuniões campais, onde enorme quantidade de sermões eram apresentados em sequência.

4 comentários:

  1. Muito bom msm, só acho q/ às vezes pode ocorrer de se ter uma assunto q/ não será possível fazê-lo de forma muito curta, e o pior, o pregador não terá outra chance de terminar o assunto partindo-o como numa pequena série assim como EGW falou... Acho q/ o interesse do povo que está ouvindo deve fazer a sua parte também e ter paciência p/ ouvir, ás vezes, um pouco além do tp normal... Via de regra acredito q/ sempre devemos primar pelo tempo curto e msgs poderosas q/ façam c/ q/ as pessoas se lembrem delas por muito tp, porém acredito q/ msmo raramente, possam ocorrer excessões.

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  2. Infelizmente tem Pastor que depois de um longo

    sermão ainda faz outro sermão em forma de oração.

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  3. Ainda que seja contundente, publicações como estas, são imprescindíveis, principalmente, para alertar os “encantados pela sua própria (e maravilhosa...) voz.
    Quem deve ser exaltado em uma pregação é o CRIADOR e REDENTOR.
    E não o pregador com sua articulação verbal brilhante e seu vocabulário diversificado – que, afinal de contas, são dons concedidos por DEUS
    ARTIGO MUITO PERTINENTE..

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