José, vendido pelos irmãos, é adquirido por Potifar “oficial de Faraó e capitão da guarda” (Gn 39:1). Provavelmente, a intenção era que José desempenhasse funções domésticas. Apesar da condição cruel, por duas vezes é afirmado que o Senhor estava com José (Gn 39:2,3). Como resultado, o jovem hebreu obteve a simpatia de Potifar (Gn 39:4), que reconheceu as habilidades do novo serviçal. Assim, José recebe a incumbência de administrar (Gn 39:4). Na sequência, outra característica de José é enfatizada: sua beleza física (Gn 39:6). Outros homens nas Escrituras são igualmente louvados por seus atributos estéticos, como Saul, Davi e Absalão. No relato sobre José, esse elemento serve para introduzir uma mudança de foco: é a beleza de José que desperta a atenção da esposa de Potifar. Como consequência, José foi tentado em pelo menos três diferentes formas.
Em primeiro lugar, José sofreu a tentação de forma direta e pontual. "Venha, deite-se comigo!" (Gn 39:7), disse a mulher sem muita sutileza. A seguir, a situação passou a se repetir. O convite ousado agora ressoava pelo cotidiano (Gn 39:10). Por último, surgiu a tentação se apresentou de modo extraordinário:
"Um dia ele entrou na casa para fazer suas tarefas, e nenhum dos empregados ali se encontrava. Ela o agarrou pelo manto e voltou a convidá-lo: 'Vamos, deite-se comigo!' Mas ele fugiu da casa, deixando o manto na mão dela." (Gn 39:11-12)
A trama dos acontecimentos colocou José diante de um problema capaz de vencer a vontade dos mais extraordinários homens. Comumente, vemos políticos renunciando a cargos devido a escândalos extraconjugais. Recentemente, um ator famoso teve afastamento decretado por uma emissora de televisão após ser acusado de assédio. Jogadores de futebol são constantemente forçados a realizar exames de paternidade ou envoltos em divórcios milionários. A maioria dos homens enfrenta grandes dificuldades em lidar com tentações sexuais. Quando se examina a história de José, além dos tipos de tentação que ele sofreu, pode se verificar sua reação a elas, o que é extremamente útil para os cristãos da atualidade. Se José foi capaz de vencer a tentação mais apelativa e insistente, a vitória se acha à disposição para aqueles que seguirem seu exemplo.
Quando a tentação veio de modo direto e pontual, José respondeu afirmando audivelmente seus princípios:
"Mas ele se recusou e lhe disse: 'Meu senhor não se preocupa com coisa alguma de sua casa, e tudo o que tem deixou aos meus cuidados. Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a senhora, porque é a mulher dele. Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra Deus?'" (Gn 39:8-9)
O texto apresenta que José era fiel em seu serviço porque ele sabia a quem prestava contas. Momentaneamente, ele servia a Potifar. Mas sua lealdade última era voltada a Deus, a quem era responsável por todo seu procedimento. Justamente o senso de estar na presença divina motivava José a um procedimento reto. A vida cotidiana, com suas demandas instantâneas veiculadas à conexão virtual, rouba o tempo para quase todo tipo de introspecção, reflexão e meditação na Palavra de Deus. A prática da oração, confiança no poder invisível, fica obliterada pelos atrativos exteriores. Entretanto, é o cultivo da presença do Senhor – pelo exercício diário da oração, do estudo fervoroso das Escrituras, pela decisão de permitir ao Espírito que influencie a mente a obedecer e prática consciente das verdades reveladas (pelo poder de Deus em sua vida) – que torna um cristão disposto a abdicar de prazeres para manter seus princípios.
Quando a tentação se tornou cotidiana, frequente, José estava preparado para enfrentá-la. Ele sabiamente evitava o objeto de sua tentação (Gn 39:10). Isso caracteriza a prudência que acompanha a quem teme a Deus. José não insistiu em seus argumentos e, se o tivesse feito, por certo teria tido pouco resultado. O tempo de argumentos já passara: era a hora de afugentamento.
Finalmente, José se viu em uma cilada: a tentação lhe sobreveio de modo extraordinário. Toda uma cena foi elaborada para que ele e sua senhora estivessem sós. Ninguém os veria. E, seguindo seu perfil, a esposa de Potifar tomou a iniciativa, agarrando seu manto (Gn 39:12). José certamente não poderia recorrer às estratégias já usadas: ele não poderia simplesmente evitar a mulher ou ignorar sua presença e provavelmente seria totalmente despido antes de terminar qualquer discurso! Mas o filho de Jacó tinha outro recurso: ele tomou a decisão radical de se afastar da tentação. Ele literalmente fugiu, deixando nas mãos de uma mulher furiosa o seu manto. Uma decisão corajosa, a qual lhe cobrou um alto preço.
Douglas Reis (via Questão de Confiança) (Foto: Minissérie José do Egito da TV Record)
"A fé e integridade de José deveriam, porém, ser experimentadas por terríveis provas. A esposa de seu senhor esforçou-se por seduzir o jovem a transgredir a lei de Deus. Até ali ele permanecera incontaminado da corrupção que enchia aquela terra gentílica; mas esta tentação tão súbita, forte e sedutora, como poderia ser enfrentada? José bem sabia qual seria a consequência da resistência. De um lado estavam o encobrimento, os favores e as recompensas; do outro a desgraça, a prisão, a morte talvez. Toda sua vida futura dependia da decisão do momento. Triunfariam os princípios? Seria José ainda fiel a Deus? Com inexprimível ansiedade os anjos olhavam para aquela cena. A resposta de José revela o poder do princípio religioso. Ele não trairia a confiança de seu senhor na Terra, e, quaisquer que fossem as consequências, seria fiel ao seu Senhor no Céu." (Ellen G. White - Patriarcas e Profetas, p. 217)
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