Roupas, calçados ou brinquedos podem até ser boas opções para presentear os filhos neste Dia das Crianças, mas, em geral, esses mimos, por mais úteis e interessantes que sejam, não impactam de forma profunda a vida deles. Repartir a fé é o melhor presente que podemos dar a nossos filhos.
Estudos indicam que a espiritualidade tem uma relação direta com o desenvolvimento humano. Pesquisas feitas por estudiosos como James W. Fowler, Donna Habenicht, Anne Bell e Alice Lowe, por exemplo, ajudam a compreender como os pequenos lidam com a fé e a encaram, e como é possível, em cada faixa etária, ajudar a criança a desenvolver a vida espiritual. No entanto, é importante considerar que alguns aspectos de cada fase podem se manifestar antes ou depois na vida da criança, dependendo dos estímulos que ela tem.
0-3 anos
Este é um período muito importante para o desenvolvimento da fé. Segundo Ellen White:
“As impressões feitas no coração, no princípio da vida, são vistas em anos posteriores. Podem estar sepultadas, mas raras vezes serão removidas” (Manuscrito 57, 1897).
É nesse estágio que a criança tem pré-imagens de Deus, a partir de uma relação de confiança com seu cuidador. Ela entende o amor por meio do cuidado que recebe e desenvolve confiança em Deus ao confiar nos pais.
Nessa etapa, o desenvolvimento físico da criança está a pleno vapor. Como ela está aprendendo a controlar o corpo, suas necessidades físicas interferem no humor e no comportamento. Por isso, um ambiente calmo e uma rotina bem estabelecida contribuem para que a criança aprenda e se desenvolva, inclusive espiritualmente.
Nessa fase, o uso de materiais concretos para ilustrar o ensino é muito importante para a assimilação do conteúdo. Em termos práticos, uma criança de dois anos, por exemplo, terá um aproveitamento mais significativo se o pai utilizar objetos ou imagens para ilustrar a história. Quanto mais os sentidos forem explorados, mais a criança se sentirá motivada a prestar atenção, interagir e aprender.
Nesse estágio, a criança tem um período de atenção curto. Por isso, os momentos de ensino das verdades bíblicas devem ser breves e planejados. As orientações devem ser simples e sem abstrações. Pais que desejam ensinar os filhos a orar, por exemplo, devem mostrar como é a posição de oração (e não apenas explicar como orar), usar ilustrações variadas, sem se cansarem de reforçar o ensino com repetições.
Em geral, as crianças têm certa dificuldade de controlar as emoções nessa fase. Então, é preciso que a educação seja pautada pela busca da obediência e pelo controle emocional. Ellen White escreveu:
“Uma das primeiras lições que a criança precisa aprender é a lição da obediência. Antes que fique bastante idosa para raciocinar pode ser ensinada a obedecer” (Educação, p. 287).
Crianças que não obedecem aos pais terão dificuldades para obedecer a Deus.
Entre zero e três anos, a criança tem uma forte tendência a ser egocêntrica. É por isso que os pais não podem perder a oportunidade de estimular a solidariedade e o amor ao próximo. Isso é básico para um bom desenvolvimento cristão. O encorajamento de atitudes de simpatia pelos menos favorecidos e a vivência do evangelho prático são muito importantes.
Nesse período, a criança está desenvolvendo o senso do sagrado, que é base para a futura reverência com as coisas de Deus. Por isso, os pais devem mostrar que a Bíblia é importante e deve ser cuidada e respeitada. O nome de Deus não pode ser pronunciado em vão pela criança ou por seus cuidadores. Os locais de culto, principalmente a igreja, são especiais. Levar a criança com uma roupa adequada para a igreja, não permitir que ela coma dentro do templo ou que brinque com brinquedos da rotina semanal, ajudam-na a adquirir o senso de reverência. A presença nos cultos também é extremamente importante. A criança só vai saber como se comportar na igreja se ela vivenciar essa realidade sempre. Além disso, é importante que a família faça o culto em casa e que as coisas de Deus sejam vistas como sagradas.
4-6 anos
Nessa fase, ocorre uma ampliação entre a comunicação da criança e o adulto, e isso também é sentido no relacionamento com Deus. É nesse estágio que a criança começa a ter suas próprias experiências espirituais, passa a entender por ela mesma que Deus existe e aprende a desenvolver uma comunicação mais direta com Deus por meio da oração. Por isso, um ambiente familiar espiritual é fundamental.
Apesar de gostar de movimento, ela já consegue permanecer sentada por mais tempo na igreja. Porém, ainda precisa de recursos que possam ajudá-la no processo de reverência. Levar uma bolsa para o culto com materiais bíblicos, como livros, revistas e desenhos para colorir, pode ajudar nesse sentido.
Entre quatro e seis anos, em geral, a criança é falante e gosta de aprender novas palavras. Contudo, pode confundir termos e conceitos. Então, os pais devem ficar atentos e corrigir os usos incorretos de expressões que envolvam o vocabulário bíblico. Elas necessitam aprender as verdades dentro do seu próprio nível de ensino e não meias-verdades.
Além disso, nesse período as crianças são curiosas e fazem muitas perguntas. Dessa forma, aproveitar os questionamentos infantis para ter conversas espirituais, fazer comparações entre a vida dos filhos e dos profetas, mostrar como Deus trabalha na vida de outras pessoas e contar pequenas histórias sobre o cuidado de Deus na vida dos pais pode contribuir para que a criança entenda melhor o plano divino para a humanidade.
Em geral, a criança é ciumenta, geniosa e medrosa nessa etapa do desenvolvimento. É preciso ter cuidado para não potencializar medos que são comuns nessa fase. Salientar o cuidado de Deus e não enfatizar o poder do mal é muito importante.
7-10 anos
Este estágio é caracterizado pela avaliação constante entre as palavras e as atitudes dos adultos. Coerência é a palavra-chave. A criança precisa ver atitudes coerentes dos pais em relação ao discurso e prática da fé. É a partir dessa fase que a criança começa a desenvolver uma fé mais abstrata.
Os pais precisam aproveitar todas as oportunidades para estimular o estabelecimento de compromissos com as coisas espirituais. Entretanto, isso só ocorrerá se houver um envolvimento e motivação da família. Esse é o período de estimulação do desenvolvimento dos dons e habilidades a serviço de Deus e do próximo.
Nessa fase, a criança é ainda um pouco literalista. Contudo, consegue, com ajuda, fazer associações mais abstratas, distinguindo o fato da fantasia. Esse é o momento de introduzir ensinamentos doutrinários mais sólidos. Porém, o ensino deve sempre estar adequado à realidade do pensamento infantil. As palavras também devem ser de fácil compreensão.
Nesse período, a criança entende que as histórias da Bíblia são reais e que é possível aplicar os ensinamentos cristãos na vida prática. Esse é o momento de incentivar a leitura de bons livros. A autonomia em relação à devoção pessoal também precisa ser trabalhada.
11-16 anos
Nessa fase, o indivíduo duvida de si, dos pais, da religião e de tudo o que já lhe foi transmitido. Passa por muitas transformações no corpo que evidenciam a chegada da puberdade. Precisa sentir-se amado e acolhido, pois, nesse estágio, vivencia muitos problemas, como baixa autoestima e insegurança.
É fundamental uma religião realista e prática nesse estágio. A atmosfera do lar precisa estar envolvida em assuntos religiosos. Os adultos precisam ajudar os juvenis e adolescentes a encontrar respostas bíblicas para os dilemas da vida. Estudos proféticos ligados aos acontecimentos atuais despertam o interesse desse grupo.
Às vezes, faltam-lhe vocabulário para expressar seus sentimentos. O diálogo e amizade com os pais são fundamentais para amenizar essa dificuldade. Porém, eles não gostam de receber ordens e são sensíveis a críticas. Por isso, precisam ser liderados com amor e firmeza.
Deus entregou a atual geração de crianças e adolescentes em nossas mãos. Seremos capazes de fazer nossa parte? A tarefa dos pais, da comunidade e da igreja não é fácil. Porém, Ellen White escreveu:
“Ao procurardes tornar claras as verdades concernentes à salvação, e encaminhar as crianças a Cristo como Salvador pessoal, os anjos estarão ao vosso lado” (O Desejado de Todas as Nações, p. 385).
Que Deus nos capacite a ajudar as crianças a desenvolver os hábitos que nortearão toda a sua experiência religiosa! Um legado de fé é o melhor presente que podemos dar a nossos filhos.
Ariane M. Oliveira (via Revista Adventista)
O professor Leandro Quadros também tem uma mensagem especial para este dia:
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