terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Marketing, fama, redes sociais: antíteses do Reino

Estou cada vez mais convencido de que ações promocionais dentro do chamado marketing, sejam pessoais ou institucionais, configuram a antítese dos princípios do Reino! Parafraseando uma das contundentes declarações de Cristo em seu mais famoso discurso, o Sermão do Monte, “o que é feito na esfera privada, o próprio Deus se encarrega de tornar reconhecido publicamente”. Para que não pairem dúvidas, essa declaração de Jesus se repete duas vezes no sermão, no contexto de dar esmolas e de jejuar, justamente ações que, por princípio, não pressupõem publicidade.

Percebo esse princípio muito mais quando se reconhece por bíblica a verdade de que feitos espirituais não carregam, em si, méritos humanos! Em palavras mais claras, por que imprimir viés promocional já que o mérito não nos pertence?

Para corroborar com a ideia, sugiro um estudo sobre o uso da palavra “fama”, seja em sua aplicação no original grego do Novo Testamento ou quando ela aparece na tradução para o português/espanhol de outras palavras gregas. No começo do ministério público de Cristo, quando realizava milagres de restauração dos enfermos, confirmando um dos pilares do seu programa de governo (ensino, pregação e cura), Jesus costumava orientar os beneficiados a que não publicassem tais feitos, ou seja, não saíssem contando aos quatro ventos, “viralizando”, num termo mais moderno. “Façam o que a lei recomenda, e isso é suficiente”, era o Seu conselho, muitas vezes. Parece haver, aqui, um princípio que vem confirmando o entendimento que me está convencendo…

Claro, difícil era imaginar que alguém curado de lepra pudesse ficar em silêncio! Essa era muito mais que uma cura física. Era libertação, reintegração… Era uma cura que reincorporava alguém completamente segregado por impureza, pecado e doença! Ninguém, em sã consciência, ficaria calado. Assim, pouco a pouco, a “fama” dos seus atos foi crescendo mais e mais. Não era a intenção de Cristo, porque havia um caminho a ser percorrido que não implicava estratégias, nem mesmo de endomarketing. Foi tanto que, da metade do Seu ministério para a frente, Cristo já não aconselha mais o silêncio. Os próprios fatos se encarregavam de publicizar o ministério do Messias, e isso, sim, cumpria uma agenda publicitária profética!

Confesso que me incomoda essa intencionalidade “marketeira”, especialmente quando manifestada pelas redes sociais. Elas têm se transformado em um espaço triunfalista que replica, replica e replica frases feitas e de efeito, conselhos e princípios, como uma competição pelo troféu da originalidade e criatividade. Têm se transformado na cartilha do bom cristianismo, como algo do tipo “faça o que eu faço e o que eu escrevo!” Quando isso é institucionalizado, então, incorpora a meu juízo um “quê” de “perfeição” que só faz aumentar a distância entre a Igreja real e a Igreja ideal.

Não quero desempregar ninguém, muito menos julgar intenções, até porque um amigo comentou que o problema, talvez, não seja, diretamente, o marketing como concepção mercadológica, nem a promoção, mas o uso dessas ferramentas para difundir os bons princípios com tato, cuidado e parcimônia. O que, repito, me fez digitar essas linhas foi a percepção do contraste entre a maneira como Jesus tratou seu ministério e como, muitas vezes, percebo pessoas e instituições tratando seus feitos.

Somo a isso algo digno de nota, como o fato de que as redes têm viralizado um marketing pessoal e institucional que mais faz em referendar funções, postos e feitos intramuros do que em promover externamente uma agenda positiva, seja pessoal ou corporativa. Para tanto, proponho, para finalizar, um exercício lógico: analise suas redes sociais, veja os retweets, likes, compartilhamentos. Eles percorrem mais uma rede interna que se replica, ou rompem um circuito relacional/profissional/institucional?

Estou mais preocupado com a percepção do marketing enquanto uma forma de ser do que com as técnicas necessárias para o trabalho de promoção do que a Igreja faz como instrumento de evangelização.

Não é verdade?

Carlos Nunes (via Ética Prática)

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