A palavra compromisso, ou qualquer variante que lembre comprometimento, chegou aos nossos dias com uma interpretação distorcida, assim como muitas outras expressões. Estranhamente, o compromisso nos soa quase pejorativo. Para uns, chega ao ponto de causar arrepios, por remeter, implicitamente, à obrigação entre duas ou mais partes. Falar em compromisso, nesta era, é falar de contrato e isso sempre implica cláusulas e até multas, no caso de rompimento não previsto.
Pensando sobre comprometimento, fico imaginando como eram os acordos do passado e como as coisas regrediram nesse sentido. Antes, bastava dar a palavra e as pessoas não voltavam atrás. Eram firmes no propósito assumido e ainda que, em algum momento mudassem de ideia, ou fossem tentadas pela dúvida, honravam a decisão tomada. Tal atitude não só provava o caráter do proponente, como indicava respeito a quem nele confiava. Não era visto como ingênuo quem acreditava no que ouvia do outro, pois as relações eram assim solidificadas, simplesmente com base na palavra dita, impalpável como é.
Infelizmente, com o passar do tempo e o enfraquecimento ético e moral da sociedade, foi necessário criar documentos que firmassem, formalizassem os combinados. Câmeras e gravadores são usados como testemunhas irrefutáveis. Talvez seja por isso que o compromisso tenha se tornado assustador à maioria de nós. Para ser consistente, é preciso documentá-lo, assiná-lo e reconhecê-lo em cartório. A força do acordo foi reduzida à sua materialidade.
Embora seja desafiante comprometer-se, em seus mais variados níveis e tipos, haveria dentre tantas definições, pelo menos uma não tão opressiva? Alguns dicionários apresentam o termo compromisso como envolvimento, entrega, promessa mútua, significando colocar o coração no lugar em que está e no momento em que se está vivendo.
Sob essa perspectiva, a impressão que se tem é de que deixamos de desfrutar completamente aquilo que escolhemos, quando não nos comprometemos. O que aconteceria se você realmente colocasse a mente e o coração na direção em que caminha? Imagine como seria se você conseguisse concentrar seu coração em cada etapa da sua vida, em cada momento, bom ou ruim; nos relacionamentos, no trabalho, no estudo e esporte, em família, na comunicação com Deus!
Certamente, não haveria mais espaço para as superficialidades do coração dividido; carente de trocas sucessivas – trocas de opinião, de grupos, de conceitos – entre inúmeras outras, a fim de se sentir esporadicamente preenchido. A incapacidade de entregar-se é o que dispersa a atenção e engessa a habilidade de fazer boas escolhas. Paradoxalmente, estar de olho em tudo é não estar concentrado, comprometido com nada. E isso se aplica à vida de modo geral.
Dedicar-se exclusivamente ao que foi eleito, crescendo por meio do conhecimento mútuo, é o que supre cada um de nós. É assim que Deus nos trata. Ao olhar cada pessoa como única, busca religá-la a Ele de forma íntima, profunda e intensa, comprometendo-Se singularmente. Conquanto Seu amor seja universal e infinito, destina-o a cada unidade.
Desde a antiguidade, ouvimos falar que Deus fez alianças com homens, mulheres e crianças. Ele nos deu o exemplo e nos chama a viver nada menos que a sinceridade do compromisso. E essa não é Sua cobrança, é Sua oferta. É Deus quem nos ensina e capacita a viver a altura daquilo com que vamos nos comprometendo ao longo da vida. É Ele quem nos educa com a finalidade de deixarmos para trás as promessas não cumpridas e aprendermos a ser firmes quanto aos votos que fazemos aos outros, a Ele ou apenas a nós mesmos. Firmes decisões também fazem bem à saúde!
Agatha Lemos (via Revista Vida e Saúde) (Título original: Sim ou não?)
O compromisso se tornou algo superficial hoje em dia, pessoas não cumprem o que prometem, pessoas não cumprem seu voto com a pessoa amada, e as amizades tmb sãp destruidos por esse falso compromisso, que é feito com palavras vazias, mas sem um verdadeiro propósito no coração.
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