segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Você tem “desconfiômetro”?

Para ter relacionamento saudável com as pessoas é preciso discernimento. Discernimento no sentido de autopercepção. Isto é difícil para muitos porque a tendência é funcionarmos no automático. O que é funcionar no automático? É fazer as coisas no dia a dia sem muita percepção da própria conduta, do jeito de falar, dos motivos para agir. Parece que isto é o normal, não é?

Será que é mais fácil funcionar no automático? Será que exige menos esforço mental? O contrário de agir no automático significa ter consciência de si, pensar no que você está pensando, no que está dizendo para as pessoas, pensar no que está sentindo e o que este sentimento produz em seu comportamento no contato com os outros. Dá trabalho isto?

Há pessoas muito “espaçosas”, que consciente ou (na maioria das vezes) inconscientemente ocupam muito os outros para benefícios, segurança ou necessidades pessoais. Talvez sejam comunicativas, extrovertidas, mas falta nelas o “desconfiômetro”. Sempre envolvem pessoas em seus programas, planos, vontades, parecendo ter dificuldade de se virarem sozinhas, com menos ruído e agitação. Fazem muito alvoroço em torno de si e deixam as emoções tomarem muito conta da própria mente e isto tira o discernimento racional, a serenidade, prejudicando os relacionamentos porque tendem a usar muito as pessoas pela sua característica “espaçosa”, quase histérica.

Não é possível ter saúde mental sem discernimento ou percepção da própria conduta. Viver o tempo todo no automático é estar fechado para esta percepção. E também, claro, viver o tempo todo na autopercepção pode prejudicar a espontaneidade e a soltura nos relacionamentos.

A reflexão ajuda muito a entender quem somos e como funcionamos socialmente. Mas quem quer refletir sobre seu próprio comportamento numa sociedade carregada de relacionamentos descartáveis, inundada de impulsividade, cheia de modelos doentios na mídia, e reagindo agressivamente com facilidade? O mundo também está acelerado e cheio de precocidades. A aceleração atinge muita coisa em nossa sociedade e tira a serenidade, a reflexão, o discernimento. 

Para uma pessoa “espaçosa” melhorar, ela precisa parar e pensar. E procurar amadurecer para evitar ficar usando as pessoas. Usar é abusar. Pedir ajuda é diferente de usar uma pessoa. Deve procurar ajuda para resolver a tendência de chamar a atenção sobre si. Aprender a refletir e, sendo honesto(a) consigo mesmo(a), tentar discernir os motivos que levam a envolver as pessoas nos problemas ou desejos pessoais. É possível continuar a ser uma pessoa expansiva, comunicativa, sociável, sem histerismo, sem manipulação, sem querer ser o centro das atenções.

É preciso coragem para praticar estas coisas. Mas praticando, poderá se tornar uma pessoa mais confiável, mais serena, mais ponderada, menos “cheguei”, mais discreta, mais fácil de conviver, e não é bom isto?

A decisão para mudar o que se é, é pessoal. Ninguém muda ninguém. O médico, psicólogo, conselheiro, não muda o paciente. Não temos poder para isto. Na próxima vez que surgir na mente da pessoa “espaçosa” uma brecha no jeito de funcionar no automático, e ela conseguir refletir sobre como está funcionando com as pessoas, deverá aceitar a luz que virá dizendo o que precisa mudar. E mudar. Assim a saúde mental melhorará, independentemente se as pessoas ao redor fizerem isto também ou não.

Dr. Cesar Vasconcellos de Souza (via Portal Natural)

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