segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Religiosidade fake

Perfis falsos podem revelar vidas e até uma religiosidade que segue o mesmo princípio
Não surpreende, mas impressiona constatar, pelo menos com base naquilo que alguns veículos de comunicação divulgam, um mercado obscuro baseado no desejo humano de popularidade a qualquer custo. É o que aparece na superfície, mas certamente há coisas bem piores na profundidade. O fato é que, lendo algumas reportagens, percebo que há um mercado especializado em vender perfis falsificados para celebridades e empresas.

De acordo com o que publicou o The New York Times recentemente, uma investigação jornalística apurou que uma empresa, por exemplo, foi identificada nesse sentido por manter um conjunto de 3,5 milhões de perfis automatizados no Twitter e vendê-los, chegando a proporcionar aos clientes mais de 200 milhões de seguidores nessa rede social. E ao menos 55 mil dessas contas usam nomes, fotos de perfil, lugar de origem e outros detalhes pessoais de usuários reais do Twitter, o que inclui menores de idade. Ou seja, perfis roubados. Mas há várias pessoas que, sem a intenção direta de vender perfis falsos, criam identidades em outras redes sociais (como Facebook) que, em uma avaliação rápida, mostram-se absolutamente mentirosas, falsas, que não combinam com quem aquela pessoa realmente é.

Bem, meu intuito não é o de entrar em pormenores quanto a esse engenhoso sistema criminoso que existe no planeta e que alimenta uma indústria de amor ao próprio ego e avidez por influência no ambiente digital. Quero analisar isso sob o ponto de vista espiritual:

1. Por trás de perfis falsos existem vidas falsas
Na escolha do sucessor de Saul, antes de ungir Davi o profeta Samuel passou por alto vários pretendentes, todos filhos de Jessé. Quando observava um deles, chamado Eliabe, o profeta de Deus pensou que esse deveria ser o ungido. Porém Deus, conforme é registrado em I Samuel 16:7, afirmou que Ele vê o coração, ou seja, o íntimo, e não se limita ao exterior.

Perfis falsos são a casca que aparece, a parte exterior. Mas não significam, muitas vezes, como vivem, o que pensam e o que fazem as pessoas por trás desse perfil. Um perfil falso pode ser mantido por muitos anos e até ser vendido por um bom preço. Mas uma vida falsa, espiritualmente falando, não tem valor algum nesse ambiente, porque o Deus retratado pela Bíblia, acessível e interessado em se relacionar com as pessoas, prefere a sinceridade e a transparência. Perfis falsos criados intencionalmente pelas pessoas podem indicar gente com dificuldades em lidar com suas vidas. Todos enfrentam problemas na vida, mas a solução não está em criar uma vida falsa diante dos outros.

2. Religiosidade fake é uma religiosidade ineficiente e ineficaz
No livro do profeta Isaías, há muitos trechos de condenação da hipocrisia do povo de Israel, aquele que recebeu de Deus uma mensagem clara para fazer a diferença espiritualmente diante de outras nações. Em Isaías 29:13, Deus desabafa e afirma que “visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim…”.

Aqui Deus está falando, trazendo para nossa realidade moderna, de religiosidade fake. Sim, esse é um risco enorme dessa geração e das futuras. E o foi nas antigas também. A religiosidade baseada em rituais destituídos de sentido, em palavras e atos vazios, em conhecimento superficial do próprio Deus e falta de amor é ineficiente e ineficaz. Não serve como referência de religião e não preenche o vazio humano. A motivação maior é o egoísmo, o orgulho próprio, o interesse em que o ser humano seja o centro e não Deus.

Nos velhos e nos novos tempos, o problema a ser superado, por cada um, foi e ainda é o mesmo: vencer a barreira da religião baseada unicamente em experiências místicas, sentimentalistas, artificiais, com pouca ou nenhuma base ou consistência e partir para um relacionamento bem estruturado com Deus. Religião fake pode impressionar, ser popular, atrair muitos amigos, “vender”, encher os olhos, produzir uma dúzia de frases bonitas, imagens a ser compartilhadas, vídeos inebriantes, louvores espetaculares, mas não passa disso. É cheia de informação e imagens, mas vazia de sentido.

Não há muito mais a dizer aqui a não ser sugerir que a minha e a sua vida sejam reais, genuínas, exatamente aquilo que Deus vê. Não há necessidade de se viver uma ilusão, como muitos o fazem nas redes sociais. É perda de tempo. Só depende da vida e da religiosidade fake quem não compreendeu a grandiosidade da verdadeira relação com Deus, que tem altos e baixos, dificuldades e momentos agradáveis, perdas e ganhos, mas é totalmente real.

Felipe Lemos (via Realidade em Foco)

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