quinta-feira, 12 de abril de 2018

Um inferno particular chamado adolescência

Eu não voltaria à adolescência nem por toda a prosperidade, felicidade, riqueza, alegria, beleza ou prêmio que alguém pudesse me oferecer. Deus me livre de retornar a um período de tamanha confusão mental, revolução física, ebulição hormonal e despreparo paternal. A adolescência é um inferno particular; e cada um de nós sabe muito bem a quantidade de sequelas que se carrega dessa nebulosa fase da vida.

É fato que a infância é determinante na nossa constituição enquanto ser humano. É lá, nos áureos tempos da fantasia, da criatividade, dos joelhos ralados e canelas roxas, que residem as nossas mais valiosas memórias afetivas. Memórias estas, que o nosso cérebro sabiamente seleciona, guarda ou rejeita. Algumas delas, é verdade, voltam do lixo e tratam de nos assombrar na fase adulta. Haja terapia, meditação, determinação e exercício físico para exorcizar tanto fantasminha nada camarada, não é mesmo?

Mas a adolescência… Ahhhhh… A adolescência ganha da infância por nocaute, em termos de estragos emocionais duradouros. Esse período envolto no limbo, essa etapa do crescimento onde não temos mais liberdade para sermos infantis, mas também não temos autorização para abraçarmos as “delícias da vida adulta”, pode deixar cicatrizes mal curadas, que ao primeiro descuido voltam a coçar, arder e sangrar… tudo de novo.

Estar na adolescência é ser atingido por um tsunami disfarçado de balada eletrônica, a gente não tem muita certeza se está curtindo ou morrendo afogado. Adolescer é uma prova de fogo da vida, uma espécie de teste ao estilo “Tropa de Elite”, onde há dezenas de Capitães Nascimento, fantasiados de pai, mãe, professores, avós, “amigos” e outros bichos, todos bradando com autoridade: “Pede pra sair!”.

O fato é que alguns acabam mesmo “pedindo pra sair”. Buscam alívio na bebida, em pilulinhas azuis de felicidade instantânea, em drogas que prometem tornar a vida mais colorida ou menos dolorosa. Alguns, inclusive, decidem sair definitivamente; tiram de si mesmo a chance de chegar no próximo estágio, simplesmente porque não dão conta de tanta pressão, de tanto descabimento, de tanto estímulo, de tanto abandono afetivo.

Muitas famílias, diante do comportamento irritadiço, das oscilações de humor, da rebeldia, da sonolência, dos silêncios repentinos, da idolatria do grupo em detrimento do clã familiar, da impaciência, do surpreendente senso crítico, tomam essas alterações como afronta pessoal. Enxergam todas as mudanças de atitude do adolescente como enfrentamento da autoridade, traçam uma linha divisória emocional, tentam fazer seus filhos engolirem goela abaixo suas verdades e acabam por perdê-los; às vezes no sentido figurado, às vezes no sentido literal. Pesado?! É pesado mesmo! Muito pesado! Mas é um problema nosso, de todos nós adultos ao redor. É nosso! E é intransferível!

A depressão na adolescência, com muita frequência aparece em comportamentos que, olhados sem a devida cautela e atenção, soam a pura rebeldia. No entanto, são muito mais sérios e complexos do que isso. O adolescente deprimido, pode apresentar alterações psicológicas manifestas por meio de irritação, necessidade de isolamento, queda no rendimento escolar, descontrole emocional, doenças somáticas, insônia, aumento ou diminuição do apetite, automutilação, agitação mental e mais um sem número de processos comportamentais que vão se somando e afastando o jovem do convívio e da tutela amorosa familiar.

Por ser um desafio conviver com essa pessoa tão difícil, muitos pais abrem mão de sua tarefa árdua de educar e, ainda que não conscientemente, escolhem não ver o sofrimento; convencem-se de que “todo adolescente é assim mesmo” e que uma hora dessas, essa chateação vai passar.

E, sim, vai passar mesmo, posto que a adolescência é apenas um pequeno e intenso capítulo da jornada. Mas se passar neste clima de alienação, vai deixar um rastro de destruição. E isso, sinto informar, não vai passar com o tempo.

Se a criança precisa de cuidados e atenção - e precisa mesmo! - o adolescente precisa muito mais! Precisa de pais que tenham também amadurecido o suficiente para admitir que já passaram por isso, que também achavam que não ser convidado para “aquela festa” era o fim do mundo; que também sentiam um fogo de desejo físico incontrolável; que também odiaram os seus pais; que também se sentiram na beira do precipício e logo depois já estavam “de boa” surfando na melhor onda.

Adolescentes precisam de pais de verdade; não de pais perfeitos. Adolescentes precisam de limites amorosos, de olhar atento, de confiança mútua, da permissão para errar e de uma mão forte para ajudá-los a voltar atrás e consertar os erros.

Não, não é nada fácil! Aquele bebezinho rosado e quentinho que veio enroladinho da maternidade cresce. Cresce, muda, se transforma, desafia. Ser pai e mãe é mesmo um desafio diário, segundo a segundo. E é pra sempre!

Ana Macarini (via Conti Outra)

Fiquem com este precioso texto de Ellen G. White para nós pais e mães:
“Todo lar cristão deve ter regulamentos; e os pais, em palavras e comportamento de um para com o outro, devem dar aos filhos um exemplo precioso e vivo do que desejam que eles sejam. A pureza da linguagem e a verdadeira cortesia cristã devem ser constantemente praticadas. Ensinai as crianças e os jovens a respeitarem a si mesmos, a serem leais para com Deus, leais aos princípios; ensinai-os a respeitar e obedecer à lei de Deus. Esses princípios lhes regerão a vida e serão guiados em suas relações com os demais. Esses princípios criarão uma atmosfera pura, cuja influência encorajará as pessoas no caminho ascendente que conduz à santidade e ao Céu”. (O Lar Adventista, p. 16)

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