Pedro Bial, Hélio Santos, Sônia Guimarães e Emicida
Às vésperas dos 130 anos da Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888, que aboliu a escravidão do Brasil, a situação do negro no país segue agrilhoada ao preconceito e à timidez de políticas públicas que venham reduzir a desigualdade entre brancos e negros. Se alertar para essas diferenças é necessário, por outro lado, o negro figurar apenas como pauta negativa também é uma forma de perpetuar condições que precisam ser corrigidas.
O talk show da Rede Globo Conversa com Bial desta quinta-feira, 10/5, (assista aqui), promoveu uma reflexão sobre os 130 anos de abolição da escravatura, que serão completados no dia 13/5, e suas marcas na sociedade brasileira. A primeira professora negra do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e primeira mulher negra PHD em Física, Sônia Guimarães; o presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade e precursor do debate sobre cotas no Brasil, professor Helio Santos, e o rapper e compositor Emicida debateram sobre a questão.
“O que se chamou de liberdade era sinônimo de desamparo. Milhões de negros despejados na rua no dia 14 de maio, sem projeto de inclusão, sem projeto de nação. O mais longo dos dias, 14 de maio de 1888, até hoje não acabou. Cento e trinta anos depois, há que se fazer ainda, todos os dias, a nova abolição.” Assim teve início o debate, quando os convidados trouxeram um panorama sobre a data e o que ela deixou como legado.
“A desigualdade no Brasil tem procedência histórica, tem cor e tem também sexo. Então, a desigualdade é o principal obstáculo para que o país avance”, apontou o economista Helio Santos. Santos observou que, desde a declaração do fim da escravidão, houve um comportamento que se tornou comum na nossa sociedade: o falso protagonismo.
“É muito comum atribuírem, por exemplo, a política de cotas a pessoas e partidos, tirando o protagonismo do movimento social negro, o único responsável por essa conquista. O mesmo aconteceu com a princesa Isabel, porque a monarquia não queria o fim da escravidão, foi a monarquia quem a protelou o tempo todo. Joaquim Nabuco, André Rebouças, José do Patrocínio, todos eles queriam terminar não só com a escravidão, mas com os efeitos que a escravidão provocou”, comentou.
Seguindo o mesmo discurso, o rapper Emicida avaliou como essa situação afetou a população negra e sua própria trajetória. “Na escola, era uma sensação desagradável (quando se falava sobre a abolição), já que o protagonismo da nossa história não era nosso, era comum sermos alvo de piadas e insultos”, relembrou.
“A princesa recebe todos os louros, mas ela estava ali muito por acaso, não era envolvida com a militância; descobri que ela tinha verdadeiro afastamento da questão política. É curioso como uma pessoa que estava ali (naquela função) por acaso se torna ícone de um momento tão importante e transforme em seres invisíveis todos esses personagens gigantes que lutaram por tantos anos pela libertação dos negros”, afirmou o cantor.
Uma assinatura que colocou 700 mil negros como livres sem qualquer tipo de suporte, traz como consequência a desigualdade que conhecemos hoje. Prova disso é que só no final do século 20, uma mulher negra conquistou o título de PhD em física no Brasil, justamente Sonia Guimarães, convidada do programa. Uma disparidade com a qual ela lida no ambiente de trabalho diariamente.
“Neste ano, eram mais de 12 mil candidatos, entraram 112 alunos, sendo sete meninas. Eles estão acostumados a ver esse tipo de gente (como eu) limpando a casa, cuidando deles. Aí, veem que sou eu que vou dar aula, que vou corrigi-los, que vou dizer ‘não, você está errado’. A minha autoridade tem que ser dita a cada dia, a cada lição, a cada nota baixa”, diz Sônia, sob olhar da mãe, Clélia Marcolino dos Santos, que admite ter insistido para que a filha deixasse de estudar e fosse trabalhar.
Além de cantar e refletir sobre a temática da atração – ao lado dos rappers Drik Barbosa e Rashid –, Emicida resumiu a relevância de se falar sobre esse assunto. “É muito importante que a gente converse mais sobre o tema, que a gente saiba conversar. Esta é uma discussão dolorosa para ambos os lados e o que a gente fez nessa noite, dialogando e colaborando, dividindo pontos de vista, é um oásis num deserto. Aqui, temos uma solução muito bacana para o nosso país”, declarou.
Nota: Lembrando que em Cristo, todos os muros separatistas ruíram, e que homens e mulheres, brancos, negros e mestiços, empregados e patrões, índios e ameríndios, sacerdotes e leigos, somos todos iguais (Gálatas 3:28). Diferentes na cor da pele, ou nos papéis que desempenhamos, mas iguais em dignidade perante Deus e nossos semelhantes, as Escrituras ensinam claramente que todas as pessoas foram criadas à imagem de Deus, que “de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra” (Atos 17:26). A discriminação racial é uma ofensa contra seres humanos iguais, que foram criados à imagem de Deus. Conforme lemos na Declaração da Igreja Adventista sobre o Racismo, "o racismo está entre os piores dos arraigados preconceitos que caracterizam seres humanos pecaminosos. Suas consequências são geralmente devastadoras, porque o racismo facilmente torna-se permanentemente institucionalizado e legalizado. Em suas manifestações extremas, ele pode levar à perseguição sistemática e mesmo ao genocídio."
A norma para os adventistas está reconhecida na Crença Fundamental nº 14 da Igreja, “Unidade no Corpo de Cristo”, baseada na Bíblia. Ali é salientado: “Em Cristo somos uma nova criação; distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não deve ser motivo de dissenções entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros; devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição.” Qualquer outra abordagem destrói o âmago do evangelho cristão.
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