No dia 27 de agosto é comemorado no Brasil o Dia do Psicólogo. Nesta mesma data, no ano de 1964, a profissão foi regulamentada através da Lei 4.119/64.
Três escolas de cura prevaleciam no tempo de Ellen White – mesmerismo, frenologia e a cura pelo descanso – que influenciaram seus comentários sobre questões psicológicas e de saúde mental. White se opôs firmemente a todas as três. Em 1886, escreveu: “As ciências da frenologia, da psicologia e mesmerismo são os condutos pelos quais ele [Satanás] chega mais diretamente a esta geração e atua com esse poder que deve caracterizar seus esforços próximo do fim do tempo da graça.”1
Mesmerismo. Durante os primeiros anos de ministério, Ellen White foi repetidamente forçada a confrontar o mesmerismo e seus métodos de manipulação da mente. Nos Estados Unidos, em meados do século 19, o magnetismo animal era uma filosofia de cura popular. Originada pelo médico Franz Anton Mesmer (1734-1815), ensinava que um fluido magnético invisível permeou o universo. Mesmer teorizou que a doença produziu um desequilíbrio desse fluido dentro do corpo humano, o que poderia ser curado através do uso de ímãs e de corrente elétrica. Eventualmente, ele abandonou o uso de ímãs e propôs que o “corpo do curandeiro”, permeado com magnetismo animal, podia redirecionar o fluido magnético do paciente sem a utilização de ímãs. O objetivo era o de induzir a uma ‘crise’, alterando o estado mental do indivíduo, por meio de febre, delírio, convulsões, choro descontrolado, contrações musculares nervosas. Mesmer viu essas manifestações como sintomas saudáveis de cura. Sugestionabilidade e dominância foram utilizados para produzir um transe e, assim, realinhar o corpo.2 Mais tarde, James Braid redefiniu o termo “mesmerismo” como hipnotismo, e Mesmer ficou conhecido como o pai da moderna hipnose.3
Em 1845, Ellen White foi forçada a confrontar Joseph Turner, um proeminente ministro adventista milerita no Maine. Turner estava usando o mesmerismo. Ele ainda tentou mesmerizar ou hipnotizar White. Em uma ocasião, ela estava em uma reunião onde ele tentou manipulá-la. “Ele tinha os olhos voltados diretamente de seus dedos, e os olhos dele pareciam serpentes, o mal.”4 Suas experiências ao confrontar esse homem, juntamente com sua orientação visionária, a colocaram em oposição às modalidades de controle hipnótico da mente que eliminavam de uma pessoa a independência mental e liberdade dadas por Deus. Ela escreveu muito direta e especificamente sobre esse tópico. “Não é desígnio de Deus que nenhuma criatura humana submeta a mente e a vontade ao domínio de outra, tornando-se um instrumento passivo em suas mãos […]. Não deve considerar nenhum ser humano como fonte de cura. Sua confiança deve estar em Deus.”5 Em cartas durante 1901 e 1902 para A. J. Sanderson e sua esposa, que foram diretores médicos do Sanatório Santa Helena, Ellen White advertiu para os perigos do hipnotismo. “Mantenham-se afastados de tudo o que tenha sabor a hipnotismo, a ciência pela qual as agências satânicas trabalham.”6 Ela identificou a característica do hipnotismo que mais a preocupava e revelou um dos seus valores fundamentais na cura mental. “A teoria de mente controlar mente é originada por Satanás para introduzir-se como o trabalhador-chefe para colocar filosofia humana onde deveria estar filosofia divina […]. O médico deve educar o povo a olhar do humano para o divino.”7
Frenologia. Foi uma teoria popularizada na América durante os meados do século 19 por Orson S. Fowler e seu irmão Lorenzo N. Fowler. A frenologia sustentou que a forma da cabeça de uma pessoa determinava o seu caráter e personalidade. Embora baseada em uma premissa falaciosa, foi amplamente aceita como autêntica na época. Ellen White se opôs a essa modalidade. Em 1893, escreveu sobre a frenologia como “vã filosofia, se gloriando em coisas que não entendem, pressupondo um conhecimento da natureza humana que é falso”.8
Cura pelo descanso. A modalidade “cura pelo descanso” foi defendida por Silas Weir Mitchell como resposta a distúrbios nervosos. Mitchell defendeu o descanso completo e a ausência de todos os estímulos sensoriais. Esse método exigia que o sujeito não tivesse visitas, cartas, leituras, escritos, banhos, exercícios, ou mesmo a presença de luz ou som. O descanso era para ser aplicado sem interrupção e prolongadamente. Ellen White contradisse essa opinião: “[…] E ao doente [mental] deveria ser ensinado que é errado suspender todo trabalho físico para recuperar a saúde.”9
As bases filosóficas dessas três modalidades do século 19, embora populares na época, têm-se mostrado fraudulentas. Quando Ellen White usou os termos “psicologia” e “ciência”, estava falando desses falsos e errôneos movimentos, e não das modernas definições desses termos. Em uma ocasião, escreveu positivamente quando usou o termo “psicologia” em um sentido mais geral. “Os verdadeiros princípios da psicologia encontram-se nas Sagradas Escrituras. O homem desconhece o seu próprio valor. Age de acordo com o seu inconfesso temperamento do caráter, porque não olha para Jesus, Autor e Consumador de sua fé.”10 Para Ellen White, a correta “psicologia” tem uma visão elevada dos seres humanos, como é entendida à luz do dom de Jesus e do amor de Deus. Para ela, o objetivo dos estudos psicológicos foi como reconectar a pessoa com Deus como o grande médico da mente e da alma.
Recebendo orientação psicológica
Embora tenha sido demonstrado que Ellen White centrou a sua filosofia de saúde mental e cura em Deus, ela não excluiu o papel dos seres humanos em cooperação com Deus. Ela deixa claro que Deus pode usar conselheiros para ajudar a levar à cura aqueles com doenças mental e emocional. “Os servos de Cristo são Seus representantes, instrumentos pelos quais opera. Ele deseja, por intermédio dos mesmos, exercer o Seu poder de curar.”11 Em outra declaração semelhante, escreveu: “Por intermédio de Seus servos, designa Deus que os doentes, os desafortunados e os possessos de espíritos maus hão de escutar Sua voz. Por meio dos instrumentos humanos, Ele deseja ser um Consolador como o mundo desconhece.”12 Ela ainda foi imperativa no aconselhamento. “Quando surge uma crise na vida de qualquer pessoa. […] É a vida consistente, a revelação de um sincero interesse como de Cristo pela a pessoa em perigo, que fará o aconselhamento eficaz para convencer e vencer em caminhos seguros.” Aqueles que negligenciam este trabalho “terão de dar conta por sua negligência por aqueles que poderiam ter abençoado, reforçado, apoiado, e curado.”13
A própria experiência de Ellen White como uma conselheira é uma aplicação da presente declaração. Embora não fosse formada em psicologia, ajudou muitas pessoas a conquistar melhor saúde emocional e mental durante a sua vida. Para esses dias, seus escritos fornecem um quadro filosófico e teológico útil que apoia a atividade “médico missionária”, assim como chamou as áreas de psiquiatria e psicologia.
Alguns bem intencionados cristãos têm sido relutantes em falar com profissionais de saúde mental temendo que Deus não queira que contem a outro ser humano seus pecados ou fraquezas. Pensam que procurando ajuda psicológica traem a fé, porque estão procurando a ajuda de seres humanos em vez da de Deus, mas Ellen White é clara de que há situações em que é correto e adequado confiar em outros.14 Ela foi uma frequente ouvinte e conselheira para as pessoas com dores e perplexidades. Ela escreveu as seguintes palavras de conforto para um homem na Austrália. “Se os agentes humanos, de quem nós poderíamos ser levados a esperar ajuda, faltam para fazer a sua parte, somos confortados no pensamento de que as inteligências celestiais não deixarão de fazer a sua parte. Elas passarão por aqueles cujos corações não são tenros e dignos de compaixão, gentis e amáveis, e prontos para aliviarem as desgraças dos outros, e vão usar qualquer agente humano, que será tocado com as enfermidades, as necessidades, os problemas, as perplexidades das pessoas por quem Cristo morreu.”15 Suas declarações sobre o papel dos conselheiros humanos mostram que Ellen White permaneceu confiante em que Jesus era o último ajudante e médico. Mas os humanos conselheiros, amigo, mãe, pastor, médico ou psicólogo são para ajudar a pessoa como Jesus – “[…] um Amigo que nunca falha, ao qual podemos confiar todos os segredos do coração.”16 A cura mental e emocional como a cura física é um processo que leva tempo. Ellen White revela um notável grau de sensibilidade para com, por vezes demorado, processo psicológico que requer apoio.
Conclusão
A abordagem terapêutica de Ellen White para o tratamento do doente mental centrou-se em uma aplicação de princípios. Ela apoiou o aconselhamento e os métodos de cura natural. Sua abrangente rejeição às drogas está baseada em errôneas filosofias de cura que eram atuais em seus dias e de produtos químicos perigosos de drogas que eram usadas. Suas declarações contra a “psicologia” e a “ciência” estão relacionadas a sua oposição ao mesmerismo, frenologia, e à “cura pelo descanso”. Como conselheira, Ellen White teve extensa interação com as pessoas ao longo de sua vida e tratou com diferentes tipos de disfunção psicológica. Permaneceu simpática e redentora, mesmo quando a condição foi particularmente censurável. Ela não tinha qualquer formação em saúde mental e viveu em uma época em que essa ciência era ainda rudimentar. No entanto, foi capaz de ser extraordinariamente eficaz em ajudar muitas pessoas. Compreendeu que a devastação emocional e mental não era curada instantaneamente e que uma pessoa poderia estar andando com Deus, mas ainda assim necessitava de apoio e orientação. Acreditava na necessidade de intervenção direta por outros que eram capazes de aconselhar e orientar. Embora não tenha escrito sobre o papel dos psiquiatras e psicólogos, escreveu positivamente sobre o tipo de ajuda que pode ser prestada por essas áreas. Não podemos dizer exatamente qual seria a sua reação à prática moderna dessas áreas, mas um estudo da sua vida, escritos e atividades sugerem que ela teria apoiado a prática psicológica cristã que estava em harmonia com uma filosofia bíblica de cura.
Merlin D. Burt (Ph.D., Universidade Andrews) é diretor do Centro de Pesquisa Adventista Ellen G. White Estate Branch Office, Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, EUA. E-mail: burt@andres.ed. Uma parte deste artigo for originalmente apresentada no Simpósio sobre a Cosmovisão Cristã e Saúde Mental: Perspectivas dos Adventistas do Sétimo Dia, de 28 de agosto a 2 de setembro de 2008, Rancho Palos Verdes, Califórnia. (via adventistas.org)
Referências
1 Testemunhos para a Igreja. 1. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. v. 1. p. 290. ↑
2 Irving Kirsch, Steven Jay Lynn, e Judith W. Rhue. “Introduction to Clinical Hypnosis”. In Handbook of Clinical Hypnosis. Washington, DC: American Psychological Association, 1993, 5; John C. Burnham. “Franz Anton Mesmer”, International Encyclopedia of Psychiatry, Psychology, Psychoanalysis, and Neurology, ed. Benjamin B. Wolman. New York: Aesculapius Publishers, 1977. v. 7, p. 213. ↑
3 Henry Alan Skinner. The Origin of Medical Terms. Baltimore, MD: Williams & Wilkins, 1949. p. 186.↑
4 Ellen G. White. Manuscrito. 131, 1906. ↑
5 Conselhos Sobre Saúde. 2. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1991. p. 345. ↑
6 Ellen G. White para Artur e Emma Sanderson, 16 de Fev. 1902 (datilografada), Carta 20, 1902, EGWE. ↑
7 Ellen G. White para A. Sanderson, 12 de Setembro de 1901 (datilografada), Carta 121, 1901, EGWE. ↑
8 Ellen G. White para E. J. Waggoner, 22 de Janeiro de 1893, Carta 78, 1893, EGWE. ↑
9 Ellen G. White. Testemunhos Para a Igreja. 1. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. p. 555. ↑
10 Mente, Caráter e Personalidade. 3. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990. v.1. p. 10. ↑
11 O Desejado de Todas as Nações. 22. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p .824. ↑
12 Ciência do Bom Viver. 10. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 10. ↑
13 Ellen G. White para “Os irmãos em posição de responsabilidade no Escritório da Review and Herald”, 13 de jan. 1894, Carta 70, 1894, EGWE. ↑
14 Veja Mente, Caráter e Personalidade. 3. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990. v. 2, p. 763-788. ↑
15 Ellen G. White para J. R. Buster, 3 de Agosto de 1894, Carta 4, 1894, EGWE. ↑
16 Ellen G. White. Testemunhos Para a Igreja. 1. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. v. 1, p. 502. ↑
Amei a reportagem!
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