quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Como perseverar até o fim?

Como povo de Deus, aguardamos a vinda do Senhor nas nuvens do céu, com poder e grande glória. A vitória está garantida aos que não desistirem: “Aquele, porém, que perseverar até o fim será salvo” (Mc 13:13). 

Ao pesquisar a origem bíblica da palavra “perseverança”, descobre-se que, em grego, ela vem do termo hupomonê (hupo, sob; monê, permanecer). O Comentário Bíblico Adventista diz que hupomonê é mais do que uma resignação passiva; denota “perseverança ativa”.1 A palavra compreende o exercício do autocontrole em casos difíceis, quando a fé é pressionada e colocada à prova por alguma forma de perseguição. 2 

Os comentaristas ainda afirmam que existe relação entre perseverança, paciência e confiança. Quem pretende ser vitorioso na jornada espiritual não pode deixar de usar esses ingredientes. A “paciência é uma virtude positiva. Ela evoca perseverança, persistência e ação, a despeito do cansaço, do desencorajamento e dos obstáculos que possam dificultar o caminho”.3 Por outro lado, “perseverança é uma característica mais específica da confiança. É persistência, até mesmo quando as circunstâncias são contrárias”.4 Assim, quem persevera diante das provações desenvolve confiança no poder divino (Rm 5:1-5). Ao lado do Salvador, o trajeto para o Céu torna-se estável e com sabor de vitória (2Pe 1:5-11; 2Tm 2:12). Basta “perseverar na graça de Deus” (At 13:43) e seguir em frente. 

Agora, veja o que a Bíblia e os escritos de Ellen G. White dizem sobre a importância da perseverança em diversas situações:

1. Diante das dificuldades do dia a dia
Alguns problemas se limitam a questões financeiras, outros envolvem relacionamentos. Esses últimos incomodam mais quando abrangem pessoas do convívio diário. Indo direto ao ponto: como lidar com indivíduos atrevidos, petulantes? 

“Perseverança” seria a resposta? Sim, mas perseverar de forma ativa; com atitudes sustentadas em princípios éticos e cristãos (o que nem sempre é fácil). A Bíblia mostra a fórmula: “O nobre projeta coisas nobres e na sua nobreza perseverará” (Is 32:8). “No temor do Senhor perseverarás todo o dia. Porque deveras haverá bom futuro; não será frustrada a tua esperança” (Pv 23:17, 18). “Orem em seu aposento particular; enquanto vocês seguem seus afazeres diários, elevem muitas vezes o coração a Deus. [...] Essas orações silenciosas sobem ao trono da graça como precioso incenso. Satanás não pode vencer aquele cujo coração assim se firma em Deus.”5

2. Diante da perseguição
“Todos odiarão vocês por Minha causa, mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 10:22, NVI). “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). Essas descrições se referem em particular ao tempo do fim, quando Satanás investirá intensamente contra os filhos de Deus. “Nem todos, porém, serão enganados pelas sutilezas do inimigo. Ao se aproximar o fim de todas as coisas terrestres, haverá pessoas fiéis capazes de discernir os sinais dos tempos. Enquanto grande número de professos cristãos negará a fé por suas obras, haverá um remanescente que perseverará até o fim.”6

3. Diante do crescimento espiritual
O clássico O Peregrino, de João Bunyan, ilustra em diversos trechos as dificuldades que surgem no percurso para o Céu. Uma das passagens do livro apresenta um indivíduo que resolveu acompanhar Cristão (nome do personagem principal) em sua caminhada para a cidade celestial. Tudo ia bem até que, na primeira dificuldade, Vacilante (nome desse outro personagem) desistiu e voltou para seu lugar de origem.7 A Bíblia reprova o medo do fracasso e nos anima a prosseguir, apesar dos contratempos: “Bem-aventurado o que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida” (Tg 1:12). 

“A obra de transformação da impiedade para a santidade é contínua. Dia a dia Deus atua para a santificação do ser humano, e este deve cooperar com Ele, desenvolvendo perseverantes esforços para o cultivo de hábitos corretos. [...] Há os que buscam transpor a escada do progresso cristão; mas, enquanto avançam, começam a pôr a confiança na capacidade humana [...] O resultado é fracasso e perda de tudo o que foi alcançado.”8

4. Diante da tentação
A Bíblia diz que Jesus não nos desampara na hora da tentação. “Quando [Jesus] encontrava pessoas empenhadas numa luta intensa com o adversário da humanidade, Ele as animava a perseverar, assegurando-lhes que haveriam de triunfar, pois anjos de Deus se achavam a seu lado e lhes dariam a vitória.”9 Qual é a melhor atitude diante da tentação? “Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12:1, 2).

5. Diante do serviço missionário
“Desanimamos muito facilmente com os que não correspondem aos nossos esforços. Nunca devemos deixar de trabalhar por uma pessoa enquanto houver um raio de esperança.”10 Precisamos servir com prazer, “sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da Sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria” (Cl 1:11). Precisamos orar também em favor dos outros (oração intercessora), “Com toda oração e súplica, orando em todo o tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:18). 

6. Diante da enfermidade
Sem desconsiderar a importância de recorrermos periodicamente à medicina convencional para obter a cura ou a prevenção para eventuais doenças, não devemos ignorar os recursos naturais providos por Deus e dos quais dispomos. 

“Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino – eis os verdadeiros remédios. Toda pessoa deve conhecer os meios terapêuticos naturais e a maneira de aplicá-los. [...] O processo da natureza para curar e construir é gradual. Isso parece vagaroso ao impaciente. Demanda sacrifício e abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se verificará que a natureza, não sendo dificultada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles que perseveram na obediência às suas leis ganharão em saúde do corpo e da mente.”11 

“Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que Ele prometeu” (Hb 10:36).

Como perseverar
1. Com propósito: Poucas pessoas terminam bem seus projetos. Muitas começam com ótima atitude, mas logo ficam exaustas, desencorajadas, porque, na maioria das vezes, agem sem planejamento. Antes de praticar a perseverança, precisamos estabelecer metas bem definidas e nos conscientizarmos de que haverá obstáculos difíceis de transpor em algumas etapas entre o “começo” e o “fim”. Caso contrário, todo esforço poderá ser improducente. 

2. Com Cristo: Ele é quem dá significado à vida, encoraja nossos passos, clareia a mente e aquece o coração. Com Ele, obtemos força para testemunhar na hora da provação ou do confronto com o mal. Cristo nos anima a prosseguir e nos capacita por meio do Espírito Santo, a fonte para a aquisição de bons hábitos. 

3. Com oração. “Perseverai na oração, vigiando com ações de graças” (Cl 4:2). Podemos aprender muito com o profeta Elias. No monte Carmelo, quando ele pediu chuva, não choveu de imediato. Porém, ele perseverou em oração. Seis vezes orou fervorosamente sem nenhum indício de que seria atendido, mas não desistiu até que, finalmente, obteve a resposta. Depois de ter comentado 1 Reis 18:42-45, Ellen G. White escreveu: “Deus não nos ouve sempre as orações da primeira vez que a Ele clamamos, pois, se assim fizesse, julgaríamos ter direito a todas as bênçãos e favores que nos concede” (Filhos e Filhas de Deus, MM 1956, p. 206). 

4. Com desprendimento: Salomão proferiu um precioso conselho para as pessoas que deixam de lado seus deveres: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, [...] prepara o seu pão, [...] ajunta o seu mantimento” (Pv 6:6-8). As formigas podem carregar apenas um pequenino grão de cada vez, mas com esforço e perseverança realizam maravilhas!

Paulo Roberto Pinheiro (via Revista Adventista)

Referências 
1. SDA Bible Commentary, v. 7, p. 819. 
2. Ibid., p. 734. 
3. Ibid., p. 467. 
4. Donald Guthrie, Hebreus, Introdução e Comentário (Editora Mundo Cristão, 1984), p. 209. 
5. Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 99. 
6. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 535, 536. 
7. João Bunyan, O Peregrino (São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1985), p. 28, 29. 
8. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 532, 533. 
9. Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 26. 
10. Ibid., p. 168. 
11. Ibid., p. 127.

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