Há uma crença boba de que o pecado está nas nossas ações. Cristo mesmo disse que vai muito além disso: está nas intenções. Então alguém pode pensar que basta ter sempre boas intenções. Porém, Tiago deixa bem claro que não agir também é pecado. Apenas ter boas intenções nada faz: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tiago 4:17).
Sendo assim, a vida no Reino de Deus é muito mais do que um comportamento aparente ou uma intenção vazia. Ali a boa intenção encontra os bons atos. O Novo Testamento tem até um termo técnico para isso: “boas obras”.
Não é possível que um filho de Deus, seguidor de Cristo, passe por essa vida de maneira passiva e confortável, porque não haverá conforto definitivo por aqui enquanto tivermos irmãos em sofrimento. Mas a atitude ativa de um discípulo de Cristo pela vida e pelo mundo o coloca em uma constante busca por interferência. “Abre a tua boca a favor do mudo, pela causa de todos que são designados à destruição. Abre a tua boca; julga retamente; e faze justiça aos pobres e aos necessitados” (Provérbios 31:8-9).
Nosso chamado é o de interferência naquilo que é mau e que lança sofrimento sobre nossos irmãos. No entanto, se o cristão estiver presente fazendo sua parte, o orgulho nem encontrará motivos para se manifestar, já que somos chamados para lutar pela dignidade do outro. “Ninguém cuide dos seus próprios interesses, mas sim o dos outros” (1 Coríntios 10:24).
Nesse sentido, nosso chamado não é para sentar em bancos, mas para interferir positivamente, ser o braço amoroso de Yahweh. A face ativa do egoísmo é a ganância, tomando tudo para si, conquistando e vencendo em causa própria. Se “o egoísmo é a essência da depravação” (Conselhos sobre Mordomia, p. 15), o seu braço estendido, sua face prática, comportamental e ativa é a ganância. Por isso, “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Timóteo 6:10), porque é da mesma essência que estamos falando, o desejo egoísta posto em prática.
O amor ao dinheiro é a manifestação mais óbvia, gritante, presente, histórica do nosso egoísmo em ação. É a ganância materializada. Diante da acachapante realidade de maldades deste mundo, podemos nos sentir impotentes. E por isso nos acomodarmos na inação. Chega a ser confortável deixar que outro haja em nosso lugar, esperar que Deus interfira de maneiras miraculosas, limitar-se a orações rasas ou mesmo apenas ir à igreja enquanto esperamos que Jesus volte. Essas são todas situações de conforto. A apatia é confortável. O conformismo é conveniente.
Alguns acreditam que o contrário da ganância é apatia. Se lutar pelo dinheiro parece mau, melhor aceitar a pobreza. No entanto, não é a apatia o contrário da ganância. A apatia é a face passiva do egoísmo, o outro lado de uma mesma moeda. Na face ativa do egoísmo encontramos poder. Na face passiva encontramos conforto. A essência é a mesma. A face contrária ao egoísmo é a entrega.
Fomos chamados para imitar a Cristo, que venceu doando, entregando tudo. Só assim confrontamos quem somos e desentortamos nossa natureza caída. É dando e entregando que somos ativamente o braço do Senhor. É agindo em favor do outro que somos a nota destoante do mundo caído. É gastando-se ativamente em boas obras que imitamos aquele que deu Sua vida em nosso favor.
Porém, só somos capazes de entregar o que temos. Então, que você tenha Cristo, que sempre O busque ativamente para que Sua presença, Seu caminho e Sua instrução estejam sempre contigo. Não há passividade, há busca! Então, que você tenha recursos, não para si mesmo, mas para que suas mãos os distribuam.
É melhor que o recurso esteja com um ímpio ou com um mordomo do Senhor? Apenas não se iluda achando que a solução do evangelho está na riqueza. Não está. Deus só lhe dará recursos se for para entregar a outros, se você for um canal de justiça. O amor ao dinheiro – e empregá-lo para benefício próprio – é dor e dano (1 Timóteo 6:10). Por fim, que você tenha vida para entregá-la ao seu irmão que clama em necessidade, que clama por justiça.
Se o mal é ativo nesse mundo, que os súditos do Rei sejam mais ainda!
Diego Barreto (O Reino)
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