segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Tempos de covardia emocional

A gente tem medo, a gente vive com medo, mas viver assim nem viver é. A gente se sabota, a gente sabota o tempo todo. Porque ficar temendo o que é ruim acaba nos levando a ter medo também do que é bom. E, então, nada nos chega: nem as dores, nem os deleites.

Muitos de nós nos acovardamos e não nos permitimos sentir. Não queremos sofrer e fugimos a qualquer sentimento que possa não dar certo e virar dor. Muitos não querem amar, para não chorar o fim do relacionamento. Muitos não querem aprofundar amizades, para não sofrer decepções. Muitos não querem ter filhos, para não se decepcionar com a ingratidão. Muitos não se abrem, por não confiar em ninguém. Enquanto isso, a vida vai passando lá longe.

Não poucos preferem viver anestesiados, entorpecidos, para não terem que enfrentar a si mesmos. Para não encararem a colheita do que se fez ou se deixou de fazer, do que se disse, do que construiu ou destruiu. Para não terem que lidar com o que deu errado. Foge-se da dor, a todo e a qualquer custo, não importando nada, nem ninguém, além de si mesmo.

Há quem corra contra o tempo, exercitando-se por horas, alimentando-se disciplinadamente, longe de qualquer deslize com a saúde, com a pele, com os cabelos. Cuidar-se é saudável, mas existem indivíduos que exageram, plastificando-se excessivamente por fora e por dentro. Para alguns, é impossível encarar os pesos dos anos nas marcas do corpo. Botox e bisturi são aliados frequentes nessa ânsia pelas esperanças perdidas que o tempo leva, quer se queira ou não.

Há, por aí, uma porção de mimados, os quais colocam o ego acima de tudo, querendo os seus desejos atendidos a todo e a qualquer custo. Querem que seu ponto de vista seja aceito, que suas ideias sejam aplaudidas, que sua comida esteja pronta agora. Exigem que a sua música toque, que suas verdades sejam absolutas, que seu amor seja correspondido. Sentem-se unanimidades.

Que se danem os outros, ninguém tampouco os enxerga. Ninguém tampouco se enxerga. Não há espaço para frustração, para contrariedade, para ouvir não, para ser rejeitado. E é por aí que tudo desanda. É por aí que muita gente se acovarda frente ao afeto, ao sentir, ao amor de verdade. Por medo de sofrer, pouco se vive, quase nada se sente. Difícil quem aperta as mãos do outro com força, quem abraça com imensidão, quem se entrega com tudo.

É preciso ter coragem. Com urgência, para ontem, é preciso entregar-se, doar-se, pois é assim que se compartilha, que se conhece, que se vive. Haverá, sim, dor e lágrima, mas cada sorriso sincero que se guardar no coração compensará tudo o que não deu certo. Porque, então, o que tiver ficado será para sempre. E será para sempre. Para sempre.

Marcel Camargo (via Conti Outra)

Nota: Vejam estas importantes orientações de Ellen G. White: 

"São os obstáculos que tornam o homem forte. Não são as facilidades, mas as dificuldades, conflitos, reveses que formam homens de fibra moral. A excessiva facilidade de evitar as responsabilidades tem feito criaturas fracas e anões dos que deveriam ser homens responsáveis, de força moral e músculos espirituais fortes." (Testemonies 3, p. 495)

"Depois da disciplina do lar e da escola, todos terão de enfrentar a severa disciplina da vida. Como enfrentá-la sabiamente é a lição que se deve explicar a toda criança e jovem. É verdade que Deus nos ama, que Ele está trabalhando para nossa felicidade, e que, se Sua lei tivesse sempre sido obedecida, jamais teríamos conhecido o sofrimento; não menos verdade é que neste mundo, como resultado do pecado, sobrevêm a nossa vida sofrimentos, perturbações e cuidados. Podemos proporcionar às crianças e jovens um bem para toda a vida, ensinando-os a enfrentar corajosamente essas dificuldades e encargos. Conquanto lhes manifestemos simpatia, que isso nunca seja de maneira a alimentar-lhes a compaixão de si mesmos. Eles necessitam daquilo que estimule e fortaleça, em vez de enfraquecer." (Orientações da Criança, p. 157)

"Nesta época rebelde, os filhos que não receberam a devida instrução e disciplina, têm bem pouca compreensão de sua obrigação para com os pais. Dá-se muitas vezes que, quanto mais os pais fazem por eles, tanto mais ingratos são, e menos os respeitam. As crianças que foram mimadas e servidas, esperam sempre isto; e caso sua expectativa não se realize, ficam decepcionadas e perdem o ânimo. Essa mesma disposição se manifestará através de toda a sua vida; serão impotentes, dependendo do auxílio de outros, esperando que outros os favoreçam, e lhes façam concessões. E caso encontrem oposição, mesmo depois de atingirem a idade adulta, julgam-se maltratados; e assim atravessam penosamente o caminho pelo mundo, mal sendo capazes de levar as próprias cargas, murmurando e irritando-se frequentemente porque tudo não vai à medida de seus desejos." (O Lar Adventista, p. 293)

Um comentário:

  1. Comento com algumas palavras de Ellen White do livro Caminho da Esperança " Não devemos demorar-nos sobre as nossas próprias faltas e fraquezas... não devemos fazer do eu o centro e condescender com a ansiedade e o temor... Tudo isto desvia a alma da Fonte da nossa força. Entrega a guarda da tua alma a Deus, e confia n'Ele. Fala e pensa em Jesus. Deixa o eu perder-se n'Ele. Afasta toda a dúvida; desvia os teus temores... Descansa em Deus, Ele é apto para guardar aquilo que Lhe confiaste. Se te abandonares nas Suas mãos, Ele te levará a seres mais do que vencedor por Aquele que te amou."

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