terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Velhas promessas de ano-novo

Qual é sua lista de resoluções para 2020? Uma rápida passada pelo Google, um bate-papo casual com amigos ou a leitura dos principais jornais lhe darão boas sugestões. É verdade que você não pode esperar muita originalidade dessas fontes; afinal, parece que a maioria de nós deseja as mesmas coisas: emagrecer, gastar mais tempo com a família, praticar exercícios físicos, abandonar um vício, controlar as finanças, viajar e estudar.

Os cristãos costumam acrescentar a essa lista o desenvolvimento das disciplinas espirituais, como leitura da Bíblia, oração e o culto familiar. Porém, se você quer ter sucesso nas metas para o ano novo é preciso prestar atenção a uma lição simples e eficaz da natureza: bons frutos são o resultado de raízes saudáveis.

Isso é tão verdade que as resoluções tomadas sob o encanto dos fogos de artifício costumam durar pouco tempo. Segundo o psicólogo Richard Wiseman, em seu livro Quirkology: How We Discover the Big Truths in Small Things (Basic Books, 2007), uma pesquisa realizada na Inglaterra mostrou que apenas 10% dos entrevistados tiveram êxito com suas promessas de ano-novo.

Existem muitas razões para isso. Uma delas pode ser nossa crença infantil na cantiga “adeus ano velho, feliz ano-novo!” Não me entenda mal, eu também me encanto com as celebrações de fim de ano. Porém, à parte da festa, esse “mantra” comunica um conceito equivocado: que o velho seja ruim, incompleto e descartável, enquanto o novo é desejável. É como se o “novo” mudasse tudo simplesmente por ser novo. Será? Na realidade, ano-novo significa a continuidade da vida, da velha vida. Para que isso seja diferente, é preciso haver mudança no nível das raízes. Só então poderemos experimentar vida renovada. Sorte, acaso ou destino têm pouco ou nada que ver com sucesso ou fracasso no ano-novo.

Voltando à questão das raízes, o livro bíblico dos Salmos, que tem servido de guia espiritual para milhões de pessoas há milhares de anos, não sem razão traz em sua primeira poesia esse ensino da natureza. Segundo o texto bíblico, a pessoa espiritualmente renovada é “como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!” (Sl 1:3). Em outras palavras, as metas e resoluções dessa pessoa terão êxito. A verdade é que na espiritualidade, podemos até simular a aparência de fruta, mas apenas uma árvore com raízes saudáveis pode produzir frutas saudáveis.

Resoluções de ano-novo são importantes. Porém, mais importante é realizar e colher os resultados positivos das metas estabelecidas. Para isso, é preciso concentrar forças no que realmente produzirá os resultados que desejamos. Nessa direção, sugiro que você tome uma lista bíblica, que contempla valores relacionados ao nível das raízes da espiritualidade. Os leitores da Bíblia conhecem essa lista como “os frutos do Espírito”: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5:22, 23).

Uma paráfrase do texto bíblico parece tornar mais claro como essas virtudes poderiam compor uma boa lista de resoluções de ano-novo:

“Vamos falar da vida com Deus. O que acontece quando vivemos no caminho com Deus? Deus faz surgir dons em nós, como frutas que nascem num pomar: afeição pelos outros, uma vida cheia de exuberância, serenidade, disposição de comemorar a vida, um senso de compaixão no íntimo e a convicção de que há algo de sagrado em toda a criação e nas pessoas. Nós nos entregamos de coração a compromissos que importam, sem precisar forçar a barra, e nos tornamos capazes de organizar e direcionar sabiamente nossas habilidades” (A Mensagem).

Vejo nessa lista de valores bíblicos as “raízes” para os desejos mais comuns de ano-novo (veja o quadro abaixo). Por isso, creio que precisamos nos concentrar em desenvolver raízes saudáveis, a fim de que os frutos desejados venham naturalmente. Essa renovação espiritual começa no comprometimento sem reservas com Deus, se reflete na presença diária do Espírito na vida e resulta no desenvolvimento de um caráter semelhante ao de Jesus.

Quem deseja colher melhores frutos em 2020 precisa se concentrar primeiramente nas raízes e o restante será consequência. Se a mudança não ocorrer nesse nível, o ano velho continuará conosco e o ano-novo não começará no dia 1º de janeiro.

Feliz ano novo!

Paulo Cândido (via Revista Adventista)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Dieta para sua saúde emocional 2020

As doenças de origem emocional têm se tornado epidêmicas. Isso se deve às condições inerentes às pessoas e também ao ambiente degradado e relações interpessoais complicadas que caracterizam os tempos em que vivemos. Os fatores agressivos ou estressantes são cada vez mais poderosos, cobrando de nós uma importante capacidade e energia para compreender, avaliar e gerenciar as exigências ou dificuldades, antes que se transformem em problemas, preocupações, angústia, medo ou violenta depressão.

E o que fazer se algum desses sintomas ou doenças emocionais já faz parte de sua vida? Além de tudo o que a medicina, a psicologia e a psiquiatria podem realizar, estão o poder de Deus e o Seu desejo de que sejamos felizes. Ele não somente tem dado conhecimento a muitos profissionais da saúde como, de forma especial, tem instruções importantes para nós, as Suas criaturas.

Para você que quer começar 2020 fazendo uma "dieta" para sua saúde emocional, siga abaixo algumas dicas que o ajudarão a eliminar seu sobrepeso emocional, fazendo você se sentir mais ágil – psicológica e socialmente – para correr alegremente a grande carreira de sua vida. Caso não consiga, procure um profissional, pois pode tratar-se de um transtorno que necessitará tratamento especializado.

• Reduza seus desejos de bens materiais
Se não está agradecido e alegre com o que tem, se sentirá descontente, ainda que tenha dinheiro em abundância, pois quanto mais tiver, mais desejará ter. Desse modo, à medida que aumentarem os bens, poderá aumentar também as preocupações. Assim ensinou Cristo: “Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6:21).

• Reduza suas exigências
Não seja perfeccionista, nem espere encontrar perfeição nos demais. Com isso, evitará muitas dores de cabeça. Suas exigências excessivas podem indicar que padece da enfermidade de querer dominar os demais. Pratique a delicada arte de esquecer e perdoar, inclusive a si mesmo.

Reduza suas fantasias
Saia de seu mundo ilusório. Tenha alvos e aspirações realistas e evitará fracassos e desilusões. A verdadeira felicidade tem uma base sólida. Fixe alvos de acordo com seus talentos e possibilidades, e trabalhe para tornar realidade seus sonhos.

Reduza suas dívidas
Afaste-se do perigo das dívidas: perigo financeiro, mental e emocional. Você conhece alguém que deve e é feliz? Reduza suas dívidas e aumentará seu senso de segurança.

Reduza sua dependência do que é externo
Muitos se sentem aborrecidos porque dependem demasiado do celular, do computador, da televisão... Se desejar ser mais feliz, viva cada dia dentro do programa de Deus. Utilize mais as mãos e a cabeça. Utilize seus talentos e habilidades.

Reduza suas diferenças
Não brigue por causa da moda ou costume dos demais. Todos – inclusive você – têm diferentes valores e atuam em níveis distintos. Mas todos desejam auto-realização. E lembre-se: nos assuntos realmente importantes há pouca ou nenhuma diferença entre as pessoas. Frente a uma catástrofe, quão pouco valem as chamadas “coisas de valor”!

Reduza suas antipatias
Elas representam uma liberação emocional equivocada. Suas antipatias fazem com que certas pessoas ou coisas reflitam seus temores, inveja ou incompreensão. Enriqueça a vida emocional com grandes doses de amor, paciência, tolerância e compreensão, e desfrutará felicidade.

Reduza seu desgaste nervoso
Milhares estão morrendo de fome. Milhões não conseguem trabalho. Prevalecem a discriminação, a injustiça, e outros males. Mas não deixe que as condições negativas do mundo o deprimam e desgastem sua energia emocional. Jamais permita que os males políticos e sociais o perturbem.

Reduza suas dúvidas
Quer viver infeliz? Duvide de todos e de tudo, e até de você mesmo. As dúvidas e suspeitas poderão fazer de você um verdadeiro paranoico. Se duvida de sua capacidade para encontrar trabalho e mantê-lo, ou se terá êxito em seus negócios ou estudos, está se preparando para o próprio fracasso!

Nota: Inspirada por Deus, Ellen G. White defendeu conceitos revolucionários para a época em que viveu, relacionando fatores e propondo soluções que hoje são endossados pela ciência mais avançada. Este material está disponível no excelente livro Como lidar com as Emoções de sua autoria.

"Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte. O ânimo, a esperança, a fé, a simpatia e o amor promovem a saúde e prolongam a vida." (A Ciência do Bom Viver, p. 241)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Comemorando o Ano Novo como cristão!

Estamos chegando ao último dia do ano de 2019! Gostaria de deixar com vocês alguns textos para reflexão sobre esse dia e sobre como nós, cristãos, devemos comemorá-lo.

Testemunho
O cristianismo está fundamentado sobre a lei do Amor! Deus é amor, Jesus veio à esse mundo viver e nos ensinar a viver o amor, e o maior de todos os dons do Espírito Santo é o amor. A regra básica de nossa vida é "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos". E não podemos esquecer desse fundamento em meio às nossas comemorações! Uma ocasião especial, como a passagem de ano, é uma boa oportunidade para testemunhar de Deus e de Seu amor. Nós podemos tirar alguns momentos do último (ou do primeiro) dia do ano para visitar pessoas que estão em um hospital, orfanato, asilo. Podemos dar alimento e roupas a quem não tem, e proporcionar a essas pessoas um dia especial também!

“As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar." (O Lar Adventista, p. 482) 

"Mas temos o privilégio de afastar-nos dos costumes e práticas desta época degenerada; e em vez de gastar meios meramente na satisfação do apetite, ou com ornamentos desnecessários ou artigos de vestuário, podemos tornar as festividades vindouras uma ocasião para honrar e glorificar a Deus." (Review and Herald, 11 de dezembro de 1879) 

Promessas
Quando se fala em Ano Novo, tem gente que faz promessas de que entrará na academia, fará dieta, voltará a estudar, realizará algum projeto; coisas relacionadas à saúde, profissão, relacionamentos... Por que não elaborarmos um projeto social para o próximo ano ou alguma ação que permita às pessoas sentirem um pouquinho do amor de Deus através de nós? Não é tão difícil! 

“Ao entrares em um novo ano, faze-o com nova resolução de seguir direção progressiva e ascendente. Seja tua vida mais elevada do que tem sido até aqui. Faze que o teu objetivo não seja buscar o próprio interesse e prazer, mas promover o avançamento da causa de teu Redentor... Podes ser forte para exercer influência santificadora sobre outros. Podes estar em atitude em que o interesse de tua alma se desperte para fazer bem a outros, para consolar os aflitos, fortalecer os fracos, e dar teu testemunho em favor de Cristo sempre que se ofereça oportunidade. Visa honrar a Deus em tudo, sempre e em toda parte. Põe em tudo tua religião. Sê cabal em tudo quanto empreenderes.” (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 239) 

"Procurai começar este ano com justos desígnios e motivos puros, como seres responsáveis perante Deus." (Nossa Alta Vocação, p. 16) 

Superstições e simpatias
Nessa época do ano, somos bombardeados, através dos meios de comunicação, pelas inúmeras superstições e simpatias para o Réveillon. Tem gente que pula sete ondas, alguns não comem animais que cisquem ou andem para trás, acreditam em comidas que podem dar sorte (como a lentilha, romã, nozes, avelã e outras), outros acreditam que passar o Réveillon com o bolso vazio pode dar azar. Enfim… são muitas as crenças e práticas presentes nas festas de final de ano do mundo inteiro. O mundo se engana com inúmeras crenças criadas por homens. Quer conquistar riqueza, paz, amor para um novo ano usando peças de roupas de uma determinada cor, quando deveria simplesmente se ajoelhar e entregar sua vida e o ano que está chegando nas mãos de Deus!

Como adventistas do sétimo dia, devemos estar atentos às influências de falsas crenças e tradições supersticiosas sobre nossa vida. É ingênuo pensar que não podemos ser influenciados, que estamos imunes. Pense, por exemplo, no horário em que você comemora a chegada do Ano Novo. Você costuma comemorar à meia noite ou ao pôr-do-sol? Às vezes, o jovem pode brincar fazendo algumas das simpatias, por pura diversão, mas não devemos brincar com o que não procede de Deus! Como muitos dos que estão no mundo, existem adventistas, hoje, que acreditam e praticam simpatias no Réveillon e em outras ocasiões! Acordemos!! Deus espera que sejamos luz! 

“Deus fará dos jovens de hoje escolhidos depositários do Céu, a fim de que apresentem ao povo a verdade, em contraste com o erro e a superstição, se eles se entregarem a Ele.” (Evangelismo, p. 24) 

Quando se é cristão, é preciso agir como cristão até mesmo na comemoração de Ano Novo. Que possamos em 2020 entregar nossas vidas e nossos dias nas mãos do Senhor, e praticar um pouco mais do amor que Ele nos ensinou! Que Deus nos dê um Ano Novo abençoado! 

"Entremos no novo ano com o coração purificado da contaminação do egoísmo e do orgulho. Afastemos de nós toda condescendência pecaminosa, e busquemos tornar-nos fiéis, diligentes discípulos na escola de Cristo. Um novo ano descerra suas alvas páginas aos nossos olhos. Que escreveremos nós aí?" (Nossa Alta Vocação, p. 16)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

A voz da consciência

A palavra consciência não aparece no Velho Testamento, mas seu conceito é evidente em todo ele. Quando Adão e Eva pecaram esconderam-se da “presença do Senhor Deus” (Gênesis 3:8). Sua consciência trabalhou. Quando Davi fez o recenseamento de Israel contra o conselho de Deus, “o coração doeu a Davi” (2 Samuel 24:10), isto é, sua consciência atuou. O Novo Testamento usa o termo consciência 31 vezes. Paulo enfatizava a necessidade de se manter a consciência limpa diante de Deus e procurava pessoalmente “ter uma consciência sem ofensa tanto para com Deus como para com os homens” (Atos 24:16).

Ellen White define consciência como “a voz de Deus ouvida em meio ao conflito das paixões humanas. Quando resistida, o Espírito de Deus é entristecido”.1 Ela aconselha: “O Senhor requer que obedeçamos a voz do dever... e ouçamos a voz da consciência sem negociação ou compromisso, para que seus apelos não cessem.”2

Exemplos de consciência ativa
A Bíblia e a história são plenas em exemplos de homens e mulheres que obedeceram ou desafiaram a própria consciência. “Como pois faria eu este grande mal e pecaria contra Deus?”, disse José ao resistir às investidas sedutoras da mulher de Potifar (Gênesis 39:9). Todas as iguarias da mesa do rei não puderam induzir Daniel a ir contra sua decisão. Por outro lado, uma consciência traída repetidamente e embotada por comprometimentos e ineptidão moral levou Herodes a uma condição onde “suas percepções morais se tinham rebaixado mais e mais em razão de sua vida licenciosa”.3

João Huss estava pronto a morrer antes que violar sua consciência. “A que erros”, disse ele, “renunciarei eu? Não me julgo culpado de nenhum. Invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei foi feito com o fim de livrar almas do pecado e perdição; e, portanto, muito alegremente confirmarei com meu sangue a verdade que escrevi e preguei”.4

Martinho Lutero demonstrou a força da consciência na Dieta de Worms. As autoridades, com todo o seu poder e pompa, formularam uma simples pergunta a Lutero: “Retratar-te-ás ou não?” A resposta do reformador foi um apelo à Palavra de Deus e à sua própria consciência: “A menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém.”5

A assembléia toda ficou em suspense por um momento. Não podiam crer que uma pessoa estivesse disposta a arriscar sua vida para enfrentar os poderosos da igreja e do estado. Mais tarde, muitos líderes vieram ver Lutero em sua câmara. “Muitos havia que não faziam qualquer tentativa de ocultar sua simpatia por Lutero. Ele era visitado por príncipes, condes, barões e outras pessoas de distinção, tanto leigas como eclesiásticas... Mesmo os que não tinham fé em suas doutrinas, não podiam deixar de admirar aquela altiva integridade que o levou a afrontar a morte de preferência a violar a consciência.”6

Os Pais Peregrinos não vieram dar às costas da América buscando riqueza ou fama. “Foi o desejo de liberdade de consciência que inspirou os peregrinos a suportar as agruras e riscos das selvas e lançar, com a bênção de Deus, nas praias da América, o fundamento de uma poderosa nação.”7

Mais recentemente, Martin Luther King Jr. tornou-se o guardião da consciência de nossos tempos, ao sustentar o princípio bíblico da dignidade humana e realizar o sonho abrigado pela constituição dos Estados Unidos, de que todas as pessoas foram criadas iguais. Por que Martin Luther King Jr. será lembrado? Pelas marchas que dirigiu para garantir os direitos civis dos oprimidos? Pela linguagem de não-violência que utilizava para com aqueles que violavam os direitos civis de seu povo? Por sua famosa marcha sobre Washington e o discurso famoso: “Eu tenho um sonho”? Pelo Prêmio Nobel que ganhou? Todos esses são acontecimentos notáveis, mas em minha opinião, Martin Luther King Jr. foi um grande homem porque sua consciência foi despertada e temperada pela devoção às Escrituras. No dia anterior de sua morte, ele disse em Memphis, Tennessee:

“Bem, não sei o que vai acontecer a seguir. Temos alguns dias difíceis pela frente. Mas isso não me importa agora. Porque subi ao alto da montanha e não me preocupo. Como qualquer um, eu gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem seu lugar. Porém, não estou inquieto por isso. Somente quero fazer a vontade de Deus. Ele me permitiu subir a montanha e eu contemplei a terra prometida. Posso não chegar lá com vocês, mas quero que saibam, hoje à noite, que nós, como um povo, chegaremos à terra prometida. Sinto-me feliz. Nada me aflige; não temo homem algum. Meus olhos viram a glória do Senhor vindouro.”8

Com aquela glória ainda brilhando em sua face, ele morreu no dia seguinte. King foi leal à sua consciência.

A maior necessidade do mundo
“A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.”9

Quando chegamos ao ponto de termos de escolher entre o dever e a inclinação, é fácil racionalizar e tentar minimizar os perigos da violação da consciência. Permitam-me ser claro. Soam familiares a você quaisquer desses processos mentais?

“Sei que não devia estar vendo isso, mas sou adulto e nada vai me prejudicar. Posso suportar bem palavreado sujo, nudez e violência. Estou na privacidade de meu lar.”

“Sei que deveria devolver o dízimo, mas não posso fazê-lo. Estou endividado. A igreja usa mal o dinheiro. Ela se apostatou. Estou fazendo aquilo que acho melhor.”

“Sei que não devia estar comendo ou bebendo como o faço, mas um pouquinho só não vai me fazer mal. Deus sabe que meu coração está em ordem. É difícil comer e beber de acordo com os princípios quando a gente está viajando.”

Se adoto o processo de racionalização, estou realmente procurando aquietar minha consciência e argumentando com o Espírito Santo.

Adiando a decisão
Ouço alguns adventistas dizer: “É prematuro ficar agitado por causa da segunda vinda de Cristo agora. Estamos muito longe desse acontecimento. Quando virmos a lei dominical chegar, creremos que estamos realmente no fim e então buscaremos estar em dia com Deus.” Será?

A história claramente indica que a situação não é bem assim. Lembre-se da geração de Noé. “Seu tempo de graça estava prestes a expirar. O venerando patriarca tinha fielmente seguido as instruções que recebera de Deus. A arca estava concluída em todas as suas partes, conforme o Senhor determinara, e provida de alimento para o homem e os animais. E agora o servo de Deus fez seu último e solene apelo ao povo. Com angustiosa solicitude que palavras não podem exprimir, rogou que buscassem refúgio enquanto ainda se poderia achar. De novo rejeitaram suas palavras e levantaram a voz em zombaria e escárnio. Subitamente veio silêncio sobre a turba zombeteira. Animais de toda a espécie, os mais ferozes bem como os mais mansos, foram vistos vindo das montanhas e florestas e se encaminhando quietamente para a arca. Ouviu-se o rumor de um vento impetuoso e eis que aves estavam a ajuntar-se de todos os lados, escurecendo-se o céu pela sua quantidade, e em perfeita ordem passaram para a arca. Os animais obedeciam o mandado de Deus, enquanto os homens eram desobedientes... Mas os homens se haviam tornado tão endurecidos pela sua persistente rejeição da luz, que mesmo esta cena não produziu senão uma impressão momentânea.”10

A despeito desse milagre impressionante, ninguém mudou de ideia e aceitou o convite de Noé. A rejeição persistente do apelo do Espírito de Deus os deixara incapacitados de mudar.

Enfrentamos um perigo semelhante. O momento de fazer o que é direito é agora! A voz de Deus falando à nossa consciência não deve ser silenciada, mas obedecida.

G. Edward Reid (via Diálogo Universitário)

Notas e referências:
1. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View, Califórnia: Pacific Press Publ. Assn., 1948), vol. 5, p. 120.
2. Idem, p. 69.
3. White, O Desejado de Todas as Nações (Santo André, SP; Casa Publicadora Brasileira, 1979), p. 700.
4. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), p. 109.
5. Idem, p. 160.
6. Idem, p. 165.
7. Idem, p. 292.
8. A Testament of Hope: The Essential Writings of Martin Luther King Jr., publicado por James M. Washington.
9. White, Educação (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1977), p. 57.
10. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995), pp. 97, 98.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Se você não quer cair no buraco, fique longe da beira

Na Revista Seleções, Jim Grant conta a história de um homem de negócios com excesso de peso que decidiu que estava na hora de perder uns bons quilos. Levava a sério sua dieta, chegando mesmo a mudar de rota para evitar a doceria favorita. 

Certa manhã, entretanto, ele apareceu no trabalho com um bolo gigante de chocolate. Os colegas de escritório começaram a zombar dele, mas ele permanecia impassível com seu sorriso. “Este é um bolo especial”, disse. “Acidentalmente, tive que passar em frente à doceria nesta manhã e ali, na vitrine, havia grande quantidade de bolos. Senti que não era tão acidental assim, e orei: ‘Senhor, se é de Tua vontade que eu compre um destes bolos de chocolate, que haja um lugar para estacionar em frente da porta da doceria’. Depois de oito voltas na quadra, apareceu o lugar.”

A tentação vem. Não importa se é um pedaço de bolo, ou alguma coisa que você não deve ter, algo que você não deve fazer, ou um lugar aonde não deve ir. O aviso é: “Fique longe da zona de perigo.” Paulo diz: “Fujam da imoralidade.” (1Co 6:18). Quer dizer, corra na direção contrária. Se você tem problemas com bebida alcoólica, não passe em frente ao bar. Se gosta de dançar, não vá aonde possa escutar o som da “balada”. Em outras palavras, não fique nadando nem brincando ao redor da isca, muito menos olhando para ela.

Quão perto posso me aproximar do fogo e não me queimar? E se eu sair quando sentir cheiro de fumaça? A preocupação deve ser: Como posso ficar o mais longe possível do pecado?

O diabo pode dizer: “Tire uma folga espiritual neste fim de semana. Só hoje à noite. Só uma hora. Afinal, é só uma visita à zona proibida. Você é maduro e sabe que não vai ficar lá.”

Por ocasião do lançamento do filme A Paixão de Cristo, Mel Gibson esteve presente a uma grande concentração de pastores na cidade de Chicago. Perguntaram-lhe por que tinha colocado uma mulher com véu para representar o mal. “O mal toma a forma de beleza, é quase bonito... ele se disfarça e se mascara, mas se as antenas de vocês estiverem ligadas, vão identificá-lo.”

Pedro adverte: “Cuidado, há um gato predador pronto para saltar sobre a presa. Nada de cochilar!” Através do poder da graça de Deus, você experimentará vitória sobre a tentação. Ellen G. White no livro Mensagens aos Jovens, pp. 81-82, nos aconselha:

"Os que são participantes da natureza divina não cederão à tentação. 'Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar' (1Co 10:13). E nós temos também uma parte a fazer. Não nos devemos pôr, sem necessidade, no caminho da tentação. Deus diz: 'Saí do meio deles, e apartai-vos... e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas' (2Co 6:17 e 18). Se, associando-nos com pessoas do mundo em busca de prazeres, conformando-nos com as práticas mundanas, unindo os nossos interesses com incrédulos, colocamos os pés no caminho da tentação e do pecado, como poderemos esperar que Deus nos guarde de cair? Conservai-vos afastados da influência corruptora do mundo. Não vades, sem necessidade, a lugares onde as forças do inimigo se acham entrincheiradas fortemente. Não vades para onde sabeis que sereis tentados e desviados."

Portanto, fuja das tentações para o Senhor. Não pense… corra! Não ande pelo penhasco para ver o quão perto você consegue chegar à beira dele. Apresse-se para afastar-se dele! Você não está apenas “fugindo”; está se protegendo.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Os excluídos do Natal

Que paradoxo! Cristo veio trazer a Paz, e o povo escolheu esse “frenesi” caótico do TER, que se prolonga por todo o mês de dezembro, culminando com o rega-bofe do dia magno da cristandade. As boas novas de paz para os homens, nessa época, vem sendo substituída por um espetáculo consumista e hedonista, que por instantes, encantam os olhos e entorpecem os corações. Vejamos o que Ellen G. White nos diz sobre isto:

"Pelo mundo os feriados são passados em frivolidades e extravagância, glutonaria e ostentação. ... Milhares de dólares serão gastos de modo pior do que se fossem lançados fora, no próximo Natal e Ano Novo, em condescendências desnecessárias. Mas temos o privilégio de afastar-nos dos costumes e práticas desta época degenerada; e em vez de gastar meios meramente na satisfação do apetite, ou com ornamentos desnecessários ou artigos de vestuário, podemos tornar as festividades vindouras uma ocasião para honrar e glorificar a Deus." (Review and Herald, 11 de dezembro de 1879)

É nos dias que antecedem a esta festa, que a tranquilidade vai às favas. As ruas são transformadas em um caldeirão fervente de balbúrdia e correrias sem sentido. As nossas cidades, nessa época, não diferem muito da atual Belém da Judéia, cujas ruas e vielas ficam tomadas por um formigueiro de gente de todas as nacionalidades, que ali vai adorar, mais ao deus “Mamon” que ao Deus Cristão.

A epopeia do casal Maria e José ─ os excluídos da sociedade judaica que não tiveram direito a uma estalagem para abrigar o seu filho Jesus que estava prestes a nascer, hoje, são simbolizados por aqueles que nesse Natal estão longe das mesas repletas de guloseimas e vinhos; são representados por aqueles que estão bem distantes do burburinho da cidade engalanada e repleta de efêmeros atrativos. O drama dos pais de Jesus que não foram acolhidos pela sociedade daquela época, se repete diariamente na pele dos excluídos de nossa sociedade. Vejamos o que Ellen G. White nos convoca a fazer nesta época do ano:

“As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar." (Ellen G. White - O Lar Adventista, p. 482)

A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no ministério de Cristo, tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as mudanças que queremos ver no mundo.”

Um discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de outros. O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos. Como Cheryl Sanders o expressa:

“O reino preparado desde a fundação do mundo é um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para entrar nesse reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a partir da abundância que recebeu como legado de Deus. E o evangelho declara que a vida eterna é a recompensa daqueles que cuidam da vida. Aqueles que alimentam os famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse mandado bíblico é negar lealdade ao reino e ao Rei”. (Ministry at the Margins, p. 28)

A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?

“Mas não necessitamos de ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas ao pé do leito dos doentes, nas choças de pobreza, nos apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos nos Seus passos." (O Desejado de Todas as Nações, p. 616)

Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).

Concluo com estas importantes exortações de Ellen G. White para nós:

“O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e sensível.” (Beneficência Social, p. 168)

"A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado." (Beneficência Social, p. 188-190)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Por uma ceia de Natal sem animais

Com a aproximação do Natal, as pessoas em breve estarão trabalhando no planejamento de uma reunião de família e amigos, e decidindo que pratos servir no menu. Se você, como milhões de outros brasileiros, está considerando um peru ou outro animal como a peça central de sua ceia de Natal, por que não parar por um momento para pensar de onde estará vindo a refeição de sua família? Ao longo do artigo, teremos alguns importantes conselhos de Ellen G. White sobre esse assunto.

“Deus requeira supremo amor a Deus e amor imparcial ao próximo, o vasto alcance dos seus reclamos toca também às criaturas mudas que não podem expressar em palavras suas necessidades e sofrimentos. 'O jumento que é de teu irmão ou o seu boi não verás caídos no caminho e deles te esconderás; com ele os levantarás, sem falta' (Dt 22:4). Aquele que ama a Deus, não somente amará o seu semelhante, mas considerará com terna compaixão as criaturas que Deus fez. Quando o Espírito de Deus está no homem, leva-o a aliviar o sofrimento antes que a criá-lo.” (Beneficência Social, p. 48)

Em primeiro lugar, o Natal é uma festividade religiosa que celebra o nascimento de Cristo, porém também é um sofrimento sem fim para os perus e outras espécies de animais consumidos pelos humanos. Em se tratando de perus, 300 milhões deles são criados e mortos nos EUA por sua carne a cada ano, com 67 milhões sendo mortos durante a temporada de festas de fim de ano. Mesmo antes de sua morte, as condições em que os perus são criados são horríveis. Uma investigação secreta recente em Minnesota revelou 25 mil fêmeas trancadas em cinco galpões que os repórteres descreveram estar “imundos e em condições cruéis”. Infelizmente, ambientes como estes são muito comuns, uma vez que as leis em qualquer parte do mundo não proíbem a criação de aves para consumo humano em condições desumanas. Devido aos alojamentos apertados, as aves têm seus bicos queimados e arrancados sem anestesia para que não se firam ao brigar entre si por causa do estresse do confinamento, e muitas vezes sofrem lesões graves e infecções devido às condições miseráveis.

“Deus deu aos nossos primeiros pais o alimento que pretendia que a humanidade comesse. Era contrário ao Seu plano que se tirasse a vida a qualquer criatura. Não devia haver morte no Éden. Os frutos das árvores do jardim eram o alimento que as necessidades do homem requeriam. Deus não deu ao homem permissão para comer alimento animal, senão depois do dilúvio. Fora destruído tudo que pudesse servir para a subsistência do homem, e diante da necessidade deste, o Senhor deu a Noé permissão de comer dos animais limpos que ele levara consigo na arca. Mas o alimento animal não era o artigo de alimentação mais saudável para o homem.” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 373)

Em investigações secretas, grandes fazendas de criações de perus têm sido flagradas torturando aves. Os repórteres viram funcionários “chutando e pisando sobre os perus, arrastando-os por suas frágeis asas e pescoços, e maliciosamente arremessando-os”. Além de maus-tratos nas mãos dos funcionários, muitos dos pássaros sofriam de doenças não tratadas e lesões graves, incluindo feridas abertas, infecções e ossos quebrados. Segundo a reportagem, infelizmente, investigações em outras fazendas criadoras de perus em todo o território americano produziram resultados semelhantes. Se isso ocorre em um país de primeiro mundo como os EUA, pode-se imaginar o que acontece em países menos desenvolvidos. Apesar dos perus serem criados nessas condições imundas e torturantes, a maioria das pessoas não questiona exatamente de onde seus jantares estão vindo e o efeito que a escolha da refeição pode ter na sua saúde, para os próprios animais e para o meio ambiente. 

“Os animais são muitas vezes transportados a longas distâncias e sujeitos a grandes sofrimentos para chegar ao mercado. Tirados dos verdes pastos e viajando por fatigantes quilômetros sobre cálidos e poentos caminhos, ou aglomerados em carros sujos, febris e exaustos, muitas vezes privados por muitas horas de alimento e água, as pobres criaturas são guiadas para a morte a fim de que seres humanos se banqueteiem com seu cadáver.” (A Ciência do Bom Viver, p. 314)

"Aquele que maltrata os animais porque os tem em seu poder, é tão covarde quanto tirano. A disposição para causar dor, quer seja ao nosso semelhante quer aos seres irracionais, é satânica. Muitos não compreendem que sua crueldade haja de ser conhecida, porque os pobres animais mudos não a podem revelar. Mas, se os olhos desses homens pudessem abrir-se como os de Balaão, veriam um anjo de Deus, em pé, como testemunha, para atestar contra eles no tribunal celestial. Um relatório sobe ao Céu, e aproxima-se o dia em que se pronunciará juízo contra os que maltratam as criaturas de Deus." (Patriarcas e Profetas, p. 324)

Dizer não ao consumo de carne neste Natal não apenas pode salvar vidas animais como também é uma boa escolha para a saúde humana. Pesquisas têm mostrado que os vegetarianos e veganos são menos propensos a muitos dos problemas de saúde fatais do nosso tempo – incluindo câncer, doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial. Um estudo recente realizado pela Universidade de Carolina do Sul mostrou que uma dieta vegana é a mais eficaz para a perda de peso duradoura, a qual, por sua vez, protege as pessoas contra inúmeras doenças relacionadas com o peso. Em resumo, para se manter um peso adequado e viver uma vida mais longa e mais saudável, a alimentação livre de carne é o caminho a percorrer. 

"Não é tempo de que todos visem dispensar a carne na alimentação? Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes, continuar a usar como alimento qualquer coisa que exerça tão nocivo efeito na alma e no corpo? Como podem eles tirar a vida às criaturas de Deus a fim de consumirem a carne como uma iguaria? Volvam eles antes à saudável e deliciosa comida dada ao homem no princípio, e a praticarem eles próprios e ensinarem a seus filhos, a misericórdia para com as mudas criaturas que Deus fez e colocou sob nosso domínio." (A Ciência do Bom Viver, p. 317)

"A carne nunca foi o alimento melhor; seu uso agora é, todavia, duplamente objetável, visto as moléstias nos animais estarem crescendo com tanta rapidez. [...] Quando os que conhecem a verdade tomarão atitude ao lado dos princípios corretos para o tempo e a eternidade? Quando serão fiéis aos princípios da reforma de saúde? Quando aprenderão que é perigoso usar alimentos cárneos? Estou instruída a dizer que, se em algum tempo foi seguro comer carne, não o é agora." (A Ciência do Bom Viver, p. 313)

Ignorar a carne nesta temporada de festas também pode ter um impacto positivo sobre o meio ambiente. Nos Estados Unidos, a pecuária superou as indústrias de transporte e de energia elétrica na emissão de gases prejudiciais de efeito estufa, tornando a produção de carne a principal causa das mudanças climáticas do país. Uma extensão de 56 mil km de rios norte-americanos estão poluídos com resíduos animais e, no mundo, dois hectares de floresta tropical são destruídos a cada minuto pela pecuária. Atualmente há inúmeras alternativas de pratos para uma ceia livre de crueldade e, ao manter a carne fora da mesa durante as festas, você estará fazendo a sua parte não só pelos animais, mas também para reduzir a emissão de carbono pela sua família. A ideia quanto à abstenção de carne de peru no Natal também se aplica ao consumo de todos os animais e todos os dias, pelo simples fato de todos terem o direito à vida. 

"Pensem na crueldade que o regime cárneo envolve para com os animais, e seus efeitos sobre os que a infligem e nos que a observam. Como isso destrói a ternura com que devemos considerar as criaturas de Deus". (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 383)

Deus se importa com Suas criaturas. Ele as ama. Não devemos causar o sofrimento animal. Não devemos sustentar uma indústria que causa tanta morte e sofrimento. O nosso papel, dado a Deus no Éden, é cuidar, proteger as criaturas dEle. 

O ser humano está cada dia mais frio e não se importa mais com a dor alheia. É preciso renunciar a tudo o que nos deixa frios e nos afasta de Deus. 

Que possamos amar as criaturas de Deus e fazer a vontade do nosso Criador.


quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Você esconde algum segredo?

Todos nós possuímos detalhes pessoais que não são revelados a todos, somente algumas pessoas mais íntimas os conhecem. Mas existem outros que somente nós e Deus sabemos. Guardar um segredo não é pecado. O que não podemos é nos aproveitar desta possibilidade para fazer coisas “escondidas” só porque ninguém está vendo. Cuidado com isso! É quando não tem ninguém por perto que somos quem realmente somos. 

Ser um bom cristão enquanto todos estão te olhando é fácil. No trabalho, quando o chefe não está; em casa, quando os seus pais saírem e te deixarem sozinho; ou na escola, quando o professor se distrair na hora da prova. É nessas horas que somos tentados a fazer coisas que desagradam a Deus.

“Ninguém está vendo, não há nenhum problema!” Tolo é quem pensa assim. Não há lugar onde Deus não esteja, nem pensamento que Ele não conheça. Se é Ele a quem mais devemos respeitar, como podemos não nos preocupar? E se tem um medo que todos tem em comum é esse: ser descoberto. Quanto mais permanecemos escondidos em nossos segredos, mais nos aproximamos do mal e de sermos desmascarados.

“Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar reconhecido” (Mateus 10:26).

Precisamos abandonar a falsidade, falar sempre a verdade, arrancar de nossas vidas toda e qualquer hipocrisia. Não é apenas pelo respeito às pessoas ou pelos motivos que os levam a confiar em nós, que seja por amor a Cristo! Sábio é quem teme a Deus e vive no caminho da verdade, pois no dia do juízo todo segredo será revelado e toda hipocrisia será desmascarada. 

Deus sabe e tem um registro de tudo. Ellen White afirmou:

"Deus conhece o fim desde o princípio. Conhece de perto o coração de todos os homens. Lê todo segredo da alma." (A Ciência do Bom Viver, p. 230) 

"Toda má palavra, todo ato egoísta, todo dever não cumprido, e todo pecado secreto, juntamente com toda artificiosa hipocrisia estão escritos nos livros do céu com terrível exatidão." (O Grande Conflito, p. 481)

"Deus tem que ver com todos os nossos atos, pensamentos e sentimentos. Segue-nos, e nos alcança em cada secreto intento. Pela condescendência com o pecado os homens são levados a considerar levianamente a lei de Deus. Muitos escondem dos homens sua transgressão, e se vangloriam de que Deus não será estrito em assinalar a iniquidade. Mas Sua lei é a grande norma de direito, e cada ato da vida deve ser com ela comparado no dia em que Deus trouxer a juízo toda obra, toda coisa secreta, a ver se é boa ou má. Pureza de coração conduzirá a pureza de vida. Toda desculpa para o pecado é inútil. Quem pode pleitear pelo pecador quando Deus testifica contra ele?" (Comentário Bíblico Adventista, vol. 2, p. 1099)

Deus sabe tudo o que fazemos e quais os caminhos que andamos. Não há nada que possamos esconder de Deus ou que Ele não saiba sobre a nossa vida.

“Ó Senhor Deus, Tu me examinas e me conheces. Sabes tudo o que eu faço e, de longe, conheces todos os meus pensamentos. ... Estás em volta de mim, por todos os lados, e me proteges com o Teu poder. ... Para onde posso fugir da Tua presença? ... Eu poderia pedir que a escuridão me escondesse e que em volta de mim a luz virasse noite; mas isso não adiantaria nada porque para Ti a escuridão não é escura, e a noite é tão clara como o dia" (Salmos 139:1-12).

“Deus sabe por onde você anda e vê tudo o que você faz” (Provérbios 5:21).

Nestes versos, vemos os atributos divinos, “onipresença” e “onisciência”. Isso é, Deus está em todo lugar e sabe de todas as coisas. Ninguém pode enganar a Deus, nada escapa ao Seu olhar infinito.

"Não há nada que se possa esconder de Deus. Em toda a criação, tudo está descoberto e aberto diante dos Seus olhos, e é a Ele que todos nós teremos de prestar contas" (Hebreus 4:13).

Vejamos o que Ellen White nos diz a cerca deste santo Vigia:

"Em todo lugar, a toda hora do dia, há um santo Vigia, que fecha todas as contas, cujos olhos vêem toda situação, quer demonstre fidelidade, quer deslealdade e engano. Nunca estamos sós. Temos um Companheiro, quer O escolhamos quer não. Lembrai-vos de que aonde quer que vos acheis, o que quer que estejais fazendo, Deus ali está. Para cada uma de vossas palavras ou atos, tendes uma testemunha — o Deus santo, que aborrece o pecado. Coisa alguma do que se diga ou faça ou pense escapa ao Seu olhar infinito. Vossas palavras podem não ser ouvidas por ouvidos humanos, mas são ouvidas pelo Dominador do Universo. Ele vê a ira íntima do coração quando a vontade é contrariada. Ouve a expressão profana. Na mais profunda treva ou solidão, ali está Ele. Ninguém pode enganar a Deus; ninguém escapa de sua responsabilidade para com Ele" (Para Conhecê-Lo, p. 230).

Deus sabe tudo de mim, e mesmo assim me ama. Mesmo eu sendo desobediente, mesmo quando penso o que não devo, mesmo quando me esqueço dEle, Ele me cerca por todos os lados com Seu amor, Sua misericórdia (não me tratando como eu realmente merecia), Sua graça e Sua bondade infinita. E isso é maravilhoso, porque com Deus eu posso ser eu mesmo, não preciso fingir, posso ser sincero, posso abrir o meu coração para Ele e falar com toda liberdade. Mesmo dos meu sentimentos mais sórdidos, Ele já sabe.

Veja que promessa maravilhosa Ellen White nos revela:

"Todo o Céu está interessado em nossa salvação. Os anjos de Deus... estão anotando as ações dos homens. Registram, nos livros memoriais de Deus, as palavras de fé, os atos de amor, a humildade de espírito; e naquele dia em que as obras de cada um hão de ser provadas, a fim de ver de que espécie são, a obra do humilde seguidor de Cristo resistirá à prova, recebendo o louvor do Céu. 'Então, os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai.' (Mateus 13:43)" (The Review and Herald, 16 de Setembro de 1890).

Que esta seja nossa oração: "Senhor, há tantas coisas em mim que precisam ser mudadas, e às vezes eu mesmo não consigo compreender o meu coração. Preciso da Tua ajuda, e oro para que tu sondes o meu caráter e as minhas intenções, que tragas à minha consciência tudo o que precisa ser corrigido em mim, e que Tu me guies pelo caminho bom, agradável e perfeito, para que eu possa habitar contigo na eternidade."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Antes de condenar, conheça

Quando o assunto é pecado, sempre aparece, mesmo sem ser convidado, um intruso chamado julgamento prévio. Esse tal às vezes vem escondido – se nos bolsos de paletós bem cortados ou na mochila surrada, não importa -, mas sempre vem. Diz-se por aí que é fácil identificar pecados na conduta das pessoas. Alguns chegam a se apoiar nas palavras bíblicas "pelos seus frutos os conhecereis" (Mateus 7:20) para explicar sua atitude covarde e desleal. O que não percebem é que o texto diz "pelos seus frutos os conhecereis" e não "pelos seus frutos os condenareis".

Condenar tem que ver com pecados, é verdade. Palavras ditas, roupas vestidas ou desvestidas, comidas e bebidas, presença em lugares "impróprios", ausências das mais diversas – isso, segundo a óptica vesga de quem ousa julgar, traduz o completo sentido do que seja pecado e essa é a munição de que precisam para seus ataques grosseiros e intempestivos.

Conhecer é algo totalmente diferente. Condenar é fácil, conhecer é difícil. Condenar só leva de nós um pouco de saliva e uma dúzia de palavras arrogantes. Conhecer exige mais. Exige atenção para observar o todo. Exige tempo para a maturação dos frutos (atos). Exige espaço para a dúvida. Exige humildade para perceber a ignorância. Exige ousadia para a repreensão. Exige consagração para a intercessão. Exige, sobretudo, um milagre: o perdão.

Quem simplesmente condena, desconhece a existência de algo errado na vida das pessoas erradas (e uma delas sou eu), algo além de seus muitos pecados: o pecado (em sua essência). Desconhecem a existência do vírus que percorre as veias dos atos e até dos pensamentos de todos nós, os azarados escolhidos para viver neste planeta errado.

Não faz muito tempo, ouvi a história de uma viagem num trem lotado. Era mais um daqueles dias que amanhecem frios e tristes do inverno europeu. Em um certo vagão iam pessoas normais, com destinos normais, para atividades normais, em um dia normal. Não queriam muita coisa, só o silêncio frio no vagão já lhes bastava. De repente, um choro de criança rouba-lhes o último privilégio. As pessoas acordaram, entreolharam-se, e como se o choro não fosse parar nunca mais, um homem se adiantou aos pensamentos da maioria e gritou: "Alguém aí dê um jeito nessa criatura!"... Silêncio por um momento. Mas a desculpa tímida veio do homem que tinha o bebê nos braços: "Desculpem-me, senhores. É que o meu bebê não dormiu a noite toda. Minha esposa morreu, seu corpo está no vagão de cargas. Vamos em direção à nossa cidade natal para enterrá-la, mas eu não sei muito bem como acalmar meu pequeno... desculpem-me". O primeiro homem se calou envergonhado, duas mulheres se aproximaram para ajudar, o nenê dormiu e a viagem seguiu.

O pecado é um grito desajeitado em meio ao silêncio harmonioso da criação de Deus. O pecado fez até o próprio Deus chorar. Há quem só perceba, e chegue mesmo a condenar, o choro das crianças no vagão dessa vida ingrata e desconheça a história do Pai que sofre.

Antes de usar os dedos para condenar, use os joelhos para orar.

Antes de condenar, conheça.

Pr. Cândido Gomes (via Para Ler, Reler e Treler)

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Crises econômicas elevam o número de fiéis evangélicos

Crises econômicas têm impulsionado a expansão da população evangélica no Brasil, com reflexos sobre a balança política, pois esse movimento favorece a eleição de candidatos ligados a essa fé.

Essa é a conclusão de um estudo dos economistas Francisco Costa, Angelo Marcantonio e Rudi Rocha, que, pela primeira vez, aferiu o impacto da abertura comercial dos anos 1990 em diferentes regiões do país sobre as preferências religiosas da população.

A hipótese dos autores é que os brasileiros adversamente atingidos por crises se tornam mais suscetíveis à forte retórica religiosa de cura dos problemas pela fé apresentada pelas religiões evangélicas.

Daí a escolha de incluir o “Pare de sofrer”, lema da Igreja Universal do Reino de Deus, já no título do artigo em inglês (“Stop Suffering! Economic Downturns and Pentecostal Upsurge”), que está sendo avaliado para publicação em um periódico estrangeiro.

Simulação feita pelos autores a pedido da Folha indica que problemas como o aumento do desemprego e a queda da renda nas áreas afetadas pelo choque econômico explicam um crescimento de cerca de 10% no número de adeptos a denominações como as pentecostais e neopentecostais, entre 1991 e 2000.

Isso representou a adição de 1,3 milhão novos evangélicos apenas naquela década.

Os pesquisadores conseguiram mensurar a queda salarial explicada apenas pelo choque da abertura comercial ao comparar o que ocorreu com a renda e o desemprego em diferentes regiões do país, descontando o impacto de fatores como educação, gênero e idade entre 1991 e 2000.

A partir da conta, calcularam o quanto a redução de rendimento afetava a expansão da população evangélica.

Sua conclusão foi que, para cada 1% de queda esperada da renda, a adesão ao pentecostalismo cresceu 0,8%, nos anos 1990. Em termos estatísticos, é um efeito significativo.

A pesquisa mostra ainda que parte dos evangélicos convertidos pela crise é dissidente do catolicismo, que, embora ainda seja a religião dominante no Brasil, vem encolhendo.

Segundo o trabalho, o impacto religioso da abertura comercial nas regiões que perderam —pelo menos, temporariamente— competitividade não se circunscreveu aos anos subsequentes à primeira metade da década 1990, quando a tarifa média de importação caiu quase 60%.

Os resultados indicam que o fenômeno de adesão ao pentecostalismo persistiu na década seguinte, ainda que em ritmo mais lento.

Eles revelam ainda que o movimento de conversão foi acompanhado por uma mudança de preferência eleitoral que favoreceu políticos associados às religiões evangélicas.

Ao contrário do ritmo de conversão de novos adeptos associada ao choque de tarifas —que, embora tenha persistido, perdeu fôlego—, o impulso à eleição de candidatos pentecostais continuou ganhando força.

Segundo os autores, cada 1% de queda provável na renda associada à abertura comercial resultou em um aumento de 2% na parcela dos votos recebidos por esses políticos no longo prazo. “O efeito de aumento da população evangélica continuou entre 2000 e 2010, embora menos robusto. Mas, na política, ele vem aumentando. Parece um fenômeno que ganhou vida própria, após um choque”, diz Rocha, que é professor da FGV Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).

Em uma terceira linha de investigação, a pesquisa revela que a escolha de políticos ligados ao pentecostalismo tem levado a um aumento da proposição de leis relacionadas a temas caros a essas religiões, como oposição ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Para Costa, que é professor da FGV EPGE (Escola de Economia e Finanças da FGV), as conclusões relacionadas à esfera política chamam a atenção para um risco sobre o qual o país precisa refletir:

“Mesmo em estados democráticos laicos, como o Brasil, esses choques econômicos abrem espaço para o florescimento de grupos religiosos partidários que podem levar ao retrocesso de valores democráticos que possibilitaram sua ascensão”.

Para os dois economistas, é possível inferir que outros eventos recessivos das últimas décadas no Brasil tenham contribuído tanto para alimentar o contínuo crescimento da população evangélica quanto para alavancar sua representação política.

“O que descobrimos ao fazer essa pesquisa parece bater muito com o voto recente no [presidente Jair] Bolsonaro”, diz Rocha.

O capitão reformado foi eleito em 2018 com forte apoio da bancada evangélica, em um período em que o Brasil vivia uma lenta recuperação econômica após uma das recessões mais severas da história.

A percepção de que a necessidade de apoio espiritual e atenção individual aumenta em momentos de crise pode estar contribuindo para a criação de novas igrejas.

Foi o que motivou Gilson Alves, por exemplo, a criar a Igreja Apostólica Livres para Adorar, de orientação neopentecostal, no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, há quatro anos. “Vi que era mais fácil acolher as pessoas em um ministério pequeno”, diz.

Antes disso, Alves —conhecido como bispo Gilson— foi ligado às denominações Paz e Vida e Mundial.

Além dos 40 frequentadores assíduos, os cultos no salão instalado no primeiro andar de sua própria casa recebem outros visitantes ocasionais, como um casal de venezuelanos refugiados que esteve na igreja recentemente.

“Somos procurados por pessoas com problemas como alcoolismo, drogas e dificuldades financeiras”, afirma bispo Gilson, que, além de administrar a igreja, cuida dos três filhos pequenos, enquanto sua mulher trabalha como empregada doméstica.

Religião avança no mundo por oferecer uma rede de proteção
O fenômeno de expansão de religiões evangélicas não é exclusividade do Brasil. Pesquisas mostram que essa é uma das denominações cristãs que mais crescem no mundo.

No país, ministérios como o fundado por bispo Gilson fazem parte de uma terceira onda de renovação do movimento evangélico, iniciada nos anos 1970. Rocha, Costa e Marcantonio ressaltam que essas igrejas se destacam por sua interpretação mais literal dos textos sagrados.

Segundo especialistas, a rede de apoio criada pelos evangélicos e a abordagem feita nos cultos sobre os problemas do dia a dia ajudam a explicar a atração de novos adeptos em crises econômicas.

“Faz muito sentido [a conclusão do estudo]. Os brasileiros de posições mais conservadoras se sentem muito isolados nos centros urbanos. Os evangélicos são uma exceção porque têm a igreja”, diz Breno Barlach, gerente de projetos da consultoria Plano CDE.

Segundo ele, que coordenou um estudo feito neste ano sobre o perfil dos conservadores brasileiros, os templos se tornaram tanto um espaço de convivência como de troca.

“É ali que o pequeno empreendedor constrói sua rede de contatos, que a mulher, deslocada do mercado de trabalho, se torna vendedora”, afirma.

A participação nessa rede —que os estudiosos do tema chamam de clube— exige uma contrapartida elevada dos participantes. “Você não pode se dizer evangélico se não frequenta assiduamente os cultos”, diz Barlach.

Mas, como ressalta Costa, da FGV, o custo de oportunidade dessa escolha despenca durante crises econômicas.

“A queda da renda reduz a capacidade de consumo mundano e torna o consumo etéreo oferecido pela religião mais atraente”, diz.

Para o economista Rodrigo Soares, professor da Universidade Columbia, uma questão suscitada pelo estudo é o papel de outros atores em crises econômicas. “Por algum motivo, as igrejas evangélicas parecem ter exercido um papel que nem o Estado nem a Igreja Católica conseguiram.”

Outro caminho para mais investigações apontado pela pesquisa é a relação entre a expansão da população evangélica e o aumento do voto em políticos associados à religião, segundo o economista Claudio Ferraz, professor da Universidade British Columbia.

Assim como Soares, Ferraz leu o estudo de Rocha, Costa e Marcantonio. Para ele, a pesquisa comprova, de forma sólida, a relação entre a desaceleração da abertura e a conversão ao pentecostalismo.

“A dificuldade vem em saber se um aumento de eleitores pentecostais atraiu políticos ou se políticos e a mídia que dominam têm um efeito de persuasão que aumenta a fatia de pentecostais”, diz.

Impacto da economia sobre conversão pode persistir no longo prazo
Desde os anos 1990, o pentecostalismo tem um crescimento significativo no Brasil. Só naquela década, a população evangélica dobrou, de 13,2 milhões para 26,2 milhões.

Como mostra a estimativa feita pelos autores do estudo, parte desse aumento pode ser atribuída às consequências do choque comercial em regiões prejudicadas pela abertura.

Resta identificar outras causas da expansão. Não há dados recentes do Censo sobre preferências religiosas, mas dados do Datafolha indicam que a fatia de evangélicos na população brasileira continuou crescendo. Depois de atingir 22,9% em 2010, voltou a pular, para cerca de 31%, em 2019.

Embora Rocha e Costa acreditem que as dificuldades econômicas recorrentes do país tenham continuado a impulsionar a procura por igrejas pentecostais, o estudo não incluiu uma análise da dinâmica evangélica nos anos recentes.

Para medir a alta no número de adeptos ao pentecostalismo, os autores analisaram os dados até 2010. O impacto político foi mensurado até 2014.

A escolha da abertura econômica como pano de fundo da investigação é explicada pela possibilidade de analisar o impacto de desacelerações da atividade em varáveis diversas. Como diferentes regiões dentro de um país se especializam em ramos de atividade distintos, os efeitos de uma liberalização comercial variam bastante.

Há desde áreas pouco afetadas, como cidades litorâneas do Nordeste onde o turismo é forte, a outras muito atingidas, como municípios da região metropolitana de São Paulo especializados na produção de roupas e equipamentos eletrônicos, cujas tarifas de importação despencaram nos anos 1990.

Os efeitos heterogêneos têm servido como uma espécie de laboratório para economistas.

Um trabalho de Rafael Dix-Carneiro, da Universidade Duke, e Brian Kovak, da Universidade Carnegie Mellon, mostrou, por exemplo, que os efeitos negativos da abertura nas regiões que se tornaram mais expostas à competição externa foram persistentes.

Segundo o estudo, a distância de salários e crescimento no emprego entre as áreas afetadas positiva e negativamente pela liberalização aumentou durante 20 anos no Brasil após o choque comercial da década de 1990.

Dix-Carneiro ressalta que o trabalho não conclui se o balanço da abertura para o país como um todo foi positivo ou negativo. “Ele mostra que choques comerciais têm efeitos disruptivos no mercado de trabalho, que evoluem de forma lenta e duradoura”, afirma.

Soares —que é coautor com Dix-Carneiro e Gabriel Ulyssea de outro trabalho, que identifica um aumento da criminalidade em regiões negativamente afetadas pela abertura comercial no Brasil— ressalta que a metodologia desses estudos permite a descoberta de consequências de crises econômicas de difícil mensuração em outros contextos.

Uma área de interesse crescente, que pode ser relacionada à pesquisa de Costa, Rocha e Marcantonio, é a relação entre o impacto da globalização em diferentes regiões dos países e a expansão do conservadorismo. O tema está no centro das discussões de eventos como o brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que pode ocorrer em breve após a ampla vitória parlamentar do primeiro-ministro Boris Johnson na semana passada.

Segundo os três pesquisadores brasileiros, seu trabalho é o primeiro a mostrar uma relação de causa e consequência entre uma crise econômica e o entrincheiramento de grupos políticos em democracias modernas e pode contribuir para o debate sobre o tema tanto no Brasil quanto no exterior.

[Com informações de Outer Space]

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Declaração da Igreja Adventista sobre transgêneros

A seguinte declaração sobre transgêneros foi votada no dia 11 de abril de 2017 pelo comitê executivo da Igreja Adventista do Sétimo Dia durante seu encontro anual da primavera, em Silver Spring (EUA). A preocupação do documento foi a de oferecer uma posição teológica e prover princípios bíblicos que ajudem a igreja a lidar com o assunto e, de forma cristã, com as pessoas envolvidas diretamente com o assunto.

Declaração sobre Transgêneros
A crescente familiaridade com as necessidades e desafios que homens e mulheres transgêneros enfrentam e o aumento das questões sobre transgêneros, com proeminência social no mundo todo, levantam perguntas importantes não apenas para os afetados pelo fenômeno transgênero, mas também para a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Embora as lutas e os desafios daqueles que se identificam como transgêneros tenham alguns elementos em comum com as lutas de todos os seres humanos, reconhecemos a singularidade de sua situação e a limitação de nosso conhecimento em casos específicos. Contudo, cremos que a Escritura provê princípios para orientação e aconselhamento aos transgêneros e à Igreja, transcendendo as convenções e a cultura humanas.

O fenômeno transgênero
Na sociedade moderna, a identidade de gênero denota tipicamente “o papel público (e geralmente reconhecido legalmente) vivido como menino ou menina, homem ou mulher”, enquanto o termo sexo se refere “aos indicadores biológicos de macho e fêmea”[1]. Geralmente, a identificação de gênero se alinha com o sexo biológico da pessoa no nascimento. Porém, pode ocorrer um desalinhamento nos níveis físico e/ou mental-emocional.

No nível físico, a ambiguidade na genitália pode resultar de anormalidades anatômicas e fisiológicas, de modo que não é possível estabelecer claramente se a criança é do sexo masculino ou feminino. Essa ambiguidade da diferenciação sexual anatômica é muitas vezes chamada de hermafroditismo ou intersexualidade.[2]

No nível mental-emocional, o desalinhamento ocorre com transgêneros cuja anatomia sexual é claramente masculina ou feminina mas que se identificam com o gênero oposto de seu sexo biológico. Eles podem se descrever como estando presos em um corpo errado. O transgenerismo, no passado clinicamente diagnosticado como “desordem de identidade de gênero” e agora definido como “disforia de gênero”, pode ser entendido como um termo geral para descrever a variedade de formas pelas quais os indivíduos interpretam e expressam sua identidade de gênero, diferentemente daqueles que determinam o gênero com base no sexo biológico.[3] “A disforia de gênero é manifesta de várias formas, incluindo o forte desejo de ser tratado como outro gênero, ou ser libertado de suas características sexuais, ou uma forte convicção de possuir sentimentos e reações típicos do outro gênero.”[4]

Devido a tendências contemporâneas de rejeitar o binário bíblico de gênero (homem e mulher) e substituí-lo por um crescente espectro de tipos de gênero, certas escolhas desencadeadas pela situação transgênera passaram a ser consideradas como normais e aceitas na cultura contemporânea. Porém, o desejo de mudar ou de viver como uma pessoa de outro gênero resulta em escolhas de estilo de vida biblicamente impróprias. A disforia de gênero pode, por exemplo, resultar no uso de roupas do sexo oposto,[5] cirurgia de redefinição de sexo e o desejo de ter um relacionamento conjugal com uma pessoa do mesmo sexo biológico. Por outro lado, o transgênero pode sofrer calado, vivendo no celibato ou se casando com um cônjuge do sexo oposto.

Princípios bíblicos relativos à sexualidade e o fenômeno transgênero
Visto que o fenômeno transgênero deve ser avaliado pela Escritura, os seguintes princípios e ensinos bíblicos podem ajudar a comunidade de fé a se relacionar com pessoas afetadas pela disforia de gênero num modo bíblico e semelhante a Cristo.
1. Deus criou o ser humano como duas pessoas que são respectivamente identificadas como homem e mulher em termos de gênero. A Bíblia associa inseparavelmente o gênero ao sexo biológico (Gênesis 1:27; 2:22–24) e não faz distinção entre os dois. A Palavra de Deus afirma a complementaridade, bem como as claras distinções entre homem e mulher na criação. O relato da criação de Gênesis é fundamental para todas as questões da sexualidade humana.
2. A partir da perspectiva bíblica, o ser humano é uma unidade psicossomática. Por exemplo, a Escritura repetidamente chama o ser humano como um todo de alma (Gênesis 2:7; Jr 13:17; 52:28-30; Ezequiel 18:4; At 2:41; 1Co 15:45); um corpo (Efésios 5:28; Romanos 12:1–2; Apocalipse 18:13); carne (1 Pedro 1:24); e espírito (2 Timóteo 4:22; 1 João 4:1–3). Portanto, a Bíblia não endossa o dualismo no sentido de uma separação entre o corpo e a percepção da sexualidade. Além disso, a Bíblia não ensina que existe uma parte imortal nos seres humanos, porque somente Deus possui a imortalidade (1 Timóteo 6:14-16) e Ele a concederá àqueles que crerem nEle, por ocasião da primeira ressurreição (1 Coríntios 15:51-54). Portanto, o ser humano também deve ser uma entidade sexual indivisível, e a identidade sexual não pode ser independente do corpo da pessoa. De acordo com a Escritura, nossa identidade de gênero, como designada por Deus, é determinada por nosso sexo biológico no nascimento (Gênesis 1:27; 5:1–2; Salmos 139:13–14; Marcos 10:6).
3. A Escritura reconhece, porém, que, devido à Queda (Gênesis 3:6-19), o todo do ser humano, ou seja, nossas faculdades mental, física e espiritual, foi afetado pelo pecado (Jeremias 17:9; Romanos 3:9; 7:14–23; 8:20–23; Gálatas 5:17) e necessita ser renovado por Deus (Romanos 12:2). Nossas emoções, sentimentos e percepções não são indicadores plenamente confiáveis dos propósitos, ideais e verdade de Deus (Provérbios 14:12; 16:25). Precisamos da orientação de Deus por meio da Escritura para determinar o que é de nosso melhor interesse e para viver de acordo com Sua vontade (2 Timóteo 3:16).
4. O fato de alguns indivíduos alegarem uma identidade de gênero incompatível com seu sexo biológico revela uma grave dicotomia. Essa debilidade ou angústia, sentida ou não, é uma expressão dos efeitos danosos do pecado sobre os seres humanos e pode ter diversas causas. Embora a disforia de gênero possa não ser considerada intrinsecamente um ato pecaminoso, pode resultar em escolhas pecaminosas. Esse é outro indício de que, no nível pessoal, os seres humanos estão envolvidos no grande conflito.
5. Desde que os homens e mulheres transgêneros estejam comprometidos em ordenar sua vida de acordo com os ensinos bíblicos sobre a sexualidade e o casamento, eles podem ser membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A Bíblia identifica clara e consistentemente qualquer atividade sexual fora do casamento heterossexual como pecado (Mateus 5:28, 31–32; 1 Timóteo 1:8–11; Hebreus 13:4). Estilos alternativos de vida sexual são distorções pecaminosas da boa dádiva da sexualidade dada por Deus (Romanos 1:21–28; 1 Coríntios 6:9–10).
6. Visto que a Bíblia considera os seres humanos como entidades integrais e não faz distinção entre sexo biológico e identidade de gênero, a Igreja veementemente adverte os homens e mulheres transgêneros contra a cirurgia de mudança de sexo e contra o casamento, se tiverem passado por esse procedimento. Do ponto de vista holístico bíblico da natureza humana, uma completa transição de um gênero para outro e a obtenção de uma identidade sexual integrada não podem ser esperadas no caso da cirurgia de transgenitalização.
7. A Bíblia ordena os seguidores de Cristo a amarem uns aos outros. Criados à imagem de Deus, todos devem ser tratados com dignidade e respeito. Isso inclui os homens e mulheres transgêneros. Atos de ridicularização, abuso ou bullying contra os transgêneros são incompatíveis com o mandamento bíblico “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Marcos 12:31).
8. Como a comunidade de Jesus Cristo, a Igreja deve ser um refúgio e um lugar de esperança, de atenção e de compreensão a todos que estão confusos, aos sofredores, aos que passam por lutas e solidão, pois a Bíblia diz: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, […]” (Mateus 12:20). Todas as pessoas são convidadas a frequentar a Igreja Adventista do Sétimo Dia e a desfrutar da comunhão de seus crentes. Aqueles que são membros podem participar plenamente da vida da igreja, desde que abracem a mensagem, a missão e os valores da Igreja.
9. A Bíblia proclama as boas-novas de que os pecados sexuais cometidos por heterossexuais, e por homens e mulheres envolvidos em homossexualidade, transgenerismo ou outros, podem ser perdoados, e a vida pode ser transformada pela fé em Jesus Cristo (1 Coríntios 6:9-11).
10. Aqueles que experimentam desajuste entre seu sexo biológico e sua identidade de gênero são incentivados a seguir os princípios bíblicos ao lidar com sua angústia. Eles são convidados a refletir sobre o plano original de Deus de pureza e fidelidade sexual. Pertencendo a Deus, todos são chamados a honrá-Lo com seu corpo e suas escolhas de estilo de vida (1 Coríntios 6:19). Com todos os crentes, os homens e mulheres transgêneros são incentivados a esperar em Deus, e é-lhes oferecida a plenitude da compaixão divina, da paz e da graça, em antecipação da breve volta de Cristo, quando todos os verdadeiros seguidores de Cristo serão plenamente restaurados ao ideal de Deus. 
[1] Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5a. ed. (DSM-5TM), editado pela Associação Americana de Psiquiatria (Washington, DC: American Psychiatric Publishing, 2013), 451.
[2] Indivíduos nascidos com genitália ambígua podem ou não se beneficiar de tratamento cirúrgico corretivo.
[3] Ver DSM-5TM, 451–459
[4] Esta sentença faz parte de um resumo sucinto de disforia de gênero provido para apresentar o DSM-5TM que foi publicado em 2013: https://www.psychiatry.org/File%20Library/Psychiatrists/Practice/DSM/APA_DSM-5-Gender-Dysphoria.pdf (acessado em 11 de abril de 2017).
[5] O uso de roupas do sexo oposto, também referido como comportamento travesti, é proibido em Deuteronômio 22:5.

[Com informações de Notícias Adventistas

[Ilustração: Glamour Garcia, a primeira trans a receber o Troféu Domingão - Melhores do Ano 2019, na categoria atriz revelação, na noite deste domingo (15) durante o "Domingão do Faustão" (Globo)]