quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Especial Dia do Psicólogo

No dia 27 de agosto é comemorado no Brasil o Dia do Psicólogo. Nesta mesma data, no ano de 1964, a profissão foi regulamentada através da Lei 4.119/64.

Terapia divina
Inicialmente vista com desconfiança pela religião, a psicologia cresceu com certo ar de rebeldia contra ela, mas hoje se aproxima da espiritualidade (outro nome da religião) como uma aliada. Com o crescente diálogo entre essas duas áreas, e sendo que estamos vivendo na época das terapias, quero convidá-lo a ver Deus como um Psicólogo que pode tratar seus traumas de maneira eficaz. Mais do que uma figura de apego, Deus não é uma simples ferramenta psicológica; Ele é a fonte da cura. Nessa perspectiva, destaco sete aspectos sobre quem Deus é e o que Ele faz:

Título: o Psicólogo dos psicólogos
Ainda no começo da Bíblia, Deus Se apresenta como o Médico que nos cura (Êx 15:26), título que poderia ser parafraseado como o Psicólogo que nos restaura. Além disso, o verbo grego sozo, usado cerca de cem vezes no Novo Testamento, significa tanto “salvar” quanto “curar”. A cura divina é integral.

Capacitação: empatia infinita
Se Deus fosse indiferente, como ensinavam algumas correntes filosóficas e teológicas, então Ele não poderia sentir nem amar. Mas na Bíblia, Deus é retratado como tendo emoções e sentimentos. O próprio Deus Se apresenta assim (Êx 34:6-7). Além disso, Jesus entende nossas fraquezas e pode Se compadecer de nós (Hb 4:15-16), o que implica empatia. O melhor é que Deus tem uma capacidade infinita de esquadrinhar nossa mente e nossa história (Sl 139:1-2). Só de olhar para nós, Ele sabe o que sentimos.

Equipe: dois assistentes
Deus trabalha em equipe e tem dois ajudantes altamente habilitados: Jesus e o Espírito Santo. Assim como o Pai é o “Deus de toda consolação” (2Co 1:3), ambos também recebem o título de “Consolador” (Jo 14:16, 26; 16:7). Jesus foi ungido para curar os corações partidos, consolar os tristes e libertar os oprimidos (Is 61:1-3; Lc 4:18).

Atendimento: 24 horas
Deus está sempre disponível e nos incentiva a buscá-Lo de todo o coração (Jr 29:11-13). Ele não apenas espera você no “consultório”, mas envia o Espírito Santo para fazer terapia em sua casa. E você pode também contar com atendimento on-line gratuito o tempo todo.

Linha terapêutica: psicologia positiva
Esquecendo os erros do passado (Mq 7:18-19; Hb 10:17), Deus aconselha você a concentrar-se no que é bom, positivo, verdadeiro, nobre, correto, puro, amável, excelente (Fp 4:8). Em outras palavras, coloque o foco na felicidade, e não na infelicidade.

Especialidade: todos os traumas
Por exemplo, para reduzir a ansiedade, um dos problemas psicológicos mais comuns da atualidade, Jesus apresenta o cuidado amoroso de Deus (Mt 6:25-34). Sobre Ele podemos lançar todas as nossas preocupações (1Pe 5:7).

Técnica favorita: diálogo
A oração é o meio de compartilharmos nossas inquietudes com Deus. Em Salmos, mais do que hinos, encontramos corações que se abriram ao grande Psicólogo da alma. Esses relatos (às vezes alegres, ora angustiados) retratam verdadeiras “terapias” no divã de Deus.

A psicologia tem seu lugar e pode ser efetiva. Mas, como sugere esta miniteoria, Deus é o maior de todos os psicólogos.

Marcos de Benedicto (via Revista Adventista)

A opinião de Ellen White sobre a psicologia
Três escolas de cura prevaleciam no tempo de Ellen White – mesmerismo, frenologia e a cura pelo descanso – que influenciaram seus comentários sobre questões psicológicas e de saúde mental. White se opôs firmemente a todas as três. Em 1886, escreveu: “As ciências da frenologia, da psicologia e mesmerismo são os condutos pelos quais ele [Satanás] chega mais diretamente a esta geração e atua com esse poder que deve caracterizar seus esforços próximo do fim do tempo da graça.”1

Mesmerismo. Durante os primeiros anos de ministério, Ellen White foi repetidamente forçada a confrontar o mesmerismo e seus métodos de manipulação da mente. Nos Estados Unidos, em meados do século 19, o magnetismo animal era uma filosofia de cura popular. Originada pelo médico Franz Anton Mesmer (1734-1815), ensinava que um fluido magnético invisível permeou o universo. Mesmer teorizou que a doença produziu um desequilíbrio desse fluido dentro do corpo humano, o que poderia ser curado através do uso de ímãs e de corrente elétrica. Eventualmente, ele abandonou o uso de ímãs e propôs que o “corpo do curandeiro”, permeado com magnetismo animal, podia redirecionar o fluido magnético do paciente sem a utilização de ímãs. O objetivo era o de induzir a uma ‘crise’, alterando o estado mental do indivíduo, por meio de febre, delírio, convulsões, choro descontrolado, contrações musculares nervosas. Mesmer viu essas manifestações como sintomas saudáveis de cura. Sugestionabilidade e dominância foram utilizados para produzir um transe e, assim, realinhar o corpo.2 Mais tarde, James Braid redefiniu o termo “mesmerismo” como hipnotismo, e Mesmer ficou conhecido como o pai da moderna hipnose.3

Em 1845, Ellen White foi forçada a confrontar Joseph Turner, um proeminente ministro adventista milerita no Maine. Turner estava usando o mesmerismo. Ele ainda tentou mesmerizar ou hipnotizar White. Em uma ocasião, ela estava em uma reunião onde ele tentou manipulá-la. “Ele tinha os olhos voltados diretamente de seus dedos, e os olhos dele pareciam serpentes, o mal.”4 Suas experiências ao confrontar esse homem, juntamente com sua orientação visionária, a colocaram em oposição às modalidades de controle hipnótico da mente que eliminavam de uma pessoa a independência mental e liberdade dadas por Deus. Ela escreveu muito direta e especificamente sobre esse tópico. “Não é desígnio de Deus que nenhuma criatura humana submeta a mente e a vontade ao domínio de outra, tornando-se um instrumento passivo em suas mãos […]. Não deve considerar nenhum ser humano como fonte de cura. Sua confiança deve estar em Deus.”5 Em cartas durante 1901 e 1902 para A. J. Sanderson e sua esposa, que foram diretores médicos do Sanatório Santa Helena, Ellen White advertiu para os perigos do hipnotismo. “Mantenham-se afastados de tudo o que tenha sabor a hipnotismo, a ciência pela qual as agências satânicas trabalham.”6 Ela identificou a característica do hipnotismo que mais a preocupava e revelou um dos seus valores fundamentais na cura mental. “A teoria de mente controlar mente é originada por Satanás para introduzir-se como o trabalhador-chefe para colocar filosofia humana onde deveria estar filosofia divina […]. O médico deve educar o povo a olhar do humano para o divino.”7

Frenologia. Foi uma teoria popularizada na América durante os meados do século 19 por Orson S. Fowler e seu irmão Lorenzo N. Fowler. A frenologia sustentou que a forma da cabeça de uma pessoa determinava o seu caráter e personalidade. Embora baseada em uma premissa falaciosa, foi amplamente aceita como autêntica na época. Ellen White se opôs a essa modalidade. Em 1893, escreveu sobre a frenologia como “vã filosofia, se gloriando em coisas que não entendem, pressupondo um conhecimento da natureza humana que é falso”.8

Cura pelo descanso. A modalidade “cura pelo descanso” foi defendida por Silas Weir Mitchell como resposta a distúrbios nervosos. Mitchell defendeu o descanso completo e a ausência de todos os estímulos sensoriais. Esse método exigia que o sujeito não tivesse visitas, cartas, leituras, escritos, banhos, exercícios, ou mesmo a presença de luz ou som. O descanso era para ser aplicado sem interrupção e prolongadamente. Ellen White contradisse essa opinião: “[…] E ao doente [mental] deveria ser ensinado que é errado suspender todo trabalho físico para recuperar a saúde.”9

As bases filosóficas dessas três modalidades do século 19, embora populares na época, têm-se mostrado fraudulentas. Quando Ellen White usou os termos “psicologia” e “ciência”, estava falando desses falsos e errôneos movimentos, e não das modernas definições desses termos. Em uma ocasião, escreveu positivamente quando usou o termo “psicologia” em um sentido mais geral. “Os verdadeiros princípios da psicologia encontram-se nas Sagradas Escrituras. O homem desconhece o seu próprio valor. Age de acordo com o seu inconfesso temperamento do caráter, porque não olha para Jesus, Autor e Consumador de sua fé.”10 Para Ellen White, a correta “psicologia” tem uma visão elevada dos seres humanos, como é entendida à luz do dom de Jesus e do amor de Deus. Para ela, o objetivo dos estudos psicológicos foi como reconectar a pessoa com Deus como o grande médico da mente e da alma.

Recebendo orientação psicológica
Embora tenha sido demonstrado que Ellen White centrou a sua filosofia de saúde mental e cura em Deus, ela não excluiu o papel dos seres humanos em cooperação com Deus. Ela deixa claro que Deus pode usar conselheiros para ajudar a levar à cura aqueles com doenças mental e emocional. “Os servos de Cristo são Seus representantes, instrumentos pelos quais opera. Ele deseja, por intermédio dos mesmos, exercer o Seu poder de curar.”11 Em outra declaração semelhante, escreveu: “Por intermédio de Seus servos, designa Deus que os doentes, os desafortunados e os possessos de espíritos maus hão de escutar Sua voz. Por meio dos instrumentos humanos, Ele deseja ser um Consolador como o mundo desconhece.”12 Ela ainda foi imperativa no aconselhamento. “Quando surge uma crise na vida de qualquer pessoa. […] É a vida consistente, a revelação de um sincero interesse como de Cristo pela a pessoa em perigo, que fará o aconselhamento eficaz para convencer e vencer em caminhos seguros.” Aqueles que negligenciam este trabalho “terão de dar conta por sua negligência por aqueles que poderiam ter abençoado, reforçado, apoiado, e curado.”13

A própria experiência de Ellen White como uma conselheira é uma aplicação da presente declaração. Embora não fosse formada em psicologia, ajudou muitas pessoas a conquistar melhor saúde emocional e mental durante a sua vida. Para esses dias, seus escritos fornecem um quadro filosófico e teológico útil que apoia a atividade “médico missionária”, assim como chamou as áreas de psiquiatria e psicologia.

Alguns bem intencionados cristãos têm sido relutantes em falar com profissionais de saúde mental temendo que Deus não queira que contem a outro ser humano seus pecados ou fraquezas. Pensam que procurando ajuda psicológica traem a fé, porque estão procurando a ajuda de seres humanos em vez da de Deus, mas Ellen White é clara de que há situações em que é correto e adequado confiar em outros.14 Ela foi uma frequente ouvinte e conselheira para as pessoas com dores e perplexidades. Ela escreveu as seguintes palavras de conforto para um homem na Austrália. “Se os agentes humanos, de quem nós poderíamos ser levados a esperar ajuda, faltam para fazer a sua parte, somos confortados no pensamento de que as inteligências celestiais não deixarão de fazer a sua parte. Elas passarão por aqueles cujos corações não são tenros e dignos de compaixão, gentis e amáveis, e prontos para aliviarem as desgraças dos outros, e vão usar qualquer agente humano, que será tocado com as enfermidades, as necessidades, os problemas, as perplexidades das pessoas por quem Cristo morreu.”15 Suas declarações sobre o papel dos conselheiros humanos mostram que Ellen White permaneceu confiante em que Jesus era o último ajudante e médico. Mas os humanos conselheiros, amigo, mãe, pastor, médico ou psicólogo são para ajudar a pessoa como Jesus – “[…] um Amigo que nunca falha, ao qual podemos confiar todos os segredos do coração.”16 A cura mental e emocional como a cura física é um processo que leva tempo. Ellen White revela um notável grau de sensibilidade para com, por vezes demorado, processo psicológico que requer apoio.

Conclusão
A abordagem terapêutica de Ellen White para o tratamento do doente mental centrou-se em uma aplicação de princípios. Ela apoiou o aconselhamento e os métodos de cura natural. Sua abrangente rejeição às drogas está baseada em errôneas filosofias de cura que eram atuais em seus dias e de produtos químicos perigosos de drogas que eram usadas. Suas declarações contra a “psicologia” e a “ciência” estão relacionadas a sua oposição ao mesmerismo, frenologia, e à “cura pelo descanso”. Como conselheira, Ellen White teve extensa interação com as pessoas ao longo de sua vida e tratou com diferentes tipos de disfunção psicológica. Permaneceu simpática e redentora, mesmo quando a condição foi particularmente censurável. Ela não tinha qualquer formação em saúde mental e viveu em uma época em que essa ciência era ainda rudimentar. No entanto, foi capaz de ser extraordinariamente eficaz em ajudar muitas pessoas. Compreendeu que a devastação emocional e mental não era curada instantaneamente e que uma pessoa poderia estar andando com Deus, mas ainda assim necessitava de apoio e orientação. Acreditava na necessidade de intervenção direta por outros que eram capazes de aconselhar e orientar. Embora não tenha escrito sobre o papel dos psiquiatras e psicólogos, escreveu positivamente sobre o tipo de ajuda que pode ser prestada por essas áreas. Não podemos dizer exatamente qual seria a sua reação à prática moderna dessas áreas, mas um estudo da sua vida, escritos e atividades sugerem que ela teria apoiado a prática psicológica cristã que estava em harmonia com uma filosofia bíblica de cura.

Merlin D. Burt (Ph.D., Universidade Andrews) é diretor do Centro de Pesquisa Adventista Ellen G. White Estate Branch Office, Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, EUA. E-mail: burt@andres.ed. Uma parte deste artigo for originalmente apresentada no Simpósio sobre a Cosmovisão Cristã e Saúde Mental: Perspectivas dos Adventistas do Sétimo Dia, de 28 de agosto a 2 de setembro de 2008, Rancho Palos Verdes, Califórnia. (via adventistas.org)

Referências
1 Testemunhos para a Igreja. 1. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. v. 1. p. 290. ↑
2 Irving Kirsch, Steven Jay Lynn, e Judith W. Rhue. “Introduction to Clinical Hypnosis”. In Handbook of Clinical Hypnosis. Washington, DC: American Psychological Association, 1993, 5; John C. Burnham. “Franz Anton Mesmer”, International Encyclopedia of Psychiatry, Psychology, Psychoanalysis, and Neurology, ed. Benjamin B. Wolman. New York: Aesculapius Publishers, 1977. v. 7, p. 213. ↑
3 Henry Alan Skinner. The Origin of Medical Terms. Baltimore, MD: Williams & Wilkins, 1949. p. 186.↑
4 Ellen G. White. Manuscrito. 131, 1906. ↑
5 Conselhos Sobre Saúde. 2. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1991. p. 345. ↑
6 Ellen G. White para Artur e Emma Sanderson, 16 de Fev. 1902 (datilografada), Carta 20, 1902, EGWE. ↑
7 Ellen G. White para A. Sanderson, 12 de Setembro de 1901 (datilografada), Carta 121, 1901, EGWE. ↑
8 Ellen G. White para E. J. Waggoner, 22 de Janeiro de 1893, Carta 78, 1893, EGWE. ↑
9 Ellen G. White. Testemunhos Para a Igreja. 1. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. p. 555. ↑
10 Mente, Caráter e Personalidade. 3. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990. v.1. p. 10. ↑
11 O Desejado de Todas as Nações. 22. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p .824. ↑
12 Ciência do Bom Viver. 10. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 10. ↑
13 Ellen G. White para “Os irmãos em posição de responsabilidade no Escritório da Review and Herald”, 13 de jan. 1894, Carta 70, 1894, EGWE. ↑
14 Veja Mente, Caráter e Personalidade. 3. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990. v. 2, p. 763-788. ↑
15 Ellen G. White para J. R. Buster, 3 de Agosto de 1894, Carta 4, 1894, EGWE. ↑
16 Ellen G. White. Testemunhos Para a Igreja. 1. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000. v. 1, p. 502. ↑

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