sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Os adventistas e as tensões raciais nos EUA

A violência contra Jacob Blake, um homem negro que levou sete tiros pelas costas da polícia em Kenosha, no Wisconsin, nos Estados Unidos, desencadeou uma nova onda de protestos antirracistas e indignação no país.

Um vídeo gravado no momento da abordagem mostra o homem negro indo até seu carro, acompanhado de perto por dois policiais com armas em punho. Ao abrir a porta do veículo em que estavam seus três filhos, Blake, de 29 anos, é atingido por sete disparos. Ele está internado, mas ficou paralisado da cintura para baixo, de acordo com sua família.

Em meio ao aumento das tensões raciais, a Divisão Norte-Americana da IASD emitiu uma declaração convocando os membros a servirem de canais de paz. Leia abaixo:

"As tensões raciais nos Estados Unidos aumentaram ainda mais após o recente assassinato de Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, por policiais em Wisconsin. Este evento, como inúmeros outros, amplificou as vozes de negros americanos e outros, enquanto clamam por justiça pelos atos de violência perpetrados contra sua comunidade.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Norte ouve suas vozes e convida nossas igrejas e membros a servirem como canais de paz e esperança para nossos irmãos e irmãs negros. Reconhecemos sua dor e a injustiça que enfrentam e nos esforçamos para servir de voz quando são silenciados por aqueles que procuram acalmá-los. Vamos clamar por mudanças na forma como a comunidade negra é tratada por aqueles que são colocados em posições de confiança e proteção.

Quando atos de racismo e violência ferem a comunidade negra, todos nós somos impactados. Como filhos de Deus, podemos e devemos agir melhor na maneira como tratamos uns aos outros de maneira igualitária. Jesus Cristo proclamou: “O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído. E a cidade ou a família que se divide em grupos que lutam entre si também será destruída” (Mateus 12:25)."

A versão original deste comunicado foi postada no site de notícias da Divisão Norte-Americana da IASD.

Ao longo da história, o racismo tem levantado um muro de separação entre pessoas que, humanamente e aos olhos de Deus, são iguais. Além de causar prejuízos físicos, emocionais e sociais, a crença de que existe superioridade entre raças lança por terra a própria missão de Cristo: salvar a todos, sem distinção. Sua morte na cruz como ato de amor incondicional pelo ser humano não foi limitado a nenhum grupo de pessoas. Isso fica evidente nas palavras registadas pelo apóstolo João em um dos textos mais profundos encontrados na Bíblia: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).

Foi para reforçar essa verdade que a Igreja Adventista do Sétimo Dia, hoje presente em mais de 200 países, com culturas distintas e singulares, votou uma declaração oficial em que assegura que o racismo está desvinculado da essência do cristianismo e deve ser condenado e combatido.

Leia o texto na íntegra:

Um dos males mais odiosos de nossos dias é o racismo, a crença ou prática que vê ou trata certos grupos étnicos como inferiores e, portanto, objeto de dominação, discriminação e segregação.

Embora o pecado do racismo seja um fenômeno antiquíssimo baseado na ignorância, no medo, na alienação e no falso orgulho, algumas de suas mais hediondas manifestações têm ocorrido em nosso tempo. O racismo e os preconceitos irracionais operam em um círculo vicioso. O racismo está entre os piores dos arraigados preconceitos que caracterizam seres humanos pecaminosos. Suas consequências são geralmente devastadoras, porque o racismo facilmente torna-se permanentemente institucionalizado e legalizado. Em suas manifestações extremas, ele pode levar à perseguição sistemática e até mesmo ao genocídio.

A Igreja Adventista condena todas as formas de racismo, inclusive a atuação política do apartheid, com sua segregação forçada e discriminação legalizada.

Os adventistas querem ser fiéis ao ministério reconciliador designado à igreja cristã. Como uma comunidade mundial de fé, a Igreja Adventista deseja testemunhar e exibir em suas próprias fileiras a unidade e o amor que transcendem as diferenças raciais e sobrepujam a alienação do passado entre os povos.

As Escrituras ensinam claramente que todas as pessoas foram criadas à imagem de Deus, que “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da Terra” (At 17:26). A discriminação racial é uma ofensa contra seres humanos iguais, criados à imagem de Deus. Em Cristo, “não há judeu nem grego” (Gl 3:28). Portanto, o racismo é realmente uma heresia e em essência uma forma de idolatria, pois limita a paternidade de Deus, negando a irmandade de toda a espécie humana e exaltando a superioridade racial de alguém.

A norma para os adventistas está reconhecida na Crença Fundamental nº 14 da igreja, “Unidade no Corpo de Cristo”, baseada na Bíblia. Ali é salientado: “Em Cristo somos uma nova criação. Distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros. Devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição.” Qualquer outra abordagem destrói o âmago do evangelho cristão.

Esta declaração foi apresentada por Neal C. Wilson, então presidente da Associação Geral, após consulta com os 16 vice-presidentes mundiais da Igreja Adventista, em 27 de junho de 1985, durante a assembleia da Associação Geral realizada em Nova Orleans, Louisiana.

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