“O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e sensível” (Ellen G. White, Beneficência Social, p. 168).
A ligação
entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada
no ministério de Cristo, e tanto no Velho como no Novo Testamentos.
Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes,
a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades
espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante
auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito,
como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as
mudanças que queremos ver no mundo.”
Um
discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com
indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e
privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de
outros. O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à
solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber,
incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida
de todos. Como Cheryl Sanders o expressa:
“O
reino preparado desde a fundação do mundo é um reino onde todos são
satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para entrar nesse
reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a
partir da abundância que recebeu como legado de Deus. E o evangelho
declara que a vida eterna é a recompensa daqueles que cuidam da vida.
Aqueles que alimentam os famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o
estrangeiro, vestem os nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se
identificados com a criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em
parceria com Deus no domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse
mandado bíblico é negar lealdade ao reino e ao Rei” (Ministry at the Margins, p. 28).
Jesus raramente mencionou o tipo de sociedade política à qual Seus
discípulos deviam aspirar. Ele não pretendeu ser um reformador
sociopolítico. Ele não enunciou nenhuma plataforma política. As
tentações no deserto tinham uma dimensão claramente política e Ele as
resistiu. Embora Ele tivesse mais de uma oportunidade para apoderar-Se
do governo da sociedade por uma espécie de golpe de estado (ex.: o
alimentar a multidão e a entrada triunfal em Jerusalém), Ele não
escolheu esta opção.
Ao mesmo tempo, os ensinos de Jesus não podiam deixar de ter uma
influência sociopolítica ao serem observados pela comunidade cristã. Ele
ofereceu boas novas aos pobres, liberdade para os oprimidos e vida
abundante (João 10:10). Portanto, os adventistas, seguindo o exemplo de
cristãos através dos séculos, precisam reconhecer sua responsabilidade
social. Os pioneiros adventistas pregavam não só o evangelho de salvação
individual, mas também se preocupavam com alcoólatras, escravos,
mulheres oprimidas e as necessidades educacionais de crianças e jovens.
Assim, o cristianismo não é uma religião de individualismo isolado ou de
introversão; é uma religião de comunidade. Os dons e as virtudes
cristãs têm implicações sociais. Devoção a Cristo significa devoção a
todos os filhos de Deus, e devoção gera responsabilidade pelo bem-estar
de outros.
A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu
guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa
dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas
ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar
completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso
chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus
semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar
profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?
“Mas não necessitamos de ir a Nazaré, a
Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos
Suas pegadas ao pé do leito dos doentes, nas choças de pobreza, nos
apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há
corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia
quando na Terra, andaremos nos Seus passos" (O Desejado de Todas as Nações, p. 616).
Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos
pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do
evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do
evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).
Vejamos Ellen G. White nos descrevendo a injusta
desigualdade social aqui reinante, e o que podemos fazer para atender e
atenuar as necessidades dos mais carentes.
"Por toda parte, em nosso redor, vemos
miséria e sofrimento: famílias com falta do necessário, crianças a
pedirem pão. A casa do pobre ressente-se, muitas vezes, da falta de
móveis indispensáveis, e de colchões e roupa de cama. Muitos vivem em
simples choças, destituídas de todo conforto. O clamor dos pobres chega
até aos Céus. Deus vê e ouve. [...]
Que miséria existe no próprio centro de
nossos chamados países cristãos! Pensai nas condições dos pobres de
nossas grandes cidades. Há, nessas cidades, multidões de criaturas
humanas que não recebem tanto cuidado e consideração quanto se dispensa
aos animais. Há milhares de crianças miseráveis, rotas e meio famintas
tendo estampados no rosto o vício e a depravação. Arrebanham-se famílias
em promiscuidade em míseros casebres, muitos deles escuros celeiros
cheios de umidade e de imundícia. As crianças nascem nesses terríveis
lugares. A infância e a juventude nada veem de atrativo, nada de beleza
natural das coisas criadas por Deus para deleite dos sentidos. As
crianças são deixadas a crescer e formar o caráter segundo os baixos
preceitos, a miséria, os maus exemplos que vêem em torno de si. O nome
de Deus, só ouvem proferir de maneira profana. Palavras impuras, o
cheiro das bebidas e do fumo, a degradação moral de toda espécie, eis o
que se lhes depara aos olhos e perverte os sentidos. E dessas infelizes
habitações partem lamentáveis clamores por pão e roupa, clamores saídos
de lábios que nada sabem acerca da oração.
Há uma obra a ser feita por nossas
igrejas, da qual muitos mal fazem uma ideia, obra até aqui nem tocada,
por assim dizer. 'Tive fome', diz Cristo, 'e destes-Me de comer; tive
sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro e hospedastes-Me; estava nu,
e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes
ver-Me' (Mateus 25:35 e 36). Pensam alguns que, se dão dinheiro para
esta obra, isto é tudo quanto deles se requer; mas isto é um erro. A
dádiva do dinheiro não pode tomar o lugar do serviço pessoal. É direito
dar de nossos meios, e muitos mais o deveriam fazer; é-lhes, porém,
exigido o serviço pessoal segundo suas oportunidades e suas forças.
A obra de recolher o necessitado, o
oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda
igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar
realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir
às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres
desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos
habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles
que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos
favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado" (Beneficência Social, pp. 188-190).
Ao vermos seres humanos em aflição, seja devido ao infortúnio, seja por causa do pecado ou outra coisa qualquer, nunca diga: “Não tenho nada com isso”. É necessário que haja sacrifício prático pelo bem-estar de outros, seja onde quer que estejamos, ou qual for nossa profissão; pois para isso também fomos criados, para sermos as mãos bondosas do Criador aqui neste planeta.
Jesus resumiu a lei moral dos dez mandamentos em apenas dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mateus 22:37-39). Como cristãos, deveríamos estar atentos às necessidades de nossos semelhantes, buscando sempre uma ocasião oportuna para prestar ajuda.
Jesus resumiu a lei moral dos dez mandamentos em apenas dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (Mateus 22:37-39). Como cristãos, deveríamos estar atentos às necessidades de nossos semelhantes, buscando sempre uma ocasião oportuna para prestar ajuda.
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