Segundo as profecias, o
destino da Terra não está sujeito à boa-vontade de líderes humanos. O
Soberano do universo intervém para conduzir o mundo a um desfecho
específico. Quando parece que os povos vão se destruir, Deus age para
contê-los. No Apocalipse, isso é representado pela imagem de quatro
anjos segurando os quatro ventos do céu (Apocalipse 7:1).
A chave para se compreender essa simbologia está no sexto selo
(Apocalipse 6:12-17). Nessa seção, fala-se de eventos cataclísmicos, que
culminam no recolhimento das nuvens e a fuga dos “reis da terra” e de
“todo escravo e todo livre”, que se abrigam “nas cavernas e nos
penhascos dos montes” (ou seja, refere-se aos “eventos finais que
conduzirão para a segunda vinda de Cristo”).[1]
Pedem que os montes e rochedos caiam sobre eles e os escondam “da face
daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro”. E a seção termina
com uma pergunta contundente: “chegou o grande Dia da ira deles e quem é
que pode suster-se?” (v. 17).
O capítulo 7, que constitui um parêntese entre o sexto e o sétimo selos,
parece responder à pergunta feita em 6:17. Nele, apresentam-se “quatro
anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os quatro
ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre
o mar, nem sobre árvore alguma” (Apocalipse 7:1). Na Bíblia e no
simbolismo apocalíptico, o número quatro representa as quatro direções
(norte, sul, leste e oeste), transmitindo a ideia de uma abrangência
global, a totalidade do mundo (1Crônicas 9:24; Isaías 11:2; Jeremias
49:36; Ezequiel 7:2; Zacarias 2:6).
Os quatro anjos representam “os agentes divinos no mundo, retendo as
foças do mal até que a obra de Deus no coração dos seres humanos seja
concluída e o povo do Senhor receba o selo na testa”.[2]
Assim como as casas dos israelitas foram marcadas com sangue para serem
protegidas antes da última praga e do próprio êxodo, e algo semelhante
tenha ocorrido no tempo do exílio (Ezequiel 9:1-11), no tempo do fim, o
povo de Deus receberá um sinal distintivo para ser protegido contra as
imensas destruições reservadas para os últimos momentos antes da volta
de Jesus (Mateus 24:30, 31; 1Tessalonicenses 4:16-18).
Na Bíblia, Deus é o Senhor dos ventos (Amós 4:13). O Criador os utiliza
para cumprir seus propósitos na Terra (Gênesis 8:1; Êxodo 10:13; 14:21).
Ventos servem para destruir e proteger, trazer alimento (Números 11:31)
ou a privação dele (Gênesis 41:6); nas mãos de Deus, o “vento
abrasador” é um instrumento de juízo (Salmos 11:6; 48:7), como elemento
desagregador (Salmos 18:42; 35:5). Na metáfora poética, Deus “cavalga um
querubim”, voa “nas asas do vento” (Salmos 18:10; 104:3).
Porém, é nos textos dos Profetas que a imagem do vento assume um
significado mais útil para a compreensão do símbolo apocalíptico. Vento
se torna uma metáfora para a ação destruidora das nações que resulta na
dispersão e no cativeiro (Jeremias 4:11-13; 18:17; 22:22; 49:32, 36;
51:1, 16; Ezequiel 5:2, 10; 13:11, 13; 17:21; Oseias 8:7; 12:1; 13:15;
Hebreus 1:11). É tomado como símbolo apocalíptico em Daniel 7:1 a 8 e se
apresenta com o mesmo significado no Apocalipse.
Na fase final da história humana, a Divindade atua para conter os
impulsos violentos das nações. O livro de Daniel nos dá um vislumbre da
ação dos mensageiros divinos junto aos governantes humanos – “o príncipe
do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um
dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre
os reis da Pérsia” (Daniel 10:13). Os quatro anjos simbólicos de
Apocalipse 7 representam a ação de anjos reais, sem desconsiderar a
atividade imprescindível do Espírito Santo, simbolizada pelos “sete
espíritos de Deus enviados por toda a terra” (Apocalipse 5:6; comparar
com 1:4; 3:1; 4:5).
Consciência e ação
Para a escritora Ellen White, a mensagem apocalíptica dos quatro anjos
segurando os quatro ventos tem implicações espirituais profundas quanto à
consciência sobre o tempo em que vivemos, à condição espiritual de cada
um e, especialmente, quanto à missão. Destaco a seguir algumas de suas
mensagens sobre os quatro anjos e a contenção dos ventos:
1) “Os (…) ventos serão a incitação das nações para um combate fatal”, por parte de Satanás (Maranata, p. 173).
2) Apesar de a paz mundial se encontrar num estado de “incerteza”, com
as nações “iradas” e fazendo “grandes preparativos de guerra”, “está
ainda em vigor a ordem dada nos anjos, de segurarem os quatro ventos” (Maranata, p. 241).
3) Os acontecimentos são iminentes, apesar de ainda não ter chegado a hora da “batalha final” (Eventos Finais, p. 229).
4) Mesmo agora o “refreador Espírito de Deus está (…) sendo retirado do
mundo. Furacões, tormentas, tempestades, incêndios e inundações,
desastres em terra e mar, seguem-se um ao outro em rápida sequência” (Serviço Cristão, p. 52).
5) Tudo depende do fim da intercessão de Cristo no santuário celestial.
Quando isso ocorrer, os anjos deixarão de segurar os ventos, e virão “as
sete últimas pragas”, que são juízos divinos (Eventos Finais, p. 245).
6) Não há espaço para complacência. Devemos travar uma inevitável luta espiritual pela transformação do caráter (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 217).
7) Agora é o momento de alcançar o mundo com a mensagem para este tempo (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 374).
A paz entre as nações é apenas um verniz de civilidade e respeito mútuo.
Se as paixões humanas pervertidas assumem o controle, toda a diplomacia
desmorona. “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes
sobrevirá repentina destruição” (1 Tessalonicenses 5:3). Somente o Rei
dos Reis pode impedir que nos destruamos uns aos outros. Ele refreia o
ímpeto destrutivo das nações, para preservar a vida. Portanto, como
Jesus disse, não precisamos viver “assustados”, pois as guerras são um
dos sinais do fim, mas não o fim (Marcos 13:7).
De nossa parte, cabe orar “em favor dos reis e de todos os que se acham
investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com
toda piedade e respeito” (1 Timóteo 2:2). Precisamos ter consciência de
que a paz e a liberdade religiosa são uma dádiva, a qual devemos ajudar a
preservar, como os maiores pacifistas. O tempo de graça e liberdade que
temos deve ser aproveitado ao máximo para salvar pessoas. Nos dias
atuais, não podemos brincar de ser cristãos. Devemos levar a sério nossa
identidade e missão.
Diogo Cavalcanti (via Apocalipses)
Referências
[1] Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2ª ed., 2009, p. 259.
[2] Francis Nichol (ed.). Comentário Bíblico Adventista do Sétimo
Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, vol. 7, 2014, p. 864.
Nenhum comentário:
Postar um comentário