Que paradoxo! Cristo
veio trazer a Paz, e o povo escolheu esse “frenesi” caótico do TER, que
se prolonga por todo o mês de dezembro, culminando com o rega-bofe do
dia magno da cristandade. As boas novas de paz para os homens, nessa
época, vem sendo substituída por um espetáculo consumista e hedonista,
que por instantes, encantam os olhos e entorpecem os corações. Vejamos o
que Ellen G. White nos diz sobre isto:
"Pelo mundo os feriados são passados em frivolidades e extravagância,
glutonaria e ostentação. ... Milhares de dólares serão gastos de modo
pior do que se fossem lançados fora, no próximo Natal e Ano Novo, em
condescendências desnecessárias. Mas temos o privilégio de afastar-nos
dos costumes e práticas desta época degenerada; e em vez de gastar meios
meramente na satisfação do apetite, ou com ornamentos desnecessários ou
artigos de vestuário, podemos tornar as festividades vindouras uma
ocasião para honrar e glorificar a Deus" (Review and Herald, 11 de dezembro de 1879).
É nos dias que antecedem a esta festa que a tranquilidade vai às favas.
As ruas são transformadas em um caldeirão fervente de balbúrdia e
correrias sem sentido, mesmo em tempos de pandemia. As nossas cidades, nessa época, não diferem muito
da atual Belém da Judéia, cujas ruas e vielas ficam tomadas por um
formigueiro de gente de todas as nacionalidades, que ali vai adorar,
mais ao deus “Mamon” que ao Deus Cristão.
A epopeia do casal Maria e José ─ os excluídos da sociedade judaica que
não tiveram direito a uma estalagem para abrigar o seu filho Jesus que
estava prestes a nascer, hoje, são simbolizados por aqueles que nesse
Natal estão longe das mesas repletas de guloseimas e vinhos; são
representados por aqueles que estão bem distantes do burburinho da
cidade engalanada e repleta de efêmeros atrativos. O drama dos pais de
Jesus que não foram acolhidos pela sociedade daquela época, se repete
diariamente na pele dos excluídos de nossa sociedade. Vejamos o que
Ellen G. White nos convoca a fazer nesta época do ano:
“As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar" (O Lar Adventista, p. 482).
“As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar" (O Lar Adventista, p. 482).
A ligação entre o
evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no
ministério de Cristo, tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os
estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a
Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades
espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante
auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito,
como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as
mudanças que queremos ver no mundo.”
Um discípulo de Cristo
verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades
materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e
leva ao empobrecimento espiritual de outros.
Ellen G. White escreveu: “A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado” (A Ciência do Bom Viver, p. 163). Quantas vezes, mesmo empenhados na obra de Deus, nós nos entusiasmamos com novos projetos, métodos e alvos, e, contudo, somos indiferentes para com os que sofrem.
O evangelho convida o
discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a
fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de
Jesus, a fim de melhorar a vida de todos. Como Cheryl Sanders o
expressa:
“O reino preparado desde
a fundação do mundo é um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e
livres. Alguém se qualifica para entrar nesse reino exercendo boa
mordomia da própria vida, e distribuindo vida a partir da abundância que
recebeu como legado de Deus. E o evangelho declara que a vida eterna é a
recompensa daqueles que cuidam da vida. Aqueles que alimentam os
famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os
nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a
criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no
domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse mandado bíblico é negar
lealdade ao reino e ao Rei” (Ministry at the Margins, p. 28).
A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu
guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa
dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas
ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar
completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso
chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus
semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar
profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?
“Mas não necessitamos de ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para
andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas ao pé do leito dos
doentes, nas choças de pobreza, nos apinhados becos das grandes
cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de
consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos nos Seus
passos" (O Desejado de Todas as Nações, p. 616).
Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos
pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do
evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do
evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em
verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos
irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).
Concluo com estas importantes exortações de Ellen G. White para nós:
“O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão
perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e
sensível.” (Beneficência Social, p. 168)
"A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu
perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este
tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna
simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o
faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo
dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da
miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a
si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo,
o Crucificado." (Beneficência Social, p. 188-190)
Deus nos convoca, hoje, a ajudarmos o próximo. Juntos, em amor, compaixão, bondade e misericórdia em prol de um irmão necessitado de esperança, de pão, de uma oportunidade, de uma chance para mudar sua vida.
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