Nos últimos três meses, as perguntas que recebi sobre os eventos finais me fizeram pensar se verdadeiramente acreditamos que Deus está no controle de nosso futuro ou apenas na fantasia de suposições especulativas. As redes sociais estão cheias de tópicos que parecem ter a intenção de assustar as pessoas para o céu. Citações dos escritos de Ellen White são usadas fora de contexto para apoiar conjecturas pessoais.
Essas perguntas me desafiaram a examinar a essência ou propósito da voz profética, tanto de uma perspectiva bíblica quanto da voz inspirada e inspiradora nos escritos de Ellen White.
Perspectiva bíblica
A Bíblia descreve um propósito específico para a voz profética.
Primeiro, a voz profética fornece um caminho de foco seguro e inspirador que nutre nossa vida espiritual. Ela transmite conforto, encorajamento e esperança garantidos na fidedignidade da mensagem profética (1 Coríntios 14:3; 2 Pedro 1:19).
Em segundo lugar, a essência, ou o coração da voz profética, revela a visão panorâmica dos atos salvadores de Deus por meio de Jesus. Afasta a mente humana do medo de eventos impulsionados pela fantasia de interpretações variadas. Em vez disso, chama a atenção para o evento culminante — o evento messiânico (1 Pedro 1:10-12).
Terceiro, ela oferece um ambiente para mudança transformacional, que motiva os crentes a recapturar a profundidade do amor incompreensível e do cuidado de Deus em lugares onde nossas vidas se tornam difíceis e não conseguimos ver Deus agindo (1 Pedro 1:18-21; Isaías 40:9-11).
Não é de admirar que a convicção de Pedro sobre a confiabilidade da voz profética vá além do quadro de ideias especulativas. “De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro 1:16, NVI). O relato de Pedro afirma a credibilidade das promessas infalíveis de Deus.
A comunicação reveladora de Deus
Ao comentar sobre o propósito da intenção comunicativa de Deus em Hebreus 1:1-3, o teólogo F. F. Bruce afirma: “Se Deus tivesse permanecido em silêncio, envolto em densa escuridão, a situação da humanidade teria sido realmente desesperadora; mas agora Ele falou Sua palavra reveladora, redentora e vivificante, e na Sua luz nós vemos luz”.1 Ele expande seu pensamento ainda mais profundamente, afirmando que “a revelação divina é, portanto, considerada progressiva — mas a progressão não é de menos verdadeira para mais verdadeira, de menos digna para mais digna, ou de menos madura para mais madura… . A progressão vai da promessa ao cumprimento”.
O envolvimento de Deus na vida humana abrange o desenvolvimento mais amplo da promessa messiânica dada a Adão e Eva no contexto de medo e confusão (Gênesis 3:15). Ao tocar a impureza da vida humana, Deus providenciou conforto e encorajamento fluindo de Sua presença garantidora e a esperança embutida na promessa messiânica.
O propósito contínuo das vozes proféticas lembrou as pessoas sobre a confiabilidade da promessa de Deus e as desafiou a acomodar uma perspectiva visionária da esperança messiânica (Isaías 42:5-7). Chegou um momento em que, por meio de Jesus, Deus tocou a impureza da vida humana novamente para transmitir conforto, encorajamento e esperança. Não é de se admirar que, no contexto de Seu retorno prometido (João 14:1-3), Jesus disse: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo” (João 14:27, NVI).
É tão fácil perder o foco no elemento central da fé cristã, ou seja, toda a riqueza da profundidade espiritual embutida em Jesus, o Messias prometido (2 Pedro 1:3, 4).
A narrativa de Jesus é o eixo de conforto, encorajamento e esperança cristãos. Aqui se encontra a essência da voz profética, que desdobra a visão panorâmica dos atos salvíficos de Deus. A história messiânica afasta a mente humana do medo de eventos, movida pela fantasia de interpretações variadas. Em vez disso, ela nos desafia a recapturar a profundidade do amor e do cuidado incompreensíveis de Deus, que gentilmente nutre a fé nos lugares onde a vida se torna difícil. Essa voz continua a lembrar a igreja sobre a fidedignidade da volta prometida de Cristo (Hebreus 10:35–37) arraigada na autoridade confiável da Bíblia (2 Timóteo 3:16; 2 Pedro 1:16, 17).
Perspectiva de Ellen White
Por que foi conveniente para Deus levantar uma voz profética no século XIX? Quão relevante é essa voz para a jornada contínua de fé?
Ellen White claramente compreendeu a essência de sua voz profética. Em 1901, ela escreveu: “O Senhor deseja que estudeis a Bíblia. Ele não deu alguma luz adicional para tomar o lugar de Sua Palavra”.2 Além disso, ela entendeu sua relação com a autoridade da Bíblia. “O Espírito não foi dado — nem nunca o poderia ser — a fim de sobrepor-Se à Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino e experiência devem ser aferidos.”3
Sua voz encorajou o movimento a mergulhar a experiência de vida no poder da Palavra de Deus. “Senti-me impelida a incitar a todos da necessidade de pesquisar as Escrituras por conta própria, para que conheçam a verdade, e possam discernir de forma mais clara a compaixão e amor de Deus…. Há uma grande verdade central, que sempre devemos conservar em mente, no estudo das Escrituras: Cristo, e Ele crucificado.”4
Sua voz moldou um quadro motivacional e inspirador do propósito designado por Deus para a vida cristã. Ela convocou o movimento sinuoso a viver uma vida de relação espiritual, ancorada nos ensinos de Jesus, e a demonstrar ao mundo o impacto transformador da graça de Deus.
Finalmente, sua ênfase no amor de Deus e na confiabilidade de Suas promessas buscou inspirar uma vida espiritualmente missionária. No contexto de sua compreensão progressiva do amor incondicional de Deus pelo mundo, expresso por meio de Jesus, Ellen White expandiu a visão da missão. Foi além da proclamação de doutrinas distintivas específicas. A partir de 1900, Ellen White pediu um envolvimento inclusivo na missão, que “não será feito meramente pela pregação da Palavra, mas por obras de amorável serviço”.5 O desafio para um envolvimento inclusivo era um chamado para pastores, médicos, enfermeiros, professores, alunos e pessoas de todas as profissões e posições sociais para compartilhar o conhecimento de Jesus.6
A voz profética de Ellen White se concentra em Jesus e fornece uma visão da aplicação prática da fé. “A obra que Cristo veio realizar em nosso mundo não era para criar barreiras e constantemente impor sobre as pessoas o fato de estarem erradas. Embora Ele fosse judeu, Ele Se misturava livremente com os samaritanos, desprezando os costumes farisaicos de Sua nação. Em face de seus preconceitos, Ele aceitou a hospitalidade dessas pessoas desprezadas. Ele dormia com eles sob seus tetos, comia com eles em suas mesas — partilhando da comida preparada e servida por suas mãos — ensinou em suas ruas e tratou-os com a maior bondade e cortesia.”7
Sua voz desafia a igreja a se afastar de uma suposição especulativa sobre o futuro, resultante de uma resposta reacionária aos eventos atuais. Em vez disso, convoca o movimento para recuperar o poder da graça transformadora de Deus, para manter uma confiança implícita em Suas promessas infalíveis e para esperar com plena confiança por Seu retorno. “Por isso, não abram mão da confiança que vocês têm; ela será ricamente recompensada. Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu; pois em breve, muito em breve ‘Aquele que vem virá, e não demorará’” (Hebreus 10:35-37, NVI). Além disso, sua voz enfatiza que “No[s] tempo[s] de confusão e angústia que se acha diante de nós, um tempo de dificuldade como nunca houve desde que existe nação, o Salvador enaltecido será apresentado às pessoas em todas as terras, para que todos que O contemplarem com fé possam vive”.8
John Skrzypaszek é teólogo e diretor do Centro Ellen White na Avondale College, na Austrália. (via ASN)
A versão original desse artigo foi postada pela Adventist Record.
Referências
- F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2012), 1, 2.
- Ellen G. White, Carta 130, 1901, p. 1, em Mensagens Escolhidas, Vol. 3, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 29.
- Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1911), p. 9.
- Ellen G. White, “Circulation of the Great Controversy,” Ms. 31, 1890, § 14.
- Ellen G. White, Medicina e Salvação, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), p. 263.
- Ellen G. White, “How Much Owest Thou Unto My Lord?” Ms. 79, May 1, 1899.
- Ellen G. White, “Our Duty Toward the Jews,” Ms. 87, August 16, 1907.
- Ellen White, Testemunhos para a Igreja, Vol. 8 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006), p. 50
Precioso conteúdo 💗
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