O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou após a invasão que a democracia americana está sob ataque. “A democracia americana está sob um ataque sem precedentes” disse Biden em um pronunciamento. “É um ataque ao Estado de Direito igual poucas vezes vimos na história" continuou o democrata.
Trump, por meio de um comunicado nas redes sociais, prometeu na manhã desta quinta-feira (7) que “haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro”, o dia em que ele deverá deixar a Casa Branca. “Embora eu discorde totalmente do resultado das eleições, e os fatos estão do meu lado, ainda assim haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro”, disse o mesmo que com um discurso agressivo e Bíblia na mão, tentou recuperar voto de religiosos em junho do ano passado.
É impossível saber quais serão as consequências no longo prazo para os Estados Unidos e para o mundo – e o Brasil em particular.
2021 não será um ano fácil, mesmo sem contarmos com a pandemia da covid-19. A onda de choque dos acontecimentos nos EUA, independentemente do sucesso ou fracasso da tentativa de golpe perpetrada pelo trumpismo, será sentida em todas as partes. A desestabilização da democracia mais poderosa do mundo nos traz apenas incertezas.
Claro, alguns podem dizer que os EUA estão tendo o que merecem ao passarem, ironicamente, pelo mesmo processo que eles financiaram e incitaram por mais de um século em boa parte do mundo. Âncoras de TV nos EUA pareciam embasbacados, não conseguiam entender como o país havia chegado a esse ponto, tampouco parecia passar pela cabeça deles que os Estados Unidos fizeram dezenas de países passarem pelo mesmo ou até pior.
Mas, com os pés no chão, temos de entender que um golpe nos EUA (ou sua tentativa) pode levar a consequências terríveis por todo o mundo. Pior, sequer conseguimos prever quais seriam dado o ineditismo da situação. Se Trump tem tentado dar um golpe desde as eleições, agora ficou absolutamente claro que ele tem o apoio de milícias criminosas – e armadas – dispostas a consumar o golpe.
Segundo José Antonio Lima, jornalista e professor de Relações Internacionais, "já se pode dizer desde a eleição [que um golpe está em curso] e hoje é o momento mais simbólico de uma empreitada que, por um lado, é tragicômica, mas por outro pode ter impactos de longo prazo na posição dos EUA como modelo."
E fica a lição para os legisladores brasileiros: não se contemporiza com fascistas. Não se permite que milícias armadas se organizem, que grupelhos como os de Sara Winter se reúnam livremente às portas do Supremo Tribunal Federal. Acima de tudo, não é tolerável que uma central de ódio e fake news se organize e promova campanhas de desinformação de dentro do Palácio do Planalto – como é o caso do gabinete do ódio.
Em um país cujas instituições têm solidez duvidosa e cuja
democracia é apenas recente – e cujos criminosos da ditadura passada não apenas
não foram julgados e condenados, como são parte do atual governo e homenageados
pelo próprio presidente –, eventos como o que se viu acontecer em
Washington acendem no imaginário um perigo ainda maior.
A lição que fica da tentativa de golpe nos EUA é de que os democratas no Brasil precisam se mobilizar urgentemente para evitar que o cenário se repita no país.
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