Os escribas e fariseus eram adeptos da religião do faz de conta. Achavam que a prática de rituais fosse indício de religião autêntica. Mas, certo dia, eles foram desmascarados por Alguém que, usando um infalível aparelho de ressonância espiritual, viu cada centímetro quadrado da matéria putrefata em que consistia a vida deles: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!” (Mt 23:27).
Não há muita diferença entre os “sepulcros caiados” do tempo de Jesus e
os de hoje. Existe muita caiação religiosa entre nós. Essa postura
merece um nome nada agradável: hipocrisia.
Hipócrita é aquele que usa a máscara religiosa para ocultar sua
identidade real e para autopromoção. No original grego, “hipócrita”
significa “ator”. Hipócrita é aquele que busca “visibilidade”, que troca
o alvo de agradar a Deus pelo objetivo idólatra de ganhar aplauso
humano. Como os fariseus, cuja religião era praticada visando ao louvor
dos observadores, e não à glória do Senhor.
Como sabemos, uma falsa motivação pode prostituir bons atos. Isto é,
podemos fazer as coisas corretas pela motivação errada, apenas para
“sair bem na foto”. Ellen G. White observa: "Muitos atos que passam por
boas obras, mesmo atos de generosidade, quando intimamente examinados,
verificar-se-á haverem sido suscitados por motivos errôneos. Muitos
recebem aplausos por virtudes que não possuem. O Perscrutador dos
corações pesa os motivos, e muitas vezes ações altamente louvadas por
homens são por Ele registradas como partindo de egoísmo e baixa
hipocrisia. Cada ato de nossa vida, seja excelente e digno de louvor ou
merecedor de censura, é julgado pelo Perscrutador dos corações segundo
os motivos que o determinaram" (Obreiros Evangélicos, p. 275).
Os hipócritas gostam de se vangloriar. Além disso, não se apercebem de
que constituem um entrave ao crescimento espiritual da igreja e à obra
de evangelização. Algumas pessoas saem da igreja porque se escandalizam
com a religião do faz de conta. O prejuízo causado por uma religião de
epiderme é tão grande que Jesus deu nome ao cemitério dos
escandalizadores: “profundeza do mar” (Mt 18:6). Contudo, não nos cumpre
decidir quem deve ir para esse lugar, porque presunção espiritual também
causa escândalo.
Vamos dar alguns exemplos de sepulcros caiados, a fim de nos prevenirmos contra a síndrome da religião de aparência.
É tempo de sermos formosos por fora e por dentro
1. Faça o que digo, mas… Todos nós conhecemos o ditado: “Faça o
que digo, mas não faça o que faço.” No lar, na escola e na igreja, o
abismo entre as coisas que ensinamos e as que deixamos de fazer é um
desserviço à obra do Senhor. A igreja perde muito quando alguns exigem
isso e aquilo dos membros, mas não praticam o que ensinam.
"Muitos se têm na conta de cristãos simplesmente porque concordam com
certos dogmas teológicos. No entanto, não introduziram a verdade na vida
prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder
e a graça que advêm mediante a satisfação da verdade. As pessoas podem
professar fé na verdade; mas, se ela não os tornar sinceros, bondosos,
pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, isso é uma
maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao
mundo" (A Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 105).
2. Sou mais santo do que você. Essa atitude é também
comprometedora, pois caracteriza aqueles que se ufanam de sua
religiosidade. Alguns optam pela aparência exterior, como se isso fosse
sinal de vida espiritual exemplar. Exaltam regras e normas, tentando
segui-las à risca, mas negligenciam o desenvolvimento das virtudes
cristãs.
"Há muitos hoje em dia que, embora tenham uma aparência de grande
santidade, não são praticantes da Palavra de Deus. Que se pode fazer
para abrir os olhos dessas pessoas que se iludiram a si mesmas, se não
apresentar-lhes um exemplo de verdadeira piedade, não sendo nós mesmos
somente ouvintes, mas também praticantes dos mandamentos do Senhor,
refletindo assim a luz da pureza de caráter sobre o seu caminho?" (Fé e Obras, p. 116).
3. O que me interessa é aparecer. Característica marcante dos
portadores da síndrome de “sepulcros caiados” é o desejo de serem
vistos. Ora, a igreja é lugar para serviço desinteressado, não para
culto ao ego. Há pessoas que, se não estiverem na posição de comando,
não servem para nada. Isolam-se e veem defeito em tudo. O que, na
verdade, desejam é mostrar suas habilidades e ser elogiadas por sua
capacidade empreendedora. Essa atitude também esconde um homem interior
putrefato, carente do poder regenerador do Espírito. A grande motivação
de uma pessoa transformada interiormente é o desejo de proclamar, pelo
exemplo e por palavras, a superioridade e excelência do Filho de Deus:
“Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e
sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5:12).
"A verdadeira piedade nunca promove um esforço para ostentação. Os que
desejam palavras de elogio e lisonja, delas se nutrindo como de um
bocado delicioso, são cristãos apenas de nome. Por meio de suas boas
obras devem os seguidores de Cristo trazer glória, não para si mesmos,
mas para Aquele mediante cuja graça e poder eles operaram. É por meio do
Espírito Santo que toda boa obra é efetuada, e o Espírito é dado para
glorificar, não o recebedor, mas o Doador" (O Maior Discurso de Cristo, p. 80).
Conclusão
Quando nos despojarmos das máscaras mencionadas acima, reconheceremos
nossa indignidade e passaremos a depender do poder do Alto. Então,
seremos formosos por fora e por dentro.
"A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a
revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos à
medida que têm fé em Deus e mantêm vital ligação com Ele. Dessa forma, a
verdadeira piedade elevará seus pensamentos e enobrecerá a vida. Então,
as formas externas da religião se harmonizarão com a interior pureza
cristã" (O Desejado de Todas as Nações, p. 309).
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