sexta-feira, 25 de junho de 2021

OS FARISEUS DO SÉCULO 21

Os fariseus, no tempo de Jesus, organizavam-se em comunidades ou fraternidades que chamavam de “haburot”. Para entrar nelas, deviam ser testados duramente num período de cerca de um ano, às vezes menos. Ao ser aceito, ficava-se ligado por uma série de votos, cada um mais complexo e secreto. Em muitas ocasiões, como escreve Paulo, a condição de fariseu era passada de pai para filho (“fariseu filho de fariseus”). Calcula-se que podiam chegar a mais de seis mil membros, distribuídos pelo território de Israel e na diáspora. 

Quando o sujeito era admitido na comunidade fariseia (alguns a chamavam de “chabura”), a família passava automaticamente a fazer parte das referidas irmandades. Quanto mais alto na escala, mais puro e mais honorável aos olhos dos homens e de Yaveh. Não podiam vender a ninguém que não fosse “santo e separado”. Os negócios, como sempre, ficavam entre eles mesmos. Os do primeiro grau eram conhecidos como “chaber” ou “bem hacheneseth” (“filho da união”). Tratava-se dos fariseus ordinários (a maioria dos que Jesus encontrou ao longo da vida). Os três graus restantes eram designados pelo nome genérico de “teharoth” (“purificações”). 

O “chaber”, ou fariseu comum, tinha a obrigação de pagr o dízimo (por tudo que consumia) e de se manter puro, a qualquer custo. Neste último quesito, era fundamental que o fariseu jamais se misturasse, sob nenhum pretexto, aos chamados “am-ha-arez” (o povo comum). Isso significava o pior dos pecados; ou seja, a impureza total. 

Os “am-ha-arez”, eram considerados incultos, ignorantes da Lei de Moisés e, em consequência, em permanente pecado aos olhos de Deus. O pior é que, além de se contaminar com os “am”, os fariseus de primeiro grau podiam contagiar a impureza a seus irmãos de segundo grau, e estes, por sua vez, aos de terceiro; e estes, naturalmente, aos que quarto grau. Como se pode ver, aquilo era uma loucura. As mulheres dos “santos e separados” não pertenciam a nenhum dos graus da irmandade fariseia. E, apesar de todo esse preconceito explícito, o povo judeu os tinha em considerável estima. As disposições contra os “am” (ou povo comum) contavam-se às centenas. Vejamos um exemplo:

“Quando a esposa de um “haber” deixa que a esposa de um “am” moa no moinho da sua casa, se o moinho parar, a casa ficará impura; se ela continuar moendo, só ficará impuro aquilo que ela puder tocar estendendo a mão” (Toh 7,4). Quando alguém se contaminava com impureza, sua obrigação era fazer uma oferenda, obtendo assim, o perdão de Deus pela suposta culpa. Isso, claro, significava dinheiro. Um dinheiro para o Templo (na realidade, para os sacerdotes).

E foi justamente com os fariseus que chegou a adoração à “Torah Oral”. Até o aparecimento dos “santos e separados”, o povo judeu se guiava pela Torah Escrita; ou seja, o manifestado por Deus a Moisés. Essas manifestações integram o Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) – as chamadas Escrituras Sagradas, ou, a Lei. Mas os fariseus foram além e estimaram que o dito por Yaveh a Moisés havia sido muito mais e muito mais complexo e importante que o registrado na Torah Escrita. Foi assim que nasceu a Torah Oral: milhares de normas e interpretações que, segundo os fariseus, constituíam a correta interpretação e o desenvolvimento último da Torah Escrita. 

O Pentateuco, enfim, segundo a filosofia farisaica, não era suficiente para servir a Yaveh. Essas normas complementares procediam dos tempos do exílio na Babilônia (584 a.C.) e foram “atualizadas” pelas gerações seguintes. Nos tempos do Mestre Jesus contava-se 613 preceitos (365 proibições e 248 mandamentos positivos), com uma constelação de “subpreceitos”; um monumento jurídico, que, segundo os fariseus, procedia diretamente de Deus. 

As ramificações da chamada Torah Oral eram tantas que o povo se sentia incapacitado para cumpri-las. Nem mesmo os especialistas – os escribas – estavam em condições de reter na memória tamanha teia jurídica. Era o “pesado julgo” a que o Filho do Homem fez alusão. Para os fariseus, a Torah Oral era mais importante que a escrita. Isso foi uma fonte de conflitos com outro grupo judaico: os saduceus. A fidelidade à Torah Oral levava as irmandades farisaicas a todo tipo de extravagâncias. Eles diziam que a Torah Oral dá resposta a qualquer ordem da vida diária. Tudo estava na Lei (eles chamavam de “tradição dos pais”, “tradição dos anciãos”, ou “halakah”). A “halakah”, também conhecida como “a trilha pela qual transita Israel”, continha todos os aspectos imagináveis da conduta humana e contemplava todo tipo de ritos, dízimos, pureza, impureza, orações, mandamentos, comportamento durante o sábado, relações conjugais, festas de todo tipo e disposições legais, tanto nas leis civis quanto nos assuntos criminais. Os fariseus consideravam a Torah Oral o fundamento da nação judaica. Ninguém podia questioná-la. Jesus, ao defender o espírito da Lei de Deus e não a letra, tornou-se inimigo da casta dos “santos e separados”.

Os fariseus eram homens arrogantes e vaidosos, orgulhosos de si mesmos, que olhavam por cima do ombro todos os que não eram da fraternidade. Sua religiosidade ficou reduzida a um pacto comercial com Yaveh. Deus lhes dava e eles devolviam. Nada era gratuito. Jamais faziam nada por altruísmo. Na hora de entregar as esmolas, faziam-se acompanhar por outros fariseus que tocavam o sino ou a trombeta, chamando a atenção da vizinhança. Como dizia o Mestre, “esses já tiveram sua recompensa”. Para os “santos e separados”, a caridade fazia parte de sua filosofia e era feita não por piedade ou generosidade, mas porque acreditavam que essas obras eram retribuídas em curto, médio ou longo prazo por Yaveh. Sabiam da misericórdia de Deus, mas esse perdão divino, de acordo com os fariseus, era apenas para os justos. Os pecadores não mereciam essa misericórdia. Com outras palavras, os fariseus eram os exclusivistas religiosos de outrora que negavam a Lei do Amor em troca de leis comportamentais fanáticas.

Se, como ensina Jesus, os fariseus são aqueles que abandonaram “o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”, nossa época está cheia deles. E nem é preciso procurar muito.

O Mestre disse: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos” (Isaías 29:13).

"Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens" (Marcos 7: 6-8).

A igreja cristã hoje em dia, infelizmente, também tem vários “fariseus”. Refiro-me aos líderes religiosos/as que ficam estabelecendo regras de comportamento para as outras pessoas e cobrando seu cumprimento.

Essas regras podem alcançar diversas áreas das vidas das pessoas, como a forma de se vestir, os lugares que podem frequentar, o que lhes permitido fazer para se divertir, como podem se relacionar e assim por diante. Em algumas igrejas, são tantas as regras e tal o rigor na sua aplicação, que as pessoas ficam sufocadas, tornando-se verdadeiras prisioneiras. A modéstia, o bom senso e a temperança - são princípios naturais para todo aquele que segue a Lei do Amor. Não é uma listinha de moralidades, mas discernimento espiritual. Não há barganhas com Deus, há relacionamento.

Os “fariseus” não acabaram nos tempos de Jesus, o que é uma pena. Eles mudaram de roupagem e estão aí, bem vivos e influentes, causando o mesmo tipo de estrago que causaram dois mil anos atrás. Então, muito cuidado com eles.

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo” (Mateus 23:13).

“Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mateus 21:28-32).

Muitos cristãos deixam de cumprir o mais importante da lei de DEUS que é a JUSTIÇA, a MISERICÓRDIA, o AMOR e a FÉ - pela qual somos salvos. Desde o princípio Deus já dizia através dos profetas que o que Ele realmente queria de nós é a MISERICÓRDIA - que significa compadecer-se da miséria alheia, e não o sacrifício – “Afinal, o que desejo é misericórdia, e não sacrifícios; entendimento quanto à pessoa de Elohim, Deus, mais que ofertas e holocaustos” (Oséias 6:6).

“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei" (Romanos 13:8).

“Pois toda a Lei se resume num só mandamento, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5:14).


"O maior dos enganos do espírito humano, nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. Em toda experiência humana, o conhecimento teórico da verdade se tem demonstrado insuficiente para a salvação. Não produz os frutos de justiça. (...) Os fariseus pretendiam ser filhos de Abraão e se vangloriavam de possuir os oráculos de Deus; todavia, essas vantagens não os preservavam do egoísmo, da malignidade, da ganância e da mais baixa hipocrisia. (...)

O mesmo perigo existe ainda hoje. Muitos se têm na conta de cristãos simplesmente porque concordam com certos dogmas teológicos. No entanto, não introduziram a verdade na vida prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder e a graça que advêm mediante a satisfação da verdade. As pessoas podem professar fé na verdade; mas, se ela não os tornar sinceros, bondosos, pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, isso é uma maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao mundo.

A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos à medida que têm fé em Deus e mantêm vital ligação com Ele. Dessa forma, a verdadeira piedade elevará seus pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizarão com a interior pureza cristã. Nesse caso, as cerimônias exigidas no serviço de Deus não são ritos destituídos de sentido, como os dos fariseus hipócritas" (Ellen G. White - A Fé Pela Qual eu Vivo, p. 108).

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