O dia do advogado no Brasil é comemorado em 11 de agosto. A primeira Constituição Brasileira foi outorgada por Dom Pedro I, Imperador, em 1824. Ela trazia toda a estruturação do Império do Brasil, com disposições sobre os cidadãos brasileiros, os poderes (Legislativo, do Imperador e Judicial), bem como a administração e a economia das províncias. Com novas normas, seria preciso ter profissionais para supervisioná-las e aplicá-las. Por isso, Dom Pedro I, no dia 11 de Agosto de 1827, criou os dois primeiros cursos de Direito do Brasil: um no Largo São Francisco, em São Paulo (capital), e outro em Olinda.
Há quarenta anos, quando minha geração estava ponderando sua escolha de carreiras, tornar-se um advogado adventista era raramente uma opção em muitos países. Os membros da igreja chamavam à parte aqueles que queriam estudar direito e os aconselhavam escolher outra carreira. Uma ideia errônea do papel de um advogado levava a conselho impróprio, e resultava em frequente frustração entre os jovens. Eles queriam servir a seus irmãos na igreja e a comunidade como um todo pela profissão legal, mas sua igreja preferia que entrassem no ministério ou se tornassem professores ou médicos.
Lembro-me de um incidente logo depois que saí da escola de direito. Estava participando num programa da igreja sobre liberdade religiosa quando um membro me perguntou à queima roupa: “Como pode você ser adventista e advogado ao mesmo tempo”? Tenho mesmo ouvido algumas pessoas dizerem que Ellen White tinha advertido contra tal escolha. O fato é que Ellen White deu um conselho bem diferente sobre o assunto:
“Requer mais graça, mais severa disciplina de caráter trabalhar para Deus na qualidade de... advogado... introduzindo os preceitos do cristianismo nas ocupações ordinárias da vida, do que desempenhar as funções de reconhecimento missionário no campo de ação. Requer rigorosa fibra espiritual introduzir a religião no... escritório [diríamos, corte de justiça?], santificando os pormenores da vida diária, e ordenando toda transação segundo a norma da Palavra de Deus. Mas é isto que o Senhor exige” (Mensagem aos Jovens, pp. 215-216).
A falsa dicotomia de um advogado praticante versus um cristão praticante ainda persiste. Muitos vêem estas duas atividades como mutualmente irreconciliáveis. A rotina de um advogado apresenta desafios constantes à sua fé e convicção religiosa. Há ocasiões quando precisamos reconciliar as perícias de nossa profissão com as exigências morais de nossa fé. Como é que os advogados, sabendo da culpa de seus clientes, persistem em seguir uma linha de defesa que poderia resultar em sua absolvição? Como é que os advogados, na busca da “verdade”, pesam e apresentam evidência que pode ser contrária aos interesses de seus clientes? Como é que advogados lidam com clientes que, sob juramento, falsificam testemunho para vantagem própria? Estas tensões entre a lei e seus motivos mais elevados são constantemente resolvidos pelo advogado cristão dedicado. Abraham Lincoln observou certa vez que “a pessoa que quer praticar advocacia devia resolver ser honesto em todo caso; e se no seu julgamento você não pode ser um advogado honesto, resolva ser honesto sem ser advogado”.
A profissão de advogado existe desde os tempos primordiais. Um doutor, um engenheiro e um advogado estavam argumentando sobre qual seria a profissão mais antiga. O médico afirmou que, naturalmente, um médico removeu a costela de Adão para criar Eva. O engenheiro respondeu, “Naturalmente, um engenheiro deve ter projetado o Jardim do Éden”. “Eu levo vantagem sobre vocês dois”, o advogado se gabou. “Antes de Adão e Eva, antes do Jardim do Éden, antes da criação, havia um estado de caos, e quem pensam vocês criou o caos?”
O imperador francês Napoleão disse certa vez que “a prática da advocacia é uma provação muito severa para a pobre natureza humana. O homem que se habitua à distorção da verdade, e à exultação com o sucesso da injustiça, afinal, mal saberá distinguir o direito do errado.” Não foi William Shakespeare em Henry VI que disse “Matemos todos os advogados!”? Há qualquer dúvida por que aqueles dentre nós que entramos na prática da advocacia enfrentamos os obstáculos do caminho, ou por que muitos outros foram aconselhados a não entrar na profissão de medo de “perder sua fé e sua alma”?
Apesar de tais obstáculos, pioneiros adventistas na profissão legal abriram o caminho, colocando marcos para os que os seguiram. Enfrentaram a crítica e seguiram seu sonho. Estes pioneiros eram motivados não pela opinião de membros da igreja ou a opinião do mundo, mas por um senso de justiça e zelo missionário, para se tornarem advogados a favor daqueles cujos direitos tinham sido espezinhados e para testemunhar de modo que outros não podiam. Suas ações aumentaram a consciência de que advogados adventistas estavam lutando pela fé em áreas às quais só eles tinham acesso. [...]
Hoje, muitos que seguiram seu sonho tornaram-se praticantes respeitados que ocupam posições judiciais, servem em legislaturas, ensinam em escolas de direito, defendem os oprimidos, formulam leis de modo a beneficiar a outros, e servem a igreja em funções demasiado numerosas para mencionar. [...]
Não sabemos porque Deus permite que certos eventos aconteçam, mas cada um de nós foi posto em nossas várias posições para um propósito especial. Nossas vidas deviam ser abertas à direção do Espírito Santo de modo que a vontade de Deus seja feita em nossa vida e possamos ser usados como Seus instrumentos não importa qual seja nossa vocação ou profissão. Se somos abertos ao chamado de Deus, Ele operará mediante nós de forma poderosa e dirigirá a nós pessoas que precisam dEle. A profissão de advogado provê tais oportunidades.
Está você considerando Direito como carreira? Se sua dedicação a Deus e Sua verdade é firme, a resposta devia ser um retumbante sim! Não só para defender nossos semelhantes de maus tratos, exploração e abuso, mas também para partilhar o evangelho de Cristo de modo tão singular que só pode ser feito por alguém neste campo de trabalho.
Karnik Doukmetzian (Leia o artigo na íntegra em Diálogo Universitário)
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